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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: a série D de 1912

1912-1933

Em finais da primeira década do século XX, isto é, 1910, o comércio marítimo de e para a costa Leste da América do Sul apresentava crescimento vertiginoso. Argentina, Uruguai e Brasil registravam forte progresso econômico, baseado de um lado na ocupação de novas terras virgens, aumento do plantio de produtos agrícolas e introdução de novo gado pastoril e, de outro lado, num constante enriquecimento das novas burguesias rurais e citadinas.

O primeiro fator incrementava o fluxo de exportações para a Europa e os Estados Unidos (café, carne bovina, lã ovina, frutas, algodão, eram os principais produtos). O segundo fator acrescia-se à demanda por bens de consumo duráveis ou não, e estimulava a corrente migratória provinda de países europeus.

Os dois fatores, somados a uma nascente industrialização nos três países mencionados, significaram a necessidade de mais navios. A Royal Mail Steam Packet (RMSP) decidiu então reforçar sua frota na Rota de Ouro e Prata com uma série de novos navios de capacidade mista (passageiros e cargas), série que complementaria o serviço de passageiros oferecido pelos cinco transatlânticos da série A já operando então na linha sul-americana.

Quinteto - Tomada a decisão, em meados de 1910 a RMSP passou contrato com o Estaleiro Harland & Wolff, para a construção do quinteto de navios mistos. Surgem assim, a partir de 1912, os cinco navios: Deseado, Demerara, Desna, Darro e Drina - todos levando nomes de cursos fluviais da América Latina.

Estes navios eram gêmeos em absoluto e poucos detalhes os diferenciavam. Possuíam cinco grandes porões, com instalações de refrigeração para a carne platina, ovos argentinos e frutas brasileiras. Quando necessário, dois desses porões recebiam somente carga seca (café, por exemplo).

De desenho tipicamente Royal Mail, com castelo de comando separado da superestrutura principal, possuíam quatro conveses (decks) - dois dos quais a nível do casco - e capacidade para transportar 935 passageiros (dos quais 800 em terceira classe, "imigrante"). Eram dotados de duplo hélice e aparato motor a expansão quádrupla e quatro cilindros, dando velocidade máxima de 14 nós (26 quilômetros horários).

Estes ugly ducks (patos feios), como eram afetivamente conhecidos pelos marinheiros, prestaram relevantes serviços à causa britânica, pois, antes de mais nada, eram meat carriers, ou seja, transportadores de carne, alimento protéico vital para a população do Reino Unido, obrigada pela Natureza a suportar oito meses de frio por ano.

Durante todo o transcorrer do conflito 1914-1918, o quinteto continuou fazendo a rota Inglaterra-Brasil-Argentina, transportando a preciosa carga alimentícia e enfrentando o perigo representado por navios corsários, submarinos e minas navais.

Drina - Nem todos sobreviveram ao período bélico, pois, do quinteto, o Drina foi perdido em março de 1917, ao ser torpedeado ao largo de Milford Haven pelo submarino alemão UC-65. O Drina se encontrava na ocasião navegando as últimas milhas de sua longa viagem entre Buenos Aires e Inglaterra, quando recebeu dois torpedos, à meia noite.

Interessante notar o fato de que, além de seu comandante, capitão Barret, o Drina levava a bordo outro comandante, o capitão Willats, que se encontrava no comando do Radnorshire quando este foi interceptado e afundado pelo corsário Möwe em 17 de janeiro de 1917.

Willats e a tripulação do Radnorshire haviam sido transferidos, após o afundamento de seu navio, para o cargueiro nipônico Hudson Maru, que os desembarcou em Pernambuco. Foi ali que o Drina recolheu todo este mundo de gente para levá-los de volta à Inglaterra.

O comandante Willats teve o pouco invejável privilégio de ser náufrago por ação bélica três vezes seguidas, pois - além do Radnorshire e do Drina - estava comandando o Arcadian (navio da RMSP transformado em troop-carrier - transporte de tropas), quando este foi afundado em 15 de abril do mesmo ano no Mediterrâneo - ou seja, três naufrágios em três meses seguidos!

Os outros quatro navios da série D de 1912 foram conjuntamente vendidos para demolição no Japão, em 1933, após 20 anos de serviço.


"O Darro, mostrado em desenho neste cartão-postal original, pertencia à Royal Mail (ou Mala Real Inglesa) e fazia a rota entre a Europa e a costa leste da América do Sul. Era um dos navios da série D: Deseado, Desna, Demerara, Darro e Drina, construídos em Belfast. São todos nomes de rios. O Darro leva o nome de um dos rios que banha Granada, na Espanha. Foi lançado ao mar no dia 16 de maio de 1912. Era um navio de casco de ferro, com uma chaminé e dois mastros. Tinha acomodações para 800 imigrantes, que viajavam em amplos salões com beliches e camas individuais, com banheiros coletivos e mesas para três refeições diárias. A Primeira Guerra Mundial não tirou os navios da série D da rota, mesmo quando dois deles, o Drina e o Demerara, foram torpedeados e afundados por submarinos alemães, em 1917. O Darro e os demais operaram até 1933, quando foram desmontados no Japão".

Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso: 13/3/2006)

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 26/9/1999