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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1700-1800 (2)

Clique aqui para ir ao índice do segundo volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 13 a 29 do Tomo II:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 13/tomo II da obra

 

1700-1800

[...]

LI Martirológio. Dia 1º de janeiro, sábado; Páscoa, 24 de abril; indicação romana, 15; período Juliano, 6.420.

LII – No dia 12 de janeiro de 1707, Christovão da Costa toma posse do governo da capitania do Maranhão, e o entregou a Pedro Mendes Thomaz no dia 14 de abril do mesmo ano.

LIII – No sábado, 4 de junho de 1707, pela manhã, foi na cidade da Bahia aclamado, com grandes festas, el-rei d. João V, que sucedeu a seu pai el-rei d. Pedro II, falecido em Lisboa no dia 9 de dezembro passado.

LIV – No dia 12 de junho de 1707, d. Sebastião Monteiro da Vide, arcebispo da Bahia, celebra o primeiro sínodo diocesano, onde foi discutida a constituição do arcebispado, que ainda rege a igreja brasileira.

LV – Sebastião de Castro Caldas, nomeado governador de Pernambuco, tomou posse do governo no dia 9 de junho de 1707; e como era todo parcial em favor dos mascates portugueses europeus, em 7 de novembro de 1710, recebendo um tiro que lhe feriu a perna, e receoso de que o matassem em Pernambuco, fugiu para a Bahia, onde foi preso e remetido para Lisboa em 1721.

LVI – A capitania de Pernambuco, em 1707, possuía uma cidade e dez vilas, contando quarenta freguesias e duzentos e cinquenta e quatro engenhos de fabricar açúcar.

LVII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 19; ciclo solar, 9; epacta, 7; letra dominical, A G.

LVIII – Martirológio. 1º de janeiro, domingo; domingo de Páscoa, a 8 de abril; indicação romana, 1; período Juliano, 6.421.

LIX – O paulista Antonio Rodrigues Arzão, tendo em 1693 descoberto, no distrito de Caeté, em Minas Gerais, minas de ouro, outros paulistas o secundaram e se foram estabelecer em Itabirava; e entre si contrataram que uns não invadiriam as faisqueiras dos outros.

Correndo por toda a parte a notícia das grandes riquezas, das minas descobertas, para elas afluíram multidão de forasteiros. Estes, logo que se vieram em número superior, pretenderam guerrear os paulistas, e se extremaram em dois bandos ou partidos. Os paulistas tomaram por capitão ou chefe ao seu compatriota Domingos da Silva Monteiro; os forasteiros ou portugueses europeus, a quem chamavam também de emboabas, tomaram por chefe a Manoel Nunes Vianna, português abastado e destemido.

Os ódios entre as duas parcialidades se fortificavam, e mais se agravaram pela traição de um frade natural de Lisboa, de nome fr. Francisco de Menezes, que tinha mandado arrematar no Rio de Janeiro o contrato das carnes verdes e se empenhava executá-lo em Minas.

Os paulistas se opunham à especulação do frade; mas ele, para conseguir o seu intento, admitiu para sócio a Manoel Nunes Vianna, e outros frades, mui desordeiros. Os emboabas [1] ocupavam os povoados do Sabará-bussú, Rio das Velhas e Caeté.

Os paulistas estavam bem armados, e os emboabas os temiam; mas a o frade fr. Francisco, de combinação com os emboabas, ardilosamente persuadiu os paulistas para armazenarem as armas, a fim de evitarem-se desordens; e tais persuasões empregou que conseguiu desarmar os paulistas.

Conseguindo o seu intento, caíram os emboabas sobre os paulistas e mataram a muitos, e os que sobreviveram ao morticínio ficaram subjugados.

LX – Constando essas desordens e morticínio ao governador do Rio de Janeiro, d. Fernando Martins Mascarenhas partiu para Minas Gerais em julho de 1708; e Manoel Nunes Vianna, sabendo da viagem do governador, receoso de ser preso e castigado, foi esperá-lo em Congonhas, e lhe intimou com ameaças de voltar para o Rio de Janeiro, o que aconteceu, ficando o caudilho Manoel Nunes Vianna de posse de Minas Gerais até a chegada do novo governador Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho em 1709.

LXI – Portaria – "Porquanto os oficiais da câmara da Vila Real de Santa Luzia, da comarca de Sergipe d'El-Rei, pediram a sua majestade, que Deus guarde, lhes concedesse maior distrito, permitindo-lhes poderem passar à outra banda do Rio Real sem embargo de ser termo desta cidade, para terem sujeitos que possam servir na república, porque no distrito que se lhes assinalou não há os que bastem para este efeito; e o dito senhor me ordenou o informasse, ouvindo os oficiais da câmara desta cidade, por lhes tocar o prejuízo de se lhes diminuir o seu distrito. Ordeno aos ditos oficiais da Câmara me informem sobre o referido, cuja informação me remeterão por duas vias, para com ela dar conta ao dito senhor. – Bahia e janeiro, 23 de 1708. – Rubrica".

LXII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 19; ciclo solar, 10; epacta, 18; letra dominical, D.

LXIII – Martirológio. Dia 1º de janeiro, terça-feira; Páscoa, 31 de março; indicação romana, 2; período Juliano, 6.422.

LXIV – No dia 11 de junho de 1709 toma posse do governo do Rio de Janeiro Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, na qualidade de governador e capitão general da repartição do Sul; e no fim do mês de julho seguiu para Minas Gerais, e se foi hospedar em casa de Sebastião Pereira de Aguiar, opulento fazendeiro, natural da Bahia, e inimigo de Manoel Nunes Vianna, por causa de suas injustas violências contra os brasileiros; e por este motivo estava disposto a batê-lo.

Sabendo Manoel Nunes que o governador Antonio de Albuquerque era homem valente, e se achava em Caeté, vai a ele com Bento do Amaral Coutinho e outros, a fim de se porem aos pés do governador e lhe pedirem perdão, o que efetivamente aconteceu; e como o governador Antonio de Albuquerque era militar de provado valor e político sagaz, os recebeu bem, e assegurou-lhes o perdão régio, no caso de emenda para o futuro.

Satisfeitos Manoel Nunes Vianna e seus companheiros com a promessa, voltaram para suas casas; e Antonio de Albuquerque, depois de visitar os demais povoados, criou vilas, organizou câmaras municipais, nomeou autoridades, e dispondo os negócios públicos em bem dos povos, retirou-se, procurando o caminho de S. Vicente, com o fim de aplacar os ódios dos paulistas contra os emboabas.

LXV – Partindo Antonio de Albuquerque, de Minas para S. Vicente, em caminho encontrou-se com uma grande força de paulistas, capitaneados por Amador Bueno, que iam para Minas bater os forasteiros que traiçoeiramente mataram seus compatriotas no Capão ou Capoeira da Traição.

O governador Antonio de Albuquerque, dissuadindo-os da empresa, não foi atendido, e como apenas ia acompanhado de quatro oficiais e dez soldados, e receasse algum desacato, deixou-os seguir e encaminhou-se a Paraty, e dali para a capital do Rio de Janeiro.

LXVI – Desvencilhados os paulistas do governador Antonio de Albuquerque, apressaram a marcha, e chegando ao Rio das Mortes atacaram os emboabas, fizeram grande matança neles, e depois de destruírem tudo o que encontraram, se retiraram para S. Paulo, onde foram recebidos em triunfo.

LXVII – O governador Antonio de Albuquerque, depois que chegou ao Rio de Janeiro, sabendo do morticínio feito em Minas Gerais pelos paulistas nos portugueses europeus, mandou o mestre de campo Gregorio de Castro de Moraes, com duas companhias de linha, para Minas, com o intuito de manter o sossego; escreveu para S. Paulo, e mandou aos paulistas o retrato de el-rei d. João V, manifestando-lhes que o soberano por este modo os visitava e lhes dava o perdão.

El-rei d. João V, aprovando tudo o que havia feito o seu delegado, excetuou o perdão de Manoel Nunes Vianna e de Bento do Amaral Coutinho (natural do Rio de Janeiro), chefes, como os causadores das desgraças passadas em Minas, os quais foram presos, indo Bento do Amaral Coutinho falecer na cadeia da Bahia.

LXVIII – Cômputo eclesiástico. Epacta, 18; letra dominical, F.

LXIX – Martirológio. Páscoa, a 31 de março.

LXX – "Luiz Cesar de Menezes, amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Por parte de Fernando Pereira de Vasconcellos, juiz de fora dessa cidade, se me representou aqui que servindo de corregedor e provedor da comarca o ano passado, fizera as pautas para os vereadores e procuradores que haviam servir na Câmara dessa cidade, em que se houve com zelo e cuidado, e que sendo nela estilo darem-se aos provedores do dito trabalho vinte mil réis, se haviam negado pelas pautas antecedentes ao ouvidor geral Miguel Manso Preto, e se duvidavam também a ele, sendo estilo inveterado em todas as comarcas deste reino nos anos das pautas duplicarem-se aos corregedores as aposentadorias que têm nas vilas ou cidades em que as fazem, o que era de maior importância nessa cidade, e ele não pretendia, e só os vinte mil réis que se costumam dar pelo dito trabalho: pedindo-me lh'os mandasse pagar, ou o dobro da aposentadoria, na forma que se observa nas câmaras do reino. E pareceu-me ordenar-vos me informeis com vosso parecer neste requerimento, ouvindo os oficiais da Câmara. Escrita em Lisboa a 8 de abril de 1709. – Rei. – P. Miguel Carlos. – Para o governador geral do Estado do Brasil".

LXXI – No dia 5 ou 8 de agosto de 1709, no pátio da Casa da Judia em Lisboa, o padre Bartholomeu Lourenço de Gusmão, natural da cidade de Santos, província de S. Paulo, e irmão do célebre e mui conhecido Alexandre de Gusmão, pela primeira vez, subiu ao ar atmosférico em um balão construído por ele.

LXXII – "D. Lourenço de Almeida, amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Por ter resoluto que Luiz Cesar de Menezes se recolha a este reino, por ter acabado o tempo por que foi provido no governo e capitania geral do Estado do Brasil. Houve por bem que, enquanto não mando outro governador, governeis o mesmo Estado do mesmo preito e homenagem que me destes pelo governo de Angola; de que me pareceu avisar-vos e ordenar-vos por esta tomeis posse do governo do dito Estado, o qual governareis, no entretanto que não chega outro governador. Escrita em Lisboa a 26 de novembro de 1709. – Rei. – P. Miguel Carlos. – Para d. Lourenço de Almada" (N.E.: SIC – notada a variação Almeida/Almada).

LXXIII – Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, dando conta a el-rei d. João V do estado anárquico em que viviam os povos de S. Paulo e Minas Gerais, e da grande distância em que ficavam, para serem contidos em suas desordens, resolveu d. João V, pela carta régia de 9 de setembro de 1709, criar uma capitania geral com dois distritos, um de S. Paulo e o outro de Minas Gerais, separados do Rio de janeiro, nomeando no dia 23 do mesmo mês a Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho da nova capitania geral, ficando a seu arbítrio a escolha do lugar para sede da administração. Para evitar conflitos de autoridades, el-rei mandou comprar, em 22 de outubro, a d. Luiz Alvares de Castro e Souza, por quarenta mil cruzados, as cinquenta léguas de costa, que foram doadas a Pedro Lopes de Souza, cuja escritura foi lavrada em 11 de setembro de 1711.

LXXIV – A antiga igreja do Rosário, fundada pelo donatário Vasco Fernandes Coutinho, que - arruinada - fora reedificada para Casa de Misericórdia, obteve por carta régia de 9 de novembro de 1709 o auxílio de duzentos mil réis, da Fazenda Real. Entrou em 1750 no número das igrejas coladas, e seu primeiro vigário foi o ver. Manoel Lopes de Abreu; o segundo pároco foi o ver. Francisco dos Reis, em 19 de maio de 1760; o terceiro o ver. Antonio Martins Guerra; e o quarto o ver. Manoel Gonçalves Victoria, que se empossou a 8 de janeiro de 1797, com nomeação de 6 de outubro de 1795.

LXXV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 1; ciclo solar, 11; epacta, 30; letra dominical, E.

LXXVI – Martirológio. Domingo de Páscoa, 20 de abril; dia 1º de janeiro, quarta-feira; indicação romana, 3; período Juliano, 6.423.

LXXVII – "Luiz Cesar de Menezes, amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Por ter resoluto vos recolhais a este reino por teres acabado o tempo por que fostes provido no governo e capitania geral desse Estado; e haver por bem que enquanto não mando outro governador, governe o mesmo Estado d. Lourenço de Almada. Me pareceu ordenar-vos lhe deis a posse do dito governo na forma costumada, e por esta vos hei por desobrigado do juramento e homenagem que por ele me fizestes. – Escrita em Lisboa a 26 de novembro de 1709. – El-rei. – P. Miguel Carlos. – Para Luiz Cezar de Menezes".

LXXVIII – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 1; ciclo solar, 11; epacta, 30; letra dominical, E.

LXXIX – Martirológio. Dia 1º de janeiro, quinta-feira; Páscoa a 20 de abril.

LXXX – "Governador e capitão general do Estado do Brasil. Eu el-rei vos envio muito saudar. Viu-se a vossa carta de de agosto do ano passado, em que vos queixais do governador de Pernambuco não dar cumprimento à provisão que mandastes passar a Gaspar Fernandes de Castro da serventia dos ofícios de tabelião e escrivão da Câmara da vila do Penedo do Rio de S. Francisco, que servia por provimento do dito governador e recorrera a vós no tempo que dispõe o regimento, deixando de lhe pôr o cumpra-se e recolhendo a si o tal provimento e passando-o a Clemente de Azevedo, querendo mostrar a independência do seu governo, sem advertir-vos, sendo subordinado na forma do regimento.

"E pareceu-me dizer-vos que ao dito Sebastião de Castro e Caldas mando estranhar mui asperamente o tal procedimento de encontrar a jurisdição desse governo geral no dito provimento, sendo-lhe subordinado, pelo mesmo regimento vos estar concedida esta preeminência e jurisdição, que ele não podia ignorar, e só tendo algum motivo para não cumprir o vosso provimento vos devia dar conta e não obrogar a si esta jurisdição que lhe não compete de nenhuma maneira, e que assim o tenha entendido, abstendo-se de dar ocasião a semelhantes contendas, que sempre são prejudiciais; e lhe ordeno faça registrar a tal ordem nos livros da Câmara e Ouvidoria Geral daquela capitania, para que conste a todos o que mando observar inviolavelmente nesta matéria e mande certidão de que assim o executou; de que vos aviso para terdes entendido o expediente que se tornou neste particular.

"– Escrita em Lisboa a 28 de janeiro de 1710. – Rei. – P. Miguel Carlos. – Para o governador geral do Estado do Brasil."

LXXXI – Talvez, por causa do arbítrio dos régulos locais, apareceu no ano de 1710 uma sublevação popular em várias vilas de Sergipe de El-Rei, que foi sufocada pelas providências que o governo da Bahia tomou, concorrendo muito para este empenho o auxílio que lhe prestou a vila do Penedo.

LXXXII – No dia 18 de julho de 1710, Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho toma posse do governo de S. Paulo e Minas, como governador e capitão general, separada da do Rio de Janeiro, em cuja capitania era governador. Serviu três anos, dois meses e treze dias.

LXXXIII – O porto do Recife, de Pernambuco, como favorecia o comércio, os mascates portugueses, se tornando opulentos, conceberam o pensamento de disporem à sua vontade da Municipalidade. O governador Sebastião de Castro Caldas, que os protegia francamente, desejando meter no senado da Câmara de Olinda os mascates, a nobreza de Pernambuco se opôs.

O governador, então, persuadiu a el-rei a necessidade de criar vila à povoação do Recife; e vindo a autorização, o governador Caldas mandou levantar pelourinho; e o povo de Olinda, de antemão informado do levantamento da coluna, foi ao Recife e a deitou por terra. O governador mandou prender a várias pessoas nobres, e a insurreição se desenvolve no dia 2 de novembro de 1710.

No dia 7 de novembro de 1710, o governador Sebastião de Castro Caldas recebeu dois tiros na Rua das Águas Verdes, que o feriram na perna, e como temesse ser assassinado, fugiu para a Bahia, ficando no dia 15 de dezembro, no governo de Pernambuco, o ver. Bispo d. Manoel Alvares da Costa, que se declarou em favor da nobreza descontente, que havia derribado o pelourinho.

A rebelião continuava: o Recife, desde o dia 18 de julho, ficou sitiado, e a guerra civil continuou até o dia 10 de outubro do ano seguinte de 1711, em que chegou o novo governador Felix José Machado, que conseguiu restabelecer a paz, prendendo os cabeças da revolta, que remeteu para a cadeia do Limoeiro em Lisboa, em cuja prisão faleceram todos, à exceção de Leonardo Bezerra, que voltou a Pernambuco.

LXXXIV – Os jesuítas, no empenho de libertarem os índios, se opunham aos excessos dos paulistas e, por intermédio da Corte de Madrid, obtiveram do papa um breve de excomunhão contra os paulistas, que foi publicado no Rio de Janeiro.
Os fluminenses, vendo no breve um atentado contra os seus direitos e interesses, se revoltaram, fazendo o mesmo os baianos e os paulistas.

Os paulistas botaram para fora os jesuítas de S. Paulo e Piratininga; e depois de formarem um cisma composto de doutrinas cristãs e superstições dos índios e de elegerem um papa, bispos e curas com novas doutrinas, chamaram a si os índios das Reduções Jesuíticas e foram atacar o Paraguai, e se constituíram em colônia independente. (Vide o meu Brazil Historico).

LXXXV – No dia 28 de agosto de 1710, apareceu nas águas do Rio de Janeiro uma esquadra de cinco navios e uma balandra (navio de um mastro), com mil homens de tropa comandados pelo capitão João Francisco Duclerc, a qual, dando desembarque a novecentos homens na praia da Tijuca, atravessando os matos, depois de penosa viagem de quatro dias chegaram ao Engenho Novo dos jesuítas.

O governador Francisco de Castro de Morais havia recebido notícia desse desembarque, mandada pelo comandante do fortim da Guaratiba, e em lugar de mandar uma força bater em caminho o inimigo, ordenou formar um corpo de tropa no campo da cidade, então campo do Rozario e campo de S. Domingos.

Sendo avisado da marcha seguida dos franceses pela estrada do Engenho Velho, onde pernoitaram em busca do Monte do Desterro, no lugar da Lagoa da Sentinela, entre as ruas do Conde e do Senado, foram batidos pelo corpo de estudantes, e não obstante chegando à Lapa, tomaram o caminho de Nossa Senhora da Ajuda, apesar dos tiros jogados do forte de S. Sebastião, tomaram pela Rua do Porto, foram postar-se na Praça do Carmo, Largo do Paço e hoje Praça de d. Pedro II, no dia 19 de setembro, das dez para as onze horas da manhã. Aí começou a batalha, a qual durou três horas de vivo fogo, caiu morto de uma bala inimiga o mestre de campo Gregorio de Castro de Moraes.

O capitão Duclerc, já tendo perdido muita gente, foi encerrar-se no trapiche da cidade e, como se não quisesse render, o governador mandou lançar fogo ao trapiche, que continha muitos barris de pólvora, e vendo os franceses o perigo iminente, entregaram-se prisioneiros de guerra no mesmo dia 19 de setembro de 1710.

O capitão Duclerc, que se achava preso em uma casa, com duas sentinelas à vista, foi assassinado entre sete e oito horas da noite do dia 18 de março de 1711, por dois rebuçados, estando o capitão Duclerc deitado na cama; foi sepultado na capela de S. Pedro da igreja da Candelária. A casa onde estava preso e mataram o capitão Duclerc era da cruz para o campo e foi de João de Azevedo (Vide o 1º tomo da Memorias de Pizarro e o meu Brazil Historico).

LXXXVI – Cômputo eclesiástico. Áureo número 2; ciclo solar, 12; epacta, 11; letra dominical, D.

LXXXVII – Martirológio. 1º de janeiro, quinta-feira; Páscoa a 5 de abril; indicação romana, 4; período Juliano, 6.424.

LXXXVIII – Pelas cartas régias, de 10 de março de 1711, e por outra de 7 de abril de 1712, el-rei, com palavras benévolas, agradece aos habitantes do Rio de Janeiro a lealdade de seu procedimento, valor nas armas, fidelidade e amor que lhe tributam.

LXXXIX – Pelo grande incremento que tinha as Alagoas, e as tradições dos seus créditos históricos, e mesmo a distância em que se achava de Pernambuco, foi aumentada a comarca das Alagoas com mais dois termos em 1711, tendo por cabeça a antiga vila de Santa Maria Magdalena e depois cidade das Alagoas, sendo as vilas de Porto Calvo e Penedo os termos designados.

XC – Carta de el-rei. "D. Lourenço de Almada, amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. A Pedro de Vasconcellos e Souza fui servido fazer mercê do governo geral desse Estado, como vos constará da carta patente que lhe mandei passar. Encomendo-vos que na forma costumada lhe deis a posse do dito governo que estais exercitando com as cerimônias, que em semelhantes atos se costumam, de que se fará assento em que ambos assinareis; e havendo-lhe dado a dita posse e as notícias que julgardes por convenientes a meu serviço, vos hei por desobrigado da homenagem que pelo dito governo me fizestes. – Escrita em Lisboa a 18 de março de 1711. – Rei. – Para o governador geral do Estado do Brasil".

XCI – No dia 18 de junho o povo subleva-se contra o governo do bispo de Pernambuco, e por isso mais violenta se torna a guerra civil; e no dia 27 os mascates assaltam os presídios da Boa Vista.

No dia 19 de julho, os mascates atacam o presídio de Santo Amarinho.

No dia 9 de agosto os mascates do Recife fazem uma sortida e atacam o presídio dos Pernambucanos; e no dia 31 do mesmo mês chega à cidade de Olinda Gil Ribeiro, trazendo preso Jeronymo Paes, cabeça do motim de Goyanna.

Na segunda-feira 7 de setembro de 1711, a nobreza e povo de Pernambuco, depois de um combate de vinte horas, põem em fugida as forças dos mascates entrincheiradas no engenho de d. Maria Magdalena, entre Gurupú e S. José.

XCII – A vila de S. Paulo, no dia 24 de julho de 1711, foi enobrecida com o foro de cidade, cuja prerrogativa principiou a gozar em 131 de abril do ano seguinte de 1712.

XCIII – "Aos 13 dias do mês de julho do ano presente de 1711, nesta cidade de Lisboa, em os paços da Ribeira onde ora assiste o muito alto e muito poderoso rei d. João o quinto, nosso senhor, fez preito e homenagem em suas reais mãos, segundo a ordenança, Pedro de Vasconcellos e Souza, pelo governo e capitania geral do Estado do Brasil, em que é promovido pela patente atrás escrita, de que se fez assento no livro das homenagens que se assinou com o conde Reposteiro-mor, e Bernardo de Vasconcellos e Souza, que se achavam presentes a este ato; e de como fez o dito preito e homenagem, dele passou esta certidão. Lisboa em o dia, mês e ano ut supra. – Diogo de Mendonça Côrte Real".

XCIV – No dia 24 de julho de 1711, o mestre de campo Januario Cardoso funda o arraial dos Morrinhos, do Rio de S. Francisco, entre a confluência do Rio das Velhas ou Guaycuhy e o Rio Verde, explora as margens do mesmo rio até a cachoeira de Paulo Afonso.

XCV – A notícia do malogro da tentativa de Duclerc, no Rio de Janeiro, e do assassinato desse capitão, e desgraça dos franceses que o acompanharam na empresa, moveu ao célebre Duguay-Trouin (Reinaldo), oficial da marinha francesa, filho de um armador de S. Malo, e aí nascido em 1673 e morto em 1736, afeito à pirataria, munindo-se de navios e forças, partir em direção ao Rio de Janeiro, com o fim de se vingar do que fizeram aos franceses; e no dia sábado 12 de setembro de 1711, pelas duas horas da tarde, entrou a esquadra francesa composta de dezesseis naus e dois burletes de fogo no porto do Rio de Janeiro, indo dar fundo por detrás da Ilha das Cobras.

Quando se tinha o inimigo à vista, aparece uma explosão na fortaleza de Villegaignon, em que voam dois bravos capitães, sendo um deles o filho de Gregorio de Castro. No domingo 13 os franceses se apoderam da Ilha das Cobras e da fortaleza.

Na segunda-feira, 14 de setembro, os franceses dão desembarque no Valongo, e fortificam-se no alto do Morro de S. Diogo. O governador marcha com os terços pagos e dois de ordenanças para o campo, e guarnece a Prainha até a casa da moeda, com a tropa; e daí até a Carioca, com a gente da ordenança; a artilharia em S. Bento, sob o comando de José Corrêa e bem assim o forte de S. Sebastião.
O inimigo trabalhava dia e noite para assentar a artilharia e morteiros na Ilha das Cobras, que achou desamparada.

No sábado 19, os franceses intimam a entrega da praça à mercê de el-rei da França; e a entrega dos assassinos de Duclerc, para os castigar, ao que responderam que haviam defendê-la até o último extremo.

Com esta resposta, Duguay-Trouin mandou bombardear a cidade com horrível fogo cruzado entre a Ilha das Cobras e o morro do Valongo, por eles guarnecido; S. Bento e Castello pelos brasileiros.

No dia seguinte durou o bombardeamento sobre a cidade até a noite, arruinando-a, bem como ao mosteiro de S. Bento. O governador Francisco de Castro de Moraes, que parecia indiferente,no dia 21 de setembro abandona a capital, receoso do bombardeamento, e se vai instalar no Engenho Novo, daí para Juassu; e no dia 22 os franceses ocupam a cidade do Rio de Janeiro e a saqueiam.

Duguay-Trouin escreve ao governador, propondo-lhe a capitulação e o resgate da cidade, e o governador, convocando um conselho para decidir a capitulação, uns não a queriam, alegando que o inimigo estava receoso pelas perdas de vida, e outros que se deveria capitular.

XCVI – As embarcações que existiam no porto da cidade do Rio de Janeiro, em 1711, eram quatro navios portugueses desarmados e dois ingleses que por acaso entraram; e os armados que existiam pertenciam aos comerciantes de Lisboa e Porto, vindos em frota nesse ano.

XCVII – No dia 19 de setembro de 1711 é, por escritura pública de compra feita ao marquês de Cascais, d. Luiz Alvares de Atayde Castro Noronha e Souza, e incorporada à coroa, o domínio de cinquenta léguas de costa doadas por el-rei d. João III a Pedro Lopes de Souza, a saber dez léguas que compunham a capitania de Santo Amaro, e quarenta começando de doze ao Sul da Ilha de Cananéia e terminando nas terras de Santa Anna, que estão na altura de 28º e 1/3, compreendendo todas as ilhas que houvessem em dez léguas ao mar.

Foi, nestas quarenta léguas de costa, que el-rei d. João V criou a capitania de Santa Catarina.

XCVIII – O governador de Pernambuco convida os ouvidores das Alagoas e da Paraíba do Norte, Jeronymo Corrêa do Amaral, ouvidor Bacalháo, e ao ouvidor de Olinda, para que, constituídos em Relação, condenem os presos de guerra dos mascates à morte. O ouvidor José Soares da Cunha retirou-se logo para o seu distrito, alegando incompetência; e certificou que tinha sido peitado, com três mil cruzados, para anuir e dar o seu voto de acordo com os interessados.

XCIX – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 3; ciclo solar, 13; epacta, 22; letra dominical, C B.

C – Martirológio. Domingo de Páscoa, 27 de março; 1º de janeiro, sexta-feira; indicação romana, 5; período Juliano, 6.425.

[...]


[1] Por andarem calçados de botas e polainas.