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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - 1932
Imprensa e a Revolução de 1932 (4)

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Principal meio de informação, ao lado das emissoras de rádio, a imprensa paulista teve papel ativo e importante na mobilização popular. A participação dos santistas na revolução foi assim registrada pelo jornal paulistano Folha da Manhã, na quinta-feira, 14 de julho de 1982, na página 7 - ortografia atualizada nesta transcrição:


Reprodução parcial da página 7 da edição de 14 de julho de 1932 do jornal Folha da Manhã

DE SANTOS (Serviço especial da Folha da Manhã)

Paralisação da praça - Foi criada a Polícia Municipal de S. Vicente - Reunião do professorado santista - Um apelo do prefeito ao comércio importador - Vapores entrados

SANTOS, 13 (Da sucursal da Folha da Manhã) - A SITUAÇÃO DA PRAÇA É DE COMPLETA PARALISAÇÃO - Continua paralisado o comércio de café em nossa praça. Todo o alto comércio mantém encerradas as suas portas e na cidade não há outro movimento senão aquele que se relaciona com os acontecimentos que se estão desenrolando.

O movimento de café expressou-se, ontem, pelos seguintes números: passagens, 15.165; entradas 18.034; despachos 18.404; embarques 5.148; existência 1.271.007 sacas de café. Até ontem, o Conselho Nacional do Café já incinerou nesta cidade um total de 3.846.820 sacas de café.

EM S. VICENTE FOI CRIADA A POLÍCIA MUNICIPAL - Na Câmara Municipal de S. Vicente, convocada pelo dr. José Monteiro, prefeito municipal, realizou-se, ontem, às 20 horas, uma grande reunião, a que compareceram elementos de destaque na sociedade vicentina, com o fim de tratar da situação que atravessa o Estado e tomar medidas de defesa da cidade.

Por proposta do dr. Pérsio de Souza Queiroz foi nomeada uma comissão composta dos srs. dr. José Monteiro, prefeito; Antonio Thiago de Carvalho, delegado; Arlindo Paes, 3º suplente de delegado; dr. Pérsio de Souza Queiroz e Divo de Souza Aguiar.

Ficou deliberado organizar-se a Polícia Municipal.

A ATITUDE DO PROFESSORADO SANTISTA - O professorado santista, por convocação do delegado escolar, realizou uma reunião, numa das salas do Grupo Escolar "Dr. Cesário Bastos", ficando deliberado que o professorado, bem como o pessoal administrativo dos grupos, se coloquem ao lado das forças armadas de Santos, hipotecando-lhe inteira solidariedade.

Após a reunião, estiveram na delegacia regional de polícia todos que tomaram parte na reunião, para dar ao major Loretti, comandante da praça, a adesão da classe  a afirmação de estarem prontos a tudo fazer em prol da vitória dos sagrados ideais que neste momento empolgam a alma do povo brasileiro.

REUNIÃO, NA PREFEITURA, DE DIRETORES DA ASSOCIAÇÃO DOS IMPORTADORES - Realizou-se, ontem, a convite do dr. Aristides Bastos Machado, prefeito municipal, no seu gabinete, uma reunião dos diretores da Associação dos Importadores de Santos, aos quais foi pedida informação certa sobre o estoque de gêneros alimentícios existentes em Santos.

Ficou sabendo o sr. prefeito que a praça de Santos está bem abastecida. S. s. fez um apelo ao comércio importador para que não fossem alterados os preços atuais.

Os diretores da Associação afirmaram ao sr. prefeito que os preços atuais serão mantidos, sem a menor alteração, por isso que, em face dos estoques existentes e da facilidade de transportes entre a nossa cidade e o interior do Estado, não se poderá verificar falta de quaisquer gêneros de primeira necessidade.

No entanto, apesar dessa declaração, urge que a Prefeitura exerça severa fiscalização, porque em vários pontos da cidade, principalmente nos arrabaldes, negociantes gananciosos estão aumentando, sem motivo justificável, os preços dos gêneros.

TRABALHOS FORENSES - Em virtude do decreto do governador do Estado, declarando feriados os dias 12, 13  14 do corrente, os juízes desta comarca determinaram ficassem fechados os cartórios e paralisados os trabalhos forenses durante a vigência daquele decreto.

FOI GUARNECIDA A PRAIA GRANDE - Esta manhã, seguiu uma força para a Praia Grande, a fim de guarnecê-la.

Todos os pontos estratégicos da cidade estão tomados pela artilharia.

A estrada de rodagem de Santos até a Serra está policiada por tropas de armas embaladas.

- Atinge a mais de 500 o número de pessoas de todas as classes que já se inscreveram na Milícia Cívica de Santos.

MOVIMENTO MARÍTIMO - Deram entrada no nosso porto, os seguintes vapores:

Americano The Angeles, procedente de Buenos Aires, com carregamento de vários gêneros, consignado à Agência Americana de Vapores; inglês Luciston, procedente de Barry Dock, com carregamento de carvão, consignado a Wilson Sons & Company; o nacional Maria Luiza, procedente de Aracaju e escala, com carregamento de vários gêneros, consignado à Companhia Brasileira de Cabotagem.

Não houve saída de vapores.

[...]

O mesmo jornal paulistano Folha da Manhã, na sexta-feira, 15 de julho de 1982, registrou na página 5 (ortografia atualizada nesta transcrição):


Reprodução parcial da página 5 da edição de 15 de julho de 1932 do jornal Folha da Manhã

A ditadura implicou com o porto de Santos...

Mas os navios não atendem à boicotagem

O governo da ditadura, felizmente nos derradeiros alentos, tem, por todos os meios, tentado desvirtuar a nobre causa constitucionalista de São Paulo, mais vigorosa a cada hora, pelas adesões sucessivas de avalanches do glorioso Exército Nacional, há muito desiludido da sinceridade do sr. Getúlio Vargas, e do mesmo divorciado, hoje, sem possível reconciliação, diz em sua edição de hoje A Tribuna de Santos.

E acrescenta: "Determinando impatrioticamente as mais diversas medidas que a sua autoridade, já moribunda, pode ainda ditar, o sr. Getúlio Vargas desenvolveu cerrada boicotagem ao porto de Santos, o primeiro da República e a alma dum Estado impiedosamente zurzido pelo ódio do chefe outubrista, que se instalou no Catete para desferir vergastadas nesta grande unidade da Federação e reduzir o seu heróico povo à triste condição de gentio duma taba.

Fechando o nosso porto à navegação, o ditador teve o impatriótico viso de reduzir os nossos recursos criando uma situação torturante para milhares de chefes de família, obreiros pobres, que vivem do já diminuto embarque e desembarque de mercadorias, no cais da Docas, sem aptidões para outro mister.

O rádio expedido pelas estações da Ditadura, aconselhando - ou melhor - intimando os navios a não entrar no porto de Santos, não logrou embair mais do que meia dúzia de navegantes, que, desconhecendo a artimanha emanada do Catete, obedeceram-no no primeiro dia, fazendo proa a outro ponto de escala. Conhecido, porém, o desleal recurso, ninguém mais se viu na obrigação de desviar a sua rota do porto de Santos, completamente livre ao tráfego marítimo.

Todo e qualquer navio de comércio pode entrar na barra deste porto e nele permanecer, sob o regime das leis e convenções internacionais sobre a matéria; nada existe que impeça a navegação de procurar a barra de Santos, franca e aberta como qualquer outra do Estado de São Paulo, e a melhor prova disso é o contínuo movimento de navios entrados e saídos diariamente, a despeito dos rádios do sr. Getúlio Vargas.

Ontem, entraram, até às 16 horas, e fizeram operações de atracação ao cais os vapores: americano The Angeles, procedente de Buenos Aires, com carregamento de vários gêneros, em trânsito, consignado à Agência Americana de Vapores; inglês Luciston, procedente de Barry Dock, com carregamento de carvão, consignado a Wilson Sons e Company, e nacional Maria Luiza, procedente do Aracaju e escala, com carregamento de vários gêneros, consignado a W. S. Muller e Co. Ltd.

Prova-se, assim, e também pelos registros das respectivas repartições públicas, que os rádios do Catete, no que respeita a assuntos de São Paulo, não conseguem impressionar mais ninguém.

No mesmo dia 15, esse jornal paulistano registrou na página 7 (ortografia atualizada nesta transcrição):


Reprodução parcial da página 7 da edição de 15 de julho de 1932 do jornal Folha da Manhã

DE SANTOS (Serviço especial da Folha da Manhã)

Reina calma na cidade - O novo comandante da praça militar local - O major Loretti no comando do forte de Itaipus - Comércio de café

SANTOS, 14 (Da sucursal da Folha da Manhã) - A SITUAÇÃO NA CIDADE FRENTE AO ATUAL MOVIMENTO - Continua perfeitamente calma a situação de nossa cidade, mostrando-se confiante a população. O movimento que se registra é o que resulta naturalmente da atual situação: curiosos que se encontram pelas ruas, à cata de novidades, e o movimento de forças e reservistas aqui acantonados.

Assumiu ontem o cargo de comandante da praça militar desta cidade o major Carlos Reis Junior, que dirigia a guarnição destacada no alto da Serra, pelo fato de ter de reassumir o comando do Forte de Itaipus o major Loretti, que exercia aquele cargo.

O novo comandante baixou ontem a seguinte circular: "Tendo o comando das forças em operações resolvido unificar a ação do destacamento do Alto da Serra com a praça de Santos, assumi também o comando desta praça, na qualidade de mais antigo, voltando o sr. major Euclydes Loretti Ferreira ao comando do forte de Itaipus. Saúde  fraternidade. (a.) Reis Júnior, comandante da Praça".

- Está promovendo comícios nesta cidade a "Bandeira Cívica", composta dos drs. José Soares de Mello, chefe; José A. Prado Forjaz, Candido Leme Junior, Francisco Itapema Alves, Constantino Fraga Junior, Synesio Rocha e Theodorico de Oliveira. Essa "Bandeira" tem visitado as autoridades e imprensa locais, bem como a "Milícia Santista", que conta já com mais de 500 alistados.

A SITUAÇÃO GERAL DA PRAÇA - Continuam paralisados os negócios do café em nossa praça. Todo o alto comércio mantém cerradas as suas portas e o movimento exportador que se verifica ainda não passa da ultimação de negócios anteriormente iniciados, uma vez que o serviço telegráfico com o estrangeiro está interrompido, além de entrarem também poucos vapores que ignoram que o nosso porto está franqueado sob todas as garantias internacionais, pelo governo do Estado.

O movimento do café embarcado, hoje, no nosso porto, foi o seguinte: Pelo vapor alemão Amassia - para Hamburgo: - Soc. Nacional Export., 250 sacas (mineiro); pelo vapor americano Delsud - para Nova Orleans - Almeida Prado & Cia., 550 sacas; Vidal & Cia., 500; Ramos Silva & Cia., 150; Socã Export. Nacional, 125 (mineiro). Total 1.325 sacas; pelo vapor norueguês Paraguayo - para Baltimore: - American Coffee Corp., 2.608; para Nova York: - Arbuckle & Cia., 3.430; Theodor Wille & Cia., 1.000; Oswaldo Ferreira & Cia., 190; Oswaldo Ferreira & Cia, 810 (mineiro). Total 8.038 sacas; pelo vapor nacional Raul Soares - para Rio de Janeiro: - José Fernandes & Cia., 7 sacas e 12 quilos; pelo vapor inglês Napier Star - Thorton & Cia., 1 saca; pelo vapor norueguês Norma - para Consumo: Knut Aaseth & Cia., 2 sacas. Total paulista 8.438 sacas e 12 quilos. Total mineiro, 1.185 sacas. Total geral, 9.623 sacas e 12 quilos.

A estatística geral da praça é representada pelos seguintes números - Passagens, 20.642; entradas, 21.993; despachos, 750; embarques, 9.623; existência, 1.267.477 sacas de café.

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