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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - O "Vulcão" - BIBLIOTECA NM
Martins Fontes (13-II-11)

Clique na imagem para voltar ao índice da obraO livro Martins Fontes, do escritor e historiador Jaime Franco, foi publicado em agosto de 1942, tendo sido composto e impresso nas oficinas da Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais Ltda., da capital paulista, com capa produzida por Guilherme Salgado.

 

A obra faz parte do acervo de Rafael Moraes transferido à Secretaria Municipal de Cultura de Santos e cedida a Novo Milênio em fevereiro de 2014, pelo secretário Raul Christiano, para digitação/digitalização (ortografia atualizada nesta transcrição - páginas 183 a 190):

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Martins Fontes

Cavaleiro do Amor

Cavaleiro da Arte

Cavaleiro do Ideal

Jaime Franco - SANTOS - 1942

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II – CAVALEIRO DA ARTE

11

João Luso sempre vinha a Santos para visitar Martins Fontes, em quem encontrava a mais afetuosa e fraternal hospitalidade. Fui testemunha desse afeto puro, imortal, que enlaçava duas grandes inteligências e dois grandes corações, há mais de quarenta anos. João Luso era o amigo veterano de Martins Fontes.

Para que tamanha amizade se perpetuasse e não ficasse soterrada pela ingratidão, Martins Fontes consagrou-lhe as canções do seu vergel, a mancheias, toda a produção do outono da sua vida, como prova da intimidade tão velha quanto fiel, para que João Luso bendissesse, à sombra do passado e da saudade, a paz doce daquele jardim.

Martins Fontes lhe ofereceu a colheita de noventa dias, a frutificação, a apanha dum pomar pobre e selvático, porque João Luso foi, na vida, o seu primeiro mestre e, em Arte, o seu primeiro Irmão. Martins Fontes sempre louva a bondade de João Luso que vê tudo pelo coração, perdoa, esquece, condescende, ama, vive contente, espalha o bem insensível e, naturalmente, alivia, consola, persuade e nasceu bom, tal qual a flor possui o privilégio de concentrar a suavidade no aroma.

Em certo dia de fins do século passado
(N.E.: século XIX, portanto), desembarcaram no Rio de Janeiro, vindos no vapor Brésil, numerosos emigrantes portugueses. No meio dessa gente humilde que buscava o Brasil, onde granjeasse subsistência ou pecúlio, veio um rapazola que apresentou ao funcionário da polícia marítima um passaporte com nome áspero de se pronunciar: Armando Erse. Alto e elegante, ostentava cabeleira farta, rosto fino e longo onde cintilavam lépidos e atrevidos olhos castanhos claros. Olhava, do navio, cheio de esperança, a cidade que o esperava para trabalhos e desilusões. Distinguia-se de todos pelo traje e pelo trato gentil. Sonhos dourados o tinham obrigado a abandonar a terra natal.

Lá longe, para além da linha do horizonte, ficava Portugal dos seus amores, continuando a gloriosa trajetória, através de séculos e séculos, na grandeza de feitos imortais e no resplendor dos homens de gênio; ficava a Louzã onde nasceu a 12 de junho de 1875, com a serra em que a neve, no inverno, branqueja e enregela os castanheiros, as cerejeiras, as pereiras, ameixeiras e macieiras, quase desnudas da folhagem aconchegadora, permanecendo viçosos os pinheiros e as tristes oliveiras com as copas "cor de esmeralda fosca por cima, por baixo cor de prata", a se confundirem com melancólicas e apagadas azeitonas que dão "o óleo bendito que alumiou séculos e milênios de vigílias humanas", depois da apanha nos dias friorentos de dezembro; ficava lá o candeeiro de três bicos, de "bojo abolachado", cheio de penduricalhos – o espevitador, o recipiente para os morrões, o gancho para puxar a torcida, a campainha para asfixiar a chama – que iluminou a mesa de pinho onde ele estudava, tirava significados de francês e de latim, e, aos seus bruxuleios, decorava as divisões inumeráveis da botânica, resolvia os problemas de álgebra, e acabava adormecendo sobre os compêndios; ficava o caldeirão onde ferviam "o bacalhau bem claro e hortaliças bem frescas" que passavam para tigelas redondas e pesadas, com arabescos, desenhos e flores em azul, nas quais a sua Mãezinha "deitava o azeite saboroso duma almotolia com asa meio torta, o bico um tanto amassado"; ficavam os serranos que moram em lugarejos remotos, isolados na montanha, em imensas charnecas onde só a urze, a carqueja e o cardo conseguem medrar, todos vestindo saragoça espessa e fragosa sobre a camisa de estopa aberta no pescoço em grandes abas como os chapéus imensos, e de marmeleiros ferrados "que podiam servir de trancas a uma fortaleza"; ficavam suas santas tias, Adelaide e Hipólita, que aturaram tantas travessuras e choros animados, e o trataram, ternas e bondosas, do sarampo no primeiro dia que o sobrinho já espigado foi à aula, e pelo tempo que começou a mudar os dentes; ficavam a carinhosa criada Maria do Vitorino, os amigos da infância e outras tantas recordações, agora saudosas e que não voltam mais…

Deixou tudo e adotou nova Pátria onde cresceriam esperanças dum futuro róseo e alegre. Perambulou pelo rincão paulista e, ao domínio do encantamento em que vivia quando viu lha aparecer, em noite de sonho venturoso, a Beleza, para sempre ficando pálido e triste, como no-lo cantou Antero do Quental, abandonou a carreira do comércio na qual os seus conterrâneos, emigrantes tal qual ele, encontrariam fortuna ou desventura.

Em Santos, um dia, ignorando os seus mistérios, bebeu água do Itororó que, como no-lo versificou Martins Fontes, por artes do Capeta, nos escraviza à terra,

…….. porque a linfa encerra
Sortilégios diabris, tentações do coró!

E concentra feitiço, entre vários encantos,
Pois jamais poderá viver fora de Santos
Quem um dia bebeu água do Itororó!

Armando Erse, contrariando os desígnios da bruxaria, abalou de Santos e foi se inebriar com o mais empolgante dos venenos que o Brasil produz, para enlaçar, nos cipós das emanações, o corpo e a alma dos que lhe pisam o solo uma só vez que seja: a cariocinina!

Quem o aspirou algum dia,
Por descuido,
Jamais esquece a magia
Desse fluído…

Disse Martins Fontes.

Armando Erse assentou tenda no Rio, mas nunca pôde esquecer Santos. Na terra augusta de Braz Cubas, berço de civilização e fonte de grandeza e glória, no dizer do próprio Armando Erse, decorreu fugidio um período da sua mocidade, do qual guarda indeléveis recordações. Aqui principiou a carreira das letras e se estreou no jornalismo, amando a Arte sobre todas as coisas, enchendo-se de coragem para talvez morrer de fome sem macular o talento, como aconselharia Olavo Bilac se algum escritor lhe pedisse conselhos.

Em Santos, terra deslumbrante e bem-aventurada, ele encontrou uma geração de sonhadores – poetas, literatos, artistas – quem, num meio hostil de atividades comerciais, cultivava o simbolismo nebuloso, e com os quais convivia sob o teto paternal de Heitor Peixoto, a Ilha do Abrigo, o Diário de Santos. Ali, com João Luso e Rouède, trabalhou José Baptista Coelho (João Foca) que depois se firmou escritor brilhante, humorista, teatrólogo, folhetinista, e que tinha a mania de andar de bicicleta.

No tempo de empregado do comércio, tinha Armando Erse, para evitar a censura ou a desconfiança dos patrões, adotado para os seus trabalhos literários o pseudônimo de João Luso, caracteristicamente português, pela vantagem de lembrar-lhe os Joões serranos e a Pátria de origem.

Há bastantes anos, acompanhei com interesse a carreira literária de João Luso, através de obras opulentas e preciosas, livros de contos, crônicas, críticas de arte, traduções, as suas famosas dominicais do Jornal do Comércio, folhetins e livros sobre o Brasil que lhe dão o direito de se proclamar escritor brasileiro. Ele é um verdadeiro exemplo dos que se reconhecem com inclinação à vida intelectual, em qualquer aspecto das modalidades de jornalista, escritor, polígrafo, crítico, comediógrafo.

A imprensa foi a primeira atração de João Luso, e com este pseudônimo afogou na obscuridade o nome de batismo – Armando Erse. Jamais abandonou o nome de guerra e de tal modo que todos se esqueceram do outro. João Luso é hoje adorado no Brasil, porque aqui viveu e viverá na sua Pátria adotiva. Tanto se afeiçoou a ela que já não encontra maneira de abandoná-la.

Sou obrigado a ponderar que a atuação de João Luso na literatura nacional foi, é e será de maravilhosos feitos para a orientação espiritual das novas gerações. Criou na cidade de Santos imorredouras amizades. Militou na imprensa, no glorioso Diário de Santos, ao lado dessa geração brilhantíssima de intelectuais santistas. Relacionou-se com Martins Fontes quando este trauteava os primeiros versos revolucionários com as armas dos parnasianos para lutar contra o sentimentalismo piegas dos românticos. Ambos viveram as horas mais belas da mocidade, em Santos e no Rio de Janeiro, na mais refulgente boemia literária, em companhia de Olavo Bilac e Coelho Neto.

Dos santistas, lembro de fugida, sem pretender citar a todos, os nomes de Baptista Coelho (o João Foca), Gastão Bousquet, Francisco Martins dos Santos, Emile Rouéde, Juquinha e Mimi Alfaia, Carlos e Carlitos Afonseca, Martins Junior, Isidoro de Campos, Artur Bastos, Avelino Brasiliense Carneiro, Ângelo Sousa.

Alongar-me-ia se historiasse saudosas ocorrências da vida de Santos,naquela época remota, quando a cidade se circunscrevia ao bairro comercial, onde, no entanto, ao lado do movimento de negócios, havia esse grupo de moços estudiosos que se entregava aos jogos florais, para que se atenuassem as agruras dum dia inteiro dentro duma loja, escritório, oficina ou armazém.

No evolver de tantos anos, Santos progrediu e se embelezou, continuou as tradições desse passado glorioso, deu ao Brasil alguns filhos dos mais ilustres, manteve a fama de geratriz de poetas em fantástica contradição dum ambiente rebelde às criações do belo.

E desfilam aos nossos olhos as figuras de Joaquim Xavier da Silveira, Vicente de Carvalho, Ângelo e Alberto Sousa, Fábio Montenegro, Paulo Gonçalves, Ribeiro Couto, Afonso Schmidt, Freitas Guimarães, Mariano Gomes, Álvaro Augusto Lopes, Cid Silveira, Henrique Montadon, Tito Marcondes, Valenciano de Menezes, Galeão Coutinho, Heitor de Morais, Agenor Silveira, Valdomiro Silveira, Octávio Veiga, Arquimedes Bava, Nicanor Ortiz, Manoel Moreira, Francisco Martins dos Santos Jr.

E tantos outros escritores e poetas que honram a minha terra e sobre todos, o maior, gênio incomparável de artista, o pensador, o fulgurante e maravilhoso Martins Fontes.

Em Santos, viveram e vivem estes talentosos intelectuais que na imprensa, na maioria, afirmaram os seus dotes e recursos de letrados. Todos enobreceram, com as suas inteligências cultas, a Cidade de Santos; todos cooperaram para a grandeza cultural da minha terra, sob o ponto de vista literário; por si sós, bastariam para encher uma academia ou um instituto.

Santos muito contribuiu para a literatura nacional, apesar de não se comparar aos grandes centros intelectuais do Rio de Janeiro e de São Paulo, donde se irradia a fama dos que almejam louros e glórias, e sentem o horror da obscuridade na província. Mas alguns nomes passaram além da Serra do Mar e foram admirados pelo Brasil inteiro.

João Luso voltou a Santos por artes do Capeta, muitas vezes. Nestes últimos anos, a obra de João Luso, toda em prosa, avolumou-se à custa do trabalho diário e esforçado na imprensa que esteriliza as vocações ou aperfeiçoa os estilos. Nas horas ociosas dos interregnos de trabalhos fatigantes, ele escrevia novelas, folhetins, crônicas, delicados poemas em prosa rítmica, de harmonia cantante, sob ruidosa simplicidade.

Desde os Contos da minha terra ao Vocês, os criminosos, que longa estrada ele percorreu para conseguir a fama de eminente escritor! Muitas páginas dos seus livros ficarão imortais nas antologias de literatura, porque soube descrever e contar, em língua portuguesa, com perfeição, a vida tumultuosa das cidades da minha terra, as suas paisagens e costumes, assim como descobrir, nos recônditos da subconsciência, sentimentos e paixões, dores e alegrias, enfim toda a nossa vida psíquica.

Ao lado do estilo característico e inconfundível de João Luso, encontramos profunda melancolia que parece mistura de saudade e sonho, o mesmo sentimento romântico de António Nobre.

São notáveis as crônicas semanais e algumas diárias que se publicam nos jornais e revistas do Rio de Janeiro, onde o admiram e adoram. Cultiva magistralmente o dificílimo gênero literário – o diálogo, de que nos deu um livro belo – Alegria e Ternura, tecendo intrigas, ora deliciosas, ora dolorosas, sobre fatos da semana que mais sensibilizaram o seu coração de poeta, procurando, da mesma forma que quando viaja e observa as paisagens e as cidades de outras terras, "ver o mundo da melhor maneira, isto é: surpreendendo-lhe apenas as feições amáveis".

É sempre com verdadeiro prazer que assistimos ao aparecimento dos seus livros, como Histórias da vida, Ao Sol e à Neve, O amor, tragédia e farsa, Comédia Urbana, Reflexos do Rio, O despenhadeiro, Contos de Natal, Terras do Brasil, Viajar, Ares da Cidade, Os animais, vossos irmãos. É uma série de sucessos literários a encher-nos de alegria as estantes, e a iluminar-nos o espírito como as chamas daquela candeia de três bicos a consumir o azeite da Serra da Louzã.

João Luso, figura singular das letras luso-brasileiras, equidista-se de românticos e realistas, mas, igual a tantos outros confrades ilustres, cultua a arte de Eça de Queiroz e dedica ao mestre toda a sua veneração, sem no entanto se refletir em sua obra a influência desabusada daquele notável romancista.

Contudo, a geração de João Luso foi idólatra de Eça, muitos procuraram seguir o mesmo estilo, notando-se que alguns dos nossos escritores foram inconscientemente verdadeiros revolucionários do estilo moderno, simples, positivo. Mas João Luso formou estilo próprio, e representa o mais surpreendente exemplo de homem de letras que vive das letras e para as letras. Foi no labutar diário, no preparo noturno dos gêneros mais variados, que João Luso moldou, trabalhou, afeiçoou o estilo, por meio de frases simples, sonoras, coloridas. O som e a cor deslumbram, desde moço, a sua exuberante imaginação de artista.

Durante os longos anos de imprensa no Brasil, João Luso, como bom sargento de regimento, conduziu os galuchos das letras nos exercícios bélicos das campanhas políticas e literárias. Assistiu a cenas empolgantes de heroísmo de alguns soldados, assim também, dolorosamente, ao baquear de muitas esperanças moças. Sendo português de nascimento, João Luso se arraigou à nossa terra e aqui ficou dentro das trincheiras para a luta…

João Luso ainda é um forte esteio do intercâmbio intelectual luso-brasileiro. A sua entrada para a Academia Brasileira de Letras, na qualidade de sócio correspondente, foi o elo que une duas literaturas e duas Pátrias, possuidores do mesmo idioma, a maravilhosa língua portuguesa, ambas enriquecendo-a de novas joias que aumentarão o patrimônio filológico; foi um ato de justiça e uma consagração ao escritor luso-brasileiro, com direito absoluto de poder sentar-se numa cadeira de imortal ao lado do eminente Filinto de Almeida, porque João Luso é mais brasileiro que português, conquanto jamais quisesse renegar a sua nacionalidade.

O nome de João Luso será imperecível. Ele simboliza um traço de união entre dois povos que anseiam perpetuar o sentimento da Latinidade no mundo inteiro, cooperando para a grandeza e para a cultura imortais da futura Humanidade!
João Luso há anos esteve em Santos. Não se contam, portanto, as vezes que a nossa terra o atrai, por artes do Capeta!, porque bebeu água do Itororó. No Real Centro Português, a 20 de julho de 1935, João Luso pronunciou uma das suas notáveis conferências, evocando a terra portuguesa em sua história, paisagem e costumes, e os tempos de antanho em Santos com os seus tipos da época e as anedotas que os tornaram lendários.

Devia saudá-lo, nessa ocasião, Martins Fontes. No entanto, nas vésperas do sarau literário, ocorreu em Santos horrorosíssima tragédia com um amigo jovem, que pereceu. Martins Fontes, abaladíssimo, transtornado, causando apreensões a sua emoção, provocada pelos gritos de horror e soluços do seu irmão Velsírio, amigo íntimo do jovem, mal podendo também conter as lágrimas, não se sentiu com forças para saudar o amigo e mestre idolatrado.

Nessa trágica noite, encontrava-me em casa de Martins Fontes para a habitual palestra, revisão e leitura de trabalhos literários. Então, Martins Fontes me encarregou, a mim o seu mais obscuro e humilde discípulo, de substituí-lo naquele instante doloroso, lendo no sarau do dia seguinte no Real Centro Português as palavras sagradas e imortalizadoras do gênio de João Luso nesta oração:

"A graça da terra portuguesa e a bondade da sua gente, João Luso encarna. João Luso é bom como esse famoso vinho do Porto com que, nesta querida casa, o sr. Francisco Bento de Carvalho nos delicia, cordial que se bebe com a língua no quinto céu da boca e revirando os olhos para o céu.

"João Luso é Irmão subjetivo de Aristides Correia da Cunha, alma de gentil-homem perfeito, coração boníssimo a quem toda a cidade de Santos deve a mais grata das homenagens, e que Joaquim Sebastião Santos costuma dizer que só de duzentos em duzentos anos Portugal oferece ao Brasil, como prêmio de muito amor. A vida tem momentos de ouro.

"Agora estou sentindo uma destas horas, raras e doces de ventura. Revejo em minha terra o meu amigo que foi o meu primeiro Mestre. Agradeço aos deuses. Nesta visita, faz-lhe companhia a flor que lhe perfuma e encanta a existência, dona Lídia de Armando Erse, sua senhora e dona, e dona e senhora do nosso afeto, cuja mão puríssima beijamos como a um lírio.

Corpo e alma

Armando Erse é o batismo romanesco
Do Senhor da Louzã! Poeta e Morgado!
Nesse nome, num límpido arabesco,
Fulge a glória de um Príncipe encantado!

Ele é João Luso! Herói trovadoresco,
Exímio artista ou mágico letrado,
Pintor de Portugal que, em parentesco,
É de Camões herdeiro enamorado!

Armando Erse é o seu corpo, a clara imagem
Do paladino, rebrilhante pajem
Que num soneto-espelho reproduzo!

Mas, por bênção e graça do Destino,
A alma esplendente do seu ser divino
É o coração da Terra de João Luso!
"