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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Martim Afonso em Cubatão (1)

Quando o fundador de São Vicente distribuiu terras e subiu pela Serra do Mar

Texto incluído na obra Antologia Cubatense, selecionada e organizada pela professora Wilma Therezinha Fernandes de Andrade e publicada em 1975 pela Prefeitura Municipal de Cubatão, nas páginas 118 a 120:

Martim Afonso de Souza em Cubatão

MADRE DE DEUS, Frei Gaspar da. "Memórias para a História da Capitania de São Vicente". 3ª edição. São Paulo e Rio, Weiszflog Irmãos, 1920, p. 174.

"Não satisfeito o incansável Martim Afonso com ter explorado a costa, projetou alguma noção dos sertões deste continente, empresa não intentada pelos capitães seus antecessores, os quais se contentaram com explorar os mares, e ver as praias.

Servindo-lhe de guia João Ramalho, embarcou-se em São Vicente, e foi passar o Caneu, aquela baía de água salgada, em cuja passagem, tendo ela sido livre por mais de dois séculos aos moradores da Marinha, e Serra acima, que navegavam e se comunicavam pelo lagamar de Santos, e Portos, a que chamam Cubatões, a Junta da Fazenda Real de São Paulo, presidida pelo Governador e Capitão General Martim Lopes Lobo de Saldanha [1] vendo que os rendimentos reais da Capitania eram muito limitados para as grandes despesas, que era obrigada a fazer, estabeleceu um imposto, bastantemente rendoso, mas sem que Sua Majestade o ordenasse por lei; ficando desde então a dita passagem do Caneu administrada por contrato Real, em que anda até o presente.

Em um  destes portos, chamados Cubatões, que ficava em terras pertencentes n'outro tempo aos Jesuítas do Colégio de Santos, e agora a Luiz Pereira Machado, foi desembarcar o primeiro Donatário, o qual lhe deu o nome de Porto de Santa Cruz, trocando por este apelido o que antes tinha de Porto das Armadias, segundo declara o dito Martim Afonso na carta de Sesmaria por ele concedida a Rui Pinto (o grifo é nosso).

Entrava-se para ele pelo esteiro chamado Piraiquê, o qual faz confluência com o Rio do Cubatão Geral pouco acima da Ilha do Teixeira, assim denominada, por ter sido do Capitão-mor, e Provedor da Real Casa da Fundição, Gaspar Teixeira de Azevedo: hoje chamam-lhe Piassagüera, nome composto do substantivo piassaba, que significa porto, e do adjetivo aquéra, cousa velha, ou para melhor dizer, antiquada.

Aqui deu princípio à sua viagem para o campo de Piratininga pelo caminho de que se serviram os portugueses até o ano de 1560 , em que o Governador Geral do Estado Mem de Sá, vindo a esta Capitania, ordenou que ninguém o freqüentasse, por ser infestado de índios nossos contrários, substituindo em seu lugar a estrada do Cubatão geral [2], a que as Sesmarias antigas chamam Caminho do Padre José, por o ter aberto, ou consertado, o Venerável Padre José de Anchieta.

Subiu a escabrosíssima serra de Paranapiacaba (este nome quer dizer: sítio donde se vê o mar); em chegando ao planalto dela, havia de conhecer a impropriedade com que dera o nome de Rio de São Vicente à barra descoberta no dia deste Santo, pois dali havia de ver que as três Barras da Bertioga, Santos e S. Vicente não são rios, mas sim três boqueirões, por onde o mar brasílico vem formar um espaçoso lagamar entre a terra firme e as duas ilhas de S. Vicente e Santo Amaro.

Encurva-se nessa paragem a mencionada terra firme, composta de serras altíssimas, com a figura de arco perfeito, e compreende no seu semicírculo as ilhas, e Lagamar referidos.

Descobrem-se daquela eminência muitas léguas de mar, e terra, e parece a quem olha de cima que está vendo um jardim ameníssimo com ruas alagadas, e canteiros de vegetais sempre verdes; porque as águas do mar, depois de passarem as mencionadas ilhas de Santo Amaro e São Vicente, formam inumeráveis canais entre si unidos, e entresachados de lamarões cobertos de árvores, a que no Brasil chamam mangues. Não há prospecto mais agradável que este; porém, raras vezes o desfrutaram os viandantes, por estar o cume das serras ordinariamente coberto de nevoeiros, que impedem a vista dos objetos inferiores.

Nesta viagem não basta chegar-se ao pico, para se ter dado fim às subidas, e vêem-se os caminhantes obrigados a continuá-las, quando as reputam acabadas; porque os cumes dos outeiros servem de base a outros montes, que adiante se seguem, e assim vão prosseguindo, de sorte que é necessário aos viandantes caminharem, como quem sobe por degraus de escadas.

Vencido finalmente este caminho, talvez o pior que tem o mundo, chegou Martim Afonso ao campo de Piratininga, onde se achava aos 10 de outubro de 1532, e ali assinou nesse dia a Sesmaria de Pedro de Góis, lavrada por Pero Capico, Escrivão de El Rei [3].

Examinou o terreno, quando lhe foi possível, do qual formou idéia muito vantajosa; mas por isso mesmo, tanto que se recolheu à Vila de S. Vicente, deu providência digníssima da sua alta compreensão, ordenando que nem a resgatar com os índios pudessem ir brancos ao campo sem sua licença, ou dos capitães seus loco-tenentes, a sujeitos bem morigerados. Desta regra generalíssima só foi exceptuado João Ramalho, o qual veio situar-se meia légua distante da Borda do Campo, no lugar onde hoje existe a Capela de S. Bernardo [4].

NOTAS EXPLICATIVAS

[1] Martim Lopes Lobo de Saldanha foi governador e capitão-general da Capitania de São Paulo de 1775 a 1782. Frei Gaspar alude ao problema da cobrança da Passagem fluvial de Santos a Cubatão e vice-versa.

[2] D. Ana Pimentel, esposa e procuradora do donatário Martim Afonso de Souza, em Lisboa, a 11 de fevereiro de 1544, levantou, por meio de um alvará, a proibição de ir ao planalto de Piratininga.

[3] Ver "A doação de terras no Brasil por Martim Afonso de Souza", nesta Antologia.

[4] O local da capela de S. Bernardo é hoje aproximadamente Santo André.

Veja mais:
Martim Afonso de Souza e o Porto de Santa Cruz
Algumas anotações sobre as divisas das três primeiras sesmarias brasileiras
A doação das primeiras sesmarias brasileiras por Martim Afonso de Souza
Os documentos:
      A doação de terras a Pero de Góes (a primeira)
      Auto de posse de Pero de Góes
      A doação de terras a Rui Pinto (a segunda)

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