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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Narciso de Andrade (2)

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Artigo publicado na seção Tribuna Livre do jornal santista A Tribuna, em 23 de julho de 2005:
 


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Narciso, o vento e as maresias

Maurílio Tadeu de Campos (*)
Colaborador

Conheci Narciso de Andrade, num primeiro momento, através de suas crônicas que eram publicadas em A Tribuna. Ali aprendi a perceber nele um escritor digno de ser admirado e imitado. Naquela época, ele era para mim apenas um nome, um quase mito. Estava ligado a outros escritores como Roldão Mendes Rosa, por exemplo. Eu imaginava como seria bom conviver com esses intelectuais e o quanto aprenderia com eles. Depois, conheci os poemas de Narciso, jamais editados em livros, mas que podiam ser lidos em jornais. Revelavam um talento e uma sensibilidade comparáveis às dos grandes escritores. Então, me perguntava: por que essas crônicas e poemas não estavam reunidos em livro? Onde poderia encontrar algo mais sobre Narciso de Andrade?

O tempo foi passando e a admiração por aquele personagem, fisicamente desconhecido mas já bastante íntimo quando encravado nos textos de sua autoria, cresceu e deu a mim um dever de quase idolatria.

Onde andaria Narciso? Minha pergunta sem resposta remeteu-me a sair procurando, indagando... Uma pessoa amiga, um dia, deu-me o endereço de Narciso, pois eu estava coordenando um concurso literário e a idéia seria aproveitar a oportunidade para homenagear um poeta. Claro que a escolha recaiu sobre Narciso. Ele aceitaria a homenagem?

Na casa de Narciso, fui recebido por d. Amélia, sua esposa, gentilíssima. Ela foi, de início, a intermediária no contato com o poeta. Consegui a autorização.

Precisei retornar à casa de Narciso para que fossem escolhidos alguns poemas seus para ser interpretados na noite da premiação do concurso. Dessa vez o próprio Narciso me recebeu. Finalmente o escritor revelou-se a mim fisicamente, um ídolo mostrando-se ao seu admirador. Sua figura simpática, sempre sorridente e amável saudou-me com emoção, percebi. Eu também estava emocionado. Esse contato foi o início de uma grande amizade.

Mais uma visita e já estava eu amigo de fato do meu quase mito. Falamos de poesia por quase três horas. A modéstia não permitia que ele ficasse prosa com os elogios que eu fazia aos seus poemas, à sua pessoa.

 

Como poucos, o poeta soube como trabalhar as palavras

 

A homenagem e a premiação do concurso aconteceram no dia 13 de maio de 2005, no Teatro Municipal, em clima de emoção e muita energia, reveladas pelos poetas finalistas e transmitidas a todos através da presença de Narciso de Andrade, um poeta de fato, grandioso, feliz. Ele estava onde gostava, entre amigos, no meio de poetas. A emoção estampada no rosto de Narciso e de seus familiares encheu a noite de brilho. A homenagem tornou-se pequena, diante de um grande escritor e poeta. E lá estava ele, presente, comovido.

Passada essa noite mágica, surgiu uma preocupação: a homenagem acabaria ali, sem que outros momentos iguais pudessem acontecer, em reconhecimento a esse grande poeta?

Narciso soube, como poucos, trabalhar as palavras e usá-las para demonstrar seu singular talento e nos transmitir mensagens e impressões que só a real sensibilidade pode capar e reproduzir. E, só por isso, não fosse por inúmeras outras qualidades que possui o cidadão Narciso de Andrade, as homenagens devem continuar, sejam elas simples ou grandiosas, mas sempre dignas desse arauto das boas palavras.

Neste 20 de julho Narciso completou 80 anos. Mais um momento a comemorar, mais uma homenagem a esse homem notável, exemplar, companheiro do mar, do vento e das maresias.

"Com tanto navio para partir, minha saudade não sabe onde embarcar..." Esses dois versos iniciais do poema "Cais", de autoria de Narciso de Andrade, são tão significativos que, caso ele quisesse e sem desmerecer o poema inteiro, poderia escrever somente os dois versos e o seu poema estaria completo. Por esse exemplo e por muitos outros, contidos nos poemas de Narciso, fica impossível falar do Porto de Santos sem associar a ele a figura de Narciso de Andrade. Ele foi, por coincidência, repórter de A Tribuna e responsável pelo caderno do porto, uma de suas paixões. E sobre Santos, seu cotidiano e o seu porto, Narciso soube registrar, como ninguém, o que de mais preciso e singelo existe nesse ambiente.

Inúmeras crônicas publicadas em A Tribuna, sempre aos domingos, até o ano de 2001; vários poemas publicados em jornais; nenhum livro publicado. O que falta para que o trabalho de Narciso de Andrade seja reunido em livro, para que todos possam usufruir seu talento? Quando questionado sobre o fato de não ter editado um único livro, Narciso diz: "Sempre foi difícil encontrar editor disposto a investir em poesia".

Lúcio Menezes ilustrou vários poemas de Narciso, publicados em A Tribuna. Por que não reunir esses trabalhos em livro? Por que não perpetuar a memória cultural santista através da iniciativa de editar Narciso?

Do seu apartamento na Ponta da Praia, Narciso pode ver toda a orla da baía de Santos e seus "crepúsculos modorrentos". Essa paisagem, certamente, deve ter inspirado Narciso a colocar no papel textos iluminados, belos e carregados de mensagens que refletem o senso crítico do homem que consegue traduzir o seu tempo, pois tem o dom, a sensibilidade e a rara capacidade de bem escrever, qualidades essas somente encontradas nos grandes escritores.

Narciso merece ser reconhecido como o "poeta do vento e das maresias", pois está impregnado no mar, no cais, nos navios que chegam e tornam a partir, na saudade e na vida agitada mas também tranqüila de Santos.

(*) Maurílio Tadeu de Campos é professor, escritor e poeta. É presidente da Contemporânea - Projetos Culturais, entidade voltada à cultura.

Narciso de Andrade foi homenageado em duas peças publicitárias publicadas pela empresa operadora portuária Libra Terminais em jornais santistas como A Tribuna, em 2004 e 2005:


Publicado em 9 de novembro de 2004 no jornal santista A Tribuna


Publicado em 5 de maio de 2005 no jornal santista A Tribuna

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