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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - CUBATÃO EM... - 1839 - BIBLIOTECA NM
1839-1855 - por Kidder e Fletcher - 33

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Em meados do século XIX, os missionários metodistas estadunidenses Daniel Parrish Kidder (1815-1892) e James Cooley Fletcher (1823-1901) percorreram extensamente o território brasileiro - passando inclusive por Santos e por Cubatão em 1839 (Kidder) e 1855 (Fletcher) -, fazendo anotações de viagem para o livro O Brasil e os Brasileiros, que teve sua primeira edição em 1857, no estado de Filadélfia/EUA.

Kidder fez suas explorações em duas viagens (de 1836 a 1842), e em 1845 publicou sua obra Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil (leia), sendo seguido por Fletcher (a partir de 1851), que complementou suas anotações, resultando na obra O Brasil e os Brasileiros, com primeira edição inglesa em 1857 e sucessivamente reeditada.

Esta transcrição integral é baseada na primeira edição brasileira (1941, Coleção "Brasiliana", série 5ª, vol. 205), com tradução de Elias Dolianiti, revisão e notas de Edgard Süssekind de Mendonça, publicada pela Companhia Editora Nacional (de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), publicada em forma digital (volume 1 e volume 2) no site Brasiliana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - acesso em 30/1/2013 - ortografia atualizada - páginas 384 a 399 do volume 2):

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O Brasil e os Brasileiros

Daniel Parrish Kidder/James Cooley Fletcher

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Apêndice D [*]

RECENTES DESCOBERTAS DE CARVÃO NO BRASIL

(De The Anglo-Brazilian Times, 8 - julho - 1865)

CARTA DO PROFESSOR AGASSIZ

Nossos leitores estão lembrados de que, depois que chegou ao Rio de Janeiro, esse ilustre sábio estrangeiro não teve um momento de descanso. Enquanto os seus assistentes estiverem trabalhando, cada qual no objetivo que tinha em vista na América Tropical, o professor ele próprio foi o mais ativo de todos no esforço de surpreender os segredos que encerra a natureza; fomos informados de que muitos fatos novos e interessantes foram incluídos no domínio da ciência.

Como espectadores, vimos com o máximo interesse semelhante expedição, tanto mais que sempre a consideramos como tendo um valor que ultrapassa os limites da ciência pura. As especulações do filósofo de hoje tornam-se amanhã realizações práticas, e impossível seria que as investigações de Agassiz só deixassem após se resultados teóricos. Seus esforços levar-nos-iam por fim à colheita de benefícios materiais: e efetivamente, temos diante de nós, presentemente, uma eloquente ilustração desse asserto que, segundo podemos presumir, é apenas o primeiro passo para uma série de outros da mesma natureza.

Os nossos leitores têm, de longa data, ouvido falar das famosas camadas carboníferas de Candiota, na província do Rio Grande do Sul. As esperanças de muitos voltaram-se para essa direção como sendo a mais valiosa evidência das riquezas ocultas do Brasil. O sr. Plant por tal forma despertou ou reavivou o interesse pela questão que, de tempos a tempos, volta a constituir assunto de interesse público, sendo considerada como de valor comercial, e debatida com crescente interesse nas sessões do Legislativo.

Não estamos agora tratando do valor desses assuntos em abstrato: a nossa compreensão já se veio familiarizando com esse aspecto; apenas desejamos mostrar como a opinião de uma personalidade como Agassiz abrange de um golpe a questão por inteiro, e deixa para os homens de negócio o desenvolvimento prático dos planos que irão permitir o aproveitamento deste importantíssimo fator de riqueza e do poderio de uma nação.

O sr. Plant, como geólogo, submeteu ao exame do professor Agassiz fósseis e amostras geológicas da província do Rio Grande cio Sul, que ele julgou de interesse e capazes de vir completar as coleções que estão sendo feitas para os Estados Unidos. A importância desses fósseis, e as seguras conclusões que a ciência deles pôde tirar, parece terem despertado o entusiasmo do grande sábio que, poucos dias depois, enviou ao sr. Plant a carta que abaixo inserimos.

Publicamo-la na íntegra, pois julgamos que será de grande importância um dia, vindo demonstrar ao governo do Brasil que, seguindo os passos abertos pela ciência, encontrará sem dúvida fontes de riqueza.

"Rio, 18 de junho de 1865.

"Prezado Senhor:

Ainda não me foi dado agradecer-lhe as belas amostras com que me presenteou, embora, desde que as recebi, tenha estado à espera de um momento disponível para fazê-lo.

Com essa demora, porém, tive oportunidade para emitir uma opinião mais amadurecida a respeito da idade geológica dessas amostras, que tive a satisfação de determinar, mormente quando, pelo exame que delas fiz, convenci-me da legitimidade de certas opiniões relativas aos fósseis das mais antigas formações geológicas, em que eu não confiava muito.

Que esses restos orgânicos pertencem todos ao período carbonífero é incontestável; e a sua estreita afinidade com os fósseis característicos da Europa é o que particularmente me interessa e de certo modo me surpreende.

Fosse toda a referida coleção feita na Pensilvânia, e eu não teria mais decididamente reconhecido seus caracteres carboníferos, já pelas rochas que ficam por baixo e por cima das camadas fossilíferas; as fotografias que o sr. me mostrou do local não deixam dúvida a respeito da grande extensão e do valor dos depósitos de carvão do rio Candiota, enquanto que o carvão pode ser perfeitamente comparado com os de melhor qualidade no mercado, a julgar pelas amostras que o sr. me mostrou e pelas que devo à sua gentileza.

Com os meus melhores votos pelo futuro sucesso de suas explorações geológicas, entre as quais espero que possa incluir d'ora em diante evidências de drift e blocos erráticos, de cuja existência no Brasil está o sr. inteirado, etc.

Louis Agassiz."

Julgamos que os nossos leitores estarão de acordo conosco em que muito se tem a esperar dessa expedição, custeada pela munificência de Nathaniel Thayer, de Boston. Essa expedição deve ter sido projetada com a convicção do valor econômico da ciência. Estamos certos de que os seus resultados indiretos serão de grande importância para o Brasil.

Uma das maiores mentalidades do mundo defrontará uma região quase desconhecida. O seu objetivo, sabemos, é estender o domínio da inteligência e conquistar as forças da natureza, tornando-as subjugadas às necessidades do homem; é, despedindo-nos pelo prazo de alguns meses do professor Agassiz e seus colaboradores, apenas podemos-lhes dar as nossas bênçãos, na esperança de que em poucos meses ele esteja de novo entre nós, rico dos tesouros recolhidos no Amazonas.

Estamos também autorizados a declarar que o sr. Capanema, cuja capacidade como geólogo é bastante conhecida para dispensar comentários, viu também a coleção de fósseis do sr. Plant, feita nas minas de carvão de Candiota, tendo chegado às mesmas conclusões do professor Agassiz relativamente às camadas de carvão pertencentes ao período carbonífero.

(Julgamos de tal interesse para a ciência e para a indústria a descoberta do carvão no Rio Grande do Sul, que solicitamos do sr. Plant que nos desse informações completas sobre o assunto. Em data de 24 de julho de 1865, enviou-me as seguintes linhas, que formam a parte final do Apêndice H. — J. C. F.).


Imagem: reprodução da página 388 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

JAZIDAS DE CARVÃO DO RIO JAGUARÃO, E SEUS TRIBUTÁRIOS RIOS CANDIOTA E JAGUARÃO-CHICO NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO SUL

A bacia carbonífera do Rio Jaguarão está situada na parte meridional da província do Rio Grande do Sul, entre os graus 31 e 32 de latitude Sul, e 324 e 325 (meridiano francês) de longitude, no vale do Rio Jaguarão e de seus tributários o Candiota e o Jaguarão-Chico. Cobre uma área de cerca de 50 milhas por 30, sendo o seu maior diâmetro na direção Norte-Sul.

As camadas de carvão, ilustradas pelo perfil geológico que este acompanha, e das quais foram obtidas as amostras juntas e determinada a espessura dos leitos, acham-se expostas numa elevada escarpa às margens do Rio Candiota, num ponto denominado Serra Partida, onde aparecem na seguinte ordem de superposição:

A camada superior (n° 1) é composta de arenito de natureza altamente ferruginosa; semelhando em seu aspecto o Gres Bizarre da Europa. Contém nódulos de peróxido de ferro silicoso, contendo de 25 a 35 por cento de metal. Varia consideravelmente de espessura, em alguns trechos completamente gasto e atingindo em outros uma profundidade de mais de 200 pés.

Imediatamente abaixo dessa camada, ocorre uma outra camada de xisto-carbonoso (n° 2), muito argiloso, e talvez impróprio como combustível: possui uma espessura de nove pés, e pode ser observada aflorando nos pontos em que a camada sobrejacente foi desnudada; repousa sobre uma camada (n° 3) de xisto arenoso ocre, contendo spetarias de um óxido ocre de ferro, o qual, juntamente com o minério de ferro encontrado no arenito, será, muito provavelmente, aproveitado quando vierem a ser exploradas as camadas de carvão.

Por baixo dessa camada, aparece outra (n° 4) de carvão betuminoso, com três pés de espessura. O mineral, embora deixe uma alta porcentagem de cinzas, será julgado de utilidade para fundir os minérios de ferro das camadas interestratificadas; há toda razão para supor que se venha a encontrar material de melhor qualidade quando for mais completamente explorada a camada em apreço.

As amostras que foram ensaiadas foram retiradas de muito próximo da superfície, o que até certo ponto pode ser responsável pela sua aparente impureza; repousa sobre uma camada (n° 5) de argila branca, ou xisto, contendo inúmeras impressões de plantas fósseis (possivelmente aquáticas), cujo aspecto geral parece levar a concluir que esses depósitos carboníferos pertençam a um período mais remoto que o que é atribuído às formações carboníferas (Coalmeasures) da Inglaterra e dos Estados Unidos, não fosse semelhante conclusão refutada pelos fetos fósseis encontrados nos outros folhelhos interestratificados; tem uma espessura de cinco pés e recobre uma camada (n° 6) de bom carvão, de 11 pés de espessura.

Esse carvão lembra muito pelo seu aspecto o de Newcastle, e pode ser visto muitas milhas ao longo das margens do Rio Candiota, formando algumas vezes o leito desse rio e os pequenos cursos d'água que nele deságuam; é separado de um outro filão por uma delgada divisão de argila azul (n° 7).

O carvão da camada inferior (nº 8) parece ser de qualidade superior à de n° 6; apresenta uma nítida e brilhante fratura e, em alguns trechos, delgados veios de puro carvão para gás (cannel-coal) podem ser observados ao longo da camada. Este carvão é altamente inflamável, fervendo como óleo durante a combustão. Tem sido usado como combustível de vários modos com resultados notoriamente satisfatórios. Foi ensaiado nos vapores que navegam a Lagoa dos Patos, na província do Rio Grande do Sul e, se bem que deixe maior quantidade de cinzas do que o carvão de Cardiff, foi julgado um bom carvão de briquetes ("caking-coal"), prestando-se para todas as exigências de um combustível para vapor.

Por baixo dessa camada, está uma outra (n° 9) de argila azulada, contendo vestígios de plantas fósseis. Em tudo mais assemelha-se à camada superior do mesmo depósito, tendo uma espessura de nove pés. Repousa no veio mais delgado (n° 10) do carvão exposto nas escarpas da Serra Partida.

É esta a mais baixa das camadas de carvão expostas em qualquer outra parte das jazidas de carvão de Candiota; provavelmente, porém, outras camadas serão encontradas mais próximo do centro da bacia, ou então esta, assim como as camadas deitadas, podem tornar-se mais espessas, a julgar pelo fato de que todas as camadas se mostram espessando-se à medida que se aproximam da parte média do vale do Rio Jaguarão. A grande espessura (25 pés) e o caráter bom e homogêneo do filão são importantes requisitos dessa jazida carbonífera.

O mineral (embora colhido próximo da face decomposta da margem alcantilada do Rio Candiota), segundo se pôde verificar, deixa menos cinzas do que o proveniente do filão que está em cima. Foi empregado frequentemente em vapores com o mesmo bom resultado do carvão de Newcastle.

O coque obtido desse carvão pelo sr. W. G. Ginty, da Companhia de Gás do Rio de Janeiro (veja-se o relatório do sr. Ginty), foi mesmo de melhor qualidade que o obtido do carvão de Newcastle.

Recobre uma camada (n° 11) de folhelho ferruginoso que, do ponto de vista científico, é o mais importante depósito das formações carboníferas do Jaguarão, pelo fato de conter impressões de restos orgânicos, pelos quais se pode determinar a idade geológica dessas camadas carboníferas; as plantas fósseis que foram encontradas nesse folhelho pertencem todas elas ao mesmo gênero das que caracterizam as jazidas carboníferas da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, sendo que as mais abundantes pertencem ao gêneros Lepidodendron e Glossopteris; outros foram reconhecidos como semelhantes aos fetos encontrados nas rochas secundárias mais antigas, fato esse que não deixa a menor dúvida sobre o verdadeiro caráter carbonífero das coal-measures do rio Candiota.

Esse filão é muito abundante em fósseis; e não resta a menor dúvida de que, quando essas imensas camadas de tesouros minerais forem exploradas, muitas formas novas e interessantes da vida vegetal serão trazidas à luz para enriquecerem os nossos conhecimentos acerca das formações carboníferas do hemisfério meridional. O folhelho ferruginoso é muito rico em metal, e poderá, sem dúvida: vir a ser explorado com minério de ferro, quando as minas forem abertas.

Por baixo dessa camada ocorre outra (n° 12) de arenito, semelhando em todos os aspectos à camada superior, e depois dela vem outra (n° 13) de calcário muito bem cristalizado, contendo pequenos fragmentos de grafito disseminados através da sua massa; é também atravessado por veios de um carbonato de cálcio muito puro sob a forma de espato birrefringente, que atinge em alguns pontos considerável espessura. Esse calcário não é somente de imenso valor para ser utilizado como cal calcinada, mas também como solvente do minério de ferro.

Os três requisitos essenciais para a instalação de uma fundição encontram-se assim interestratificados entre si numa mesma região: o minério, o combustível e o solvente, todos da melhor qualidade, combinação essa de riquezas minerais que só estão à espera da mão do homem para torná-las realidade e que raramente se encontram juntas numa mesma região em qualquer outra parte do globo.

As duas camadas inferiores dessas formações carboníferas são, evidentemente, micaxistos (n° 14) e uma outra rocha calcária (n° 15) de grande dureza e natureza compacta. Torna-se difícil determinar qual delas é a que serve de base pois, em alguns pontos, o micaxisto é visto repousando sobre o sienito que envolve a bacia carbonífera e, em outros, o calcário; a denominação de "calcário metalífero" foi-lhe atribuída devido aos inúmeros cristais e delgados veios de sulfeto de ferro que nele se mostram. Com toda probabilidade, outros veios metalíferos serão encontrados nesse calcário.

Quase toda a bacia carbonífera do vale do Jaguarão é cercada por morros sieníticos que medem de 200 a 300 pés de altura; a vertente dirigida para as jazidas de carvão inclina-se suavemente para baixo até que desaparece sob os arenitos que recobrem o carvão; na vertente oposta, o sienito, depois de apresentar um aspecto desigual e ondulado num percurso de três a quatro léguas, vai gradativamente baixando até constituir um terreno liso, que se continua por uma quase perfeita planície até o porto marítimo do Rio Grande do Sul (São Pedro).

Assim, a companhia já constituída para fazer as explorações e estudos de uma via férrea que transporte os produtos minerais do Vale do Jaguarão, atinge um porto de mar, onde o carvão pode ser embarcado para os diversos portos do litoral do Brasil e para o Rio da Prata, e não encontrará, portanto, dificuldade em conseguir uma estrada em que se possa construir uma via férrea.

A gravura que este acompanha (de uma fotografia das escarpas em que se mostram as camadas de carvão ao longo do Rio Candiota) mostrará a grande facilidade de exploração do carvão em quase todos os pontos da bacia a céu aberto. Podem ser empregados vagões em linhas ramais partindo em várias direções da linha tronco, de modo a atingir diretamente os filões, dispensando custosas instalações de poços.

O mergulho geral das camadas é de 50 a 10º S. W., e em ponto algum há indícios de soerguimentos posteriores ou deslocamentos de camadas visíveis, de modo que se encontrarão poucas obstruções para a passagem dos vagões ao longo dos filões no futuro desenvolvimento dos trabalhos de exploração.

Quase desnecessário será insistir sobre o imenso valor desses depósitos de carvão no ponto de vista econômico, quando já ficou assentado, numa rápida exploração da região entre o porto marítimo do Rio Grande do Sul (São Pedro) e as minas de carvão de Candiota que, com toda probabilidade, o carvão será colocado a bordo de navios que partem do Rio Grande por um custo talvez menor que 7$000 por tonelada, quando atualmente está sendo vendido por 24$000 e, logo que seja aprovada uma lei permitindo que navios de todas as nações naveguem entre os portos brasileiros, não haverá falta de companhias de navegação que se encarreguem do transporte do carvão do Rio Grande para o Rio de Janeiro, por cujo porto se importa anualmente a enorme soma de 180.000 toneladas de carvão, por um preço que permitirá a companhia de mineração de carvão de Candiota vender seu produto, no mercado da capital do Império do Brasil, por mais ou menos 15$000 a tonelada - preço que excluirá qualquer competição dos mercados estrangeiros, visto que o carvão estrangeiro é raramente vendido por menos de 22$000 a tonelada.

O consumo de carvão no Rio da Prata é talvez tão grande como o do Rio de Janeiro, e as facilidades de suprir os mercados de Buenos Aires e Montevidéu, com o produto, das minas de Candiota são ainda maiores do que para o Rio de Janeiro.

O carvão pode ser mandado dessas minas, em navios carvoeiros e entregue em Montevidéu, em três ou quatro dias, por um custo próximo da metade da entrega do mesmo produto no Rio, e numa praça em que o carvão nunca atinge a um preço menor de 15 dólares por tonelada, ou sejam 30$000.

O consumo do carvão no litoral do Brasil e no Rio da Prata aumenta de ano em ano, sendo mesmo provável que, depois de se iniciar a exploração das minas de Candiota, poucos anos se passarão para que seja julgada insuficiente uma única linha férrea para o transporte do carvão de Candiota em vista da sua crescente procura.

Rio de Janeiro, 20 de julho de 1865.
NATHANIEL PLANT.

AS JAZIDAS DE CARVÃO DO BRASIL

por Edward Hull, B. A., F. G. S.

(Nota publ. em The Quarterly journal of Science — Engl. Nº II, abril de 1864)

O imenso Império do Brasil, que ocupa um terço do continente da América do Sul, com uma superfície de 3 milhões de milhas quadradas, consideravelmente maior do que a Rússia Europeia, banhado pelo maior rio do mundo, o qual, com os seus tributários, é navegável muitas centenas de milhas acima da sua foz; com os seus limites ocidentais atingindo os esporões dos Andes, e seus limites orientais banhados pelas águas de dois oceanos, um país como esse parece apropriado a ocupar um lugar dianteiro entre as nações do Hemisfério Ocidental, desde que os seus ilimitados recursos venham a ser valorizados por um povo inteligente e sua civilização seja apressada por sábias leis.

É satisfatório pensar que, enquanto a maioria das repúblicas que o rodeiam, os membros desunidos da América Espanhola, são sacudidos nas ondas da anarquia, o Brasil desfruta um governo pacífico, sob uma monarquia constitucional, liberdade individual com segurança política, os princípios monárquicos combinados com os direitos populares. Refiro-me a esses aspectos do governo do Brasil porque são garantia superior do progresso nacional e do desenvolvimento das iniciativas da indústria. Não faltam no solo do Brasil as matérias primas necessárias para ele alcançar alta posição entre as nações manufatureiras do mundo.

A porção setentrional do Império não difere fisicamente das planícies do norte da Itália em muitos de seus aspectos. Coberta de matas que se alimentam num rico solo aluvial, regada pelo Amazonas e seus gigantescos tributários, é prodigiosamente fértil. A porção meridional é ondulada, às vezes mesmo montanhosa, e dá origem às águas do Rio da Prata. Um dos picos da Serra dos Órgãos ergue-se ao fundo da baía do Rio de Janeiro a uma altura de 7.500 pés.

Pensava-se que esse grande Império, rico em pedras preciosas e em quase todos os metais, desde o ouro até o ferro, inclusive, fosse privado de um produto natural, útil, se não absolutamente essencial, à completa utilização das demais riquezas minerais, que é o carvão; porém uma tal suposição era totalmente errônea, como o demonstraram plenamente recentes investigações.

Um escritor, em número da Quarterly Review, 1860, menciona, passando uma revista na obra Brazil and Brazilians, a existência de jazidas de carvão situadas a umas 40 milhas do mar, na província do Rio Grande do Sul. Era tudo o que se sabia sobre o assunto deste lado do Atlântico até há pouco tempo.

Somos devedores a um nosso compatrício, sr. Nathaniel Plant, de mais amplos informes sobre a posição e os recursos de três diferentes zonas carboníferas por ele estudadas recentemente no sul do Brasil. A maior delas apresenta aspectos de particular interesse, que passamos a resumir para os nossos leitores.

As primeiras notícias desses recursos minerais parece terem sido colhidas por um sr. Guilherme Bouleich, na província do Rio Grande do Sul. Isso parece se ter dado no ano de 1859.

O assunto, porém, caiu no esquecimento até os fins de 1861, quando o sr. N. Plant que, durante vários anos, estudou os distritos minerais do Rio Grande do Sul e outras partes da América do Sul, resolveu proceder a uma mais completa exploração dos distritos carboníferos; acaba ele de enviar a este país, Inglaterra, um relatório dos importantíssimos depósitos de combustível mineral que podem ser explorados, juntamente com esses testemunhos insuspeitos — vistas fotográficas e amostras de rochas. Essas amostras foram apresentadas à Geological Society, de Manchester, pelo seu irmão sr. S. Plant, conservador do Royal Museum, de Salford.

As jazidas de carvão de Candiota são as maiores das três até agora descobertas. Estão situadas entre 31° e 32° de latitude Sul, no extremo da província do Rio Grande do Sul. São atravessadas pelo rio Jaguarão e vários de seus afluentes, ao longo de cujas margens afloram os filões de carvão. Há dois grandes filões de carvão betuminoso, medindo o inferior 25 pés de espessura, e separado apenas por poucos pés de folhelho da camada superior (ou séries de camadas, com 40 pés de espessura).

Em alguns pontos, as faixas intermediárias de folhelho, que dividem a formação carbonífera em distintos leitos, vão se estreitando, filões de carvão betuminoso, medindo o inferior 25 pés de espessura, não ultrapassando, supomos, em dimensões verticais, por nenhuma outra formação semelhante até então descoberta. Temos em mão amostras do carvão; e, embora retiradas da porção exposta, são dificilmente distinguíveis, a não ser pela sua cor levemente pardacenta, do carvão comum da Inglaterra.

As camadas de carvão repousam sobre uma série de folhelhos, arenitos e calcários cristalinos, o todo sustentado por micaxistos e, finalmente, por sienitos.

O ferro também ocorre, como nas formações carboníferas da Grã-Bretanha, tanto sob a forma de faixas de argila-ferruginosa como sob o aspecto de cobertura dos filões de carvão. No topo da elevação formada pelo afloramento dos filões de carvão, ocorre uma massa de minério de ferro silicoso, de várias jardas de espessura, tendo sido exibida na última Exposição Industrial, entre outros produtos brasileiros, uma folha de ferro fundida de material dessa proveniência colhido pelo sr. N. Plant. Assim, ocorrem, muito próximos uns de outros, o minério, o combustível, o solvente e a argila necessários para o estabelecimento de fornos para fundição de ferro.

Os diferentes minérios assim reunidos apresentam-se numa escarpa elevada, que pode ser vista prolongando-se por várias léguas, apresentando as maiores facilidades para a exploração a céu aberto, ou por túneis abertos nos flancos da escarpa.

Do sopé dessa elevação parte uma planície basáltica levemente inclinada, sobre a qual, por um custo muito moderado, se pode construir uma linha férrea que vá ter a um porto sobre o Rio Gonsalo.

Após uma inspeção das plantas fósseis enviadas para este país, Inglaterra, não pode haver mais dúvida, penso eu, de que essas camadas pertençam à idade carbonífera. O sr. Plant remeteu várias amostras de minério de ferro, em que vem impressos visíveis espécimes de Lepidodendrons, e vários fetos não parecidos com os das coal-measures da Grã-Bretanha.

Um especialista, que estudou as coal-measures da Nova Escócia, que são da mesma idade das da Grã-Bretanha, refere-se em carta, que tivemos ocasião de ler, a belos exemplares de Sigilaria e Stigmaria, ambas características desse período. Não vimos, entretanto, exemplares desse gênero na coleção que examinamos; mas nada pode ser mais visível do que as frondes de Lepidodendrons já referidas.

Ainda sobre o mesmo assunto, sou levado a observar que, se bem que pela autoridade do professor M'Coy a idade das jazidas de carvão da Austrália tenha sido considerada como jurássica, as recentes investigações do Rev. W. B. Clarke induzem a concluir pela idade carbonífera dessas camadas.

O sr. Clarke remeteu para a Inglaterra uma coleção de fósseis das jazidas de carvão da Nova Gales do Sul, contendo espécimes de Lepidodendron e Spirifer; dando isso a entender que, durante a mesma época, tão preeminentemente Carbonífera, constituíram-se depósitos de carvão de ambos os lados da linha equatorial, maravilhoso exemplo da uniformidade das atividades naturais nos primitivos tempos geológicos.

A importância desses grandes depósitos de carvão para o comércio do litoral ocidental da América do Sul não precisa ser enaltecida. Atualmente, cerca de 200 mil toneladas de carvão são anualmente importadas exclusivamente pelo porto do Rio de Janeiro, atingindo um custo de 49 shils. por tonelada, sendo outras cidades litorâneas, supridas desse combustível. Uma vez iniciada a exploração das jazidas de carvão de Candiota, o governo brasileiro pode ser suprido por quase metade desse preço, e nossa pequena Ilha ficar livre da duvidosa honra de fornecer combustível para um continente situado do lado oposto do globo.

Edward Hull

RELATORIO SOBRE O CARVÃO DE CANDIOTA

por W. G. GINTY, engenheiro-chefe da The Rio de Janeiro Gas Works.

Sr. Nathaniel Plant.

Prezado Senhor. Recebi e examinei suas amostras de carvão brasileiro proveniente de Candiota com o maior interesse, e sinto-me satisfeito de congratular-me com o sr. pela sua qualidade realmente boa.

As amostras que me remeteu eram pequenas demais para uma análise completa e satisfatória no aparelhamento de que disponho. Verifiquei que as amostras diferem muito em aspecto e qualidade. Isso é devido, sem dúvida, do fato de haverem sido obtidas de pontos desigualmente situados na face quase vertical da imensa camada e de fases diferentes de exposição, o que, devido ao esmigalhamento ou desintegração dos fragmentos sob a ação incessante das intempéries, fez com que as referidas amostras possam ter sido expostas durante períodos que distam uns dos outros como segundos distam de séculos.

O carvão de Candiota assemelha-se muito ao carvão para vapor steam-coal, de Newcastle, o qual ultimamente tem vindo ao nosso mercado, em estrutura, clivagem e aspecto; não difere muito, entretanto, do carvão de Newcastle no que respeita às suas aplicações, exceto por conter mais do dobro da porcentagem de cinza, em detrimento do seu poder calorífico; porém essa desvantagem provavelmente desaparecerá em amostras recolhidas nas partes mais profundas da mina.

O coque do carvão de Candiota difere, todavia, muito em aspecto do do carvão de Newcastle, e aproxima-se do coque de Cardiff (ou do que é aqui vendido como tal) em suas palhetas prateadas.

Certa porção desse carvão de Candiota, porém, especialmente o proveniente dos filões inferiores, é muito friável, e evidentemente pertence à qualidade conhecida por caking coal, isto é, carvão que ferve ou funde-se durante o processo de carbonização; contudo, todas as qualidades de coque do carvão de Candiota são muito boas.

Conforme suas informações, o mergulho ou inclinação dos filões ou camadas desse carvão de Candiota é de 5° sobre o plano do horizonte e penso, portanto, ser razoável esperar uma qualidade superior, mais compacta e homogênea, proveniente de mais baixas profundidades. 5° representa uma rampa de 1 sobre 11,4, ou sejam 8,77%, ou 462 pés por milha.

Assim sendo, em uma tão grande extensão das formações, a julgar pelo que o sr. me informou, julgo haver ampla margem para a obtenção de carvão que não seja apenas superficial, o qual, por óbvias razões, tanto no Brasil como alhures, não pode ser tão puro, compacto e uniforme como o carvão obtido em grandes profundidades. Aguardo o prosseguimento de seus trabalhos nesse sentido com o maior interesse.

Seguem-se os resultados das minhas análises (até onde puderam ser feitas) do carvão de Candiota, tendo as amostras de Newcastle, Cardiff e Wigan Cannel, com que foram comparadas, sido examinadas ao mesmo tempo e nos mesmos aparelhos:

  Peso esp. % coque Pés³ de gás/t

Poder ilum.

Vela Padrão

Carvão de Candiota (média de três qualidades) 1.240 63 6.900 3.000
Id. Id. (filão inferior) 1.230 60 8.198 5.800
Newcastle 1,250 62 -- --
Cardiff 1,275 80 -- --
Carvão para gás (ou Cannel Coal ) (Case & Morris) 1.240 62 9.600 20.500

Pelo aspecto dos filões inferiores, não perco as esperanças de se encontrar um bom carvão para gás para nosso uso no distrito de Candiota, libertando assim a "Brazilian Gas Company" da terrível taxa que tem de pagar de importação da Inglaterra, somada ao imposto de 200 a 300% sobre o custo da matéria prima. Envio-lhe amostras etiquetadas das diferentes qualidades de coque acima referidas.

Sou, etc.,

W. G. GINTY, Mem. Inst. C. E.
Eng. da "Rio de Janeiro Gas Company"

AS MINAS DE OURO DO NORTE DO BRASIL

O ouro se mostra plenamente difundido sob as formas de veios, filões, e depósitos de terras auríferas em vários vales primitivos das montanhas do norte do Brasil. Rios e riachos, carregados de partículas gastas pelas águas do "precioso metal", atestam o fato. Mas, na ausência de capitais e cuidadoso trabalho para a sua extração, o ouro no Norte do país tem a sua exploração limitada a iniciativas privadas ou a tribos indígenas. No Sul do Brasil, na província de Minas Gerais, nas vizinhanças de São João del Rei, as minas de ouro exploradas por companhias inglesas têm sido provadamente as mais lucrativas da América do Sul.

Em 1865, o enérgico brasileiro sr. Jacomo Tasso, de Pernambuco, chamou a atenção dos capitalistas ingleses para as zonas auríferas da Paraíba do Norte, e pouco depois fundou-se uma companhia com a denominação de Tasso Brazilian Gold-Mining Company (Limited), com um capital de £ 200.000 (com capacidade de aumentá-lo), a £ 5 cada ação.

Os diretores da companhia, já de há muito mantendo relações comerciais e de outras naturezas com Brasil, são os seguintes: Charles Capper, Esq., comerciante de Londres, Charles Saunders, Esq., comerciante de Liverpool e Recife, Charles Barber, Esq., de Londres, William Cremer, Esq., de Londres, Edward Johnston, Esq., comerciante de Londres, Liverpool e Rio, Sebastião Pinto Leite, comerciante de Londres, Manchester e Liverpool, e Bonamy Price, Esq., Londres, Diretor da St. John dei Rey Gold Company. (N.E.: Esq. = esquire, título honorífico inglês, mas também usado em contextos formais como forma de cortesia).

A Companhia utilizou-se dos conhecimentos da região e dos terrenos que aí possuía o sr. Tasso, situados esses no coração da zona aurífera da Paraíba, e resolveu empreender a exploração das minas de ouro no Norte do Brasil numa escala e empregando maquinismos tão apropriados que tornarão a empresa da mais imediata e desenvolvida prosperidade.

Em obediência a tal resolução, a Companhia assinou contratos para a exploração das terras de propriedade do sr. Tasso em Piancó, na província da Paraíba, Brasil, terras essas em que oito filões auríferos já foram descobertos, bem como para utilizar dos direitos de exploração e prioridade no interior das províncias da Paraíba e Pernambuco, que acabam de ser concedidos àquele cavalheiro pelo governo brasileiro. Uma concessão imperial para tais fins inclui o direito garantido por quatro anos para explorar o interior das duas províncias no que respeita às riquezas minerais, e desapropriar e explorar uma área de 150 datas, ou sejam aproximadamente 25 mil acres, com possibilidades de conter ouro e outros recursos minerais.

Obtida a concessão, os srs. William Reay e Thomas Andrew, técnicos práticos com experiência nas minas de ouro do Brasil, foram enviados da Inglaterra para as terras do sr. Tasso no distrito de Piancó, banhadas por um dos afluentes do rio Piranhas. Vários veios ricos em ouro foram por eles localizados, e realizaram-se ensaios de certa quantidade de minério com resultados satisfatórios.

Não obstante a necessária imperfeição dos processos empregados numa região como essa, o resultado de 26 ensaios deu uma média de aproximadamente uma onça nove dwt 23 gr. por tonelada do minério, e cinco amostras obtidas de diferentes pontos da mina da "Boa Esperança" continham duas onças nove dwt e 15 gr de ouro por tonelada. Novos minérios extraídos mais tarde deram mesmo resultados mais extraordinários. O sr. Charles Martin, de Londres, referindo-se a estes, escreve: "Envio-lhe junto cópia dos análises por mim feitas do seu quartzo, que é surpreendedoramente rico, e que trarão enorme lucro se a massa total for provadamente da natureza da amostra analisada".

Nº 5 Ouro      3 onças       10 dwt 12 g por tonelada de 20 cwt
  Prata 0 onças 18 dwt 0  g por tonelada de 20 cwt
Nº 6 Ouro 12 onças 5 dwt 15  g por tonelada de 20 cwt
  Prata 3 onças 15 dwt 0 g por tonelada de 20 cwt

Outra amostra analisada pelos srs. Johnson, Matthay & Cia. de Londres, deu.

Ouro - 6,350 onças por tonelada de 20 cwt.

Prata - 4,350 onças por tonelada de 20 cwt.

Em aditamento aos oito filões acima mencionados, dois outros, descritos como ainda mais ricos, informam existir próximos ao centro das terras do sr. Tasso. As razões pelas quais se recomendam as explorações são as seguintes:

1ª - que as províncias da Paraíba e Pernambuco, sobre as quais se estendem os direitos da Companhia, encerram as mais ricas minas de ouro do Império;

2ª - que, além dos veios auríferos, a região contem enorme quantidade de minérios auríferos destacados dos veios, que podem ser aproveitados com pequena despesa;

3ª - que a área já explorada das terras de Piancó é notavelmente favorável às explorações mineiras;

4ª - que as vizinhanças do local são populosas e férteis, o trabalho é barato, e o suprimento de gado, cereais e outros produtos é fácil de se conseguir;

5ª - que uma estrada principal, ao longo da qual é transportada grande parte do algodão exportado por Pernambuco, atravessa a concessão de Piancó;

6ª - que o sr. Tasso transfere para a Companhia não só os seus direitos de exploração e prioridade em todo o território das províncias da Paraíba e Pernambuco, e a concessão de 36 datas, medindo aproximadamente seis mil acres, já obtida em Piancó, como também a absoluta propriedade de todas as suas terras circunvizinhas, avaliadas em cerca de 12 mil acres, bem como construções, materiais, madeiras e todos os direitos daí decorrentes;

7ª - e que, finalmente, um pequeno desembolso de capital parece suficiente para garantir grandes proventos. Se apenas for feita a redução de 50 toneladas de minério por dia, pode-se avaliar que a produção anual, nessa proporção, trará um lucro acima do custo da obra de não menos de 46.500 £.

UM VULCÃO NO SUL DO BRASIL

O capitão Burton, F.R.G.S., cônsul da Inglaterra em Santos, escreveu uma curta porém interessante carta ao Anglo-Brazilian Times, a respeito da descoberta de um vulcão no Sul do Brasil, aproximadamente a meio caminho entre São Paulo e Paranaguá.

"
Sr. diretor: estou descendo de canoa o rio Iguape, neste meu distrito consular, que é denominado, com bastante menosprezo, a Ribeira e, visitando o excelente vigário de Xiririca, M. J. Gabriel da Silva Cardoso, tive ocasião de ler, com surpresa, em seu livro de Registro (Livro do Tombo) a denominação de um lugar em língua tupi ou geral "Vutupoca", que se traduz morro que rebenta.

Na outra margem do rio, que fica um tanto a sudoeste de Xiririca, ergue-se o morro, coberto de árvores cap-à-pié, em forma de cone regular isolado, com um perfil nitidamente vulcânico. A sua face Nordeste é, segundo me informaram, uma escarpa a prumo.

As terríveis chuvas de janeiro de 1866 impediram a minha ascensão no Morro que Rebenta. O resultado, porém, de muitos inquéritos que fiz no local é que há cerca de uns 15 anos atrás, viram-se chamas saindo do morro, sendo o fenômeno acompanhado por explosões e rugidos que se estendiam ao longo da margem até à serra oposta do Bananal Pequeno.

O sr. receberá novas notícias minhas, eu espero. Se essa notícia de um vulcão adormecido no Sul do Brasil venha a ser confirmada por rigorosa exploração, não será uma descoberta de pequena valia no ponto de vista geográfico. As presentes linhas, caso eu não consiga levar avante o meu projeto, talvez possam induzir alguém em melhores condições de empreender a tarefa. Ainda não faz meio século, conforme o sr. está lembrado, que os cientistas da Europa declararam não haver formações vulcânicas, e com certeza nenhum vulcão, neste grande Império.

Sou, Ilmo. Sr., seu servo obediente,

RICHARD F. BURTON, F. R. G. S.
Hotel Milton, Santos, Brasil."


[*] Nota do tradutor:

Suprimiram-se apêndices sobre Exportação (Dados Estatísticos)