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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1600-1700 (13)

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 269 a 284 do Tomo I:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 269/tomo I da obra

1600-1700

[...]

CCI – Na quinta-feira santa, 24 de março, o general Lourenço Reimback, que substituíra a Wandemburg na direção da guerra, guiado por Calabar, ataca o campo do arraial do Bom Jesus, e é derrotado e morto.

No dia 20 de junho, o general Segismundo assume o mando, e guiado por Calabar toma e saqueia a Ilha de Itamaracá.

CCII – Os holandeses saqueiam e incendeiam a povoação da Muribeca, na quarta-feira, 13 de abril de 1633; e no dia 25 de maio deste ano fazem o mesmo ao engenho Guararapes.

CCIII – No dia 22 de junho de 1638, por patente régia, é Luiz do Rego Barros nomeado capitão-mor e sucede no governo da capitania do Pará a Antonio Cavalcante, que governava durante a suspensão de Luiz Aranha.

CCIV – Os holandeses, no dia 24 de março, marcharam contra o arraial do Bom Jesus, com o fim de se apoderarem da fortaleza, onde se achava o conde de Bagnuolo, que, fingindo-se doente, fugiu, deixando a defesa do forte a Mathias de Albuquerque, que batendo a Segismundo e a sua força, deixaram no campo para mais de quatrocentos mortos, maior número de feridos, além dos que fugiram para o interior, onde foram devorados pelos índios. Neste combate fez prodígios de valor o famoso Henrique Dias com o seu terço de crioulos, e com os demais forçaram os holandeses a se retirarem precipitadamente.

CCV – Em 10 de agosto de 1633, faleceu no Rio de Janeiro o governador Martim de Sá; e no dia 18 de março do mesmo ano foi a vitória do arraial contra os holandeses. No dia 24, quinta-feira maior, Reimback sai do forte Guilherme com três mil homens, ao romper do dia, com desígnio de atacar o arraial, e é derrotado, perdendo muitos oficiais e perto de seiscentos soldados e a sua própria vida. Lourenço Reimback havia chegado há pouco a Pernambuco para substituir Wandemburg, mas foi substituído por Segismundo van Shcopp.

No dia de quarta-feira, 13 de abril, os holandeses saqueiam e incendeiam a povoação da Muribeca; e no dia 25 o engenho Guararapes teve igual sorte.

No dia 4 de agosto, o general Segismundo ataca o arraial do Bom Jesus e é repelido.

CCVI – No dia 18 de agosto deste ano de 1633 os holandeses, guiados e comandados por Segismundo e por Calabar, seguiram para o Sul da capitania e foram levando o terror e a morte por toda a parte.

A próspera povoação das Alagoas do Sul, nesse dia, foi por eles saqueada, inclusive a igreja matriz [19]. O mesmo procuravam fazer à povoação de Santa Luzia do Norte que, defendida corajosamente pelo bravo capitão de milícias Antonio Lopes Filgueiras, que preferiu morrer a entregá-la, tendo nós de lamentar a irreparável morte do capitão Filgueiras, casado com uma filha da famosa d. Maria de Souza e de seu marido Gonçalo Velho [20], que já tinham em começo de 1630 perdido nessa guerra seus dois filhos Gonçalo Velho e Luiz Velho, e agora lamentavam o heroico passamento de seu genro, o capitão Filgueiras.

Na quarta-feira, 22 de outubro, o fidalgo Francisco de Vasconcellos da Cunha, que vinha em socorro de Pernambuco, chegando à vista da Paraíba, foi atacado pela esquadra holandesa que aí cruzava. Vasconcellos é destroçado, e desembarca com o resto da sua tropa na Bahia Formosa e conduz o resto da sua gente para a Paraíba, de onde dá aviso a Mathias de Albuquerque.

No dia de quarta-feira, 2 de novembro, aparece a carta régia declarando que os militares do Brasil são oficiais de guerra e de justiça.

Em dezembro deste mesmo ano de 1633, Segismundo, guiado por Calabar, toma a fortaleza dos Três Reis Magos, do Rio Grande do Norte.

CCVII – No dia 14 de dezembro de 1633, o governador geral do estado do Maranhão e Grão-Pará concede a seu filho Feliciano Coelho de Carvalho as terras de Cametá, para fazer nela uma capitania. Já em 1627 lhe havia doado com o título também de capitania a povoação de Gurupi, denominada por ele Vera Cruz, doação que el-rei não confirma em Feliciano Coelho, mas sim no filho de Gaspar de Souza, em remuneração de seus serviços no governo geral do Brasil.

CCVIII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 19; ciclo solar 18; epacta 19; letra dominical B.

CCVIX – Martirológio. Páscoa 29 de março; 1º de janeiro sábado; indicação romana 1; período Juliano 6.346.

CCX – Alagoas foi então, em 1633, o grande teatro de tenaz guerra contra os holandeses, e, durante ela, foi Porto Calvo o lugar mais disputado em multiplicados ataques e batalhas, por considerarem os holandeses esses lugares de grande vantagem a seus interesses e suficiente ponto estratégico.

CCXI – Na quinta-feira, 18 de agosto de 1638, o intrépido índio d. Antonio Felippe Camarão, à frente do seu terço, toma quatorze peças de artilharia e munições de guerra aos flamengos, comandados pelo general Segismundo van Scopp, que pelo Rio Capibaribe ia dar segundo ataque ao arraial pernambucano do Bom Jesus.

CCXII – Rodrigo de Miranda Henrique tomou posse do governo do Rio de Janeiro no dia 13 de junho de 1633, em consequência do falecimento de Martim Corrêa de Sá; sendo o provimento feito pelo governador geral d. Diogo Luiz de Oliveira, enquanto el-rei não ordenasse o contrário. Os documentos do tempo deste governador pouco dizem, e apenas o que há de notável é ter ele concedido em 13 de outubro desse mesmo ano uma sesmaria de terras em Maricá aos monges de S. Bento.

CCXIII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 15; ciclo solar 19; epacta 1; letra dominical A.

CCXIV – Martirológio. Páscoa a 16 de abril; 1º de janeiro domingo; indicação romana 2; período Juliano 6.347.

CCXV – Em janeiro de 1634, Luiz do Rego, por sua imprudência, provoca grande alvoroço no Pará e se ausenta para o Maranhão; e pelo que o povo insta substituí-lo por Antonio Cavalcante de Albuquerque. Luiz do Rego, regressando em 29 de março de 1635, e querendo justificar-se à câmara, o povo não o consentiu, opondo-se a que ele assuma a capitania-mor, pedindo a Antonio de Albuquerque que se conserve no cargo e governo.

No domingo, 5 de fevereiro deste mesmo ano, parte do Recife numa expedição holandesa para atacar o Pontal de Nazareth (Pernambuco), e é repelida com perdas.

CCXVI – Durante a dominação holandesa no Norte do Brasil, muitas brasileiras se casaram com holandeses, e dentre estes o mestre João, que se casou com Izabel de Araujo, viúva do capitão Souto. Mestre João foi morto em Camaragibe pelo capitão Domingos Fagundes (pardo), filho de um nobre.

Casaram-se igualmente d. Anna Paes e muitas outras.

Francisco Berenguer de Andrada era o sogro de João Fernandes Vieira.

David de Vurier, holandês, era então o senhor do engenho do Ramalho, em Porto Calvo.

O príncipe de Nassau, e grande número de flamengos, deixaram muita descendência em Pernambuco e pelo Norte das capitanias.

CCXVII – No dia 1º de março de 1634, Mathias de Albuquerque ataca o Recife, e é repelido pelos holandeses, perdendo alguns combatentes.

Segismundo conquista a Paraíba do Norte; e no dia 12 de março, o conde de Bagnuolo faz fortificar a igreja velha da povoação de Porto Calvo, por ficar em um alto, e conveniente para repelir o inimigo. No dia 15, os holandeses, comandados por João Cornelles, apresentam-se no outeiro de Amador Alves, a dois tiros de mosquete da povoação, e no descer rompe o fogo pelas nossas emboscadas, junto à casa do padre coadjutor Antonio Pacheco da Silva; seguia-se a fuga do conde de Bagnuolo e da sua gente.

No dia 14, Calabar emprega esforço para entrara em Porto Calvo; mas Francisco Rabello, com os seus soldados, lhe degola vinte homens e lhe aprisiona onze dos seus combatentes.

No dia 9 de dezembro do mesmo ano, os holandeses atacam a bateria de S. Bento, da Paraíba do Norte, e a tomam do poder dos nossos.

CCXVIII – Pelos anos de 1634 foi por Miguel de Carvalho Cardoso edificada uma ermida de Nossa Senhora da Conceição, no morro fronteiro a S. Bento, sustentada por seus herdeiros. Com a vinda dos missionários franceses para a catequese dos índios foi a ermida, que tinha grande chácara, cedida para seu alojamento, e para isso fizeram um bom hospício de pedra e cal naquele saudável sítio, e aí viveram por espaço de quarenta anos, até que foram mandados para a Europa.

Então o bispo d. Francisco de S. Jeronymo aproveitou-o para seu palácio, fazendo-lhe algumas obras mais. (Sant. Marianno T. 10, livro 1º Tit. 13).

CCXIX – No dia de quinta-feira 15 de fevereiro deste mesmo ano de 1535, o general holandês Segismundo ocupa Moribeca e S. Lourenço; e no domingo de ramos, 1º de abril de 1635, um fuzileiro pernambucano, no ataque deste dia, encontra o general Artyoski, e aponta a arma para o matar; o general grita e se rende, entregando a espada ao fuzileiro, e isto na ocasião em que os brasileiros levavam o inimigo de vencida.

O fuzileiro, cego pela glória, conduz em triunfo pelas rédeas do cavalo o prisioneiro Artyoski, que apenas avança alguns passos aproveita-se do descuido do seu guarda, descarrega-lhe grande pancada na fronte com o bastão do comando, e ganha o campo a galope.

No domingo, 1º de julho, a fortaleza de Nazareth capitula.

Christovão Botelho, senhor de dois engenhos em Camaragibe, neste ano de 1535, cedeu ao conde de Bagnuolo os carros precisos para conduzir sua fazenda e riquezas para as Alagoas.

CCXX – O general Segismundo, ajudado por Domingos Fernandes Calabar, apodera-se da cidade do Natal (Rio Grande do Norte) e outras povoações, já estando possuidor do Recife, Olinda e da Paraíba.

CCXXI – Em consequência da guerra holandesa no Brasil, esteve a Sé episcopal da Bahia, durante dez anos, sem bispo, até que sendo nomeado d. Pedro da Silva Sampaio, deão de Leiria, na quinta-feira 19 de maio de 1634, chegou à Bahia, tomou posse do governo episcopal e cuidou da administração. Achando a Sé catedral feita de taipa, de acordo com o cabido, em 3 de novembro de 1637, resolveu fazê-la de pedra e cal, à custa de donativos dos particulares, o que conseguiu.

Sendo este bispo ambicioso de mando, muito concorreu para a prisão do vice-rei d. Pedro de Mascarenhas, marquês de Montalvão.

Elevou em 1648 a paróquia a igreja de Santo Antonio Além do Carmo. Faleceu na Bahia no dia 15 de abril de 1649, sendo sepultado na capela-mor da Sé, e seus ossos foram trasladados para Lisboa.

CCXXII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 2; ciclo solar 20; epacta 12; letra dominical G.

CCXXIII – Martirológio. Páscoa  8 de abril; indicação romana 3; período Juliano 6.348.

CCXXIV – No dia 11 de abril de 1635 morre em combate, em Nazareth, na guerra holandesa, Estevão Velho, terceiro filho da célebre alagoana d. Maria de Souza, cuja notícia receberam ela e seu marido Gonçalo Velho, na povoação de Santo Luzia do Norte, onde residiam.

São conhecidas as formais palavras proferidas por esta matrona espartana, em tão dura provação pela perda de três filhos e do seu genro o capitão Filgueiras, mortos na guerra, quando para ela enviou os dois filhos que lhe restavam; um de catorze, e outro de doze anos de idade, impondo-lhes os sagrados deveres que a religião, o rei e a pátria ordenam; e estes dois meninos, aceitando com obediência o mandato materno, provaram logo que eram dignos representantes da nobilíssima d. Maria de Souza. O general Mathias de Albuquerque, que dirigia as operações da guerra e historiou os acontecimentos diários, referindo-se a esta heroína matrona, diz que depois de sufocada a dor natural, assim se pronunciara:

"Neste momento, meus filhos, chegou a vosso pai e a mim a notícia de haver o inimigo morto o vosso irmão Estevão, que já é o terceiro filho, que nesta guerra perco, além de um genro. Mas bem longe de desviar-vos dos mesmos perigos, quero colocar-vos na carreira deles. Portanto, já e já tomai as espadas e ide dar a vida, com a mesma honra que vossos irmãos, por Deus, pelo rei, e pela pátria".

Proferidas estas sublimes palavras, ela, mãe, com os olhos fitos em Gil Velho, que era o mais idoso, e com uma inteireza admirável, não em uma mulher, mas em qualquer homem animoso, imediatamente manda assentar-lhes praça na companhia de Manoel de Souza, os quais entrando em combate, provaram pelo valor serem dignos filhos daquela admirável mãe, que tanto mostrou, vencendo-se a si mesma, o quanto era patriota.

CCXXV – Os sustos e os receios nos habitantes da cidade de Olinda e do Recife, os moveram a abandonar suas casas, e em número de mais de mil e setecentas pessoas se vão refugiar em Alagoas, Sergipe e na Bahia. Era uma verdadeira calamidade para Pernambuco ver tantas famílias que viviam na paz e na abundância, foragidas e faltas de recursos para salvar as vidas.

CCXXVI – No dia 27 de março de 1635, André Marin, ou Marinho, comandante do arraial do forte do porto de Nazareth, manda enforcar a Pedro da Rocha Leitão e Agostinho de Holanda por traidores. Eram moradores do lugar  e apresentavam-se a guiar o inimigo (fr. Manuel do Salvador, ou Calado, Valeroso Lucideno p.16).

Mathias de Albuquerque funda um novo arraial na Villa Formosa (Serinhaem).

Neste mesmo mês de março, d. Francisco de la Riba Agnero é batido pelos holandeses e perde a vila de Porto Calvo, de seu comando.

CCXXVII – No dia 6 de junho deste ano, André Marin, comandante do arraial do Bom Jesus, depois de três meses de sítio, capitula com o inimigo; o mesmo acontece no dia 2 de julho a Pedro Corrêa da Gama, comandante da fortaleza de Nazareth, que também depois de cinco meses de sítio capitula com o inimigo.

CCXXVIII – Em dezembro de 1635 foi erigida a povoação do Cametá em vila, com a denominação de Villa Viçosa de Santa Cruz do Cametá, perpetuando-se-lhe o mesmo orago da matriz da invocação de S. João Batista.

CCXXIX – No dia 12 de julho deste ano de 1635, Mathias de Albuquerque retira-se para as Alagoas; e na quinta-feira 12 do mesmo mês, em marcha para o interior, na passagem por Porto Calvo, ajudado por Sebastião do Souto e por Francisco Rabello, bate Picard com a sua força, toma a vila, arrasa as fortificações e faz prisioneiro a Domingos Fernandes Calabar e Manuel de Castro.

CCXXX – No dia 21 de julho o inimigo, ao sair da povoação, ia entregando as armas a Manoel Camello de Queiroga; e Calabar e Manoel de Castro, que servia de almoxarife dos provimentos dos holandeses, foram executados sumariamente no dia seguinte (22 de julho de 1635). O ouvidor João Soares de Almeida, acompanhado do escrivão Vicente Gomes da Rocha, procurou com instância obter deles declarações de traidores.

Quanto a Calabar, fez-se conselho geral para condená-lo; e no dia 22 de julho de 1635, ao cair da noite deste dia é executado em um sítio; seu corpo esquartejado, e a cabeça fincada em um pau é entregue à voracidade dos animais e do tempo. Calabar fez apontamentos das dívidas e obrigações que tinha e da boa quantia de dinheiros que os do conselho supremo dos holandeses lhe deviam de seu soldo, e de algumas peças de ouro, de prata e alfaias de seda que no Recife possuía, para que dali se pagassem algumas dívidas a que estava obrigado; e pediu que tais apontamentos fossem entregues à sua mãe Angela Alves, o que o reverendo padre fr. Manoel do Salvador ou fr. Manoel Calado, autor do Valeroso Lucideno, cumpriu. Fr. Manoel do Salvador era religioso da ordem de S. Paulo, da congregação dos eremitas, pregador apostólico, e morava em Porto Calvo, em uma casa no campo, onde dizia missa e pregava.

Calabar era amigo e compadre do governador holandês Segismundo, a quem havia tomado para padrinho de um filho que teve da mameluca Barbara, com quem vivia. Manoel de Castro também foi enforcado na mesma ocasião.

CCXXXI – Mathias de Albuquerque, depois de arrasar as fortificações holandesas em Porto Calvo, retira-se para as Alagoas, na quinta-feira 12 de julho do mesmo ano, onde esteve para mais de seis meses e aí deixou de diferentes mulheres muitos filhos.

Chegou no dia 29 de novembro uma esquadra espanhola com reforço aos portugueses, trazendo a Mathias de Albuquerque ordem de el-rei para se retirar de Pernambuco e entregar o comando do exército a d. Luiz de Rojas y Borja, que o veio substituir, o qual depois morreu em combate. Filippe Camarão e Francisco Rabello prestam grandes serviços à causa pública.

Mathias de Albuquerque, antes de se retirar das Alagoas para embarcar para Portugal,no dia 12 de abril de 1635, elevou os povoados das Alagoas, Porto Calvo e do Penedo, à categoria de vilas.

CCXXXII – Mathias de Albuquerque, depois de arrasar as fortificações holandesas, parte para as Alagoas, onde esteve para mais de seis meses. Chegando um reforço aos portugueses e brasileiros, teve ele ordem de el-rei de partir para a Europa. Por este tempo, Antonio Filippe Camarão e Francisco Rabello distinguem-se pelos seus serviços; e d. Luiz de Rojas, que veio substituir a Mathias de Albuquerque, comandando o exército pernambucano, morreu em combate.

CCXXXIII – O provedor da fazenda de André de Almeida da Fonseca tira devassa contra dois traidores que foram ter com o inimigo para facilitar-lhe a entrada em Porto Calvo, aos quais o provedor quase mandou enforcar.

CCXXXVI – No dia 29 de novembro de 1635 chega a Jaraguá (Maceió) a esquadra espanhola com forças às ordens de d. Luiz de Rojas y Borja, que em substituição a Mathias de Albuquerque vem dirigir a guerra; e no dia 15 de dezembro Mathias de Albuquerque entrega a seu sucessor o comando das forças, seguindo para a Europa.

CCXXXV – Antes de Mathias de Albuquerque se retirar de Porto Calvo para as Alagoas elevou, no dia 12 de abril de 1635, as povoações de Porto Calvo, Alagoas e Penedo, à categoria de vilas, com os títulos de Villa do Bom-Successo, a Porto Calvo, as Alagoas com o de Villa de Magdalena, e a do Penedo com o título de Villa de S. Francisco, dando-lhes termos e jurisdições, conforme os poderes e privilégios que el-rei lhe tinha dado para isso (Memorias Diarias).

CCXXXVI – Frei Cosme de S. Damião, que se achava no convento das Alagoas, a pedido de alguns irmãos terceiros que residiam na Bahia, vindos de Portugal, enviou a patente de comissário visitador e os estatutos e regras a frei Pantaleão Baptista, para o estabelecimento da confraria franciscana, cujo ato solene teve lugar no dia 23 de dezembro de 1635, sendo eleito primeiro ministro da ordem o cônego Francisco Soares Corrêa, e os mesários, cuja posse e festividade teve lugar no dia 28 do mesmo mês e ano.

CCXXXVII – D. Pedro Luiz da Silva, primeiro conde de S. Lourenço, apelidado o Duro, décimo sexto governador geral do Estado do Brasil, tomou posse da administração em 1635, e deixou o governo em 1639.

Na sua administração foi construído o baluarte ou forte do Barbalho, na Bahia, ao lado direito da trincheira de Santo Antonio Além do Carmo, de cuja construção e comando foi encarregado o mestre de campo Luiz Barbalho Bezerra. Este forte, levantado no tempo da guerra com os holandeses, foi feito de terra e depois construído e muito acrescentado por determinação de outros governadores. As obras exteriores foram demolidas, conservando-se só o fosso que defende a entrada.

A vila dos Ilhéus foi saqueada pelo pirata João Lichthart, que ali aportou com dezoito navios saídos de Pernambuco.

Bento Maciel Parente, no dia 14 de junho deste ano, é nomeado donatário da capitania do Cabo do Norte, até o Rio Oiapoque ou Vicente Pinzon, ano de 1636.

CCXXXVIII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 3; ciclo solar 21; epacta 23; letra dominical F. E.

CCXXXIX – Martirológio. 1º de janeiro terça-feira; páscoa 23 de março; indicação romana 4; período Juliano 6.349.

CCXL – Em janeiro de 1636, o capitão-mor Luiz do Rego Barros assume de novo a completa confiança do povo do Pará, e com ela o governo da capitania-mor; e então portou-se bem, não fazendo cabedal das ofensas recebidas.

O valente índio Antonio Filippe Camarão, por seus relevantes serviços feitos à causa pública, recebeu de el-rei, como prova de subido apreço aos seus grandes merecimentos, o título de Dom, como o crioulo Henrique Dias, que fez contra os holandeses prodígios de valor.

CCXLI – Rojas y  Borja, no dia 18 de janeiro de 1636, toma a ofensiva e marcha sobre Porto Calvo; Artichofski sai-lhe ao encontro na mata do Rolo, das Alagoas, e aí pelejam na manhã deste dia. D. Luiz de Rojas y Borja estava no meio da peleja, quando uma bala dos nossos, varando-o pelas costas, deu-lhe apenas tempo de pronunciar as seguintes palavras: "Es possible, que isto se me haze, estando entre fidalgos portuguezes?" e caiu morto.

Henrique Telles de Mello e frei Manoel do Salvador, então, retiram o corpo para o mato, o escondem em uma quebrada, e cobrem-no de folhas secas para não ser visto.

CCXLII – Com a notícia da morte de Rojas, o seu exército debandou e retirou-se para a povoação, cada um pelo caminho ou vereda que encontrava. Artichofski, na Paripueira, pensa que Segismundo estava em grande aperto na povoação de Porto Calvo, e segue com mil e quinhentos homens os passos de Rojas, por Camaragibe, e queima três engenhos e casas de mercadores daquele distrito, depois de fazer conselho no engenho de João Lins.

CCXLIII – Artichofski em seguida entra na mata Redonda, com mil e quinhentos homens; o tenente general Manoel Dias de Andrada, que estava na povoação com trezentos e cinquenta homens, sai à tarde a encontrá-lo, e à noite sofre tiroteio de uma emboscada, que mata o capitão d. Pedro Marinho e quatro soldados. Pela manhã do dia 18 os exércitos estavam à vista um do outro e principiou a batalha, na qual houve muitos mortos de parte a parte.

CCXLIV – Depois da morte de d. Luiz de Rojas y Borja, no ataque de 18 de janeiro de 1636 na mata Redonda, o conde de Bagnuolo, partindo da Lagoa do Norte em 15 de março, passa a tomar o comando das tropas, e chegando a Porto Calvo a 19, tratou de ocupar uma posição de dez léguas para a frente, na distância de seis léguas da Vila Formosa, onde estava o general inimigo.

Desta comissão foi encarregado o tenente general Manuel Dias de Andrade e d Antonio Filippe Camarão com os índios, levando aqueles quatrocentos homens.

O ponto que ocuparam e fortificaram foi junto ao Rio Una, para o lado do Sul, em uma casa que ficava em frente do engenho de Diogo Paes, e à vista da povoação e igreja de S. Gonçalo; e aí no dia 23 de abril, sendo atacados, morreu em combate Antonio Cardoso, capitão dos índios.

CCXLV – No dia 14 de junho de 1636, Filippe IV, por carta desta data, faz doação a Bento Maciel Parente da capitania das terras do Cabo do Norte, acompanhada do hábito de Cristo e foro de fidalgo com o distintivo de se apelidarem seus sucessores Macieis Parentes.

A doação compreendia de trinta e quatro a quarenta léguas de costa, a medir do Cabo do Norte até ao Rio de Vicente Pinzon ou Oiapoque; pela terra a dentro e Rio Amazonas acima de oitenta a cem léguas até o rio dos Papuyassús. Bento Maciel Parente, depois da entrega do Maranhão aos holandeses em 1641, foi enviado a Pernambuco, donde o conde de Nassau o remeteu preso para a fortaleza do Rio Grande do Norte, onde faleceu.

CCXLVI – El-rei d. Filippe, escrevendo a Mathias de Albuquerque, em 14 de maio de 1636, e sub-assinando também, duque de Villa Formosa, conde de Ficalho, em resposta de sua carta de 20 de agosto de 1635, na qual lhe dá conta da dedicação dos índios e grandes esforços na guerra contra os holandeses, e principalmente o índio maioral Antonio Filippe Camarão,de nação pitaguar, bom cristão e de grande valor, não só manda que se lhes dê diversos objetos como prêmio para os alegrar, como ao ídio Camarão lhe fez mercê do hábito da ordem de Cristo, com quarenta mil réis de rendas e que se lhe passe a patente de capitão-mor dos índios pitaguares, com outros quarenta mil réis de soldo, pagos no almoxarifado dessa capitania de Pernambuco, e se lhe dê um brasão de armas, do que tudo lhe avisará, para o por de sua parte, e se acuda a tirar os despachos. "E para os mais índios tenho mandado se envie o mais que pedir das coisas que apontais, para que estejam gratos e acudam ao meu serviço como convém".

CCXLVII – Em 15 de setembro de 1636 falece em Cametá o governador geral do estado Francisco Coelho de Carvalho. Seus restos mortais são sepultados na capela-mor da matriz da dita vila.

CCXLVIII – No dia 9 de outubro o provedor-mor da fazenda real, Jacome Raymundo de Noronha, toma conta do governo geral do estado do Maranhão e Pará, eleito e empossado pelo senado da câmara da cidade de S. Luiz, em consequência do falecimento do governador Francisco Coelho de Carvalho.

CCXLIX – Neste ano de 1636 chega às Alagoas o venerável custódio fr. Cosme de S. Damião, e funda um hospício e oratório, no Outeiro da Guerra (ou da Pedreira), coberto de palha, tanto para a acomodação dos religiosos menores perseguidos em Pernambuco pelos holandeses, como para consolo e serviço espiritual dos povos e dos militares.

CCL – A ordem terceira do Carmo da Bahia [21] foi instituída no dia 19 de outubro de 1636, tomando por padroeira Santa Thereza de Jesus, sendo o seu primeiro prior o governador d. Pedro Luiz da Silva; e no dia 18 de março de 1644 pediu licença ao convento do Carmo para fazer junto ao mesmo a sua capela. Na quinta-feira santa, 20 de março de 1788, foi incendiada toda a igreja, assim como todas as alfaias do primitivo templo.

[...]


[19] As Alagoas é (N.E.: SIC – são) um dos mais antigos povoados do Brasil, e o que tem tradições mui gloriosas. Os seus primitivos povoadores foram os meus antepassados; e eu me desvaneço de lhe dever o berço.

[20] Vila de Santa Luzia do Norte, das Alagoas. Este povoado é contemporâneo de Porto Calvo e Alagoas porque, diz Gabriel Soares, que concluiu os seus escritos em 1589, descrevendo a costa pela da Lagoa Guaratuba, e da lagoa do Norte e Vila Nova de Sant Luiza que foi fundada por um cego.

[21] O convento do Carmo da Bahia, como já disse, foi fundado em 1580, por fr. Damião, presidente, fr. Bento e fr. Belchior. No lugar onde fundaram a igreja do convento havia uma capela de N. S. da Piedade, que foi doada aos religiosos por Christovão de Aguiar d'Altro e sua mulher d. Izabel de Figueirôa; e o lugar onde estava edificada a capela se chamava Monte do Calvário.