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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1500-1600 (8)

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 171 a 188 do Tomo I:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 171/tomo I da obra

 

1500-1600

[...]

CCCLI – Alvará de 6 de abril de 1592 pelo qual nomeia el-rei ao licenciado Custodio de Figueiredo, provedor dos defuntos, e resíduos, das partes do Brasil, com o ordenado de duzentos mil réis cada ano, pagos na feitoria da Bahia de Todos os Santos etc. (M. inéd.).

Por alvará de 2 de mesmo mês e ano, determina sua alteza que, nos contratos que se rematarem, se imponha a condição de se pagar um por cento para obras pias etc. (M. inéd.).

CCCLII – Por alvará de 5 de novembro de 1592 fez sua alteza mercê a João Corrêa, que manda ao Brasil, do ofício de feitor das minas de ferro, que manda descobrir, com o ordenado de oitenta mil réis cada ano, e Gaspar João, e Manoel Rodrigues, seus filhos fundidores e ferreiros, e Manuel Simão, e Manuel João que nas ditas minas vão trabalhar, se lhes dê de ordenado a cada um deles, em cada ano, cinquenta mil réis etc. (M. inéd.).

CCCLIII – Pelo alvará de 5 de novembro de 1592, el-rei nomeia João Corrêa, que ora envia às partes do Brasil, por feitor das minas de ferro, que nelas manda descobrir, e haja em cada um dos três anos que nelas servirem oitenta mil réis de seu ordenado, e Gaspar João, e Manoel Rodrigues, seu filho, fundidor e ferreiro, que nas ditas minas hão de trabalhar, se lhes dê seu ordenado, a cada um deles, em cada um dos ditos três anos cinquenta mil réis, os quais começarão a vencer do dia que chegarem às ditas partes do Brasil em diante, e lhe serão pagos no tesouro das rendas reais do Brasil, na Bahia de Todos os Santos, em quartéis cada um ano. (M. inéd.).

CCCLIV – Por alvará de 16 de novembro de 1592 foi nomeado Fulgencio Pereira de Alvim, cavaleiro da casa real, dos ofícios de meirinho do mar, e procurador dos índios forros, da capitania da Bahia de Todos os Santos, por tempo de três anos, que ora está vago, por falecimento de Diogo Zorilha, que foi proprietário deles, com o ordenado dos ditos ofícios e os prós e precalços, que lhe direitamente pertencerem etc. (M. inéd.).

CCCLV – Por alvará de 19 de março de 1593, foi nomeado Miguel da Penha, escudeiro fidalgo da casa real, escrivão da alfândega da Bahia de Todos os Santos, por três anos, no impedimento de Francisco de Araújo, proprietário, com o qual ofício terá e haverá mantimento a ele ordenado, e todos os prós e precalços etc. (M. inéd.).

CCCLVI – D. Felippe de Moura em 1593 toma conta do governo de Pernambuco, e administra a capitania até 5 de julho de 1596.

CCCLVII – Por alvará de 19 de março de 1593, foi nomeado João de Basto provedor da fazenda da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, por tempo de três anos, com o mantimento e ordenado, marcado no regimento etc. (M. inéd.).

CCCLVIII – Pelo alvará de 17 de março de 1593, é nomeado Manoel de Castilho, morador na cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, feitor e almoxarife da dita cidade, por tempo de seis anos, o qual servindo bem os seis anos poderá requerer a propriedade, com o que poderá receber o mantimento e ordenado, e todos os prós e precalços que lhe direitamente pertencerem etc. (M. inéd.).

CCCLIX – Pela previsão de 5 de fevereiro de 1593, é nomeado Gabriel Fernandes, morador na Bahia de Todos os Santos, porteiro da casa da fazenda, contos e alfândega da cidade do Salvador, por falecimento de Gaspar Corrêa, e haverá em cada ano o mantimento e ordenado, os prós e precalços que lhe direitamente pertencerem etc. (M. inéd.).

CCCLX – Pelo alvará de 19 de fevereiro de 1593, é nomeado Miguel de Pinho, escudeiro fidalgo, escrivão da receita e despesa, do cargo de tesoureiro da Bahia, com o mantimento e ordenado, e todos os prós e precalços que lhe direitamente pertencerem etc. (M. inéd.).

CCCLXI – Pelo alvará de 16 de março de 1593, em atenção aos serviços que Paulo Moreira fez no Brasil, é nomeado procurador dos feitos da fazenda real na Bahia de Todos os Santos, e receberá de mantimento e ordenado todos os prós e precalços que lhe direitamente pertencerem etc. (M. inéd.).

CCCLXII – Por alvará de 26 de março de 1593, el-rei manda ao Brasil Martim Carvalho, fazer as avenças dos direitos, pertencentes à sua fazenda, com os moradores do Brasil, cujas avenças fará de acordo com o licenciado Custodio de Figueiredo, vencendo o ordenado de cento e cinquenta mil réis cada ano, pago em quartéis pelo tesoureiro da Bahia etc. (M. inéd.).

CCCLXIII – Pelo alvará de 12 de fevereiro de 1593 é nomeado Manoel Carvalho, morador na cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos, guarda do mar da dita cidade, por falecimento de Diogo Zorilha, por tempo de três anos, e haverá mantimento e ordenado, os prós e precalços, que lhe de direito pertencerem etc. (M. inéd.).

CCCLXIV – Por alvará de 20 de março de 1593 é nomeado Gonçalo Velloso de Barros, almoxarife do armazém da Bahia por três anos, e pelo que terá de mantimento, ordenado, e prós e precalços, que lhe de direito pertencerem, em cada um ano etc. (M. inéd.).

CCCLXV – Foi no ano seguinte do seu governo, que os piratas Lancastre e Venner desembarcaram com trezentos homens em Olinda, na noite de 31 de março de 1594, atacaram o forte do Bom Jesus, saquearam a cidade, e se assenhorearam da capitania por espaço de trinta e quatro dias. Os pernambucanos por duas vezes tentaram incendiar a esquadra de Lancastre, e batem-se com trezentos homens, e matam-lhe o vice-almirante, e por este acontecimento abandona Lancastre o Recife. Lancastre volta à Inglaterra levando consigo imensas riquezas.

CCCLXVI – O primeiro convento de S. Francisco, que se fundou no Brasil, foi o de N. S. das Neves em Olinda de Pernambuco, e o segundo foi o de S. Francisco da Bahia.

CCCLXVII – Como já referi, a povoação da vila de Camamú, na comarca de Ilhéus, da Bahia de Todos os Santos, na margem esquerda do Rio Acarahy, e a três léguas da sua embocadura, foi uma aldeia de índios tupiniquins, denominada Macamamú, domesticados pelos jesuítas, onde edificaram a igreja de N. S. da Assunção, em proveito da catequese e civilização dos mesmos índios. O bom estado em que se achava a aldeia chamou para ali alguns portugueses, que, animados da presença dos padres e fertilidade do terreno, aumentaram tanto a povoação, que o governador geral Antonio Luiz Gonçalves da Camara Coutinho elevou a povoação à categoria de vila em 1594, com a denominação de vila de N. S. da Assunção do Camamú.

CCCLXVIII – Por este tempo, ano de 1594, pouco mais ou menos, moveram guerra os moradores desta capitania do Espírito Santo, contra uma nação de gentio pernicioso, bárbaro e terrível, por nome Quaytacá, cujas notícias quero dar aqui brevemente, para que se veja a importância do negócio. Era esta sorte de gente a mais feroz e desumana que havia por toda aquela costa: em corpos eram agigantados, de grandes forças, destros em arco, inimigos de todas as nações, e tragadores sobremaneira de carne humana, de cujos ossos faziam grandes montes em seus terreiros, e era este o maior brasão de seus feitos heroicos, as muitas ossadas dos que matavam e comiam em guerra; assombro perpétuo daquela região.

O distrito que habitavam era pequeno, dentro dos terrenos dos rios Paraíba e Macaé, sítio, porém, horrível e inexpugnável; porque em vez de montes, comuns aos mais tapuios, quais crocodilos, vivem nas águas de grandes lagoas, de que abundavam seus campos, chamados por isso dos Quaytases, em choças de palha, fundadas cada qual sobre um esteio de pau, metido na areia, por mor segurança de seus contrários: cercados, sobretudo, de matas espessas, rios e charcos inacessíveis.

Deste lugar saíam, quais do lago Averno, a dar assaltos nos caminhos e praias, fazendo pasto dos seus ventres tudo o que encontravam, ou fosse bruto, ou pessoa humana; e não podiam ser eles acometidos, senão com grandes dificuldades, e em tal caso apelidavam as nações das serras em seu favor, todas ferozes e bárbaras, que só para efeitos semelhantes consentiam entrar em seus distritos, e vinham ajudá-los a bandos, e quando acaso se viam em perigo, acolhiam-se às suas alagoas, e nadando se metiam nas casas, donde, nem a pé,nem a cavalo, podiam ser acometidos. (Vide o 2º tomo da minha Corogr. Hist.).

CCCLXIX – O tribunal do desembargo do paço foi instituído por el-rei d. João II, em virtude da sua enfermidade; porque não podendo despachar a tudo por si só, como era seu costume, nomeou dois ministros para o ajudarem no despacho, e lhe deu regimento e forma. Este tribunal, que passou para o Brasil, com a trasladação da Corte portuguesa em 1808, foi substituído pelo Supremo Tribunal de Justiça, criado em virtude da lei de 18 de setembro de 1828.

CCCLXX – Por alvará de 19 de março de 1594, foi nomeado Antonio Marreiros, moço da casa real, filho de Lourenço Rodrigues, que foi provedor das contas do reino e casa, escrivão das contas do Estado do Brasil, na Bahia de Todos os Santos, ofício que está vago, pelo falecimento de Simão Ribeiro, por tempo de seis anos, com cinquenta mil réis de ordenado, em cada um ano, pagos em quartéis, no tesouro da Bahia etc. (M. inéd.).

CCCLXXI – Os protestantes franceses, atacando na África a fortaleza de Arguim em 1595, fazendo grandes estragos e mortandade se retiraram em busca do Brasil, e trazendo consigo a imagem de Santo Antonio, depois de acutilarem e injuriarem, amarraram-na em uma peça de artilharia e a atiraram ao mar, dizendo "que se salvasse".

Sobrevindo uma tormenta, soçobraram alguns navios, e a capitânia dando à costa em Sergipe d'El-Rei, o comandante e marinheiros sendo presos, e remetidos para a cidade da Bahia, de caminho viram na praia a imagem de Santo Antonio, que a reconheceram. Os protestantes foram executados na cidade do Salvador, e a imagem foi no dia 24 de dezembro do mesmo ano de 1595 levada em procissão, e colocada no convento de S. Francisco. A imagem primitiva o tempo estragou, sendo substituída por outra. (Vide crônica manuscrita do convento).

CCCLXXII – Os monges de S. Bento, que se passaram para o Rio de Janeiro em 1589, estiveram na ermida de Nossa Senhora do Ó, onde depois os religiosos do Carmo edificaram a igreja que hoje serve de capela imperial, até que Diogo de Brito lhes doou o morro, por escritura de 25 de março de 1596, em cujo terreno, recebido a 13 de maio, deram mais tarde começo a igreja e mosteiro.

CCCLXXIII – O convento do Carmo de S. Paulo foi fundado no ano de 1594, por fr. Antonio de S. Paulo, em terras doadas por Braz Cubas.

CCCLXXIV – Pedro Coelho de Souza, colono da Paraíba do Norte, fez tentativas para descobrir minas de ouro, e posto que as não achasse, descobriu novos estabelecimentos ao Norte da Paraíba, e tomando posse do governo geral do estado Diogo Botelho, em 1603, autorizou a Coelho para a descoberta do el-dorado, dando-lhe o título de capitão-mor das novas colônias que descobrisse.

Coelho embarca e chega ao Ceará, onde se reforçou; segue para a serra do Ibiapaba, onde se conservou durante um mês, em escaramuças com os índios, e depois para Jaguaribe, que lhe pôs o nome de Nova Lusitania, é a localidade onde esteve Nova Lisboa; mas, pelas suas crueldades para com os índios, vieram ordens terminantes da corte de Espanha declarando livres os índios, e desgostoso por isso Pedro Coelho de Souza largou o Ceará e voltou para a Paraíba, onde ficou desamparado de todos os seus amigos.

Os jesuítas, vendo malograda a expedição de Coelho, tentam segunda entrada e vão os padres Francisco Pinto e Luiz Figueira à serra do Ibiapaba, com permissão do governador Diogo Botelho, que então se achava em Olinda. O padre Francisco Pinto foi morto pelos índios, e o padre Luiz Figueira escapou milagrosamente escondendo-se nos sertões do Ceará, donde voltou a Pernambuco. (Vide o T. 3º da minha Corog. Hist.).

CCCLXXV – O navio que conduziu os colonos, perseguido por índios da capitania do Espírito Santo, entrando no Rio Gricoré ou Cricaré, subindo por ele, a quatro léguas de distância da foz deu fundo, e os colonos achando o local aprazível e fértil, à margem do rio, aí ficaram e deram começo a uma povoação; e passados anos, aparecendo aí o padre José de Anchieta, disse missa no dia 21 de setembro de 1596, dia do apóstolo S. Mateus, e em consequência desta festividade, o missionário pôs o nome deste apóstolo ao povoado e ao rio, nome pelo qual desse dia em diante ficaram conhecidos, edificando os colonos uma igreja dedicada ao santo apóstolo S. Mateus.

CCCLXXVI – Manuel de Mascarenhas Homem toma conta do governo da capitania de Pernambuco em 1596, e por ordem de d. Francisco de Souza, governador geral, teve de marchar com a expedição pernambucana contra os franceses que se haviam estabelecido no Rio Grande do Norte ou Potengi, e pelo que, em virtude da ordem de 2 de maio de 1599, deixa a administração nas mãos do bispo d. fr. Antonio Barreiros, que se achava em visita episcopal no Recife, e de Duarte de Sá, vereador mais velho. Com Mascarenhas Homem foi Jeronymo de Albuquerque, e por eles foram lançados, por ordem d'el-rei Felipe Ii de Espanha, na embocadura do Rio Potengi, a uma légua do mar, os fundamentos da cidade do Natal. Mascarenhas Homem, retirando-se dali, deixou Jeronymo de Albuquerque à frente dos negócios públicos, chegando a Pernambuco em 1602, onde esteve no governo da capitania até 1610, em que foi substituído.

CCCLXXVII – O famoso e ilustrado missionário jesuíta, padre José de Anchieta, que tantos serviços prestou à religião e à humanidade, falece na capitania do Espírito Santo no dia 9 de junho de 1597, ornado de virtudes e pranteado por todos. (Vide Simão de Vasconcellos, Chr. da Comp., e a minha Corographia Hist. e o Brazil Hist.).

CCCLXXVIII – Por alvará de 22 de dezembro de 1577, é nomeado João Rodrigues de Almeida, por informações que deu Manoel de Mascarenhas, fidalgo da casa real, que vai a Pernambuco servir de capitão do forte, que se ora faz no Recife, da capitania de Pernambuco, cujo posto o proveu, em nome de sua alteza, o mencionado Manoel Mascarenhas etc. (M. inéd.).

CCCLXXIX – El-rei d. Felipe, em 9 de julho de 1597, a requerimento de Antonio Cardoso de Barros, confirma-lhe a sesmaria concedida a seu pai Christovão de Barros, em 11 de abril de 1590, passada na fortaleza de S. Christovão do Rio Sergipe, pelo escrivão Nuno Alvares Nogueira, cujas terras foram dadas em remuneração de serviços, desde o Rio Sergipe até ao Rio de S. Francisco, ao longo do mar, e pelo sertão toda a largura que há, entre os ditos rios, correndo com o comprimento, como correm as demais capitanias, para nelas criar gados, fazer povoações, vilas, engenhos e o mais que convier etc. (M. inéd.).

CCCLXXX – No dia 15 de outubro de 1598, principiou a sentir-se em Lisboa uma mortífera peste, que, se estendendo a todo o reino, foram tão grandes os estragos, que nos cinco anos que durou, carregou consigo para mais de oitenta mil pessoas. (Anno Hist.).

CCCLXXXI – Por alvará de 8 de janeiro de 1598, é nomeado Francisco Netto cavaleiro fidalgo da casa real, sargento-mor da capitania da Bahia e todos os portos do Brasil, com o soldo de oitenta mil réis cada ano, que começará a vencer do dia da partida de Lisboa, pagos pelo almoxarife da cidade do Salvador etc. (M. inéd.).

CCCLXXXII – Por alvará de 8 de janeiro de 1598 é nomeado Ambrosio de Barros, cavaleiro fidalgo da casa real, sargento-mor, para a capitania de Pernambuco, e nela servir enquanto assistir na dita capitania Alexandre de Moura, que ora vai, tendo de soldo em cada ano oitenta mil réis, que começará a vencer desde o dia que sair de Lisboa, cujo soldo o receberá no almoxarifado de Pernambuco etc. (M. inéd.).

CCCLXXXIII – Antes que falecesse el-rei d. Felipe II, em 18 de setembro de 1598, recomendou que se impedisse o comércio que os franceses faziam no Rio Grande do Norte, e que se domasse os índios dali; e para cumprimento da vontade do soberano, em maio do ano seguinte, de 1598, subiu uma expedição para este fim, confiada ao próprio governador, que, chegando a Pernambuco, mandou Jeronymo de Albuquerque fosse ao Rio Grande do Norte, batesse os pitaguares, e construísse um forte na foz do Rio Grande do Norte, e lançasse os fundamentos de uma povoação, o que fielmente executou Jeronymo de Albuquerque.

CCCLXXXIV – Na terça-feira, 27 de julho de 1598, às cinco horas e meia da tarde, manifestou-se um terremoto com abalo e comoção tão veemente, que muitas pessoas caíram por terra, e se viam saltar para o ar os trastes e mobílias das casas, saindo os moradores de Lisboa para a rua, receosos da ruína da cidade. (Anno Hist.).

CCCLXXXV – El-rei d. Felipe, por carta de 12 de março de 1598, nomeia capitão e governador da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro a Francisco de Mendonça de Vasconcellos, por três anos, com cem mil réis de ordenado em cada ano, que é outro tanto como tinha e havia Salvador Corrêa de Sá, a quem vai suceder; e todos os prós e precalços que lhe de direito pertencerem etc. (M. inéd.).

Francisco de Mendonça de Vasconcellos toma posse do governo no dia 7 de julho de 1598, e nele se conservou até o dia 17 de julho de 1602. O seu empenho foi adiantar o aumento da cidade e o bem-estar dos moradores, assistindo frequentemente aos trabalhos da câmara, determinando a abastança da terra, e estabelecer os preços dos mantimentos, e proibiu que não se exportasse os mesmos sem que o povo estivesse abastecido.

Era a igreja de S. Sebastião mui pequena e foi este governador quem, reunindo o povo na câmara, promoveu a fabricação da Sé, onde se colocou a imagem do padroeiro da cidade, o mártir S. Sebastião. Apesar de sua primitiva cidade (no morro do Castelo) cercada de pântanos e alagadiços, a agricultura prosperava pela animação dos governadores. O Rio de Janeiro muito progrediu pelo bom governo de Francisco de Mendonça de Vasconcellos, e a sua memória ficou gravada no coração de todos (Vide Brazil Hist.).

CCCLXXXVI – Diz o autor da crônica manuscrita que tenho à vista, que Francisco de Mendonça, governador do Rio de Janeiro, foi quem muito concorreu para a construção da igreja de S. Sebastião do Castelo, ou antiga Sé, convocando para isto a câmara, nobreza e povo, ao que todos concordando para sua completa edificação, propôs que se impusesse fintas em diferentes objetos de consumo para o acabamento e ornatos do templo, no que foi combinado. (Vide o Brazil Hist. T. 2º p. 31 da Seg. Ser.).

CCCLXXXVII – Por alvará de 27 de maio de 1598 é nomeado Pedro Arios de Aguirre, morador na cidade do Salvador, capitão do forte S> Felipe, da mesma cidade e Bahia de Todos os Santos, de cujo comando o tinha incumbido o governador d. Francisco de Souza, em nome de sua alteza, com oitenta mil réis de ordenado, e os prós e precalços, que lhe de direito pertencerem, pagos no tesouro geral etc. (M. inéd.).

CCCLXXXVIII – A cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos era antigamente fechada, sendo a sua comunicação feita por duas portas guarnecidas por dois castelos ou baluartes.

A primeira comunicação era pela parte do Norte, denominada das portas do Carmo, guarnecida pelo baluarte de Santa Catarina, onde ainda hoje se encontram restos de muralha, principalmente dentro da casa do dr. José Joaquim dos Santos, e onde ainda eu vi por cima da escada a mesma entrada de uma porta, que dava para o poente. A muralha seguia um pouco obliquamente para o levante, e sobre ela se levantou uma das paredes do edifício fronteiro, deixando um espaço entre ela e a casa do coronel Manoel José Villela, na ladeira da Baixa dos Sapateiros.

A segunda entrada era entre a igreja da Barroquinha e o teatro de S. João, guarnecida pelo baluarte de Santa Luzia, onde eu também vi, dentro das casas, restos das muralhas. Os conventos do Carmo e S. Bento ficavam extramuros da cidade.

Havia uma rua ou caminho que principiava no Terreiro de Jesus, entre o colégio e a casa do coronel João Ladisláo de Figueiredo e Mello, onde existe uma porta que corria por detrás das casas da Rua das Portas do Carmo, e ia sair no Taboão.

Consta que no começo da Rua do Taboão, onde ainda se vê um oratório e as casas se vão afastando, entrava uma rua pela frente destas, a qual com o tempo foi mudada para a que hoje existe. Era nas casas da Rua do Taboão que os mineiros se arranchavam.

CCCLXXXIX – Pedro Arios de Aguirre, capitão do forte de S. Felipe, em 3 de março de 1594, havia pedido a d. Francisco de Souza, governador geral, lhe doasse um pardieiro feito em tempo de Thomaz de Souza para ele fazer casa de moradia, aonde vivesse com sua mulher e família, terrenos na Rua Direita, que ia para o forte de Santa Luzia, defronte de Pedro Dias de Figueirôa, da face da rua e da outra parte, com a rua e casas de Domingos de Oliveira, desde o canto da Rua Direita até o outro canto, da parte do caminho, que vai para N. S. da Conceição da Praia, e da largura, para o terreiro das casas, em que pousam os governadores deste Estado, e dez braças de terra.

Esta concessão foi feita com a condição de ser aprovada e confirmada por el-rei; e pelo que chegando a petição e doação ao conhecimento de el-rei d. Felipe, este por sua resolução fez mercê da confirmação e doação feita por d. Francisco de Souza, em 2 de junho de 1598.

CCCXC – Em 13 de setembro de 1598 falece d. Felipe II (apelidado o Demônio do Meio-dia) e tomou conta do trono seu filho Felipe III.

CCCXCI – Affonso de Albuquerque, neste ano de 1599, principiou a fundar a cidade do Natal, hoje capital do Rio Grande do Norte.

CCCXCII – Os religiosos carmelitas dão começo a fundação do seu convento no Rio de Janeiro, no ano de 1598, sendo a frente do edifício ao longo da praia (Santuario Mariano, Fl. 10, L. 1º T. 9).

CCCXCIII – Por alvará de 21 de outubro de 1598, sua alteza faz mercê a Sebastião da Silva, cavaleiro fidalgo da sua casa, do ofício de escrivão do tesoureiro da cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos, por tempo de três anos, durante a ausência de Miguel de Pinho, proprietário do ofício, com o qual haverá mantimento a ele ordenado, e todos os prós e precalços, que lhe direitamente pertencerem. (M. inéd.).

CCCXCIV – Malograda a descoberta das minas de prata da Bahia, noticiada a Felipe II de Castela por Diogo Dias, e para cuja execução foi encarregado d. Francisco de Souza, governador geral do Brasil, persistindo el-rei na ideia da descoberta de minas, determinou ao governador que insistisse nela, e sabendo d. Francisco de Souza que na serra de Araçoiaba ou Araaçoiava (cobertura do sol), montanha de três léguas de comprimento, no distrito de Sorocaba, existiam jazidas de minerais, além de puro ferro, dirigiu-se para ali, e chegando em S. Paulo em fins do ano de 1598, partiu para a serra de Araçoiaba, e reconheceu a riqueza do mineral pela presença de dois fornos que ali estavam, levados por um tal Sardinha, que os trouxera da Espanha, e em sua presença procedendo-se aos ensaios, retirou-se d. Francisco de Souza satisfeito do que vira, aceitando um dos fornos que Sardinha lhe ofertara.

Para não deixar o lugar sem uma lembrança da sua excursão, tendo antes passado pelo vale das Furnas, próximo à serra do Araçoiaba, escolhendo um sítio, fez levantar pelourinho, como símbolo de vila, o qual foi depois transferido para o lugar onde posteriormente se edificou a cidade de Sorocaba. (Vide o governo de d. Francisco de Souza no meu Brazil Hist.).

CCCXCV – D. Francisco de Souza, governador geral do Estado do Brasil, determinou a Jeronymo de Albuquerque que fosse desinfestar dos índios o Rio Potengi, ou Rio Grande do Norte; Jeronymo de Albuquerque chegou ao Potengi no dia 5 de janeiro de 1599, e no seguinte dia tratou de fazer um forte de madeira, a que denominou dos Reis Magos, em consequência do dia em que foi aberto o seu alicerce, e depois de fazer aliança com Sorobabé, chefe dos pitaguares, demarcou o sítio, e fundou a cidade do Natal, por se ter no dia 25 de dezembro deste ano celebrado nesse lugar a primeira missa.

Demorando-se Jeronymo de Albuquerque um ano no Rio Grande, na construção da povoação, deixou a gente que levou aí e se retirou para a Bahia de Todos os Santos. Em 1608 foi ocupar a vila do Rio Grande do Norte Martim Soares Moreno, com alguma tropa, onde se fez amar pelo chefe índio Jacauna, irmão do célebre Camarão, porque se amoldou aos seus usos e costumes, e até assistindo as suas solenidades; e foi por isso que tanto se prestaram os índios capitaneados por Camarão, na tomada do Maranhão aos franceses em 1614, quando Jeronymo de Albuquerque marchou com Martim Soares Moreno para aquela empresa (Vide o tomo 3º da minha Corogr. Hist. etc.).

CCCXCVI – El-rei d. Felipe, em 12 de janeiro, faz enviar um seu alvará, dizendo que, em atenção aos bons serviços de Sebastião da Silva, cavaleiro fidalgo da sua casa, determina que o governador geral do estado o empregue em um ofício, ou o faça capitão da companhia de soldados de uma praça, com o ordenado que for conveniente etc. (M. inéd.).

CCCXCVII – Por alvará de 23 de setembro de 1599, manda el-rei ao governador geral que, tendo Antonio Gonçalves Menaja, capitão do forte do Cabedelo na Paraíba do Norte, em 1596 combatido com trezentos franceses, ficando ferido, e de eu lhe resultou a morte, fez mercê do comando do dito forte à Maria Menaja, sua filha, por João de Mattos Cardoso, com quem é casada, e isto não prejudicará ao direito que tem d. Izabel, viúva de Francisco Barreto de Lima, no dito forte, para prover nele, conforme suas doações, com a qual capitania o dito João de Mattos Cardoso terá e haverá o ordenado, que o dito Antonio Gonçalves Menaja, seu sogro, tinha com os prós e precalços que lhe direitamente pertencem etc. (M. inéd.).

CCCXCVIII – As constantes investidas que os moradores de S. Vicente faziam sobre os índios carijós e os patos, com o fim de conquistarem as terras, em uma delas levou a Domingos de Brito Peixoto, natural de S. Vicente, com a sua gente, a tomar para o lado do Sul, e apoderar-se das terras, onde, depois em sítio próprio, se fundou a povoação, mais tarde vila de Laguna, anexando-as com o consentimento do chefe índio Taraianha, ao território de S. Vicente, levantando logo uma ermida dedicada a Santo Antonio dos Anjos.

Domingos de Brito Peixoto, com dois filhos, continuando no mesmo empenho de exploração, descobriu as vastas campinas do Rio Grande do Sul, ocupadas pelos índios patos, residentes nas imediações da lagoa, do mesmo nome, e arrebanhando para ali algum gado que se havia dispersado do Rio da Prata e Paraguai, foi ele produzindo em tanta cópia, que hoje forma o exclusivo ramo de riqueza do Rio Grande do Sul.

O visconde de S. Leopoldo diz que o gado do Rio Grande proveio de S. Vicente, e os jesuítas afirmam que os gados do Brasil provieram de onze vacas e um touro, que os seus missionários jesuítas levaram para Guaíra, ou Ciudad-Real, vila fundada pelos espanhóis na margem esquerda do Paraná, destruída em 1631 pelos paulistas.

O que consta com segurança é que a descoberta dos campos do Rio Grande foi em 1717 a 1718, por Francisco de Brito Peixoto; que os habitantes do Rio Grande do Sul começaram a formar estâncias, do ano de 1721 a 1735, para a criação dos gados, cuja produção cresceu tanto, que hoje faz a principal riqueza daquela província.

O ilustrado paulista M. E. de Azevedo Marques, nos seus Apontamentos Historicos da Provincia de S. Paulo, em presença de um documento de 26 de setembro de 1709, dado pela câmara da vila de S. Vicente, afirma que a exploração dos campos do Rio Grande do Sul e a fundação da vila da Laguna por Domingos de Brito Peixoto, foi em virtude do convite feito pela carta régia de 1682, para explorar os sertões do Sul da capitania de S. Vicente, e que a partida de Domingos de Brito Peixoto com sua família teve lugar no ano de 1684. (Vide a obra Apontamentos Hist. de S. Paulo por Azevedo Marques, tomo 1º).

CCCXCIX – O Rio de Janeiro, pelos anos de 1599, contava seguramente trezentos colonos com suas famílias (vindo algumas famílias da Bahia para povoar o Rio de Janeiro), e quatro engenhos de açúcar, trabalhados por índios e africanos. Os jesuítas tinham o seu colégio, e casa de misericórdia com o seu hospital. Abundava em frutas e hortaliças, e era tanto o peixe, que se vendia por um preço insignificante. Não havia dinheiro e o comércio se fazia por meio de permutas, de um gênero por outro. A cidade estava cercada de pântanos e alagadiços, com restingas, que permitiam a passagem para os lugares altos e para o sertão.

CD – Francisco de Mendonça de Vasconcellos sucedeu a Salvador Corrêa de Sá em 1599, e deixou o governo em janeiro de 1602. Este capitão-mor continuou no aumento da povoação e no da agricultura, concedendo sesmarias a diferentes pessoas, em diferentes lugares.

FIM DO XVI SÉCULO