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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - HQs
Quadrinhos têm destaque na região (3)

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Um pioneirismo para São Vicente - a criação em 2004 da primeira fanzinoteca do Brasil (e a terceira do mundo) - foi registrado na edição de 21 de outubro de 2004 do jornal santista A Tribuna:


Para formar o acervo do novo equipamento, foram reunidos cerca de 200 trabalhos, entre mangás, histórias de heróis e humor
Foto: reprodução, publicada com a matéria

QUADRINHOS
São Vicente vai ganhar fanzinoteca

Fanzineiros terão um espaço para mostrar seu trabalho e trocar idéias

Da Reportagem

Reconhecimento e imortalização da obra de quem nunca teve espaço na mídia, bem como sua apresentação ao grande público. Chegou a vez dos outsiders. A iniciativa, inédita no Brasil, vem de São Vicente e vai se concretizar dia 11 de novembro, com a inauguração de uma Fanzinoteca.

Só para dar a dimensão desse novo espaço cultural, será a terceira Fanzinoteca criada do mundo, segundo o coordenador do projeto, Fábio Tatsubô. "Há uma na Galícia (Espanha), que faz a catalogação anual mundial, mas não é aberta à visitação pública; e outra em Paris, que não faz catalogação (recebe fanzines por meio de doação), mas cujo acervo fica à disposição das pessoas. A nossa será a união dos dois sistemas".

A idéia da Fanzinoteca surgiu em 1999, quando a prefeitura estimulou a produção de fanzines sobre as lendas locais, e, depois, para comemorar os 500 anos do Descobrimento. Foi neste último projeto, com apoio do Sistema A Tribuna de Comunicação, que São Vicente abocanhou o cobiçado Troféu AHQ Mix, o mais importante da América Latina no gênero. O passo seguinte foi organizar oficinas de iniciação e de aperfeiçoamento.

"A produção disso tudo nos fez descobrir, em nossa cidade e na região, excelentes autores e inúmeros novos talentos. Daí veio a idéia de abrir uma Fanzinoteca", diz o coordenador Fábio Tatsubô.

Mapeamento - Em janeiro deste ano, a prefeitura de São Vicente começou a fazer o mapeamento da produção de fanzines no Brasil, para conhecer o universo, as tendências (ficção, humor, heróis, mangá...), iniciativa inédita no País. Até porque, explica Fábio, a história em quadrinhos comprada em bancas não é nossa, mas sim um produto de fora que aqui recebe tradução (de acordo com nossa cultura) e nova paginação.

Foram recebidos cerca de 200 fanzines, principalmente de São Paulo, Ceará e Porto Alegre, envolvendo cerca de 3 mil pessoas (autores e colaboradores). Do total, 90% são de HQs, e o restante, de ficção, romance, poesia, literatura...

Outra descoberta: do total dos HQs, 60% são de mangás, 20% de heróis e 20% de humor. O curioso é que, também do total geral (dos quase 200), 40% dos fanzines são de autoras. Isso mesmo, de mulheres que produzem e editam, o que causou surpresa. No ano que vem, a idéia é estender a catalogação para Europa, EUA e Japão.

"No meio das artes plásticas, o fanzine é tido como subproduto. Se o artista plástico tem um criterioso trabalho para produzir um quadro, o fanzineiro também, e em dobro, pois cria as imagens e a narrativa. A Fanzinoteca vai imortalizar o autor, a obra e colocá-los em contato com o grande público. Quem tem o que dizer e mostrar quer que as pessoas ouçam e vejam", avalia Fábio Tatsubô.

No dia 11 de novembro, haverá uma exposição (com direito a painel e luz, do tipo das de artes plásticas) com as capas dos 200 fanzines, que poderão ser vistas até o dia 28. No dia seguinte, os fanzines inteiros estarão à disposição de curiosos e pesquisadores.

  

A região tem excelentes autores e inúmeros novos talentos

  

Mas o que é? - Para quem não sabe o que é, fanzine vem da soma das palavras fantastic e magazine (fã de revista). Surgiu na década de 30, nos EUA, entre apaixonados por ficção científica.

É uma publicação totalmente underground, anárquica, sem estética comercial, de característica autoral, na qual o autor publica suas idéias e necessidades de forma bem libertária. Geralmente é xerocada (ou distribuída via e-mail), mas durante anos foi mimeografada. Pode ser em forma de história em quadrinhos (o fanzine mais comum), literatura, música ou poesia.

"O fanzine circula em um meio fechado, sempre no mesmo circuito, via Correio. Geralmente o autor produz pouco, devido à falta de estrutura. É preciso mandar um trabalho para receber outros, ou seja, entrar no sistema. Agora, em tempos de Internet, está sendo um pouco mais divulgado. Mas é uma mensagem que morre logo, uma vez que você pode demorar até seis meses para fazer um fanzine, e, quando vai divulgá-lo, já surgiram outras idéias", explica Fábio Tatsubô.

Com a cara e a coragem, o normal é o fanzineiro sair por aí com sua produção debaixo do braço e bater de porta em porta para mostrar sua mensagem. Muitos conseguem, devido ao seu talento, ser contratados como desenhistas em agências e de marcas famosas de HQ. Para quem ainda não alcançou tal estágio, o ponto de partida pode ser a Fanzinoteca. Ela vai funcionar na Rua João Ramalho, 378. Mais informações pelo telefone 3467-7015.

Fábio Tatsubô, coordenador do projeto, diz que o fanzine é considerado um subproduto
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria

Os organizadores da Fanzinoteca também enviaram a Novo Milênio, em 13/10/2004, informação detalhada sobre o projeto:

A 2ª fanzinoteca do mundo

A cidade de São Vicente (SP) está criando aquela que pode ser considerada a 2ª fanzinoteca do mundo. A rigor, a primeira fanzinoteca do mundo é Fanzinothèque de Poitiers, na cidade francesa que também abriga o parque futurista de ciências, o Futuroscope. A página eletrônica da Fanzinothèque de Poitiers pode ser acessada aqui. A chamada Fanzinoteca da Casa da Xuventude de Ourense, sediada nesta cidade galega, é formada por 1.500 títulos de cerca de 30 países (inclusive do Brasil); mas na verdade, trata-se de um acervo físico, sem a catalogação dos fanzines. A Casa da Xuventude de Ourense é responsável, também, pela realização de Expofanzines anuais, da Semana da Banda Deseñada e de bienais de caricaturas. O primeiro grande passo para a constituição da Fanzinoteca de São Vicente acontece agora, em novembro, quando será realizada uma mostra nacional de fanzines em formato e abrangência inéditos: 205 fanzines estarão expostos; mas, diferentemente das mostras de fanzines já realizadas, na de São Vicente, cada um terá apresentação como numa galeria de artes: com luz direcional e moldura própria. Para além disso, está sendo confeccionado um catálogo da mostra, com tiragem inicial de 1.000 exemplares. O catálogo tem apresenteção de Gazy Andraus e posfácio de Sonia M. Bibe Luyten. Piter Yamaoka, responsável pela catalogação dos fanzines, se deu o trabalho de fazer uma tabulação da produção recebida. O dado mais interessante é que 40% da produção dos zines da mostra é feita por mulheres. 70% dos zines recebidos foram catalogados como mangás, 20% como sendo de heróis e cartuns, e 10% como outros. A maior parte, como era de se esperar, é do estado de São Paulo, mas o Nordeste e o Sul do país também marcam uma forte presença. A abertura da mostra acontece no dia 11 de novembro, às 19 horas; nesta noite, acontece o vernissage e o lançamento do catálogo. A coordenação da mostra, dirigida por Fabio Tatsubô, planejou mais 2 eventos, para ampliar o alcance da exposição: o lançamento do livro Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula deve acontecer no dia 17. No dia 24, acontece um grande debate, mediado pelo jornalista Paulo Ramos.

Os debatedores serão Jal e Gual, organizadores do HQ Mix e da Associação dos Cartunistas do Brasil; o cartunista de A Tribuna, jornal de Santos, Alex Ponciano; o pesquiador e fanzineiro Gazy Andraus; a fanzineira Elza Keiko, produtora do zine Orbital; a pesquisadora de mangás e quadrinhos, Sonia M. Bibe Luyten; e Marcelo Naranjo e Marko Ajdaric, representando o site de notícias Universo HQ. Todos estes eventos acontecem na Galeria de Artes do CCBEU (Rua Américo Brasiliense, 162).
 2 oficinas estão programadas: uma, para fanzineiros já profissionais, sobre anatomia de super-heróis com Ivan Reis - desenhista que faz o Super-Homem para a DC Comics -; e 2 para iniciantes, a cargo de André Prata, que já desenvolve trabalhos nesta área na cidade (especialmente em oficinas de mangás), e Emilio Baraçal, do Prancheta.com. Após o término da exposição, o acervo ficará disponível na Gibiteca Bigail, outro importante acervo do traço em São Vicente. A confirmação da 1ª fanzinoteca do Brasil deve acontecer pela apreciação dos vereadores da cidade de um projeto neste sentido. Espera-se que a Câmara confirme este presente para a Baixada Santista e para o Brasil.  Os próximos objetivos são a atualização anual do catálogo da fanzinoteca e a ampliação do convite - a partir de janeiro - para que fanzineiros do mundo todo enviem seus trabalhos. Ambas as iniciativas vão permitir a realização de pesquisas para que a produção do fanzine não se perca em sua efemeridade. Também para janeiro, está previsto que os produtores de e-zines (fanzines virtuais) comecem a ser catalogados e incorporados ao acervo.  Para mandar seu fanzine, o endereço é Secretaria da Cultura de São Vicente, Rua João Ramalho, 988, Centro, São Vicente (SP). CEP: 11.310-050. Telefone 0-13-3467-7015. A realização do evento é uma parceria entre as Secretarias da Educação e Turismo, com o apoio do Universo HQ, Associação dos Artistas - Música e Arte, Tico Toys - Brinquedos Educativos, HG Surf Kids e Vem Que Tem. Para conhecer o que São Vicente tem feito pelo mundo do traço, consulte o acervo do Universo HQ. As atualizações e confirmações sobre o evento poderão ser acompanhadas em http://www.neorama.com.br/fanzinoteca.htm.

Galeria de Artes do Centro Cultural Brasil Estados Unidos (CCBEU), em São Vicente,
que abrigou a exposição dos fanzines
Foto: divulgação

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