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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TEATRO GUARANY
Teatro Guarany quase vira floresta urbana (5)

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Ao primeiro olhar, uma foto publicada em 12/5/2004 engana o observador distraído, que pensará ver uma cena de bosque, numa cidade serrana do interior paulista. Só com a explicação ele se localizará e perceberá que no primeiro plano o bosque são as ruínas do Teatro Guarany, bem no centro de Santos. Mas já então começavam a ser tomadas providências para o restauro do prédio. Os detalhes do anteprojeto de restauração foram publicados nesta matéria de 15 de maio de 2004, no jornal santista A Tribuna:
 

Arquiteto Carlos Prates (à dir.) diz que restauro do Guarany incrementará a Praça dos Andradas
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria

TEATRO GUARANY
Ensaiando a restauração

Anteprojeto da Prodesan para recuperar prédio de 1882 já foi aprovado pelo Condepasa. Meta, agora, é concluir projeto executivo até o final do ano

Evandro Siqueira
Da Reportagem

A Prodesan abriu esta semana as cortinas que guardavam o projeto de restauração do Teatro Guarany. Por enquanto, os personagens do espetáculo são representados apenas por arquitetos e pesquisadores. Mas o roteiro já é digno de aplausos.

Na última quarta-feira, após receber a notícia de que era seu o projeto escolhido pelo prefeito Beto Mansur, o chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Prodesan, Carlos Prates, revelou a A Tribuna como foi a elaboração do plano de recuperação e transformação do antigo teatro em uma escola para artistas.

"Foram dois meses de trabalho intenso e já estamos sendo recompensados", comentou Prates, debruçado sobre as plantas do anteprojeto, já aprovado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Arquitetônico de Santos (Condepasa).

"O próximo passo é iniciar o projeto executivo e tentar terminá-lo até o final do ano. Mas só poderemos fazer isso depois que o imóvel for limpo e as paredes, escoradas".

Comprado pela Prefeitura em junho do ano passado (N.E.:2003), o Guarany encontra-se hoje em situação deplorável. Visto do alto, mais parece uma selva, devido ao matagal que toma conta do terreno.

A recuperação do imóvel está estimada em R$ 4 milhões. Para bancar a obra, Mansur tenta obter recursos junto a empresários, Governo do Estado e por meio da Lei Rouanet, que incentiva a cultura.

Início

"As pesquisas histórica e fotográfica são a fonte primária, a base intelectual da restauração"

Alexandre Remedio
Arquiteto da Prodesan

Pesquisas - A elaboração do projeto de restauração do teatro começou em agosto do ano passado, a pedido de Mansur. A equipe de arquitetos da Prodesan teve que correr contra o tempo para entregar as plantas em outubro.

O prazo curto, no entanto, não impediu a realização de uma aprofundada pesquisa de campo, que incluiu visitas a bibliotecas e entrevistas com pessoas que chegaram a freqüentar a primeira casa de espetáculos da Cidade (N.E.: na verdade, é o segundo teatro santista).

"As pesquisas histórica e fotográfica são a fonte primária, a base intelectual da restauração", destaca o arquiteto Alexandre Remedio.

Experiente no assunto, por ter participado das restaurações da Basílica de Santo Antonio do Embaré e da Capela Dom Bosco na Escolástica Rosa, o arquiteto Fernando Gregório diz que elaborar o projeto "foi como montar um quebra-cabeça".

A maior dificuldade foi a falta de imagens das dependências internas do Guarany, o que obrigou a equipe a pensar em algo novo para o interior do teatro. A única fotografia encontrada pelos arquitetos está publicada na edição de 7 de setembro de 1936 de A Tribuna. Foi tirada do palco para a platéia, durante as comemorações pelo primeiro centenário da Santa Casa de Misericórdia de Santos.

"A foto é útil porque mostra a localização das colunas. Duas delas, aliás, foram encontradas no imóvel e os nossos planos são de recuperá-las e reutilizá-las", explica Prates.

Mosaico cultural - Quando fala da recuperação do Guarany, o arquiteto procura dar amplitude à inciativa. Diz que, depois de pronta, a obra colocará a Praça dos Andradas, onde fica o teatro, "no eixo da revitalização do Centro".

"Tudo na praça e ao redor dela foi recuperado", afirma Prates, referindo-se à Casa de Câmara e Cadeia e ao prédio restaurado recentemente pela Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL). "Com o Guarany, é como se estivéssemos fechando um mosaico cultural".


Pilastras originais foram encontradas no terreno; apesar de danificadas, podem ser recuperadas
Foto: reprodução/Prodesan, publicada com a matéria

Teatro e escola de artistas funcionarão harmonicamente

A criação da escola de teatro não impedirá o Guarany de ser palco de espetáculos teatrais de pequeno porte. O espaço para as apresentações ficará no piso térreo, que terá capacidade para 213 espectadores. No primeiro e segundo andares funcionará a escola.

"Tudo foi pensado para, quando preciso, haver formas de conciliar aulas e peças teatrais", conta a arquiteta Bianca Pellegrini, que também integra a equipe da Prodesan. Para isso, haverá uma entrada destinada exclusivamente a alunos, que poderão circular pela escola sem atrapalhar o espetáculo.

No térreo, o palco será mantido no lugar original, ou seja, de frente para a Praça dos Andradas. Haverá ainda um foyer (espécie de sala de espera para o público) logo após a entrada principal.

"A estrutura interna do teatro tem que ser atual, apesar de se tratar de uma restauração. Não podemos, por exemplo, colocar cadeiras de madeira para o público, que são extremamente desconfortáveis", explica o coordenador do projeto, Carlos Prates. Também será instalado um elevador, a fim de facilitar o acesso de deficientes físicos aos pisos superiores.

Amarelo-imperial - Por fora, a idéia é pintar a fachada de amarelo-imperial, um tom ligeiramente mais claro que o utilizado na Estação Ferroviária do Valongo. Portas e janelas serão em madeira.

"Ainda vamos pesquisar o tipo de madeira que se usava na época e, se possível, usar o mesmo na restauração", diz Tiago Morgero, outro membro da equipe.

O projeto visa recuperar as características que o teatro tinha em 1910, ano em que passou pela primeira reforma.

A estátua da Musa das Artes, que fica no topo do imóvel, também será mantida. "Está faltando o braço esquerdo, mas nós vamos reconstruir", garante Prates.

Uma das características mais marcantes do passado que serão mantidas é a forma de escrever a palavra teatro. O imóvel trará a inscrição Theatro Guarany, como no início do século passado.

Saiba mais
O Teatro Guarany foi inaugurado em 7 de dezembro de 1882, praticamente junto com a Praça dos Andradas, onde fica o imóvel. A obra foi patrocinada pela elite cafeeira de Santos, inconformada com o fato de a Cidade não ter um teatro. A única casa de espetáculos, até então, ficava na Praça Mauá. Mas era tão precária que o público tinha que levar cadeiras para poder sentar.

O Guarany colocou Santos na rota mundial do teatro. Estrelas como a francesa Sarah Bernhardt, maior atriz do mundo na época, pisaram naquele palco. O Guarany manteve-se no auge até meados da década de 20. Em 1924, com a inauguração do Teatro Coliseu, entrou em decadência. Virou cinema e logo passou a atrair amantes de filmes pornográficos. Em 81, um ano antes de completar um século de existência, o antigo teatro foi consumido por um incêndio (foto). Só restaram as espessas paredes de pedra, que ainda hoje podem ser vistas.

Palco guarda curiosidades do passado político e cultural

A história do Guarany não está ligada apenas à arte. O teatro também foi palco de movimentos abolicionistas e acabou influenciando eventos culturais que, mais tarde, tornar-se-iam tradição na Cidade.

Foi o caso do Banho da Dorotéia, uma brincadeira carnavalesca em que homens usavam roupas de mulher e saíam às ruas de Santos para desfilar.

O evento, que foi realizado durante décadas, nasceu depois da apresentação da peça Dona Dorotéia, vamos furar aquela onda! em meados de 1920, no Guarany.

Conforme apurou a equipe de arquitetos da Prodesan, um grupo de jovens do Clube de Regatas Saldanha da Gama assistiu a peça e iniciou a brincadeira de Carnaval.

Os arquitetos também descobriram, durante a pesquisa, um relato feito pelo escritor, político e jornalista Antonio Silva Jardim, sobre um fato ocorrido nas dependências do teatro. Só não se sabe a data exata do pronunciamento (N.E: o pronunciamento ocorreu em 28 de janeiro de 1888).

Eis o texto de Silva Jardim: "Quando, um quarto de hora depois, encontramos (N.E: ...entramos...) alguns no Theatro Guarany, encontrei já o espaçoso salão da platéia repleto de uma enorme massa de todos os partidos, classes, posições, fortunas e nacionalidades... Era a primeira vez que me achava diante de tão grande auditório... A causa estava ganha e o primeiro meeting (encontro, em inglês) republicano realizava-se...".

Público reduzido - Silva Jardim usou o termo "tão grande auditório" porque, na época, o Guarany tinha capacidade para cerca de 700 pessoas. Após a reforma de 1910, subiu para mil. Só nos anos 60, quando já funcionava como cinema, é que a capacidade foi reduzida para 170 pessoas.

Após a restauração, caberão no teatro 213 espectadores, já que os primeiro e segundo andares não poderão ser utilizados pelo público, mas apenas pelos alunos da escola de artistas.

Detalhes do projeto


Proposta da Prodesan para a fachada do Guarany. As paredes serão pintadas em amarelo-imperial. Portas e janelas serão de madeira. No telhado, a imagem da Musa das Artes e, logo abaixo, a inscrição: Theatro Guarany


Piso térreo terá um foyer, sanitários e cadeiras para 213 pessoas. Palco ficará no lugar de origem, isto é, de frente para a Praça dos Andradas. Nos pisos superiores, que não aparecem na imagem, funcionarão as salas de aula e o setor administrativo da escola


Arquitetos da Prodesan também fizeram um desenho mostrando como deverá ficar a entrada do teatro, depois de restaurado. A imagem é a vista parcial do foyer. A coluna de sustentação será a original, já que foi encontrada no imóvel
Fonte: Prodesan

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