ARTE
A luz de Hamen

Passando a Ponte Pênsil, em direção à Praia de Paranapuã (ou Praia das Vacas) pela Avenida Saturnino de Brito, em São Vicente, há uma curiosa galeria de arte. Não se trata apenas de mais um espaço onde são expostos dezenas de quadros. A construção, em si, já é uma verdadeira obra de arte, de autoria do artista plástico Luiz Hamen. Uma casa que possui vida própria, cheia de cores e formas, em que diversas esculturas parecem saltar das paredes e do chão.

Um tapete de concreto, todo salpicado com tampinhas metálicas de garrafas, corre pela escadaria com muito movimento, levando o visitante até o piso superior da galeria, onde as obras ficam expostas. O local transpira Luiz Hamen. É uma verdadeira autobiografia, apresentada em textos visuais que retratam os sentimentos do autor, em seus 50 anos de trabalhos artísticos.

A partir do dia 5, estarão expostas no ateliê cerca de 80 obras de Hamen. Uma das que mais chamam a atenção é o quadro Maternidade, que exprime o sofrimento de uma mãe diante da filha morta.

"Tenho muito carinho por esta obra. Quando pintei este quadro, estava muito sensibilizado com o ataque terrorista que massacrou muitas crianças, em uma escola de Moscou, em 2004. Deixei registrada na obra a dor daquela mãe e a minha também", ressalta.

Na exposição, um dos temas mais apresentados é a vida caiçara, com gente nas praias e barcos pesqueiros. "De 1980 para cá, refugiei-me neste maravilhoso lugar poético, romântico e acolhedor, bem ao lado desta obra de arte chamada Ponte Pênsil. Por morar neste lugar com a minha esposa, tão próximo ao mar, atraí-me por este tema", revela o artista plástico.

Mas a vida de Luiz Hamen nem sempre foi tão colorida, tranqüila e pacífica como os seus temas marinhos. Durante a época da ditadura militar do Brasil, o artista inaugurou uma galeria chamada Varanda. "Ali fiz uma exposição coletiva com a amiga Beatriz Rota Rossi. Nossas obras interpretavam em xilogravura o trabalho do nosso amigo escritor e dramaturgo Plínio Marcos. Como eram anos de chumbo, a mostra foi fechada na noite de inauguração pela repressão. Mas na última hora, se não fosse a intervenção de Mario Schenberg (falecido físico nuclear respeitado internacionalmente e crítico de arte), sem dúvida, seríamos presos naquele momento", lembra.

A vernissage será no dia 5, às 20h30. A exposição fica aberta ao público de segunda a sexta das 14 às 18 h, até o dia 20 de julho. A Galeria Luiz Hamen fica na Avenida Saturnino de Brito, 862, em São Vicente. Telefone 3567-1781. E-mail: luarathordo@yahoo.com.br.