Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0067b9.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/13/11 21:40:34
Clique na imagem para voltar à página principal

HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - RADIOFONIA
Rádio Clube de Santos (10)

Prefixo: PRB-4 (ZYK-653)
Leva para a página anterior
Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, edição de segunda-feira, 10 de junho de 1968, na página 9 (ortografia atualizada nesta transcrição):

Nada sobrou do palco da Rádio Clube

Foto publicada com a matéria

Fogo leva 4 mil discos da Clube

O incêndio no palco da Rádio Clube de Santos, às 4,40 horas da madrugada de domingo, "começou como um tiroteio, com muitos estalos secos", segundo o guarda-noturno José Roberto Ribeiro, que estava parado na esquina.

Ele correu para ver o que era e logo depois pediu a um vizinho que chamasse os bombeiros, porque as chamas estavam altas, no fundo do prédio. Cinco minutos depois vieram duas guarnições, chefiadas pelo subtenente Hélio, e 40 minutos depois conseguiram controlar a situação.

Os prejuízos estão avaliados, em princípio, em NCr$ 50.000,00, isto porque "foi muita sorte as chamas não terem atingido os estúdios". Foram completamente destruídos o palco e quarenta por cento da discoteca, com a inutilização de, aproximadamente, quatro mil discos.

A Rádio Clube de Santos, prefixo PRB-4, fica na Rua José Cabalero, 60, no Gonzaga. Ao que tudo indica, a causa do incêndio foi um curto-circuito e as chamas principiaram no palco, do lado esquerdo, à frente.

Muita gente acordou e foi ver o trabalho do Corpo de Bombeiros, que estava com 18 homens no local. Uma de suas viaturas voltou duas vezes para buscar água.

Um vizinho comentava, numa roda: "Tive a impressão que eram bombas explodindo. Saí na janela de meu apartamento e vi o fogo na Rádio. Telefonei ao Corpo de Bombeiros, mas eles já sabiam, estavam vindo para cá".

A RP-4 também registrou a ocorrência e o perito da Polícia Técnica José Carlos Rossi compareceu ao local, requisitando a presença dos engenheiros do IPT, da Capital.

Algumas das pessoas que estavam por perto queriam ajudar, mostraram aos bombeiros uma bomba d'água e um poço, no terreno vizinho, que, porém, não foram utilizados. Outros aconselhavam a abertura da porta da frente, mas os soldados responderam que "agora as linhas já estão instaladas, isso não é necessário".

"Esse negócio de abrir portas é ruim, porque o fogo se expande", comentou um dos bombeiros, quando abriram a entrada lateral. "Nós já tivemos um triste exemplo disso, com o Cine Roxy".

O fogo no palco foi logo dominado, mas depois persistia num ponto onde estava difícil atingir, com os jatos d'água: era a discoteca. Contudo, chegou um funcionário da emissora que mostrou uma escada lateral, por onde os bombeiros conseguiram chegar ao foco e extingui-lo.

Vários equipamentos da emissora foram retirados, quando as chamas diminuíram, por cima do muro lateral. Eram gravadores, vitrola, documentos, "spots", que os bombeiros conseguiram salvar ou tirar dos locais mais ameaçados.

O teto sobre o palco desabou, mas os estúdios, que ficam na parte superior, do lado direito do palco, não foram atingidos. Tanto que ontem a rádio operou normalmente. Só entrou no ar um pouco mais tarde, porque a luz estava desligada.

"Mas, pedimos ao vizinho para puxar um cabo elétrico e imediatamente começamos a operar", conta um dos funcionários.

O gerente da PRB-4, sr. Hermenegildo da Rocha Brito, comunicou oficialmente o fato ao delegado Luiz Pantaleão, de plantão na Zona Oeste. Até o momento não foi instaurado inquérito a respeito.

Não foi o prédio – Um rapaz que passava pelo local na hora do incêndio contou: "Pensei que o prédio em construção ao lado da emissora estivesse desabando, por causa do barulho; é que o fogo era lá no fundo e não dava para ver. Mas depois que as chamas subiram, deu para ver bem. O barulho que ouvi foi do teto, quando desmoronou".

Os estúdios não foram atingidos

Foto publicada com a matéria

"Isto parece uma guerra"

Todos os equipamentos do Tusp – Teatro de Universitários de São Paulo – estavam no palco incendiado da Rádio Clube. Eles se apresentavam aqui com a peça "Os Fuzis" e, apesar do sucesso da primeira noite, os prejuízos com o incêndio elevam-se à casa dos NCr$ 6.000,00.

Quem trouxe o Tusp para cá foi a Associação dos Universitários da Baixada Santista, e seus diretores compareceram ontem à tarde, na rádio, junto com os artistas e demais integrantes daquele grupo teatral. Um dos diretores da Aubs assistiu ao incêndio, estava jantando num restaurante ali perto e ao ver as chamas comentou que "o teatro, em Santos, é maldito. Quando acontece um sucesso, como o desta noite, tem que haver um incêndio para estragar tudo".

Uma das atrizes do grupo subiu ao palco incendiado, onde antes estavam os cenários, equipamentos, foi para o meio dos escombros e fincou uma rosa vermelha, com o comentário: "Isto aqui parece uma guerra".

A principal perda do Tusp foi a caixa de luz, "que custa caro e foi destruída completamente". Além disso, queimaram-se equipamentos de som, "spots" e outros materiais.

"Foi a reação", brincavam alguns artistas, a respeito do incêndio. E explicavam: "É que ontem, durante os debates, depois da peça, algumas senhoras que fazem parte de associações femininas discutiram muito conosco".

"Pode ser, também, aquele fulano que nos criticou porque falamos mal de Hitler", comentou outra pessoa presente.

Os diretores da Aubs providenciaram, ontem mesmo, outro local para que a peça continue a ser apresentada. Ao final, conseguiram o auditório do It Clube, na Avenida Bernardino de Campos, esquina com Floriano Peixoto. "O It Clube sempre teve os seus braços abertos para nós, principalmente nas iniciativas culturais".

Tanto os estudantes como os artistas ficaram impressionados quando souberam que a Clube é a terceira emissora de rádio fundada no Brasil, em 1923, a segunda do Estado de São Paulo e a primeira de Santos.

Cenário de Os Fuzis foi destruído

Foto publicada com a matéria

Leva para a página seguinte da série