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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Alcor

1957-1980 - depois Merak

A conjugação dos interesses financeiros de H.A.Van Nievelt Junior e A.J.M. Goudriaan fez surgir, em 1905, no porto e cidade de Rotterdam, uma nova armadora de longo curso, que ficaria bem conhecida nos portos da Rota de Ouro e Prata. Registrada sob a razão social de Van Nievelt, Goudriaan & Co., a empresa recebeu de seus próprios funcionários e dependentes o nome de Nigoco, o que certamente facilitaria a referência à firma no dia-a-dia de trabalho.

A Nigoco iniciou as atividades empregando dois vapores de pequena tonelagem (o Alioth e o Mizar) para o transporte de toras de madeira-de-lei entre diversos portos bálticos e holandeses e, pouco a pouco, foi registrando crescimento na demanda de fretes e, conseqüentemente, também de sua frota - a qual, em 1914, já era composta por nove vapores.

Foi, porém, o início do primeiro conflito europeu do século XX a dar o verdadeiro impulso de crescimento à Nigoco. Beneficiando-se do estado e condição de neutralidade da Holanda na guerra, a jovem armadora pôde expandir os negócios e, no período de 1914 a 1918, foram acrescentadas nada menos do que outras 15 unidades à lista de navios cargueiros.

Após o término da guerra, a Nigoco, já financeiramente forte e consolidada, pôde voltar as atenções para novos mercados de utilização de seus navios. Assim, em 1920, iniciou um serviço de linha regular entre os principais portos norte-europeus e os portos da Bacia do Rio da Prata.

Posteriormente, nessa linha, foram incluídas escalas nos portos brasileiros de Salvador, Rio de Janeiro, Santos e Rio Grande e, a partir do ano seguinte, com a entrada em serviço de novas unidades mistas, a Nigoco pôde também oferecer acomodações para passageiros. Surgiu, dessa maneira, o serviço marítimo da Nigoco para a América do Sul, oficialmente denominado Rotterdam-Zuid Amerika Lijn (RZAL).

Pós-guerra - Terminadas as hostilidades da Segunda Guerra Mundial em 1945, a Nigoco, tendo perdido várias unidades por causas bélicas, encontrou-se com apenas seis navios em sua frota. Em um esforço de emergência, entre 1946 e 1948, foram adquiridos 11 outros navios, a maioria destes sendo de construção padrão do tipo Liberty ou Victory, surgidos no decorrer da guerra.

A partir de 1949, foram incorporadas à frota 18 pequenas unidades de construção recente destinadas ao tráfego de cabotagem norte-europeu e outras cinco unidades maiores para as linhas oceânicas.

Desta maneira, em 1953, a frota da Nigoco estava composta por 17 navios oceânicos, dos quais só quatro eram de construção relativamente recente, dez datavam do período bélico e três haviam sido construídos em 1927.

Encomendas - Em meados dos anos 50, ocorria, forçosamente, renovar a frota existente, sobretudo porque o tráfego marítimo de cargas entre os países da América Latina e da Europa crescia a grande ritmo e a concorrência se intensificava.

A Nigoco planejou, então, a construção de oito unidades, cinco das quais foram confiadas ao estaleiro Werf de Noord, duas ao Boelés Scheepswevem e uma ao Werf Gusto, os três sendo estaleiros holandeses. Esta série de oito cargueiros não possuía características similares, a não ser dividida em dois grupos distintos.

No primeiro grupo de três navios, que receberam os nomes de Alcor, Algol e Alkes, havia total similaridade, sendo produtos do primeiro estaleiro mencionado. Este trio diferenciava-se, porém, do outro grupo de cinco unidades (que receberam as denominações de Alamak, Alciiba, Algorab, Aludra e Alnitak), sobretudo no desenho estrutural.

O quinteto de navios do segundo grupo possuía, de fato, maquinário, acomodações e castelo de comando a três quartos à popa, enquanto no trio inicial da série estes espaços encontravam-se a meia-nau.

O Alcor foi o pioneiro da série, tendo sido desenhado pelos engenheiros e arquitetos do estaleiro construtor, em estreita colaboração com o departamento técnico da armadora. Sua construção foi acompanhada e supervisionada, dentro dos critérios estabelecidos pelo Bureau Veritas, do qual recebeu a classificação + 3/3 L.

O 'Alcor', entrando em Santos em 1973 (Foto: José Carlos Rossini)
O Alcor, entrando em Santos em 1973 (Foto: José Carlos Rossini)

Características - De desenho e linhas clássicas, proa alongada, popa do tipo cruzador, dois mastros, chaminé curta no topo da superestrutura central, o Alcor possuía cinco porões, dois atrás e três na frente do espaço reservado às máquinas e numerados pela ordem, de proa à popa, de 1 a 5. Parte desses porões possuía câmaras de congelamento ou refrigeração, compreendendo um espaço total de 10 mil pés cúbicos e podendo congelar a temperaturas entre 15 e 20 graus centígrados negativos.

Para a movimentação da carga a bordo, haviam sido instalados 18 paus-de-carga coligados aos dois mastros principais ou a oito postes. Cada um destes 18 paus-de-carga possuía 16 metros de comprimento e capacidade de três toneladas.

Três eram os conveses da superestrutura central, os quais abrigavam todas as dependências para os oficiais e os passageiros. Estes, no número máximo de 12 pessoas, dispunham de oito cabinas de 1ª classe dispostas em semicírculo na parte frontal do bridge-deck (convés da ponte).

No convés acima a este mencionado, encontravam-se o salão de refeição, a sala de estar e o bar do navio. Um andar acima, na ponte de comando, encontravam-se o alojamento e o salão do comandante, a sala náutica, a sala dos mapas e a sala de rádio.

O Alcor foi lançado ao mar em Alblasserdam em meados de outubro de 1956, realizando a viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata em princípios de fevereiro do ano seguinte, saindo de Rotterdam.

Escalas - A linha tradicional dos cargueiros da Rotterdam-Zuid Amerika ligava o grande porto holandês a Buenos Aires (ou, às vezes, Santa Fé-Rosario), via escalas em Antuérpia, Leixões ou Lisboa, Rio de Janeiro e Santos. Em diversas viagens, os navios da RZAL escalavam também em Vitória ou Salvador (Bahia).

Com a entrega do Alnitak no decorrer de 1960, completou-se a construção da série de oito cargueiros, o que permitiu à armadora oferecer uma saída quinzenal de cada um dos oitos principais portos da linha. Esta alta rotatividade tornou bem conhecida, nos portos sul-americanos, a chaminé amarelo-ouro com faixa azul e estrela branca da Nigoco-RZAL.

Esta série de oito cargueiros serviu fielmente as cores da armadora holandesa por um período que variou de 20 a nove anos, o Alcor sendo o mais longamente utilizado na Rota de Ouro e Prata, escalando centenas de viagens em Santos.

Em novembro de 1976, o navio foi vendido a uma empresa grega (subsidiária da Nigoco), denominada Merak Shipping Co. e, rebatizado Merak, serviu por outros três anos, sendo empregado em diversas rotas. Foi finalmente vendido para demolição a uma empresa de Taiwan, sendo desmontado em Kaohsiung no decorrer de 1980.

Alcor:

Outros nomes: Merak
Bandeira: holandesa
Armador: Rotterdam-Zuid Amerika Lijn (Nigoco)
País construtor: Holanda
Estaleiro construtor: Werf de Noord N.V. (porto: Alblasserdam)
Ano da viagem inaugural: 1957
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 6.734
Comprimento: 151 m
Boca (largura): 19 m
Velocidade média: 16 nós
Passageiros: 12
Classes: única

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 26/1/1997