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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Arte grafite era praticada de madrugada (1)

Era uma época em que a contestação jovem, depois de passar pelas roupas e da atitude hippie da geração "Paz e Amor", e pelos protestos contra a ditadura militar que ainda controlava o Brasil, descobria na pichação de muros e paredes uma nova forma de expressão, ainda não muito bem compreendida pela geração mais velha, especialmente pelos donos das paredes e dos muros pichados.

Ao lado dos contestadores, outro grupo de jovens descobria uma nova forma de expressão artística, decorando muros e paredes com verdadeiras obras de arte alternativa. Confundidos com os pichadores-contestadores, e até com os membros de partidos políticos proscritos que colavam de madrugada seus folhetos de protesto, esses artistas das ruas tinham de pintar com um olho na obra e outro atento à aproximação da polícia.

Era o surgimento da arte grafite (ainda sem esse nome), registrado pelo editor de Novo Milênio, que na época - uma segunda-feira, 6 de abril de 1981 - publicou esta matéria no jornal santista A Tribuna:


Uma iniciativa inédita em Santos
(foto publicada com a matéria)

Uma nova galeria no muro da Fepasa

Venha conhecer meu mundo é ao mesmo tempo o título de um quadro e um convite. O quadro, que marca nova fase na atividade dos pintores, e terminado exatamente à 0,10 hora de sábado, pode ser visto por quem quiser, pois teve como tela o muro da ferrovia da Fepasa, no trecho defronte do nº 52 da Rua Marquês de São Vicente. O convite, está sendo feito pelos pintores a todos os que gostam de pintura e queiram expressar suas idéias por essa forma.

Eduardo Sérgio Licínio de Castro, morador no Marapé e auxiliar de escritório no Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga, conta que tudo começou quando, em 23 de janeiro de 1979, ele e o amigo João Junqueira viram o buraco feito no muro da ferrovia, pelos que não queriam dar a volta, para ir à praia. Assim nasceu o desenho Passagem para o mar, defronte do final da Rua Visconde de Cairu, hoje semi-destruído.

"A idéia de Junqueira era modificar o aspecto daquela passagem, e a pintura causou certo impacto. Depois veio o desenho feito defronte da Igreja Presbiteriana, recentemente quebrado para a passagem de um trator, e em seguida vieram os da Rua Teixeira de Freitas, agora em parceria com o Santana (Milton Francisco Santana, Rua Napoleão Laureano, 156), pois o Junqueira casou e foi morar em São Vicente".

Eduardo continua: "Faço questão de lembrar que o Santana e o Junqueira sempre foram meus mestres, e foi pena o Junqueira ter parado com as pinturas, mas ainda tenho intenção de convencê-lo a continuar".

Incidentes - Eduardo e Santana contam que, quando foi feita a primeira pintura, o vigilante da Fepasa apareceu e tentou impedi-los, mas eles concluíram o trabalho. Após o segundo desenho, foram policiais à casa de Junqueira, ordenando-lhe que cobrisse os desenhos com tinta cinza, dando o prazo de uma semana para a restauração do muro. O prazo não foi cumprido, e também a polícia não apareceu mais. No carnaval de 1980, quando foi feito outro desenho, passou uma viatura do Tático Móvel, e os policiais ainda aplaudiram a obra. E não ocorreram mais problemas desde então.

Eles escolhem para as pinturas geralmente o período da madrugada, quando há menos gente passando, evitando assim interrupções para conversa. Um painel demora em média 2,30 horas para ser pintado, geralmente com tinta a óleo e às vezes com tinta látex (que desbota, com o sol). Os moradores da vizinhança, que conhecem o trabalho deles, fornecem as tintas.

Mas não sobra muito tempo, porque Santana tem uma agenda de exposições individuais constantes em diversas cidades, durante todo o ano, além de exercer a profissão de desenhista publicitário e viajar, periodicamente, "a título de currículo, para abrir mais os horizontes".

Objetivos - "A intenção é pintar o muro todo, incentivando outros que gostem de pintura e queiram aparecer à noite. Queremos fazer um movimento para estimular quem quiser fazer um fim de semana de pintura. Veja só, pelo simples fato de a gente estar aqui, já apareceram dois garotos da vizinhança, que começaram a pintar, com guache mesmo", conta Eduardo.

Santana explica que até agora os temas dos painéis são o desenvolvimento de um trabalho em que o artista procura expressar o que sente em determinado momento. Mas agora começa uma nova fase, em que os quadros terão títulos, para que todos possam entender melhor os desenhos.

Pintando sobre tela há três anos e fazendo gravuras desde fins de 1979, Santana queixa-se da falta de incentivo das galerias. Lembra também que a maioria delas tem teto baixo e não comporta a exibição de painéis, do tipo dos feitos nos muros da Fepasa. "Um dos melhores lugares para uma exposição assim seria a Cadeia Velha, que tem salas de boa altura, mas não sei se os responsáveis pelo prédio permitiriam. Enquanto isso, continuamos pintando no muro da ferrovia mesmo, e causando impacto nas pessoas, que ao se deitarem vêem a cor cinza do muro, e no dia seguinte encontram uma pintura em seu lugar".

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