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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Baronesa

1918-c.1946

Ele começou a navegar no ano de 1918

Em Rota de Ouro e Prata publicada em 20 de abril de 1995, foram descritas as origens da armadora Furness Houlder Argentine Lines Ltd. (FHA) e a carreira do navio frigorífico Duquesa.

O Condesa, Duquesa, Baronesa, Marquesa e Princesa formaram um quinteto de cargueiros construídos especificamente para o transporte de produtos perecíveis, principalmente carne e frutas.

Embora tivessem mesmo desenho de prancha e características técnicas praticamente similares, foram produtos de cinco estaleiros diferentes, ou seja, na mesma ordem citada: Earle (de Hull), Irvines (de West Hartlepool), Sir Raylton Dixon (de Middlesborough), W. Hamilton (de Port Glasgow) e Alexander Stephen (de Glasgow).

Eram dotados de duplo hélice, dos maquinários de propulsão à expansão tríplice, seis enormes porões, quatro dos quais refrigerados, dois mastros, longa superestrutura central, única e enorme chaminé e dois mastros equipados cada um com oito braços de paus-de-carga. Possuíam acomodações para tão somente 12 passageiros.

Embora decidida e iniciada em 1914, a construção dos cinco navios foi longa, praticamente interrompida com a deflagração da guerra em agosto desse ano, visto que os estaleiros britânicos passaram a dar prioridade ao plano de emergência imposto pelo governo de sua majestade e destinado à construção de unidades para a Royal Navy (Marinha Real).

A embarcação media 132 metros de comprimento. Após a Segunda Guerra Mundial, foi retirada de serviço e vendida para demolição

Foto publicada com a matéria

Do quinteto, só o Condesa pôde ser entregue no decorrer do conflito (em 1916), mas não prestou serviço por muito tempo, já que, em julho de 1917, foi torpedeado e afundado nas águas a Oeste do Canal da Mancha, quando realizava a passagem final de sua viagem inaugural para o Rio da Prata.

Os quatro restantes foram aprestados (concluídos) e entregues nos últimos meses de 1918, quando a guerra européia caminhava para o ato final.

No início do ano seguinte, a frota de navios frigorificados da FHA estava composta por oito unidades; além do quarteto já mencionado, levavam as cores dessa armadora outros quatro cargueiros de grande porte, três construídos no imediato período pré-bélico (o El Uruguayo, o La Rosarina e o El Cordobes) e um entregue durante o conflito (o Abadesa).

A rota de serviço desses oito vapores da FHA foi praticamente a mesma durante todo o transcorrer das décadas de 20 e 30 (com exceção ao El Cordobes, vendido em 1929).

Saíam de Londres, porões vazios e em lastro com destino a Buenos Aires. Na capital argentina, iniciavam o carregamento de carne bovina frigorificada ou congelada, frutas e ovos.

Em seguida, atravessavam o Rio da Prata para escalar em Montevidéu com novo embarque de carne e mais frutas.

Zarpavam então com destino a Santos, onde recebiam grandes quantidades de bananas e laranjas.

Esporadicamente também embarcavam sacos de café, que eram estivados num dos dois porões de carga seca.

Voltavam para o Reino Unido após outras escalas, que podiam ser Rio de Janeiro, Las Palmas, Lisboa e Le Havre e suas rotinas de serviço eram bem típicas de navios cargueiros: longas, fastidiosas permanências nos portos; monotonia operacional durante as demoradas travessias oceânicas; solidão e quietude a bordo, já que eram raros e poucos seus passageiros.

Este estado tranqüilo das coisas chegaria a abrupto fim com a invasão da Polônia pelas tropas do III Reich.

De novo a Europa estava em chamas, novamente a travessia do Oceano Atlântico não seria uma simples passagem descontraída, mais uma vez a Alemanha desafiava a supremacia britânica nos mares ocidentais.

Homens e navios seriam submetidos a dura prova e para a Houlder (da qual a FHA era uma subsidiária dentro do complexo Holding Funess Houlder) o pior começaria bem cedo dentro do período de hostilidades (1939-1945).

De um total de 25 navios, o Grupo Houlder perderia por causas bélicas nada menos do que 15 unidades, incluindo-se nestas quatro dos cinco navios incorporados à Houlder no decorrer da guerra. Dos cargueiros que antes de setembro de 1939 levavam na chaminé negra-chumbo a traicional Cruz de Malta branca em fundo vermelho, só cinco restavam operacionais em junho de 1945.

Eram: o navio a motor Dunster Grange, o navio-tanque a motor Imperial Transport e os três vapores da série Condesa, ou seja, o Baronesa, o Marquesa e o Princesa.

Os últimos dois mencionados atravessaram o período bélico sem sofrer nenhum tipo de ataque ou percalço operacional, fato extremamente raro para este tipo de cargueiro (os navios frigoríficos eram alvos prioritários dos comandantes de submarinos alemães).

Os dois primeiros viram-se confrontados em vários episódios da luta submarina: o Dunster Grange foi alvo, em duas ocasiões, no decorrer de 1940, de torpedos, disparados primeiro pelo submarino alemão U-37 (do comandante Oehrn), em 22 de maio, e mais tarde, em setembro, pelo U-29 (do comandante Schuhart).

Na primeira ocasião, o navio da Houlder também foi atacado com o canhão do submarino, sofrendo alguns danos.

No segundo episódio, a tripulação do Dunster Grange reagiu ao ataque, despejando, mas sem resultados, uma série de bombas de profundidade.

 

A construção das 5 unidades foi interrompida com a 1ª Guerra

 

Quanto ao Imperial Transport, algo muito próximo à condição de milagre aconteceu por duas vezes: na primeira foi torpedeado, em fevereiro de 1940, em passagem de Scapa Flow (Escócia), para Trinidad, em água próximas à costa irlandesa.

O torpedo, disparado pelo U-53 (comandante Grosse), provocou uma explosão, que cortou o navio-tanque em duas partes, das quais a dianteira afundou e a da popa (ré) e seção central continuou a flutuar.

A tripulação, sob o comando do capitão W. Smail, conseguiu em seguida navegar essa metade do navio até encalhá-la na praia de Kilchattan, próxima à localidade de Bute (Escócia).

Esta parte de popa foi inteiramente restaurada e, posteriormente, unida a uma nova parte de proa (frente), reconstruindo-se o navio por inteiro, que pôde, assim, retornar ao serviço no decorrer de 1941.

Em março de 1942, sempre sob o comando de Smail, voltou a ser torpedeado.

O Imperial Transport fazia parte então do comboio ON-77 (que navegava com destino a Curaçao), quando foi atingido à noite por dois torpedos que explodiram entre os tanques de nº 2 e 3, provocando forte adernamento para bombordo (lado esquerdo) e a ordem de evacuação por parte de tripulantes e oficiais.

Ao amanhecer, constatou-se que o navio-tanque ainda flutuava e assim, mais uma vez, o capitão Smail subiu a bordo com seus homens, na tentativa de salvá-lo.

Apesar de inúmeros danos que havia sofrido, foi possível acionar os motores e, com inúmeras precauções, navegá-lo até o porto de Saint John's, na ilha de Antigua.

Coube, porém, ao Baronesa o título de navio da sorte. De fato, durante toda a duração da guerra, os marinheiros e suas sucessivas tripulações o chamavam pelo apelido de lucky ship, haja vista os episódios de perigo aos quais o navio havia sobrevivido no período bélico, dos quais citamos os principais.

7 de setembro de 1940 - Atracado nas docas Royal Albert, em Londres, foi alvo de diversas bombas lançadas durante um reide aéreo de aviões alemães.

Uma dessas bombas foi explodir exatamente entre a parede do cais e o costado do Baronesa, provocando sérios danos na estrutura externa, na altura do porão quatro, por onde a água não tardou a entrar, invadindo também a casa de máquinas.

O vapor só não afundou graças ao constante trabalho de bombeamento d'água, trabalho esse que prosseguiu até o dia 19, quando foram completados os devidos reparos nas chapas externas do casco.

3 de maio de 1941 - Fundeado no Estuário do Rio Mersey, foi alvo de uma bomba de alto calibre, que explodiu na água, muito próxima do costado de boreste (lado direito).

O impacto, além de causar danos às chapas externas, provocou o rompimento de circuitos elétricos e de água, mas não afetou a estrutura do vapor, que, aós alguns dias de reparos, estava de novo em condições de navegar.

 

O uso intenso e os danos do período bélico condenaram a sua carreira

 

19 de setembro de 1941 - Fazendo parte de um pequeno comboio que se afastava da costa irlandesa, foi alvo de bombardeamento aéreo por parte da Luftwaffe.

Um primeiro grupo de bombas caiu a poucas dezenas de metros do Baronesa, provocando o estremecimento das estruturas, mas causando apenas alguns danos.

13 de setembro de 1942 - Atracado na bacia B da parte nova do porto de Buenos Aires, o vapor da Houlder foi teatro de um violento incêndio que se iniciou nos depósitos de carvão, situados na parte dianteira do casco. O combate ao foco principal e os trabalhos de proteção das outras seções do navio duraram cerca de 40 horas. Foi necessário proceder à abertura das válvulas externas, e provocar o proposital afundamento parcial do Baronesa para dar cabo do foto. O navio só voltou a ser operacional semanas mais tarde, após receber nesse mesmo porto os reparos necessários.

Seu uso intensivo e os vários danos estruturais do período bélico acabaram por condenar a carreira do Baronesa. Logo após o término da guerra, foi retirado de serviço e vendido para demolição.

Baronesa:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: britânica
Armador: Furness Houlder Argentine Lines
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: Richardson, Westgarth & Co.

Porto de construção: Hartiepool

Ano da viagem inaugural: 1918
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 8.663 t
Comprimento: 132 m
Boca (largura): 19 m
Velocidade média: 15 nós (28 km/h)

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 24/11/1996