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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Apito paralisava o bonde e espantava as mulas

Fatos pitorescos ocorridos no final do século XIX

Na última década do século XIX, o porto de Santos começava a ampliar seu cais, com pedras procedentes de uma pedreira no bairro do Jabaquara, transportadas por um pequeno trem, em trilhos que atravessavam a Cidade, em certos trechos paralelos aos dos bondes, estes então apenas com tração animal. Note-se que, na fase inicial dessa ferrovia transportadora de pedras, conforme é citado abaixo, os trilhos não seguiam em linha reta como ocorreria depois, mas faziam uma curva e entravam na Rua Senador Feijó, seguindo em direção à Praça da República.

É dessa época a história a seguir, citada em trecho de uma entrevista com o empresário Sebastião Brasil de Castro Rios (ligado ao transporte marítimo), e publicada por Francisco de Marchi em 22 de abril de 1956 no jornal santista A Tribuna, com o título Canoas andaram pela Rua 15, na cheia de 1893:


Rua Senador Feijó, por volta de 1920
Foto: livro Café - Santos & História (vários autores,
Editora Leopoldianum/Universidade Católica de Santos, Santos/SP, 1995)

[...]

O trem de ferro na Senador Feijó

"- Em 1893 - prossegue o sr. Sebastião - choveu fartamente na cidade. Chuvas pesadas, porém não tão longas como as de março deste ano (N.E. quando ocorreu a tragédia dos deslizamentos nas encostas do morro do Marapé). Como essas, confesso, não vi outras. Naquela ocasião, as ruas do centro ficaram inundadas, na casa de ferragem do Carvalho, na rua 15, a água chegou à altura do balcão. Nos armazéns, alcançou a altura de quatro sacas de café empilhadas, causando grandes prejuízos à Praça. Chegou a fazer sucesso, nas ruas 15 e de Santo Antônio (atual do Comércio) uma canoa, na qual houve quem embarcasse, para ir à estrada de ferro. O volume de água represada foi muito grande; arrebentou o portão de madeira que impedia a passagem dos pedestres da rua de Santo Antônio para o beco que hoje corresponde à rua Conde d'Eu. Dizia-se que o portão era mantido cerrado ao público pelo dono do prédio, Júlio Conceição; depois do arrombamento citado não o fecharam mais."

Perguntamos a Sebastião de Castro se tinha algum outro episódio curioso a relatar ligado à vida na cidade no fim do século e ele anuiu:

"- Sim, o do trenzinho que saindo do Jabaquara, utilizando parte de via-férrea da Cia. Docas, ainda hoje em uso, alcançava a rua Senador Feijó e por ela enveredava, lado a lado dos trilhos dos bondinhos de burro; depois de cortar a praça da República ia descarregar material de aterro nas obras do porto. Inúmeras vezes, ao passar pelo bondinho, o maquinista soava o apito da locomotiva com estridor, e isto fazia que a parelha de burros do bondinho se empinasse, soltasse o "machinho" (engate) e fugisse espavorida. Ficava então o bondinho imobilizado, com os passageiros a aborrecer o cocheiro-cobrador:

- E agora, moço?

Ao que o cocheiro respondia, calmamente:

- Ou os srs. vão a pé, ou esperem que eu dê um pulo à estação da Vila, para trazer outra parelha de burros.

A segunda sugestão, porém, era a que recebia sempre aprovação. Não fazia mal esperar mais um pouco. Pior era bater a rua inteira a pé, naqueles tempos em que havia duas únicas estações a castigar a cidade: uma, favorecendo espantoso calor; outra, alimentando uma chuva persistente, que fazia a umidade penetrar a fundo nos ossos da gente...".


A pedreira do Jabaquara e a pequena locomotiva, cerca de 1901
Foto cedida pelo Museu do Porto de Santos - Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp)

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