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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Origem: rancho grande ou precipício?

Veja também os topônimos de diversas áreas localizadas no município

Existem várias teorias sobre a origem do topônimo Cubatão. Duas delas são abonadas pelo pesquisador Francisco Martins dos Santos, em sua História de Santos, de 1937, republicada em 1986 junto com a Poliantéia Santista de Fernando Martins Lichti:

Cubatão - do árabe-africano ou afro-árabe: Cubata "rancho", com a desinência portuguesa, do aumentativo: Ão, formando Cubatão ou "rancho grande", e aludindo ao grande rancho de tropeiros, que existiu junto ao rio do mesmo nome desde o primeiro povoamento, até a construção e inauguração da Estrada de Ferro, sempre com a denominação portuguesa de Rancho Grande, como era chamado também o correspondente santista, construído à Rua de S. Francisco, junto à antiga Santa Casa, para o mesmo fim. Este hábito africano e árabe-africano produziu para os portos fluviais, onde tais cubatas grandes apareciam, e onde fundeavam e amarravam chatas, batelões, botes, canoas e catraias, a designação de Cubatões, que neste sentido de "porto fluvial" aparece em vários lugares do nosso Estado e do Brasil.

Outra origem, e esta hebraico-africana, é a do hebraico: Cuba "fortificação, distrito fortificado, torre" e Taon "duplicidade, dualidade, duplo", formando o vocábulo Cubataon, como aparece em velhos documentos, com o significado de "torre ou fortificação dupla" ou "distrito fortificado duas vezes ou duplo", às fortificações estabelecidas e criadas pelos portugueses, nas duas margens do rio Cubatão (chamado Cubatão Geral), onde se pagavam os pedágios ou taxas e impostos das mercadorias em trânsito, defendendo o posto fiscal e arrecadador, de assaltos pelos dois lados. Esse posto defendido, chamado Barreira Fiscal, ou simplesmente Barreira do Cubatão, após a abertura do caminho de terra para Santos (a estrada do Aterrado), em 1827, com duração até o advento da Estrada de Ferro, ficou sempre com aquele nome, e isso continuava sendo o Cubataon.

Justifica-se essa dupla denominação na dupla existência dos Cubatões santistas: o Cubatão de Cima e o Cubatão de Baixo, sendo um o Porto Geral e o outro a Barreira ou posto defendido e armado, de cobrança dos direitos.

É esta, aliás, a melhor caracterização deste topônimo. O Cubatão Geral corresponde ao antigo Porto das Almadias (ou "das canoas"), também árabe, de 1532.

Pìaçaguera - do chamado tupi: Pe "caminho" - Haçá "passagem" (por ser infinitivo, sem caso) e Guéra o mesmo que Cuéra, verbal de pretérito, significando "o que foi, o que existiu, o antigo" e formando: Piaçaguéra ou Peaçaguéra "passagem do caminho antigo", nome que deram ao lugar depois da abertura do caminho ou passagem do Cubatão, muito distante dele.

A este caminho realmente antigo chamavam trilha dos guaianases ou esteiro, passagem do Ramalho (João Ramalho); ao novo (do Cubatão) passaram a chamar "Caminho do Padre José", que foi posterior a um primeiro traçado, chamado Caminho do Piraquê ou Perequê, de pouca duração.

Outras definições são apresentadas numa das páginas da própria Prefeitura Municipal de Cubatão:

Embora a maioria dos dicionários defina a palavra Cubatão como regionalismo paulista de origem incerta e com significado de "pequeno morro no sopé de uma cordilheira, várias outras interpretações tem sido postuladas.

Para alguns historiadores a palavra Cubatão origina-se de uma expressão hebraica - Kábataon, que significa "que precipício". Para outros, como o historiador Francisco Martins do Santos, a palavra é de origem Tupi, Cui-pai-ta-ã, transformado por assimilação portuguesa em Cubatão.

Com origem africana identifica-se o significado de "elevação ao pé da Cordilheira", ou local de "Cubatas", definidas como "choças de negros". Além deste, muitos outros significados são aventados mas, de qualquer forma, todos eles expressam fortemente as condições do espaço natural (BRANCO, 1984, FUKUBARA, 1992, CEPEU, 1968). Alguns outros historiadores indicam como origem do nome Cubas Town, isto é a cidade de Brás Cubas.

Na verdade, o espaço natural aparece sempre como um forte determinante de todo o processo de ocupação humana do município, funcionando ao mesmo tempo como elemento indutor e limitante do seu desenvolvimento, desde os seus primórdios.

No livro O Caminho do Mar - Subsídios para a História de Cubatão, editado pela Prefeitura Municipal de Cubatão em 1973 (1ª edição), a autora Inez Garbuio Peralta dedica o primeiro capítulo à análise desse topônimo:

O nome como interpretação da realidade

A História de Cubatão é rica em peripécias, bastante pitoresca e de grande interesse para os estudiosos da História paulista.

Desde suas remotas origens até hoje, encontramos ao longo da História de Cubatão fatos que nos atraem a atenção e que ainda aguardam explicações mais claras e detalhadas.

Um desses pólos de interesse é o próprio nome da cidade e Município.

De fato, o topônimo Cubatão é de origem e significação controvertida, permanecendo ainda hoje como objeto de discussão entre os estudiosos do assunto. Há muitas interpretações possíveis, embora nenhuma seja definitiva ou irrefutável.

No caso da atribuição deste nome à cidade de Cubatão, praticamente todas as interpretações condizem com a realidade histórica e geográfica do local.

Na realidade, Cubatão, até o século XIX, é:
porto - rio mar;
lugar de embarcação
estrada - ponto de encontro;
enseada;
despenhadeiro;
lugar de cachoeiras na escarpa da serra;
fralda de despenhadeiro;
lugar de cubatas - cabanas de negros;
pequenos morros no sopé de cordilheiras;
pé-de-serra.

Qual destes fatos terá sugerido o nome do lugar?

Por que foi dado o nome de Cubatão a esta região? À serra, ao rio, ao povoado?

Estas questões permanecem em aberto até o momento.

Os nomes interpretativos da realidade costumam ser atribuídos aos lugares, espontaneamente, entrando para o consenso geral.

Cubatão parece ser um desses nomes, nascidos sem justificativas históricas. A realidade geográfica e topográfica o justifica. Cabe ao pesquisador tentar saber qual o aspecto que teria motivado a atribuição desse nome ao lugar.

Um trabalho desta natureza, para ser completo, exigiria uma pesquisa mais profunda no campo da linguística, filologia, semântica, história, economia e sociologia. Se conseguirmos decifrar tal questão em todas essas dimensões, teríamos base mais sólida para enfocar o ponto de maior interesse em determinada época.

Infelizmente, por falta de fontes, não temos condições para desenvolver uma pesquisa de tal amplitude. No entanto, faz-se mister tratarmos desses aspectos, embora sem a profundidade científica necessária. Limitar-nos-emos apenas a formular algumas hipóteses.

Embora não se possa identificar exatamente qual o aspecto que teria servido de força motriz para a atribuição deste nome, parece certo que ele foi realmente motivado.

Na verdade, as diversas hipóteses formuladas são válidas diante da primitiva realidade física, geográfica e histórica do povoado.

O topônimo Cubatão aparece empregado não somente para designar acidentes geográficos da Baixada Santista, mas é conhecido também em outras regiões do país, como por exemplo no Paraná e Santa Catarina.

É ele utilizado no entanto para nomear regiões geográficas semelhantes, isto é, região de baixada litorânea próximo à escarpa das montanhas; local onde forçosamente o meio de transporte precisava ser totalmente mudado. Nas baixadas podia-se utilizar a navegação através dos diversos cursos de rios, enquanto nas serras o trajeto era feito inicialmente a pé.

Esse fenômeno provocou a denominação de cubatões aos portos de pé-de-serra. Temos então: cubatão de Santos, cubatão de Paranaguá, cubatão de São Francisco [1]

Contudo, só em São Paulo o topônimo adquiriu maior importância, passando a ser utilizado para designar o Rio, a Serra, o Porto, a Cidade e finalmente o Município paulista.

Apresentamos em seguida algumas tentativas de interpretação, selecionadas entre aquelas que nos pareceram mais significativas.

Para Frei Gaspar da Madre de Deus, Cubatão significa simplesmente porto [2].

Azevedo Marques, nos seus apontamentos históricos, vai um pouco além e explica: "Cubatão, nome que os indígenas davam aos portos de mar morto nas fraldas das serras e montes" [3].

João Mendes de Almeida, em sua obra Dicionário Geográfico da Província de São Paulo, dá duas versões para o vocábulo cubatão: uma em se tratando de serra marítima deste nome, cujo significado seria "empinado em escadaria", sendo corruptela de Gu-bi-itã; a outra falando de dois rios que nascem na serra, o autor dá a seguinte tradução: "empinado, dependurado e caído", havendo a corruptela Gui-pai-ta-ã [4].

Francisco Martins dos Santos expressou sua opinião na obra História de Santos da seguinte forma: "Embora atribuam ao vocábulo Cubatão a significação de pequeno porto para canoas, a verdade é que chamam cubatões a pequenos e fundos remansos de alguns rios. Esta denominação, que pode ser notada em escrituras e papéis de 1540, 1552 e 1557, é simples corruptela do tupi Cui-pai-ta-ã contraído em cui-pai-tã e transformado por assimilação portuguesa em Cubatão, alusivo à formação do rio que cai do alto [5].

José de Souza Bernardino, no seu Dicionário da Terra e da Gente do Brasil, sem se preocupar com a origem do vocábulo, explica: "Cubatões, usado no plural, significa na região oriental de São Paulo os pequenos morros nas vertentes, ou melhor, no sopé das cordilheiras. É o significado popular, talvez o melhor" [6].

Diferindo dos autores citados e atribuindo origem africana ao vocábulo, Antenor Nascente faz a seguinte afirmação: "Cubatão serra e rio de São Paulo. Do aumentativo de cubata, substantivo de origem africana (cubata, casa)" [7].

Essa afirmação é corroborada por Renato Mendonça em seu livro A Influência Africana no Português do Brasil [8].

Chegam alguns historiadores a afirmar que o topônimo é de origem hebraica "Kábataom", que em português significa precipício, tendo penetrado no Brasil provavelmente através de João Ramalho. Contudo, esta hipótese nos parece a menos válida de todas anteriormente expostas.

Uma leitura não muito apressada das várias opiniões deixa claro que a maioria delas considera o topônimo Cubatão de origem indígena.

A antigüidade de seu uso também sugere sua origem autóctone. Embora o termo africano cubata esteja mais próximo do nosso vocábulo Cubatão e a etimologia tupi da palavra nos pareça um pouco forçada, não diminui a probabilidade da origem indígena, uma vez que ela é certamente anterior à dominação tupi no litoral [9].

Notas bibliográficas:

[1] Para maiores detalhes veja-se A Baixada Santista - Aspectos Geográficos, sob a coordenação de Aroldo de Azevedo, vol. II, cap. III de autoria de Pasquale Petrone, p.53

[2] Frei Gaspar da Madre de Deus - Memória para a História da Capitania de S. Vicente, hoje chamada de São Paulo, São Paulo, 1953, p. 87/89.

[3] Manuel Eufrásio de Azevedo Marques - Apontamentos Históricos, Geo., Biog., Estat. e Noticiosos da Província de São Paulo, São Paulo, publicação do IHGB, Livr. Martins Ed. (1954), tomo I, (1879), p. 208.

[4] João Mendes de Almeida - Dicionário Geográfico da Província de São Paulo.

[5] Francisco Martins dos Santos - História de Santos in O Reformador ed. Especial de 9/4/1952 (periódico cubatense já extinto).

[6] Euclides da Cunha - Carta a José Veríssimo em 6.9.1904, Revista da Acad. Bras. de Letras nº 108, dezembro de 1930. O mesmo vocábulo é utilizado para nomear outros acidentes em outras regiões do Brasil.

[7] Antenor Nascentes - Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, tomo II - (nomes próprios), Pref. de Serafim Silva Neto, Rio de Janeiro, Livrar. Francisco Alves, 1952, p. 84.

[8] Renato Mendonça - A Influência Africana no Português do Brasil, Rio de Janeiro, 1933, Gráfica Sauer, p. 99. Veja-se ainda: Orlando de Albuquerque - O homem que tinha a chuva, Lisboa, 1968, onde o termo cubata é usado com o sentido de casa, choça de formato arredondado.

[9] É sabido que as tribos dos Miramomis e dos Caingangue habitaram a Capitania de São Vicente antes da dominação dos tupi. O vocábulo provavelmente teve origem na língua dessas tribos, embora não seja possível ter certeza, pois tal língua não chegou até nós. Este fato que confirma nossa hipótese foi-nos oportunamente lembrado pelo prof. Dr. Eduardo de Oliveira França, diretor da FFLCH da USP, antes da entrega dos originais deste trabalho para impressão.

Diversos outros topônimos cubatenses marcam a influência indígena nessa região, como registra o livrete O que você precisa saber sobre Cubatão, editado em 2002 pela empresa Design & Print, de Cubatão/SP, com apoio do Arquivo Histórico Municipal: 

Topônimos

Os topônimos são os nomes próprios dos lugares. Fizemos uma breve coletânea para notarmos a forte influência da língua tupi em nossa região:

Caraguatá - do tupi "carauaá tá", designação de espécie de bromélias, das quais os índios confeccionavam cordas.

Casqueiro - Junção do substantivo casca e o sufixo eiro. Lugar onde se descasca madeira para serrá-la. O termo também indica "sambaqui", ou seja, antiqüíssimos depósitos de conchas, restos de cozinha e urnas funerárias datados da pré-história.

Cotia-Pará - Junção das palavras tupis "acuti", significando "que come em pé", e "pará", significando "grande rio, quase mar". Podemos deduzir que seja, portanto, "lugar próximo ao mar onde se come em pé", talvez fazendo referência ao sambaqui existente na região.

Itutinga - do tupi "i", água; "tu", rumorejante, que faz barulho; "tinga", branco. Portanto significando "água branca rumorejante" ou "água branca que cai do alto".

Mogi - do tupi "mboi", cobra; "gy", rio, correspondendo a "rio das cobras".

Nhapium - do tupi seguindo as variantes jatium, nhatium, inhatium. Significa "mosquito que pica". Conforme Gabriel Soares de Souza, "há outra casta (de mosquito) que se cria entre os mangues, a que os  índios chamam inhatium...".

Paranapiacaba - do tupi "Paraná", mar; "apiacaba" vista, visão. Sendo, então, lugar donde se tem vista para o mar. Entretanto, Francisco Martins dos Santos defende que o termo original tupi é "pêranáipiâquaba", que significa "passagem do caminho do porto de mar".

Peaçaba - palavra de origem túpica, se compõe de "pe" e "açaba" e significa "o porto", o lugar onde vem ter o caminho; a travessia. Conforme Teodoro Sampaio: "quando os caminhos desciam até o mar ou grandes rios navegáveis, ao extremo desses caminhos, ordinariamente um porto, davam os tupis o nome apeaçaba que quer dizer saída ou travessia do caminho e de que, por corruptela, se fez peaçaba". Outro estudioso, Paulo Prado, nos cita o seguinte: "outra vereda, deixando a peaçaba do Rio Cubatão, saía ao porto de Santa Cruz, subia a serra também chamada de Cubatão, procurava a margem do Tutinga".

Perequê - do tupi "pira", peixe; "", aqui, significando "lugar onde há peixes" ou "viveiro de peixes", onde todos estão pulando como em conflito.

Piaçagera - do tupi "pia", porto; "çaguera", velho, antigo. Portanto, "porto antigo" se referindo ao existente no Rio Mogi e utilizado por Martim Afonso de Souza no encontro com João Ramalho, isto em 1532.

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