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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1800-1883 (20)

Clique aqui para ir ao índice do segundo volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 246 a 275 do Tomo II:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 246/tomo II da obra

 

1800-1883 

[...]

CDLI – El-rei de Portugal, e imperador do Brasil, o sr. d. João VI, em carta de 15 de novembro de 1825, dirigida aos brasileiros, lhes declara que cedera, a seu filho d. Pedro de Alcantara, bens e soberania ao reino do Brasil, reservando somente para si, durante a sua vida, o título de Imperador do Brasil.

CDLII – Como o código constitucional, que o imperador ofereceu à nação e foi jurado no dia 25 de março de 1824, era um projeto de Constituição, no dia 26 de novembro de 1825 criou-se uma comissão composta de dez membros, que, sob a presidência do imperador d. Pedro I, devia organizar uma constituição política para o Brasil, e para a qual o mesmo soberano deu as bases para a sua confecção.

CDLIII – No dia 2 de dezembro de 1825, nasce no palácio da Boa Vista o príncipe d. Pedro, filho do imperador d. Pedro I e da imperatriz a sra. d. Maria Carolina, arquiduquesa da Áustria.

CDLIV – O governo imperial, pelo manifesto do dia 10 de dezembro de 1825, expõe os motivos fundamentais que o forçaram a declarar a guerra ao governo das províncias unidas do Rio da Prata, e no dia 13 declara a guerra ofensiva e defensiva à república de Buenos Aires.

No dia 21 de dezembro do mesmo ano de 1825 a cidade de Buenos Aires e suas dependências são declaradas em estado de bloqueio pelas forças marítimas do Brasil.

CDLV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 3; ciclo solar, 15; epacta, 22; letra dominical, A.

CDLVI – Martirológio. Dia 1º de janeiro, domingo; Páscoa a 26 de março; indicação romana, 14; período Juliano, 6.539.

CDLVII – No dia 3 de janeiro Buenos Aires declara guerra ao Brasil.

CDLVIII – No dia 8 de janeiro de 1826 a França celebrou um tratado perpétuo de reconhecimento da independência, amizade, comércio e navegação com o Brasil.

CDLIX – Em 1826, criou-se no Rio de Janeiro um gabinete secreto, que durou até 1830, que açulava o imperador d. Pedro I contra algumas pessoas de ideias firmes e liberais, composto de homens ambiciosos e servis. Este miserável gabinete, longe de aconselhar o inexperiente soberano a seguir pelo caminho da justiça e do bem público, o encaminhava pelo do comprometimento e da perdição, como realmente aconteceu.

CDLX – No dia 31 de janeiro de 1826, falece no Rio de Janeiro o desembargador Antonio José Duarte de Araujo Gondim, senador eleito, que não tomou assento no senado.

CDLXI – Suas majestades imperiais chegam ao Rio de Janeiro da sua viagem à Bahia, no dia 27 de fevereiro de 1826.

CDLXII – Morre o sr. d. João VI, rei de Portugal e imperador do Brasil, envenenado em Lisboa, 1826.

CDLXIII – O imperador d. Pedro I, desejando ir à Bahia, para, com a sua presença, sossegar os ânimos dos baianos no dia 2 de fevereiro de 1826, embarcou-se com a imperatriz d. Maria Leopoldina, sua filha d. Maria da gloria, na nau D. Pedro I, acompanhada das fragatas Ypiranga, Nictheroy e outra, nas quais iam os oficiais da guarda de honra; uma fragata francesa em que ia o ministro da França, com a sua legação, e uma fragata inglesa em que ia sir Charles Stward, então ministro que tinha vindo negociar a independência, com toda a legação inglesa.

O comandante da esquadra era o vice-almirante Manoel Antonio Farinha, barão de Souzel, e depois conde do mesmo título; segundo comandante, o chefe de divisão Francisco Maria Telles, veador da imperatriz; os oficiais do quarto eram os capitães-de-fragata Bibiano, Desiderio e Delamare. Camaristas do imperador, o visconde de Barbacena, depois marquês do mesmo título; visconde de Cantagallo, depois marquês do mesmo título; visconde de Lorena, depois marquês de Jacarepaguá, que foi servindo de veador-mor, e encarregado de todo o governo da ucharia e mantearia o barão de S. Simão, depois conde do mesmo título, José de Saldanha da Gama.

Ajudante de campo, barão do Rio Pardo, depois conde do mesmo título; guarda roupas, José Joaquim de Lima e Silva, João da Rocha Pinto, Joaquim José de Siqueira, pai, Pedro de Castro Canto e Mello; veadores Ildefonso, depois visconde de Gericinó; José Alves Ribeiro Cirne.

Médicos: Amoroso Baptista Pereira, físico-mor da armada; Guimarães Peixoto, médico parteiro de sua majestade a imperatriz, depois barão de Inhomerim, cirurgião da armada Julio Xavier; capelão das pessoas imperiais o abade Boiret, que foi mestre de d. Pedro I e de seus filhos; Francisco Gomes da Silva Chalaça, seu secretário particular, e escrivão das cozinhas; Paulino Martins de Almeida, que ao depois o fez seu camarista em Lisboa; e mais criadagem.

Ao serviço da imperatriz foram a viscondessa de Santos, depois marquesa do mesmo título, primeira dama; dama efetiva a viscondessa de Itaguaí, depois marquesa do mesmo título; dama honorária a condessa de Lorena, depois marquesa de Jacarepaguá; dama da princesa d. Maria da Gloria, a baronesa de Itapagipe, depois condessa do mesmo título. Açafatas d. Maria Francisca de Faria Souza Lobato, que depois foi dama da imperatriz, sua irmã d. Joanna, d. Rita de Santa Anna Pereira; a mulher do dr. Peixoto que não tinha emprego, mas que ia com o marido.

A esquadra chegou à Bahia no dia 26 do mesmo mês de fevereiro, por volta da tarde, com 24 dias de viagem, indo a nau D. Pedro I, preparada com luxo, atendendo ser um vaso muito velho e pequeno, e fazendo água; mas nada faltou pela abundância de provisões que levava a esquadra.

Durante a viagem o imperador conduziu-se com mui pouca dignidade, tratando a viscondessa de Santos com muito agrado e familiaridade, ora chamando-a de minha Tilília, e ora de minha rica viscondessa; consentindo que sua filha d. Maria da Gloria andasse de braço passeando com ela no convés da nau, e deitando-se no mesmo colchão na tolda do comandante, onde a imperatriz estava sempre. Pouco tempo a imperatriz estava na câmara; preferia estar debaixo da tolda, assentada conversando com uns e outros, ou jogando o gamão.

Nesta viagem, a imperatriz se tornou mais tratável, conversando com todos, e não mostrava má cara a ninguém. Ela comia só, e amiudadas vezes, porque era uma senhora, que um dos seus maiores prazeres era comer. O imperador comia na sala de jantar, tendo a filha à direita, a viscondessa de Santos à esquerda, e as demais damas e açafatas indistintamente. Ele era servido pelo camarista e guarda roupa particular, como sempre foi servido desde que nasceu.

A princesa d. Maria da Gloria era servida pelo veador da imperatriz. As senhoras eram servidas pelos moços da mantearia. O que era preciso tirar da mesa para as senhoras era feito pelo guarda roupa ou veador, que fazia isto por obséquio e não por obrigação.

O imperador trinchava para oferecer às senhoras; a sopa era ele sempre quem servia, principiando pela filha. À noite tomavam chá.

A imperatriz deitava-se às 5 horas da tarde em um beliche, e o imperador em uma maca toda de palhinha, e vestido.

A viscondessa de Santos dormia em um banco acolchoado; e foi a imperatriz quem quis que a viscondessa fosse dormir em seu camarim, porque dizia que assim a mortificava e humilhava.

Durante a viagem, algumas pessoas suas amigas lhe pediam que se abstivesse de dar escândalos, e se lembrasse que o mundo tinha nele os olhos, e que trezentas pessoas que iam na nau observavam seus passos, e que em presença de sua filha de sete anos, e de sua mulher, que era desrespeitada, convinha o maior recato.

Que se lembrasse que a Bahia iria testemunhar esse escândalo; e ele a nada atendia, porque a paixão o cegava.

CDLXIV – A esquadra chegou com o imperador à Bahia no dia 26 de fevereiro de 1826, e entrando na galeota com a imperatriz, a filha e a corte que levou, o presidente visconde de Queluz, depois marquês do mesmo título; viscondessa de Santos, viscondessa de Lorena, baronesa de Itapagipe; desembarcaram todos no arsenal de marinha, onde a Câmara Municipal apresentou a sua majestade as chaves da cidade, indo o imperador com as pessoas imperiais debaixo do pálio, acompanhado por todas as autoridades e pessoas notáveis da cidade, subindo pela ladeira da Preguiça, indo a imperatriz em uma cadeira mui rica, e a princesa em outra, e os carregadores vestidos com jaquetas verdes agaloadas, e chapéus com armas de prata. Esses pretos carregadores tiveram carta de liberdade.

O imperador, a imperatriz e a Corte foram vestidos de grande gala, e seguiam as cadeiras em que iam as senhoras até o largo do teatro, onde havia um pavilhão armado e guarnecido com as aras com que bateram os lusitanos.

Neste pavilhão havia um altar, e reunidos os membros do cabido com o vigário capitular, por estar a Sé vaga, à espera que suas majestades chegassem para beijarem o santo lenho, e seguirem para a Sé, e assistirem o Te Deum Laudamus. Findo o ato religioso, meteram-se nas carruagens e foram para palácio. No dia seguinte houve beija-mão.

Os aposentos do imperador eram do lado da Rua Direita, ornados com magnificência.

Para a imperatriz, preparou-se a Casa da Relação, onde puseram um riquíssimo toucador.

Para a princesa d. Maria da Gloria, arranjaram um dormitório no passadiço que do palácio ia para a Relação.

A viscondessa de Santos teve para aposento todo o andar de cima que deitava para o pátio do palácio, tendo uma sala ricamente mobiliada, quarto de dormir com bela cama e ricas colchas de seda da Índia bordadas, finíssimas cambraias de linho bordadas, cortinas de seda, e toucador sortido de todos os enfeites; casa de jantar, quartos para seu irmão, seus apaziguados e para suas criadas; tudo alcatifado.

Se havia alguma diferença nos preparativos que se fizeram para a imperatriz, os da viscondessa de Santos eram superiores.

Os aduladores, tanto da primeira grandeza como os da camada inferior, rendiam homenagem à viscondessa de Santos, como se ela fosse a verdadeira soberana.

Nos passeios que davam de carro descoberto, ia o imperador governando os cavalos, e a imperatriz a seu lado, a viscondessa de Santos e a princesa, e as demais pessoas iam acompanhando atrás. Quando passeavam a cavalo, a imperatriz ia sempre adiante com o seu veador.

A paixão do imperador era tanta pela viscondessa de Santos, que o levava a fazer as maiores leviandades e mesmo loucuras e indignidades.

CDLXV – Sossegados os ânimos na Bahia, voltou o imperador com a imperatriz e sua corte para o Rio de Janeiro, onde chegou no dia 28 de abril e, desembarcando todos no arsenal de marinha, foram à capela imperial assistir ao Te Deum Laudamus, e em seguida ao paço dar o beija-mão.

Depois da volta da Bahia, a vida escandalosa do imperador com a viscondessa de Santos se tornou muito notável. Ainda a bordo eles souberam que lhes tinha morrido um filho de nome Pedro de Alcantara, que nascera três ou quatro dias depois de haver nascido o atual imperador d. Pedro II.

O imperador quase que vivia em casa da marquesa de Santos; vinha alta noite dormir no quarto da imperatriz, em um sofá, todo vestido, pretextando sentir menos calor assim, o que praticou do mesmo modo na Bahia.

No dia 24 de maio deste ano, em que fazia anos a filha que teve com a marquesa de Santos, ele a reconheceu dando-lhe o título de duquesa de Goiás, com o tratamento de alteza, dando-lhe também as ordens do Cruzeiro e de D. Pedro I; e apresentando-a à imperatriz foi para a casa da marquesa de Santos, onde houve grande função.

Toda a Corte foi cumprimentar a duquesa de Goiás em casa da mãe, a marquesa de Santos, onde era apresentada por seu avô o visconde de Castro, o qual dizia logo – Duquesa, dá a mão a beijar ao sr. F. ou à sra. F., recebendo os cumprimentos de pé, não mandando a ninguém sentar-se.

O imperador perguntava a todos – F., você já foi beijar a mão à minha filha?

Quando a duquesa ia ao paço, o que era amiudadas vezes, ele a tomava ao colo, e a levava à varanda e dizia – Bella, dá a mão a beijar a F. ou a F. – e isto na presença da imperatriz e princesas suas filhas; chegando mesmo a dar palmadas e puxões na princesa d. Paula, quando não queria dar abraços e beijos na menina Bella; e, porque uma vez a princesa d. Paula, brincando, empurrou a Bella, o pai deu-lhe; e por isso ficou com tal medo de Bella, que agarrava-se com as criadas quando a via.

Uma vez, em presença da imperatriz, a filha agarrou-se a ela e o imperador puxou-a da mão da mai pelas orelhas, e chorando a mãe ralhou com ela, dizendo: faz o papá muito bem para não seres teimosa, e fugires da tua mana Bella.

Era esta d. Paula a filha mais querida depois da rainha d. Maria II, porque era o vivo retrato da mãe. Os outros filhos a imperatriz não tinha amizade, e ainda que estivessem para morrer, não deixava de ir às suas caçadas e passeios.

Uma vez em que deu um grande ataque em d. Januaria, tendo dois anos, a dama foi acordá-la, veio com o marido para o quarto da filha, principiando ele a tratar da filha dando banhos e clisteres toda a noite e parte da manhã, até que a criança sossegou.

A imperatriz, sentada, abrindo a boca e cerrando os olhos, dizia: Xica (dama da princesa), eu nunca te perdoarei o teres ido acordar-me; o que faço eu aqui, não tinhas o médico de semana? Tanto se lamentou de não dormir, e tanto pediu ao médico que lhe dissesse se a princesa teria perigo, porque pela manhã queria ir caçar na chácara de Bento Vahia, que o médico respondeu-lhe: que não assegurava a vida da princesa; e ela tornou: mas se estiver melhor sempre irei.

O imperador se revoltou com isto, e disse-lhe com aspereza: - Vá imperatriz. Para a imperatriz vale mais uma caçada que um filho; receio que tenha coração de mãe.

A imperatriz continuou a receber a marquesa de Santos do mesmo modo, depois do reconhecimento da filha; e quando a duquesa lá ia, dava-lhe um beijo na face, chamando-a de minha filha; e quando a duquesa se retirava dizia a todos que a cercavam: tudo posso sofrer e tenho sofrido, menos ver essa menina a par de meus filhos; e estremeço de raiva quando a vejo; é o maior dos sacrifícios recebê-la.

CDLXVI – Adoecendo o visconde de Castro, pai da marquesa de Santos, que faleceu no começo de novembro de 1826, o imperador passou dois dias e duas noites sem voltar ao paço, e a imperatriz, já não podendo suportar tanta falta de atenção, levantou-se na terceira noite, mandou chamar o criado particular do marido e disse-lhe: apronte toda a roupa do imperador, e meta em baús, ou como quiser, enquanto eu escrevo, para que o imperador mude-se para a casa da marquesa de Santos.

Enquanto ela escrevia, mandando-lhe dizer que se mudasse para a casa da sua amásia, porque ela iria residir no convento da Ajuda a esperar que seu pai a mandasse buscar, lançando em rosto ao marido todos os desgostos que lhe tinha dado, o criado particular, em vez de arrumar a roupa foi dar parte ao imperador, que veio ao paço furioso, entrou no quarto da imperatriz, tomou-lhe a cara que estava escrevendo, e aí houve uma questão de palavras bem desagradáveis, acusando ele as criadas, dizendo serem elas as que faziam as intrigas, ao que a imperatriz respondeu, que bem pelo contrário; essas duas velhas têm obstado que no paço tivesse já havido alguma tragédia; agradeça-lhes, porque são suas verdadeiras amigas.

Depois de lançarem reciprocamente em rosto coisas indignas e impróprias de pessoas tão altamente colocadas, caiu o imperador de joelhos aos pés da imperatriz, e lhe pediu perdão, com o que ele concluía sempre as questões com a mulher e ela o perdoava.

Dessa noite em diante, principiou a imperatriz a queixar-se de doente, tornando-se triste e aborrecida; escrevia frequentemente cartas ao pai, pedindo para a mandar buscar; e constou que a irmã Maria Luiza se preparava para vir ao Rio de Janeiro para a levar a Viena.

Na noite da grande questão, que motivou sérios comentários, até se dizendo que o imperador lhe atirara um pontapé no ventre, o que foi falso, não passando como em outras muitas ocasiões de insultuosas palavras de parte a parte.

O que é real é que, apesar das escandalosas extravagâncias do imperador, nunca faltou com o seu dever marital para com a mulher.

CDLXVII – A imperatriz d. Maria Leopoldina adoeceu nos primeiros dias de novembro de 1826, estando grávida de três meses, tendo por causa a grande questão que teve com o marido. Ela sofria dor em uma perna, e ataques de melancolia, que a faziam chorar como uma criança, e dizia que tinha uma saudade excessiva de sua família e de sua pátria, e da sua Bóbó, que era a ama que a tinha criado, a qual veio com ela ao Rio de Janeiro, e nele esteve seis meses, voltando depois para Viena.

Neste estado, deixou de passear a cavalo, e só o fazia de carruagem, com as filhas, e voltava no mesmo estado de tristeza, dizendo sempre que morria.
O dr. Peixoto, barão de Inhomerim, seu médico particular, a quem ela chamava meu rico barão, deu-lhe um vomitório; e depois dele principiou a passar ainda mais incomodada.

Na véspera da viagem do imperador para o Rio Grande do Sul, ela lhe fez presente de um anel com dois pequenos brilhantes, cujo anel, abrindo-se, tinha dois corações, com o nome de ambos; e ela, mostrando-lhe, disse chorando: eu morro: você quando vier do Rio Grande já não me há de achar. Aqueles, que na vida foram desligados, sejam unidos depois da morte. Ele a abraçou, chorando ambos muito; e ela lhe disse: que tudo lhe perdoava e nenhum rancor lhe tinha.

Depois da partida do imperador, a imperatriz sentiu muito e principiou a ter crescimento a febre, e a passar muito mal diariamente. Poucas pessoas a iam visitar, e a estas mandava entrar para o seu quarto, recebendo sempre a duquesa de Goiás e a marquesa de Santos.

No dia 2 de dezembro, primeiro aniversário do filho do atual imperador, teve ela o aborto, lançando o feto perfeito, que foi conservado em espírito de vinho. Desse dia em diante, ela tinha delírios continuados, com febre ardente, gritando contra a marquesa de Santos, dizendo que morria enfeitiçada, porque a imperatriz acreditava em malefícios; e muito sorria o imperador quando ela lhe contava a história de d. Branca, e principiava a benzer-se e a dizer que não queria negócios com d. Branca.

Gritava nos delírios, que lhe tirassem aquela mulher (marquesa de Santos) e menina dali. Pedia que mandassem chamar o bispo d. José Caetano, a quem ela muito venerava, porque o bispo quis que o vigário do Engenho Velho não rasgasse a folha do assento de batismo da duquesa de Goiás, em cujo assento se dizia ser ela filha de pais incógnitos, e o imperador queria que se fizesse novo em que se escrevesse ser ela sua filha, ao que o bispo não quis anuir.

A imperatriz confessou-se com ele, apesar de estar já muito perturbada, e não consentia que ele se apartasse dela um só instante, lamentando as suas infelicidades.

O bispo ia muito cedo para o paço de S. Christovão, e voltava depois da meia noite para o seu palácio. Ao lado dela a exortava, falando em religião, até que faleceu às 8 horas da manhã do dia 11 de dezembro de 1826.

Durante a enfermidade da imperatriz, a capital do Rio de Janeiro esteve consternada, e todos procuravam saber do estado da soberana, de modo que o paço de S. Christovão estava continuamente rodeado de povo, chegando até a dizer-se que os médicos eram os que matavam a imperatriz; outros, que lhe tinham envenenado. A imperatriz era estimada e querida de todos.

CDLXVIII – Logo que a imperatriz expirou, foi metida em uma tina com espírito de vinho, e às 4 horas da tarde já o cadáver estava enegrecido, ficando de guarda ao corpo as damas marquesa de Itaguaí, d. Maria Francisca de Farias, e as açafatas d. Rita de Sant'Anna Pereira e outra d. Rita.

No dia seguinte, pela manhã, levaram o corpo da imperatriz e o depositaram sobre o leito em que dormia desde que chegou ao Rio de Janeiro; e aí o dr. Peixoto, com outro médico, a embalsamaram. Depois vestiram-na de grande gala, sendo coberta com uma colcha de magnífica seda da Índia ricamente bordada a ouro e matiz, a qual ainda serviu para a coroação do filho d. Pedro II.

O corpo deitado nesse leito, e já com o rosto muito disforme, e tendo as mãos calçadas com grandes luvas que cobriam os braços, foi exposto para o beija-mão, principiando pelos filhos e criados. Cortava o coração ver-se aquele infeliz cadáver, com trinta anos incompletos, que os fazia no dia 22 de janeiro do ano seguinte, longe de seu marido e de sua família, entregue a seus criados, ao ministério e ao ministro de sua nação, e este sem nada poder fazer, mais que estar no Paço, vendo apenas que todos os choravam e soluçavam pela perda que sofriam.

Os primeiros que entraram no quarto foram as filhas d. Maria da Gloria, com sete anos; d. Januaria, com quatro; d. Paula, com três; d. Francisca, com dois; e d. Pedro, com um ano; seguindo-se o ministério e a Corte.

Depois foi o cadáver depositado em um caixão de madeira forrado de seda e de veludo, e este dentro de outro de chumbo, que se soldou, e ambos dentro de outro de cedro, coberto de veludo com galão de ouro; e posto sobre rolos de pano preto, foi rolado pelos criados de galão até a sala do trono, e sobre uma grande eça foi colocado o caixão pelas 8 horas da noite, sendo assistido pelas damas e veadores até a saída do enterro, tendo antes havido Pontifical, que, principiando às 10 horas da manhã, terminou das três para as quatro horas da tarde, ao qual assistiram todas as confrarias, seguindo-se as encomendações que duraram até às 10 horas da noite.

Findos estes atos religiosos, foi retirado o caixão e levado para o coche funerário, e em seguida levado para a igreja das religiosas do convento da Ajuda, no meio das damas, Corte, ministério, bispo, todo o clero e da população da capital do Império seguindo-se todo o cerimonial que se guarda no enterramento das pessoas reais.

CDLXIX – No dia 15 de abril de 1826 foi publicado o decreto mandando executar o tratado de paz, concluído entre o Brasil e Portugal.

CDLXX – No dia 16 de abril de 1826 o imperador d. Pedro I cria a Ordem de Pedro I, fundador do Império do Brasil, com o fim de marcar de uma maneira distinta a época em que foi reconhecida a Independência (nominal) deste vasto Império.

CDLXXI – Em 29 de abril de 1826, s. majestade o imperador o sr. d. Pedro I, do Brasil, toma a coroa real de Portugal, com o título de Pedro IV, como legítimo rei e herdeiro de seu falecido pai, o sr. d. João VI, e dá uma Constituição a Portugal; e no dia 8 de maio abdica a coroa portuguesa em favor de sua filha, a sra. d. Maria II.

CDLXXII – No dia 22 de abril de 1826, o coronel Luiz Antonio Neves de Carvalho, na qualidade de primeiro conselheiro do governo de S. Paulo, assume a vice-presidência, que a exerce até 18 de dezembro de 1827, governando um ano e doze dias.

CDLXXIII – Em maio de 1826 morre no Rio de Janeiro o visconde de Magé, Mathias Antonio de Souza Lobato.

CDLXXIV – No dia 25 de agosto de 1826 falece o brigadeiro Bernardo Antonio de Moura Freire.

CDLXXV – O imperador d. Pedro I, em consequência do falecimento do sr. d. João VI no dia 10 de março de 1826, tendo herdado a coroa de Portugal, apesar de ter declarado que – de Portugal nada, nada queria, contudo aceitou depois a coroa daquela nação e a abdicou em sua filha a princesa d. Maria da Gloria no dia 3 de março de 1830. (Vide o decreto no Jornal do Commercio de 11 de junho de 1830).

Em 1828 mandou o imperador do Brasil a filha rainha de Portugal para Viena para se educar em companhia do avô, Francisco I, imperador da Áustria, indo com ela como tutor e mordomo o marquês de Barbacena, camarista; José de Saldanha da Gama, guarda roupa; Paulo Martins de Almeida; dama da princesa, a condessa de Itaguaí e açafata d. Marianna Brusco.

Na altura de Gibraltar, teve o marquês de Barbacena um aviso para não tirar a rainha de Portugal para Viena e voltando para a Inglaterra, aí achou muitos portugueses emigrados. Barbacena, de combinação com o duque de Palmella e outros portugueses influentes, fizeram com que d. Leonor da Camara, irmã do conde da Ribeira Grande, que havia sido dama da rainha d. Carlota, muito influente no partido da Carta Constitucional, fosse nomeada dama da rainha d. Maria II, a qual acompanhou-a para o Rio de Janeiro, e depois para a Europa. Para camarista da mesma senhora foi nomeado d. Thomaz de Assis Mascarenhas.

CDLXXVI – O príncipe d. Pedro tinha amores com uma francesa dançarina de nome Noemi, que morava no Largo do Rocio, depois Praça da Constituição. O príncipe, para se entreter com ela, ia com a princesa para a casa de Pedro José de Campos, e Noemi ia também para aí, para se encontrar com d. Pedro; e enquanto a princesa conversava com a família de Campos, o príncipe se entretinha com a amante Noemi. Destes passatempos teve o príncipe um filho da dançarina; mas, se descobrindo o fato, veio el-rei d. João VI a conhecer a verdade, e tomando as providências fê-la casar, dotando-a, e dando um ofício ao marido, obrigou-a a sair do Rio de Janeiro.

A criança, com poucos meses de nascida, faleceu em companhia da mãe, e veio embalsamada em um caixão para o paço de S. Christovão, e ficou no quarto onde o príncipe d. Pedro escrevia.

CDLXXVII – D. João Vi era digno de melhor sorte, porque tinha excelentes qualidades. Não estava em Lisboa por sua vontade. Os seus pensamentos eram sempre dirigidos para o Brasil, onde viveu tranquilo, satisfeito e feliz. No começo de março de 1826, indo o rei assistir a uma procissão em Belém, sentiu cólicas agudas no ventre [16]. Dias depois, não aparecendo ele ao jantar às 3 horas, como era de costume, nem indo procurar a filha d. Izabel Maria, esta, estranhando, foi aos aposentos do pai, o achou estendido sobre um sofá, como morto, e junto dele assentado o médico Aguiar.

O médico, ao ver a princesa, lhe disse – que sua majestade estava neste estado seguramente há duas horas. A princesa, vendo o pai naquele estado, exprobrou o médico e mandou chamar a todos os médicos do paço, que, acudindo ao rei, conseguiram que ele tornasse a si e melhorasse.

No dia 9 de março, findo o despacho, tomou um caldo em presença da princesa e dos ministros, e depois que o engoliu, pronunciou estas palavras: - Este caldo matou-me! No dia seguinte, 10 de março de 1826, era el-rei d. João VI cadáver.

Na antessala, estando o médico Aguiar, quando passava o criado com a xícara do caldo, o chamou, e lançou no caldo um líquido, dizendo para o criado ser um remédio em proveito do rei. O criado notou que o líquido, que se extravasou, fizera estragos no pano que cobria a mesa; e como o médico Aguiar observou que o criado tinha feito reparo, no dia seguinte apareceu morto. Igual sorte teve o chefe das cozinhas, que recusou dar a el-rei uma empada de veado, como lhe pedira o mesmo médico Aguiar.

Estes fatos me foram referidos pelo conselheiro Antonio de Menezes Vasconcellos de Drumond, que ouvira a narrativa feita pela princesa d. Maria Izabel.

Thomaz Antonio de Villa Nova Portugal, contando o mesmo ao conselheiro Drumond, nosso ministro em Lisboa, lhe disse que desde o dia do falecimento do sr. d. João VI ficou tão horrorizado que não voltou mais ao paço.

A morte do rei não se deixou esperar por muito tempo pelo castigo. O médico Aguiar, que havia assassinado ao seu benfeitor, teve uma morte atribulada; e era constante dizer-se em Lisboa que, tendo ele vindo do paço onde bebera um copo d'água, ao chegar à casa, ao anoitecer, foi acometido de amiros mortais; e pelo que mandou chamar ao advogado brasileiro Clemente Alvaro de Oliveira Mendes e lhe dissera: - Estou morto e quero fazer algumas disposições. Feito isto, resistiu a não tomar medicamento algum e faleceu na mesma noite.

CDLXXVIII – Por decreto imperial de 25 de agosto de 1826, em atenção aos grandes serviços e esforços dos habitantes da província da Bahia, foi concedida à cidade do Salvador da Bahia o título de Leal e Valorosa, em memória dos sucessos que a tinham ilustrado.

CDLXXIX – Em 1826 morre o ilustre brigadeiro conselheiro Luiz Pereira da Nóbrega de Souza Coutinho, ministro da Guerra, que havia sido no gabinete de 27 de junho de 1822.

CDLXXX – No dia 19 de outubro de 1826, os portugueses residentes no Rio de Janeiro mandam armar ricamente o templo de S. Francisco de Paula, e aí vão jurar a Constituição Política que o sr. d. Pedro I do Brasil, e quarto rei do nome de Portugal, acabava de outorgar para a nação portuguesa.

CDLXXXI – No dia 2 de novembro de 1826, faleceu o coronel visconde de Castro, João de Castro Canto e Mello, que como tenente de cavalaria fez a campanha do Sul de 1775.

CDLXXXII – Na terça-feira, 11 de dezembro de 1826, faleceu no palácio da Boa Vista, em S. Christovão, a imperatriz d. Maria Leopoldina, esposa do imperador d. Pedro I, pelas 9 horas da manhã, e foi sepultada no dia 14 na igreja do Convento da Ajuda.

CDLXXXIII – No dia 24 de novembro de 1826, o imperador d. Pedro I faz-se de vela na nau D. Pedro I para o Rio Grande do Sul, a fim de comparecer no teatro da guerra, e animar o exército com a sua presença.

Chega a Santa Catarina no dia 30, pelas 4 horas da tarde, seguindo no dia imediato; chega no dia 8 à capital do Rio Grande do Sul. Estando em Porto Alegre, recebeu a notícia do falecimento da imperatriz, e embarcando-se logo para a capital do Império, chegou ao Rio de Janeiro no dia 15 de janeiro de 1827, e desembarcando, seguiu logo para o palácio de S. Christovão.

CDLXXXIV – No dia 24 de dezembro de 1829, o conde de Beaurepaire é nomeado governador das armas da província do Piauí.

CDLXXXV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 4; ciclo solar, 16; epacta, 3; letra dominical, G.

CDLXXXVI – Martirológio. Dia 1º de janeiro, segunda-feira; Páscoa a 15 de abril; indicação, 15; período Juliano, 6.540.

CDLXXXVII – No dia 12 de janeiro de 1827, morre no Rio de Janeiro o marquês de Praia Grande, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, com sessenta e oito anos e vinte e oito dias de idade, senador do Império pela província de Mato Grosso.

CDLXXXVIII – Desejando o imperador d. Pedro I organizar o pessoal para a filha, duquesa de Goiás, não achou ninguém na Corte do Rio de Janeiro que quisesse aceitar essa honra, e então nomeou açafatas a velha d. Flavia, d. Josepha, d. Barbara Lopes, d. Rosa de Sant'Anna Lopes, que eram primas da duquesa de Goiás.

Querendo o imperador que o Tesouro Nacional pagasse as pensões dos criados da duquesa, este se recusou, dizendo que a nação não tinha deveres para com os filhos naturais de Sua Majestade. O imperador ficou furioso com esta resposta, mas não conseguiu o seu intento.

CDLXXXIX – O imperador d. Pedro I brigou com a marquesa de Santos por ciúmes que teve dela, por ter visto um trancelim de cabelos no pescoço do tenente Moraes, que acreditou ser feito de seus cabelos. Supôs-se que a marquesa de Santos dera esse passo, por ciúmes que tinha do imperador com a irmã baronesa de Sorocaba; e tanto que, em um dia de festa de Nossa Senhora da Glória, indo a marquesa e a baronesa com o marido, na volta para casa ouviu-se um tiro sobre a carruagem da baronesa de Sorocaba; e o imperador, desconfiando ter sido mandado dar pela marquesa, foi-lhe à casa e lhe tirou as duas filhas, e as levou para o paço de S. Christovão.

CDXC – O imperador, no dia 15 de janeiro, chegando ao Rio de Janeiro, demitiu o ministério.

CDXCI – O almirante Brown, à testa da esquadra de Buenos Aires, infelizmente toma onze das melhores embarcações da esquadra brasileira, e queima outras em número de cinco.

CDXCII – No dia 20 de fevereiro, os exércitos brasileiro e o da Cisplatina dão batalha no Passo do Rosario, e no combate morre o general Abreu, barão do Serro Largo. A ação, que começou às 6 horas da manhã no campo de Ituzaingo, prolongou-se até as 5 da tarde.

O marquês de Barbacena, que era o general em chefe das tropas brasileiras, sofrendo completa derrota nesta lastimosa ação, saiu coberto de vergonha por sua imperícia militar.

CDXCIII – O exército brasileiro, em 1827, faltando apenas as tropas de primeira e segunda linha do Piauí por não terem sido enviados mapas, compunha-se dos seguintes:

Corpos

Fora do teatro da guerra

Empregados na guerra do Sul

No R. Grande do Sul Na Cispla-tina
Oficiais generais 69 5 4
Corpo de engenheiros 75 1 5
Estado-maior 276 18 5
1ª linha do Exército
Infantaria:
1º batalhão de granadeiros (Rio de Janeiro     521
2º dito (estrangeiros) 505    
3º dito (idem) 380    
Batalhão de Caçadores do Imperador (R. de Janeiro)     677
1º dito de caçadores (idem) 703    
2º dito (idem) 332    
3º dito (idem) 134 510  
4º dito (idem) 9 554  
5º dito (idem) 586    
6º dito (idem) 359    
7º dito (S.Paulo)     538
8º dito (Santa Catarina)     451
9º dito (S.Pedro do Sul)     223
10º dito (Rio de Janeiro)     385
11º dito (idme)     356
12º dito (Espírito Santo) 490    
13º dito (Bahia) 190 381  
14º dito (idem) 435    
15º dito (idem) 472    
16º dito (Alagoas) 400    
17º dito (Pernambuco) 432    
18º dito (idem) 195 322  
19º dito (Paraíba) 523    
20º dito (Piauí) 400?    
21º dito (Rio Grande do Norte) 310    
22º dito (Ceará) 426    
23º dito (Maranhão) 1.197    
24º dito (Pará) 519    
25º dito (idem) 642    
26º dito (Sergipe) 496    
27º dito (estrangeiros) 48 527  
28º dito (idem) 618    
Pedestres de Mato Grosso 310    
Ditos da Bahia 59    
Companhia fixa de Goiás 79    
Divisão do Rio Doce (Minas) 425    
Corpo de polícia do Rio de Janeiro 270    
Dito da Bahia 213    
Dito do Maranhão 278    
Dito do Pará 97    
Dito de Pernambuco 146    
Corpo de veteranos (Rio de Janeiro) 395    
Total da infantaria (18.928) [*] 13.493 2.318 3.165
Cavalaria
1º Regimento de Cavalaria (Rio de Janeiro) 2 368  
2º dito (Minas) 520   85
3º dito (S. Paulo)   242  
4º dito (S. Pedro do Sul)   256  
5º dito (idem)   296  
6º dito (idem)   315 70
7º dito (orientais)      
Companhias de guerrilhas de S. Pedro do Sul   473  
Dita de lanceiros imperiais (alemães)   68  
Corpo de lanceiros do Uruguai (guaranis)   127  
Esquadrão da Bahia   192  
Companhia fixa de Goiás 86    
Cavalaria da legião de Mato Grosso 170    
Dita de polícia da Corte 72    
Dita de Pernambuco 77    
Total da cavalaria (3.419) 927 2.337 155
Artilharia (estavam apenas em casco quase todos os corpos):
1º Corpo de Artilharia de Posição (Rio de Janeiro) 590   95
2º dito (idem) 439    
3º dito (S. Paulo) 149    
4º dito (Santa Catarina) 186 60  
5º dito (Pernambuco)     352
6º dito (Espírito Santo)     80
7º dito (Bahia) 72   330
8º dito (Pernambuco) 397    
9º dito (Piauí) 120?    
10º dito (Ceará) 125    
11º dito (Maranhão) 138    
12º dito (Pará) 224    
Companhias fixas de Montevidéu e Colonia (antiga artilharia do Rio de Janeiro)     271
Artilharia da Colonia (idem)     82
Dita de Mato Grosso 140    
1º Corpo de Artilharia Montada (Rio de Janeiro) 312 120  
2º dito (S. Paulo)     140
3º dito (S. Pedro do Sul)   105  
4º dito (Alagoas) 180    
5º dito (Paraíba) 168    
6º dito (Bahia)      
Total da artilharia (4.875) 3.240 285 1.350

N. E.: há uma diferença de soma no Total da Infantaria, que é 18.976. O autor esqueceu de considerar os 48 representantes do 27º Batalhão (estrangeiros).

N. B. – O número dos oficiais generais do estado-maior é indeterminado. O imperial corpo de engenheiros tem o chefe na Corte e os oficiais em todo o Império, segundo as comissões. Os batalhões de caçadores são 29, compostos de diversa força, conforme as províncias em que têm estado estacionados; entretanto, o pé maior é de 711 e o menor de 230 praças cada um.

A cavalaria compõe-se de sete regimentos de 620 praças cada um. A artilharia montada de posição não tem número fixo de praças, sendo a sua organização proporcionada ao serviço de cada província. A polícia está nas circunstâncias da artilharia, quanto à sua organização. Da província do Piauí nada se pode saber ao certo, por não ter vindo mapa algum dela.

Além da primeira linha ou exército propriamente dito, havia a segunda linha do exército ou milícias, a que, como dissemos posteriormente, se deu o nome de Guarda Nacional.

Excetuando as províncias de Alagoas, Mato Grosso e Piauí, que não remeteram mapas, dividia-se assim a segunda linha:

Segunda linha do exército. Estado efetivo:

  Caçadores, infantaria e Henriques Cavalaria Artilharia Soma
Rio de Janeiro 10.932 1.605 1.172 13.709
S. Paulo 4.980 1.129   6.109
Santa Catarina 2.684 534   3.218
S. Pedro do Sul   1.769   1.769
Cisplatina   250   250
Espírito Santo 1.000 173 335 1.508
Bahia 14.106 1.220 762 16.088
Sergipe 4.412 1.279   5.691
Alagoas ? ?   ?
Minas Gerais 5.452 3.309   8.761
Goiás 3.027 1.071   4.098
Mato Grosso ? ?   ?
Pernambuco 6.363 1.009   7.372
Ceará 4.821 3.507   8.328
Paraíba 3.260 389   3.649
Piauí ? ?   ?
Rio Grande do Norte 1.189 1.133   2.322
Maranhão 4.387 171 140 4.698
Pará 4.863   108 4.971
  71.476 18.548 2.517 92.541

N. E.: no texto original há um erro de soma na segunda coluna, originado no transporte do subtotal da página 270 para a página 271 do livro, aqui corrigido.

Os batalhões "dos Henriques" eram assim alcunhados em homenagem ao herói negro das guerras contra os holandeses no século XVII, Henrique Dias.

N. B. – Estavam destacadas fazendo serviço de primeira linha: nas províncias de S. Pedro do Sul e Cisplatina, todas as tropas de segunda linha (1.769 homens naquela província e 250 nesta); na do Rio de Janeiro, o 1º batalhão de Henriques com 530 praças; na da Bahia, um batalhão de Minas Gerais formado de contingentes dos diferentes batalhões desta província.

Quanto aos corpos de segunda linha que se achavam no teatro da guerra, eis aqui a sua força:

Tropas de 2ª linha empregadas na guerra do Sul

Só cavalaria No Rio Grande do Sul Na Cisplatina
20º regimento (antigo Reg. de Milícias de Porto Alegre 257  
21º dito (idem, do Rio Grande) 224  
22º dito (idem, do Rio Pardo) 365  
23º dito (idem, de Entre-Rios ou Alegrete) 240  
24º dito (idem, de Missões, composto de guaranis) 154  
25º dito (idem, idem) 69  
39º dito (idem, do Serro Largo) 181  
40º dito (idem, de Lunarejo) 218  
Duas companhias de lanceiros 61  
Regimento da Colônia do Sacramento   130
Companhia de rebaixados de Montevidéu   58
Guerrilhas de Montevidéu   72

Soma

1769 260

CDXCIV – José Bonifácio de Andrada e Silva chega ao Rio de Janeiro vindo do desterro, em um navio de Bordéus, e foi morar em casa de Luiz de Menezes de Drumond, no Catumby, hoje Rua do Conde, esquina da Rua do Catumby, pertencente atualmente à viúva Raity.

Antes de chegar ao Rio de Janeiro José Bonifácio, tinha, em junho do mesmo ano, se recolhido à pátria Antonio de Menezes Vasconcellos de Drumond; e o imperador d. Pedro I e seus ministros, no meio da devassidão, com um governo corrompido e corruptor, vendidos ao estrangeiro, haviam governado o Brasil absolutamente desde o dia 12 de novembro de 1823, até 3 de maio de 1826, que em virtude do projeto da Constituição que ele ofereceu, e a nação aceitou sem a menor reflexão, e quis que fosse jurada, se abriu a primeira Assembleia Legislativa em 1826.

Os acontecimentos dos anos de 1824 e 1825 são de funestas e dolorosas recordações na história do devasso primeiro reinado. O sangue brasileiro foi derramado por opiniões políticas, e nos patíbulos que o despotismo ergueu no Rio de Janeiro, em Pernambuco e na Bahia. Foi então voz pública que um magistrado de nome Antonio Garcez Pinto de Madureira, natural de Portugal, lavrara uma sentença de morte ditada pelo Poder Executivo.

A Câmara dos Deputados de 1826 foi, como devia ser, tímida, porque a dissolução da primeira Assembleia Constituinte Legislativa, e as violências do poder, eram disso a causa; mas em 1827 e 1828 a Assembleia Legislativa começou a tomar alento, e com o caráter de certa liberdade.

A chegada de José Bonifácio, de Martim Francisco, Antonio Carlos, capitão-mor Rocha e Drumond, em 1829, foi uma circunstância bem notável para a Assembleia Legislativa se animar, mormente no que dizia respeito à administração financeira.
O imperador, por seu caráter leviano e inconstante, não podia viver sossegado: em seu pensamento existia o elemento europeu.

O ministério estava quase concentrado em José Clemente Pereira, que, em 1821, fez oposição à independência, sendo um dos heróis dos acontecimentos da Praça do Comércio. Quando em 1822 José Clemente Pereira quis a independência, não queria o Império, e nesse mesmo ano cabalou contra a independência; e a forma de governo que ele queria era a República, por contar ter nela a maior influência governamental.

Em maio implorava ao príncipe regente do Brasil que aceitasse o título de Protetor e Defensor Perpétuo; em outubro, na fala da Aclamação, pretendia pôr condições honrosas ao imperador.

José Clemente Pereira, como ministro do Império e muito influente, tinha um banco, na Rua do Rosário, onde se vendiam em almoeda os títulos e condecorações do Brasil, cujo produto das vendas era destinado a socorrer os emigrados portugueses. Infelizmente, este funesto pensamento ainda predominou e predomina. Os títulos e condecorações brasileiras, que a Constituição destinou para recompensar os serviços feitos à Pátria, e distinguir o merecimento brasileiro, são vendidos a quem os quer comprar, e são dados aos estrangeiros por favores pessoais feitos ao imperador.

CDXCV – No domingo, 11 de março de 1827, morre na cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro o marquês de Nazareth, Clemente Ferreira Franco, natural da Bahia, nascido a 16 de março de 1775.

CDXCVI – No dia 9 de abril de 1827, a divisão naval brasileira trava combate com a divisão argentina, e na ação os argentinos perdem dois brigues. Esta sensível perda para Buenos Aires resolve o seu governo a entrar em estipulação de paz.

CDXCVII – O capitão-mor Alexandre José de Mello, que relevantes serviços prestou à causa da independência do Brasil, foi o único da província das Alagoas que foi condecorado com a Ordem Imperial do Cruzeiro, no dia 2 de dezembro de 1822. O capitão-mor Alexandre José de Mello faleceu na cidade das Alagoas, na Rua de Baixo, no dia 13 de maio de 1827, e foi sepultado na frente da capela do Santíssimo Sacramento da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição.

CDXCVIII – Por carta de lei de 11 de agosto de 1827, são criados no Brasil os cursos jurídicos, um estabelecido na cidade de Olinda, e outro na cidade de S. Paulo, para os estudos de ciências jurídicas e sociais.

CDXCIX – No dia 1 de setembro de 1827 instalou-se na cidade do Recife o Liceu Pernambucano.

D – No dia 19 de outubro de 1827 instala-se no Rio de Janeiro a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

[...]


[16] Sabe-se que a rainha d. Carlota e o príncipe d. Miguel se empenhavam pela morte do rei, e que o assassinato foi promovido por eles.