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ROTA DE OURO E PRATA
Prefácio

(da primeira edição do livro Rota de Ouro e Prata, do autor, editado em 1995)

Duas expedições marítimas da época dos descobrimentos, uma espanhola, outra portuguesa - cada uma desconhecendo a existência da outra - deram origem aos primeiros contatos oficiais de povos europeus com a costa Leste da América do Sul.

Corria então o ano da graça de 1500 e tais expedições eram a seqüência lógica da descoberta de novas terras a Oeste do Oceano Atlântico pelas diversas expedições comandadas pelo navegador genovês Cristóvão Colombo.

Foi Alonso Velez de Mendoza a comandar a expedição espanhola de 1500, e dela muito pouco foi registrado, provavelmente porque as terras tocadas pertenciam de fato ao Reino de Portugal, após a divisão do Tratado de Tordesilhas. Sabe-se, porém, que Mendoza e suas duas únicas caravelas alcançaram um ponto da costa, hoje brasileira, ao Sul do Cabo de São Roque, continuando em direção meridional até alcançar um outro cabo que hoje leva o nome de Santo Agostinho.

Mendoza retornou em seguida à Espanha e, para provar a escala em terras até então nunca tocadas, levou consigo um pequeno número de prisioneiros nativos a bordo.

Da segunda expedição, a portuguesa, tudo ou quase tudo se sabe. Sob o comando de Pedro Álvares Cabral, atingiu a 21 de abril daquele ano um ponto da costa a cerca de 17º de Latitude Sul, avistando uma elevação de terreno, à qual foi dado o nome de Monte Pascoal.

Após permanecer poucos dias numa enseada denominada Porto Seguro, a frota de Cabral zarpou em direção ao Cabo da Boa Esperança, para alcançar seu objetivo principal, a Índia.


O Monte Pascoal, no litoral da Bahia

Coube, porém, a uma terceira expedição, a honra de efetivamente navegar pela primeira vez ao longo da costa oriental do continente sul-americano. Armada por ordem de Dom Manoel, Rei de Portugal, para explorar as terras tocadas por Cabral, compunha-se de três caravelas colocadas sob o comando de Gonçalo Coelho. Fato fundamental, esta expedição levava consigo o geógrafo e cartógrafo florentino Amerigo Vespucci, homem de grande inteligência e que já havia servido a Coroa da Espanha em duas expedições precedentes, todas elas para o Novo Mundo.

Zarpando de Lisboa em maio de 1501, a pequena expedição tocou inicialmente o Cabo Verde, arquipélago próximo à África Ocidental, onde por incrível coincidência encontrou ancoradas duas das caravelas da expedição de Cabral, que retornavam da Índia. Pode-se facilmente imaginar as tripulações dessas caravelas dando preciosas informações a Gonçalo Coelho e a Vespucci.

Após a escala de Cabo Verde, a expedição atravessou o Atlântico na altura da linha equatorial, navegando em direção Sudoeste. Foram necessários quase três meses antes que fosse avistada terra, tal acontecimento se produzindo a 5º de Latitude Sul.

Nos dias que se seguiram, a expedição continuou a navegar na direção Sul ou Sul-Sudoeste, bem próximo ao litoral das terras, até a latitude de 32º Sul.

Amerigo Vespucci teve assim a oportunidade de realizar sua tarefa de mapear as novas terras e, com Gonçalo Coelho, foram dando nomes aos diversos acidentes geográficos dessas terras.

A viagem ao longo dessa costa desconhecida durou cerca de 150 dias, continuando até 150º Sul. Os últimos 18º de navegação Sul pura foram porém feitos em navegação de mar aberto, provavelmente para respeitar os limites do Tratado de Tordesilhas.

Esta exploração constituiu-se efetivamente como a primeira viagem na Rota de Ouro e Prata (riquezas que naqueles idos eram as mais cobiçadas).

Após retornar à Europa, Vespucci, em carta enviada a seu mecenas florentino Pier Francesco de Medici, assim descreveu as terras tocadas:

...descobri nestes céus meridionais muitas constelações belíssimas que não são visíveis no (hemisfério) Norte, anotei seus maravilhosos movimentos e seus brilhos, medindo suas diferentes posições... A terra é muito agradável, coberta por florestas de grandes árvores que nunca perdem suas folhas; permanentemente perfumam o ar com uma fragrância aromática e dão grandes quantidades de frutos, a maioria comestíveis e de bom porte. Nas terras abertas (existem) muita grama, muitas flores e espécies vegetais desconhecidas... Houve momentos em que imaginei estar no paraíso terrestre...

Quase 500 anos transcorreram entre estas sensações do pioneiro Vespucci e os turbulentos dias do presente, véspera de um novo milênio. Os satélites que hoje orbitam o Planeta Terra realizam em poucos segundos o que, para os contemporâneos de Vespucci, levava dezenas de anos: mapear as terras. A tarefa porém é a mesma, assim como o objetivo básico: tirar os homens das trevas da ignorância.

Das expedições de Velez de Mendoza, de Álvares Cabral e do par Coelho-Vespucci, até o ano 2000, quinto centenário da descoberta oficial do Brasil, milhões de homens percorreram e percorrerão o mesmo caminho, sultcando as mesmas latitudes e longitudes do oceano a bordo de milhares de embarcações que, propulsionadas a vela ou maquinário, navegaram e navegarão essa mesma Rota de Ouro e Prata de lenda.

Nas páginas que seguem, a história condensada de alguns homens e de alguns navios que, na época do vapor e das máquinas, fizeram essa lenda prosseguir.

José Carlos Rossini
Santos - junho de 1995


Cabral pisa em terras brasileiras, em 1500:
foi uma das primeiras expedições na Rota de Ouro e Prata