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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - BEATRIZ
Beatriz Rota-Rossi (10)

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Argentina radicada em Santos, Beatriz Y. Allevato de Rota-Rossi é artista plástica, professora de universitária de História da Arte no Brasil, Cultura Brasileira, Estética e Cultura de Massa, tendo se aprofundado sobre temas que os próprios brasileiros geralmente desconhecem, como as artes indígenas. Em Santos, Beatriz conviveu com seu primo, Alex Vallaury, que entre outras ações introduziu no Brasil a arte do grafite. Sobre o primo, ela escreveu a biografia Alex Vallaury - Da Gravura ao Grafite. E, sobre essa obra, publicou em seu blogue ArteVaral (acesso: 23/3/2013):

QUINTA-FEIRA, 23 DE OUTUBRO DE 2008
Homenagem a Alex Vallauri
 

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Bem-vindos ao blog Artevaral que volta para homenagear o artista plástico, desenhista, gravador e grafiteiro Alex Vallauri, um ser humano fora de série.
Os textos e imagens foram retirados do livro "Alex Vallauri, da gravura ao grafite - Biografia", de autoria de Beatriz Rota-Rossi. Única biografia autorizada pela família do artista.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 21:17



Prefácio

Este livro tem por objetivo revelar documentos inéditos do artista plástico Alex Vallauri, para melhor entender sua obra. Procurei evitar especulações demasiado pessoais, tentando manter a recomendável distância emocional para narrar os fatos, o que foi extremamente difícil devido à cotidiana e insubstituível presença de Alex em minha vida. À minha emoção somou-se a dos entrevistados, também eles com relatos permeados de ternura, saudade, admiração, gratidão e um desejo unânime de trocar a ausência de Alex por um repertório infindável de lembranças.

 

Alex foi um ser humano dominado pela paixão de criar e pelo prazer de viver. Moldou seu caráter com um profundo sentido de responsabilidade profissional. Conservou inalterada a ingenuidade da criança. O destino não o poupou de duros golpes, mas seu comportamento nada tinha a ver com a do artista maldito cantado pelos românticos.

 

Obstinado, colocou a serviço da arte todas as suas possibilidades inventivas. Para acompanhá-lo nessa tarefa arrebanhou família, amigos e outros artistas que o seguiam entusiasmados envolvidos por sua personalidade. Afinal, só se podia ganhar com isso. Alex misturava tudo. Pegava uma camiseta com as mãos sujas de uma amálgama de tinta para a impressão e talco, colocava na prensa e girava o timão para fabricar mais uma de suas camisetas xilogravadas. Um luxo. Então... ensinava: - coloque assim, não encoste ali, puxe a beirada e ponha mais tinta!

 

Enquanto isso, tocava numa vitrolinha toda torta e empoeirada o primeiro disco da Roxy Music, um carro buzinava na porta da garagem e dona Lea chamava para almoçar.Eu olhava figuras e mais figuras espalhadas pelo ateliê, referências: sacos de padaria impressos, carimbos padronizados, livros de fetichismo, mulheres nuas, suecas de 1950 (eu adorava), ilustrações de coelhos ingleses, algumas antigas com anos de história e comportamentos e até cheiro, codificados entre seus sinuosos traços.

 

Alex ensinava a combinar coisas, conhecia profundamente linha, textura e cores existentes em cada uma e fez de tudo para aproximar o universo dos artistas anônimos, fazedores de carimbos e desenhistas de anúncios de sapatos ou a obra de Warholl a seu universo de artista criador, genial e conceitual.Foi mais longe. Não estampou suas obras só em telas nem as imobilizou entre quatro paredes. Devolveu para a rua (para todos) o que achou lá, muito melhorado. [1]


Pelo ateliê circulavam objetos pessoais, correspondências, notas aqui e ali, desenhos, alguns sem data, numa bagunça indescritível. Nos raros dias de faxina apareciam arrumados com rigor monacal e desapareciam no caos do dia seguinte.

 

Depois de sua morte tudo ficou silencioso em gavetas e caixas. Lea Vallauri, sua mãe, João Spinelli, seu amigo, Claudia Vallauri, sua irmã, e eu nos dedicamos a organizar o que parecia impossível.

 

Com tão farta documentação, e ainda a minha particular, pensamos que poderia se escrever uma biografia de Alex que enfocasse sua opção pelo desenho e a gravura como meios de expressão; seus triunfos precoces como xilogravador e, em especial, a sua busca de por uma linguagem plástica singular – que começou aos onze anos de idade e desembocou na Bienal Internacional de São Paulo, de 1985, com A Festa na Casa da Rainha do Frango Assado.

 

[1] Pierluiggi Canepa em e-mail de 24 de julho 2004
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 21:02


Homenagens póstumas a Alex Vallauri (1949-1987).
Emissoras de TV, jornais e revistas do Brasil, Estados Unidos, França e Itália noticiam sua morte. O jornal L'Express, da França, comenta seu falecimento lembrando que quando os grafites de Alex invadiram os muros de Nova Iorque o jornal lhe dedicou uma página inteira.

 

Em 1987, a Associação Paulista dos Críticos de Arte lhe concede o prêmio em Arte e Comunicação in memoriam, no evento: "Os melhores de 1987". O Professor Pietro Maria Bardi, intelectuais, artistas e jornalistas realizam homenagens póstumas.

 

No mesmo ano, uma sala recebe seu nome no Museu de Imagem e Som de São Paulo (MIS).

 

Em 1988, a Prefeitura da Cidade de São Paulo, através do decreto 25.833, de 28 de abril de 1988, cria a Travessa Alex Vallauri, no bairro de Itaim Bibi à altura das ruas João Cachoeira e Tabapuã e consagra o dia 27 de março, dia de seu falecimento, como Dia Nacional do Grafite.

 

Sua obra figura na coletânea de obras de 34 artistas brasileiros contemporâneos, editada pela KSB do Brasil, em 1988, sob o patrocínio do Ministério da Cultura do Estado de São Paulo, com apresentação de Radha Abramo e curadoria de Noris Lisboa.

 

No mesmo ano, o Espaço FUNARTE, já restaurado, homenageia Alex convidando artistas plásticos para renovar o mural de 100 m2 por ele produzido e que hoje leva o seu nome. Trabalham Alex Fleming, Carlos Matuck, Hudinilson Jr., John Howard, Julio Barreto, Mauricio Villaça, Vado do Cachimbo, Waldemar Zaidler e muitos outros.

 

Em 1989, o Paço das Artes, em São Paulo, inaugura a Sala Alex Vallauri. No mesmo ano, se realiza uma exposição de inéditos de Alex na Galeria Susanna Sassoun, também em São Paulo e A Secretaria de Cultura da Municipalidade de Santos o homenageia com uma exposição no Teatro Patrícia Galvão, com apresentação do crítico de arte Jacob Klintowitz.

 

Nos anos subsequentes se sucedem exposições: no Museu de Imagem e Som do Estado de São Paulo (MIS), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), na Fundação Álvares Penteado, em São Paulo, no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e em várias galerias particulares.

 

Em 1997, a Secretaria da Cultura do Estado da Bahia o homenageia no Dia Nacional do Grafite.

 

No mesmo ano, o SESC Fábrica Pompéia realiza o evento Dez anos sem Alex também exibido pela TV Cultura de São Paulo.

 

Em 1999-2000, o Museu de Imagem e Som de São Paulo realiza, sob curadoria de Paulo Klein, uma exposição antológica que ocupa todos os andares do edifício e o museu fica depositário de várias de suas obras, de máscaras em stencil e de um grande acervo de slides.

 

Em 2001 A Universidade da Cidade de São Paulo, (USP) e a Prefeitura realizam uma homenagem com a presença de autoridades, artistas e intelectuais.

 

Mas a homenagem mais calorosa é a dos grafiteiros que, na doação anônima de seu trabalho, grafitam VIVALEX no buraco da Avenida Paulista.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 08:41


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O carro da Rainha do Frango Assado, Bienal de São Paulo 1985

A Casa da Rainha era uma instalação que começava já no térreo do prédio da Bienal. Uma casa de sala, cozinha e um banheiro sensual decorado ao estilo dos anos 50. A Rainha tinha direito a jardim com fonte iluminada com luz de néon. Paredes, móveis, eletrodomésticos, bibelôs e até papel higiênico foram grafitados com motivos de pele de onça e coxinhas de frango, assim como paredes e tapetes com motivos florais. A Rainha tinha um carro último modelo grafitado, um Monza doado pela General Motors, que hoje faz parte da coleção de carros da fábrica.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 08:36


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Grafite para a "Festa na Casa da Rainha do Frango Assado" SP 1985

Com a temática O homem e a vida, a Bienal de 1985 buscava retratar o presente, alinhavando e dando significado à heterogeneidade da produção artística contemporânea.

 

A mostra, que reunia a excelência do grupo Cobra, do Expressionismo no Brasil (Heranças e Afinidades) e do neo-expressionismo da Grande Tela, foi considerada pela crítica uma Bienal com grandes altos e baixos, mas será nas instalações que os comentaristas se detêm com agrado.

A situação melhora nitidamente nas instalações. O alívio é quase físico. Apesar de algumas delas não sobreviverem ao clima de "viagem", há uma intenção artística mais nítida em todo o conjunto. Da Cachoeira, de Leda Catunda, passando pelos trabalhos de Lenilson, até a Festa da Rainha do Frango Assado, de Alex Vallauri, pelo lado dos brasileiros; e, pelo lado dos estrangeiros, Ultima Thule, a instalação unanimemente apelidada de Casa de Borracha, do norueguês Per Inge Bjorlo, e especialmente Lês Ombres, de Christian Boltanski (...), em todo o núcleo de instalações respira-se bem melhor. *

* Reynaldo Roels Jr., Jornal do Brasil, A Bienal tem de tudo, RJ, 9 de outubro de 1985.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 08:28


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Alex com "Diabinho" em recorte, camiseta serigrafada e sky line ao fundo - SP 1984

Se eu quisesse conferir um mote à vida e à obra de Alex que lhe resumisse o sentido, seria −
a alegria como ideologia.

 

A exposição na Galeria São Paulo, com Carlos Matuck e Waldemar Zaidler, foi considerada uma das mais bem-humoradas do ano. O kitsch reinava na galeria numa irreverente distribuição de grafites estampados nos muros internos das salas: cadeiras, luminárias, quadros, mesinhas, bar, garrafas de vinho e taças, tudo grafitado.

Ninguém consegue viver longe do Kitsch porque ele faz parte da realidade de qualquer pessoa: do mendigo ao rei da Inglaterra, passando por nós, os artistas. O kitsch é uma situação romântica que não manipulo criticamente. Eu crio um clima de ilusão, de mentira, de trompe l'oeil e o kitsch é perfeito para isso. *
* O Estado de São Paulo, 20 de dezembro de 1983, s/p.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 08:16


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Muro com Telefone Soho, EUA - 1982

Me desencantei com o grafite daqui. Pensei que ia encontrar coisas inovadoras. Que nada! E eu que pensava que seriam os melhores do mundo! Não passam de pichações de fraco acabamento. Você ia gostar dos monstrinhos de Alan Parker e os poemas de Allan Boy dois caras da vídeoarte que valem a pena.*


O trabalho de Keith Kering (convidado pela quadrienal Documenta de Kassel, na Alemanha, em 1980, e pela Bienal de São Paulo, no mesmo ano), de Mark Hoxy e de Richard Hambledon, merece sua atenção. Suas imagens começam a invadir espaços da Broadway, Soho e Greenwich Village.

O Telefone, agora com o fio mais comprido, ornamenta muros virando as esquinas, desenhando os sinuosos percursos do diálogo humano.

Ao chegar à Nova Iorque, percebi que o telefone é muito importante para os norte-americanos. Eles o utilizam para melhor controlar suas vidas. A partir daí, saí pelas ruas imprimindo telefones por toda a cidade. **

* Carta a Beatriz, Nova Iorque, s/d 1982.
** Entrevista para o Jornal O Estado de São Paulo, 11 de janeiro de 1983, p. 12.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 08:07


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Muro com grafite de Alex e intervenção anônima, SP - 1979

Agir de maneira fortuita, na fronteira da marginalidade, encantava Alex. Mas se alguém pedisse uma obra para seu muro atirava-se ao trabalho com o mesmo entusiasmo.


Houve encontros desagradáveis com a polícia. Ele conta que só encontrará um clima mais ameno em Nova Iorque, onde as autoridades, já acostumadas com os grafiteiros, se limitavam a aconselhar: be careful, please!


Quero deixar a cidade mais bonita, soltar a imaginação das pessoas diverti-las...*
* Vallauri, Alex. Folha de São Paulo, 13 de agosto de 1984, Caderno 2.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 08:01


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A Bota - SP, 1979

Alex inicia seus grafites de forma anônima, com a imagem de uma bota.
A prática adquirida em lidar com as matrizes recortadas da xilogravura e o conhecimento do estêncil o levam a recortar o papelão em forma de máscara para imprimir a imagem em positivo, o que lhe possibilitará, do mesmo modo que com a gravura, multiplicar as figuras ao infinito. A Bota é o primeiro grafite em estêncil a aparecer nos muros da cidade de São Paulo.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 07:55


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Pernas de mulher Lápis sobre papel - Paris 1976

Bom dia! O destino? Tudo estava dando certo quando, de repente, pode crer, hepatite! Tanto tempo programando tudo...

 

Tô num quartinho de pensão pequeno, pequeno. (...) O dia custa a passar. Pensa-se muito, mas psicologicamente estou legal. (...) Acho que esta parada será produtiva, comecei outro desenho para a expo no Brasil e me sinto bem seguro com o que quero. Vou tentar chegar lá. Esterilizem esta carta! Vou espalhar vírus pelos continentes! E, agora, a desenhar!*

*Carta à irmã Claudia Vallauri, Paris, 1º de janeiro de 1976.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 07:49


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Xilogravura sobre desenho realizado em Estocolmo - 1975

Trabalharei na Lito (Lito Art Center de Estocolmo), como impressor. Começo daqui a duas semanas. É uma boa, 20 cruzeiros por hora e me contrataram por sete horas por dia. Posso economizar, comer minha marmita de arroz integral, sentado tranquilamente no murinho da beira do cais e descansar meus pés ainda inchados.*


O contrato não é seguro e nem sempre há trabalho, mas aproveita o tempo livre para desenvolver projetos em litografia com o uso de recursos fotográficos, e percorrer salas de exposições.

* Carta à Beatriz - Estocolmo - 10 de agosto de 1975
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 07:27


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Boca com alfinete Xilogravura em três cores - SP 1973


É convidado a participar do Núcleo de Gravadores de São Paulo (NUGRASP) coordenado por Izar de Amaral Berlinck. O Núcleo oferecia um lugar adequado para o trabalho, com apoio técnico e equipamentos necessários. Contava com impressores de gabarito para servir aos artistas que necessitassem de grandes tiragens.

Iniciei-me nas artes como gravador, seduzido principalmente pela reprodução em série de imagens, consequente barateamento do seu custo e possibilidades de maior divulgação de meu trabalho.*

* Alex Vallauri em release para a exposição na Pinacoteca do Estado de São Paulo - 1981
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 07:15


Alex e a autora num bar das Bocas de Santos

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"Outro bar" Xilogravura Alex e Beatriz no Bar My Love - Santos 1968

Escolhemos a Avenida Xavier da Silveira como ateliê ambulante - um pouco porque ficava mais perto do trajeto do trem, um pouco pela ausência de sofisticação dos freqüentadores.

Alex tinha um profundo desprezo pela hipocrisia burguesa.*

* Entrevista com a artista plástica Lydia Okumura, residente nos Estados Unidos por ocasião de sua exposição no Brasil, em novembro de 2004.

Postado por Beatriz Rota-Rossi às 07:06


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Mulher com anel Desenho em lápis de cor, SP - 1972

O universo dele era mágico. O quarto de dormir e os ateliês me atraíam. Havia papéis coloridos, papéis chineses recortados que pareciam se desmanchar no ar, caixinhas de todos os tipos, animais de gesso pintados com cores alegres, sapatos de salto alto pintados com listras ou de oncinha que ele usava nas obras. Agora, as músicas; não! Eram chatas pra caramba! Ele me dizia - Escuta essa- e cantava junto com o disco. E eu não aguentava! Mas eu sabia o quanto ele gostava de mim. Não precisava falar. Eu sabia.


Depoimento de Flavia Rota-Rossi e Mello, 28 de julho de 2005
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 06:58


QUINTA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 2008
Alex 1973


Alex Vallauri em São Paulo - 1973
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 08:22


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Hellen 1968

Alex a conheceu numa noite de sede em que entramos no ABC. Foi amizade à primeira vista entre a cinqüentona enigmática e o menino com careca de calouro da Álvares Penteado. Naquela noite, Alex fez um desenho a pastel de Helen.

SEXTA-FEIRA, 2 DE OUTUBRO DE 2009
ESTADOS UNIDOS

Estados Unidos, Nova Iorque, East Village era um dos destinos previsíveis da grande maioria dos artistas jovens da década de 80. Ali se desenvolvia uma nova e pujante cultura nascida de criadores de todas as nacionalidades, não alinhados com os cânones estéticos do mercado. A febre do grafite tinha explodido nos guetos de Nova York, nos primeiros anos da década de 70 e dali invadido muros, metrôs, ônibus e caminhões.

 

...os grafiteiros foram combatidos pela polícia, e alguns de seus autores acabaram na cadeia, enquanto outros eram conduzidos às mais importantes galerias, bienais e museus de arte, não só dos Estados Unidos como do mundo todo. [1]
Mas no decorrer de uma década, tudo tinha mudado. A devastação produzida pela Aids nas comunidades do East Village e as dificuldades de subsistência jogaram sonhos por terra.

 

Todo o mundo pensa que os anos 80 foram muito legais, mas havia uma grande nuvem escura pairando sobre aquela época. [2]


A fama também era fugaz em Nova Iorque, o próprio Andy Warhol, tão respeitado por Alex, o papa dos movimentos jovens das décadas de 60 e 70 era tratado com certa condescendência pela mídia. Passou de ícone venerado a uma figura obsoleta, apenas tolerada.


É esse o clima que Alex encontrará nos Estados Unidos em 1982.


[1] Célia M. Antonacci Ramos. Grafite, pichação e companhia, p. 14.
[2] Entrevista do fotógrafo David La Chapelle para Alix Sharkey, Folha de São Paulo, Caderno Mais, 19 de fevereiro de 2006, p. 10.
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 11:48

Testemunho sobre o enterro de Alex Vallauri

Last testimony of Alex Valauri

It comes to an end this report (more than a biography) and I feel the same emptiness sensation that struck me in the evening of March 27th, 1987. The last image of this incredible human being whose life was a continuous sowing of optimism and generosity, will not be that of an infinite abyss in which a trajectory comes to an end, but that of the artist ahead of his generation that has made a city smile; that of nocturnal acrobat that made us believe that a new day should be greeted with applauses.

In this biography in which I compiled and remembered the many moments lived by and with Alex, I ended up bringing him back to my daily life. Telling his last trail would be reviving the terrible pain of his loss. I accepted then, the gentile offers of my daughter Flávia Rota-Rossi e Mello, at that time, a 20 year old young woman, to take care of the epilogue.

In the morning of Alex’s funeral you could feel the typical São Paulo´s autumn cold. My uncles (Alex´s parents) and my mother decided not to go because they were exhausted. I went with my father and Claudia (Alex’s sister).Used to Parity’s funerals cozy and familiar, I found it strange the long granite flooring hall that shined at the light of neon. The solemn and imposing coffin had nothing to do with the warmth of life within it.

The cold seemed more intense, but I slowly warmed myself up at the hugs of so many friends as they would arrive, many of them in a deep silent cry. Guta and Kiko started hanging the 5.000 tsurus (origami birds made by Alex’s friends as part of a traditional Japanese custom based on the belief that they would save him from disease) among the flowers and the very coffin were someone had lined some used spray cans with coagulated colored drops on its surface. Friends and artists put tickets, drawings, several origami made chains, showing their tenderness in a very special way.

But in the middle of that improvised ritual, the most remarkable memory I have was that of a telephone quarter with a note that said: “To Alex with love. For whenever you need and want to communicate with us.” This telephone quarter became for me like a symbol of life that overcame death. A symbol of immortality of spirit. The coffin had lost Its circumspection, now with its own identity: it had become one of Alex’s studios. The art party on the streets hadn’t finished. As Mauricio Villaça said: “We will continue alexandrizing”

After seeing the installation that Alex’s friends had improvised someone from a nearby wake said: “The person inside this coffin must have been an example of happiness”. We left for Vila Alpina, where the body would be cremated. There were many cars heading to Consolação Street tunnel on Paulista Avenue that leads to Rebouças Avenue and Dr. Arnaldo Avenue, the place where, due to graffiti artists, had become the biggest graffiti art gallery of the city. Those anonymous street artists welcomed the procession while the origami birds flew happily from the cars windows. A mix of deep pain and happiness spread among everybody.
SÁBADO, 21 DE MAIO DE 2011
Exposição Alex Vallauri 2011
 

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Postado por Beatriz Rota-Rossi às 16:18

QUARTA-FEIRA, 15 DE JUNHO DE 2011
matéria Estadão de 14/6/2011

 

O rei dos muros da cidade
O grafiteiro Alex Vallauri é homenageado num livro que conta como ele alegrou São Paulo na ditadura
14 de junho de 2011 | 0h 00
Leia a notícia


Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo


Agora é fácil, mas, nos anos 1970, em plena vigência da ditadura militar, quando ficar na rua à noite significava problema certo, um artista etíope - ou subversivo, dava na mesma na época - saía pelas avenidas da metrópole munido de latas de spray e muita coragem. Alex Vallauri era o seu nome, um alegre e miúdo pintor que ficou conhecido por duas logomarcas nas paredes de São Paulo, uma bota preta e uma mulher com um frango assado na bandeja que, de tão famosa, foi parar numa sala especial da 18.º Bienal Internacional de São Paulo, em 1985.


A famosa mulher com um frango assado na bandeja

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

A comissão da mostra entendeu que a arte de Vallauri era, então, a ilustração perfeita do binômio arte e vida, a tradução da experiência existencial de um artista fora do mercado que entrava no templo de arte erudita para contaminá-lo com o popular, grafitando no espaço interno do pavilhão o espírito de uma época marcada pela repressão e a censura. É esse artista que o crítico e professor João J. Spinelli mostra em Alex Vallauri - Graffiti, livro publicado pela Editora Bei (R$ 120).

Criado em plena ebulição do movimento pop, Vallauri chegou ao Brasil em 1964, justamente no ano do golpe militar. Tinha 15 anos e desembarcou em Santos, então uma cidade com certo movimento cultural e político, onde fixou imagens de estivadores, marinheiros e prostitutas do cais.

Aos 21 anos, fez sua primeira individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em que já era possível identificar sua inclinação para a iconografia popular. Não tinha os mesmos objetivos de artistas pop americanos como Warhol, mas o certo é que suas obras deixaram o suporte das ruas (muros e paredes) e foram reproduzidas por indústrias de confecção como a Levi"s e Fiorucci, como lembra Spinelli no prólogo.

E Vallauri, afinal, não passou incógnito pelo movimento. Ele é citado no livro Art Today, do crítico e curador inglês Edward Lucie-Smith, menção que que despertou o interesse dos museus americanos.

A partir de um molde recortado em papelão, as figuras em spray de Vallauri (a sensual e algo vulgar bota negra feminina, piões e acrobatas inspirados em Seurat) viajaram das paredes de São Paulo para o metrô nova-iorquino.

Comunicativo e doce, ele fez amizade com outros grafiteiros que ficariam famosos, como Jean-Michel Basquiat. Vallauri ficou surpreso com a aceitação do grafite em Nova York pelos galeristas, que incentivavam a produção dos artistas de rua. Ao voltar, encontrou no galerista Marcantonio Vilaça seu mecenas.

Após a morte de Vallauri, ele adquiriu o espólio do artista, segundo Spinelli, que destaca ainda o papel do Estado, "que sempre noticiou com destaque a sua forma espontânea, livre de formulações a amarras estéticas academizadas pela arte moderna".

Vallauri justificava essa vontade de se livrar das escolas formais como uma maneira de assumir a filiação romântica e ilusionista do kitsch - e seu frango assado sobre uma coluna grega sintetiza esse propósito.

Sua influência sobre seus contemporâneos pode ser resumida na relação com o parceiro artístico Mauricio Villaça, também falecido, que, pintor abstrato expressionista, desenvolveu com ele projetos de grafites e livros cheios de graça. Vallauri morreu no dia 27 de março de 1987, aos 37 anos.

Tópicos: Grafite, Alex Vallauri , Cultura, Versão impressa
Postado por Beatriz Rota-Rossi às 12:51



Alex Vallauri desafiava a ditadura em muros das ruas de São Paulo

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Alex Vallauri em ação

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Em 1980, Alex Vallauri posa para o fotógrafo Sérgio Valle Duarte para a revista Interview, grafitando o muro do estúdio do profissional

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Vallauri justificava essa vontade de se livrar das escolas formais como uma maneira de assumir a filiação romântica e ilusionista do kitsch - e seu frango assado sobre uma coluna grega sintetiza esse propósito

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


A sensual e algo vulgar figura feminina tão presente nas ilustrações de Vallauri

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Acrobatas. As figuras que fizeram o artista famoso são inspiradas em Seurat

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Acrobatas. As figuras que fizeram o artista famoso são inspiradas em Seurat

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


A sensual e algo vulgar figura feminina tão presente nas ilustrações de Vallauri

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Suas obras deixaram o suporte das ruas (muros e paredes) e foram reproduzidas por indústrias de confecção como a Levi's e Fiorucci

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Sensual bota preta, outra marca do artista

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Grafite de Alex Vallauri nos anos 1980

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

 


Alex Vallauri - Graffiti, de João J. Spinelli. Livro publicado pela Editora Bei (R$ 120)

Imagem: divulgação, publicada na página digital de O Estado de São Paulo

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