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HUMOR
A nacionalidade de Deus

Vem circulando por e-mails esta história, que nos foi enviada em 8/9/2000 pelo amigo Antonio Carlos Bodini Dias:

O DEUS É BRASILEIRO!!!
DEUS É BRASILEIRO!!!

                                     Carlos Eduardo Novaes (*)

Dizem que há no céu uma sala enorme chamada Departamento das Nações onde trabalham os santos que protegem os países aqui na Terra. Atualmente são 157 santos (uma para cada país) que passam oito horas por dia atrás de suas respectivas mesas olhando para uma telinha e manipulando chaves, alavancas, botões, interruptores. À distância parece que estão todos se divertindo com "video-games". Na verdade, os santos se esforçam para proporcionar as melhores condições de vida aos seus países.

Como em qualquer repartição pública, uns trabalham mais do que outros. São Ericsson, por exemplo, protetor da Dinamarca, se dá ao luxo de deixar sua mesa de controle no automático e vive papeando pelos corredores. Já Santo Ortega que protege a Nicarágua, não tem tempo nem de ir ao banheiro.

O funcionamento do departamento é simples. Sempre que surge um novo país, São Pedro manda colocar mais uma mesa na sala, providencia as ligações, e convoca um santo para protegê-lo.

- São Benedito pega lá o Zimbabuê.

- Mas logo o Zimbabuê, São Pedro?

- Você queria o quê? Começar pela Suécia?

São Pedro dá o santo de acordo com o país. Olha lá de cima se o país é pequeno, acidentado, pobre, escolhe um santo competente e trabalhador. Caso sinta que o país não precisa de muita proteção, convoca um santo menos talentoso.

Quando o Canadá tornou-se independente, São Pedro colocou um amigo seu, ex-companheiro de pescarias. O santo é da maior competência, mas para proteger o Canadá basta aparecer todos os dias e assinar o ponto.

Assim foi com o Brasil. Um dia, em 1822, um funcionário acordou São Pedro.

- São Pedro, surgiu um novo país na América Latina.

São Pedro abriu a escotilha e olhou lá de cima. Ficou deslumbrado.

- Puxa, isso não é um país. É quase um paraíso.

Olha só as dimensões, a extensão da costa, as matas, a fauna, os rios, o clima ... E dizem que em se plantando tudo dá. É fantástico! Vou colocar um santo à-toa. Um país desses não precisa de proteção.

São Pedro nomeou seu afilhado, São Brás, para proteger o Brasil. São Brás estava "encostado" no céu. Não conseguia trabalho. Já havia passado duas vezes pelo Depto. das Nações. A primeira no século XIV quando, encarregado de proteger a França, provocou a Guerra dos Cem Anos. A segunda no início do século XIX. Foi tomar conta da Espanha e acabou vendendo a Flórida para os Estados Unidos. Mas São Brás declarou ter aprendido muito com essas experiências. Iria proteger o Brasil como ninguém.

- Por favor, São Brás, não toque em nada em cima dessa mesa, disse São Pedro.

- O Brasil tem uma vocação natural para o sucesso.

- Deixa que ele vai sozinho.

São Pedro mostrava-se confiante no futuro do país. Principalmente porque nos corredores do céu corria o boato de que Deus era brasileiro.

São Brás era o santo mais folgado do departamento. Todos os dias entrava na sala, dava uma espiadinha na tela, comentava sobre a cordialidade do povo brasileiro, ligava o automático e saía para tomar café e conversar com os protetores da Suécia, Dinamarca, Noruega. Os colegas morriam de inveja de São Brás, afinal, pelo que se dizia, protetor do país de Deus.

Até que em meados de 64, uma noite, São Brás foi chamado às pressas no Bar Celestial.

- Acho bom você dar uma olhada no seu país. Tem muita gente reclamando lá embaixo.

- Na verdade, não era nada de especial.

Mas como São Brás ainda não tivera oportunidade de mostrar serviço, considerou a situação crítica. Olhou a mesa, meteu a mão numa alavanca e puxou-a. Em abaixo da alavanca estava escrito: "golpe de estado". Imediatamente uma luz vermelha começou a piscar, soou uma campainha e todos correram à mesa do Brasil.

São Pierre, protetor da França, ficou horrorizado.

- São Brás! Como é que você faz uma coisa dessas?

São Brás estava zonzo.

- Eu ... eu ... eu ... tenho que proteger o meu país.

- Mas não é assim. Não vai dar certo. Nunca deu certo.

Vá lá! Aperte o botão da "democracia", rápido! São Brás estava confuso no meio daquele tumulto. Meteu o dedo num botão. Era o botão da "Repressão".

- Esse não! - gritou São Pierre. - Aquele ... aquele!

- Qual? - São Brás foi lá e apertou o botão da "Censura".

- Meu Deus! Você enlouqueceu, São Brás?

São Brás já não sabia mais o que fazer. Abriu a válvula das "multinacionais", puxou a alavanca do "arrocho salarial", desligou o interruptor das "reivindicações operárias". Desencadeou uma reação em cadeia.

A mesa de controle tremia, apitava, acendia luzes. São Brás estava mais perdido do que Governo com a política econômica. Quanto mais mexia nos botões, mais bagunçava o país. Chegou a um ponto em que nada mais dava certo.

Como na história do cobertor curto, quando cobria o Trabalhador, descobria o Empresário; quando cobria o Empresário, descobria o Banqueiro; quando cobria o Banqueiro, descobria o Exportador; quando cobria o Exportador, descobria o Agricultor; quando cobria o Agricultor, descobria o Consumidor ...

- Só há uma saída. Vamos falar com Deus!

Deus era a última esperança. Se Deus é realmente brasileiro, como se fala, Ele dará um jeito nessa situação.

A comissão de santos entrou no gabinete de Deus e ... surpresa: encontraram-No de quimono, comendo arroz de pauzinho. Todos viram, perplexos, que na verdade Deus era japonês. Claro que é! De outra forma como um país todo pedregoso, do tamanho do Ceará, entulhado de gente, derrotado na Segunda Guerra, com duas bombas atômicas, poderia ser uma das três maiores potências mundiais?

Vocês acham que se Deus fosse brasileiro nós teríamos tido uma inflação de três dígitos? Um déficit público de trilhões? Teríamos que mendigar dinheiro pelo mundo a fora? Então, por favor, paremos definitivamente com essa história de que Deus é brasileiro e tratemos de nos contentar com São Brás, que continua lá na mesa de controle fazendo de tudo para proteger o país.

(*) Carlos Eduardo Novaes é escritor.