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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - POETA DO MAR
Vicente de Carvalho (10)

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Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, em 3 de maio de 2008, página D-3:
 


Com a primeira edição prefaciada por Euclides da Cunha, Poemas e Canções, de Vicente de Carvalho, está completando 100 anos

Imagem publicada com a matéria

VICENTE DE CARVALHO

Poemas e Canções completa 100 anos

Considerado a obra mais significativa do poeta, o livro pode ser encontrado em bibliotecas santistas

Ronaldo Abreu Vaio

Da redação

O livro Poemas e Canções, de Vicente de Carvalho, está completando 100 anos. Com uma primeira edição prefaciada por Euclides da Cunha, a obra é considerada a mais significativa do poeta santista e um marco de sua popularidade nacional à época.

Uma popularidade que, infelizmente, parece não ter resistido ao tempo. "É uma pena que não seja muito lembrado ela crítica", diz Edson FLorentino José, professor de Literatura da Unimonte. "Ele é dono de uma obra singular, de difícil classificação, pois, apesar do vínculo com o Parnasianismo, encontra-se um caráter romântico em muito de sua poesia".

O romantismo está, sobretudo, na temática dos poemas, que abordam a metafísica, por exemplo. "Em O Pequenino Morto, de Poemas e Canções, a inspiração é a morte, tema muito caro ao Romantismo".

A junção de Parnasianismo e Romantismo é a característica principal do Simbolismo. Vicente de Carvalho seria, então, um simbolista? "Tampouco se encaixava totalmente nisso", diz o professor. "Sua poesia é única, de forte apelo popular, e conseguiu atingir um grande público".

O ápice foi, justamente, a obra que completa um século este ano. "Poemas e Canções ultrapassa as visões que predominavam à época".

Essa dificuldade de classificação é apontada por Florentino como a possível causa do esquecimento atual. "Há, inclusive, muitos críticos que o colocam no Parnasianismo, junto com a tríade Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia".

A própria Cidade, segundo Florentino, deveria se voltar mais para a obra do poeta que tanto a decantou em seus versos. "Há nome de rua, estátua, mas não se vêem movimentos de preservação à memória dele, à sua obra. Gente que mora na Av. Vicente de Carvalho não sabe quem ele foi", sorri.

"A mudança poderia vir dos bancos escolares, se sua obra constasse nos currículos. Como professor, me preocupo em incluí-lo no curso, também por sua ligação com a região".

DESTAQUE

Vicente de Carvalho foi o primeiro santista a integrar a Academia Brasileira de Letras, tendo tomado posse da cadeira 29, que fora de Artur Azevedo, em 7 de maio de 1910

 

Cartilhas - Mas nem sempre foi assim. Segundo o poeta e editor da revista Mirante, Valdir Alvarenga, a popularidade de Vicente de Carvalho já foi tão grande que poemas seus constavam das cartilhas escolares, pelo Brasil inteiro.

Alvarenga também revela que quem criou o epíteto Poeta do Mar foi Euclides da Cunha, no prefácio de Poemas e Canções.

"Ele cantou o mar como poucos", diz o editor, que, assim como Florentino, crê que Vicente de Carvalho foi além, não só na poesia, mas também na vida pública. "Se Santos hoje tem jardins à beira-mar, deve isso a ele".

Em 1921, quando o então presidente Epitácio Pessoa esteve em visita à Cidade, Vicente de Carvalho intercedeu para que a área da orla fosse doada ao povo. "Ele tinha receio de que acabasse urbanizada e aberta para a instalação de estabelecimentos comerciais".

Sobre a poesia de Vicente de Carvalho, Alvarenga conclui: "Ele ultrapassou classificações. Cantou a sua raiz, com simplicidade. E a simplicidade é eterna".


Florentino...
Foto: Douglas Aby Saber, publicada com a matéria


...e Alvarenga reclamam o devido reconhecimento ao Poeta do Mar
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Escritor também foi político e magistrado

O jornalista, político, magistrado e escritor Vicente Augusto de Carvalho nasceu em Santos, em 5 de abril de 1866, e morreu em São Paulo, em 22 de abril de 1924.

Cursou o primário na Cidade e aos 12 anos seguiu para a Capital, onde estudou no Colégio Mamede, no Seminário Episcopal e no Colégio Norton. Aos 16 anos, matriculou-se na Faculdade de Direito, terminando o curso em 1886, com apenas 20 anos.

Republicano ferrenho, integrou o Diretório Republicano de Santos. Em 1891, foi eleito deputado ao Congresso Constituinte do Estado. Um ano depois, foi escolhido para a Secretaria do Interior, cargo que ocupou até 1896. Mudou-se então para Franca, onde se tornou fazendeiro.

Em 1901, de volta a Santos, passou a se dedicar à advocacia, que novamente o levou a São Paulo, em 1907, quando foi nomeado juiz de direito. Em 1914, passou a ministro do Tribunal de Justiça do Estado.

Em paralelo, Vicente de Carvalho dedicou-se à Literatura e ao Jornalismo durante toda a vida. Em 1889, foi redator do Diário de Santos e fundou, também aqui, o Diário da Manhã. Em 1905, abriu O Jornal. Também foi colaborador de O Estado de S. Paulo e de A Tribuna.


DESTAQUE - As bibliotecas Municipal Alberto Souza e da Sociedade Humanitária (ambas, à Praça José Bonifácio, 78) possuem vários exemplares de Poemas e Canções, de diferentes anos e edições. O da foto acima é um exemplar de 1908, com uma dedicatória do próprio autor para Silvério Fontes, pai de Martins Fontes
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Bibliografia:

Ardentias (poesia - 1885)

Relicário (poesia - 1888)

Rosa, Rosa de Amor (poesia - 1902)

Poemas e Canções (poesia - 1908)

Verso e Prosa (poesia e um conto - 1909)

Versos da mocidade (poesia - 190)

Páginas Soltas (poesia - 1911)

A Voz dos Sinos (poesia - 1916)

Luizinha (contos - 1924)

TRECHO:

A inspiração de um poeta é como solo inculto

Que à toa se abre em flor:

Todo este turbilhão de idéias em tumulto

Que, nem sei por que, rimei com tanto ardor,

Veio-me de ter visto

Pela janela do meu quarto de doente

Que maravilha?

Isto:

Um trecho muito azul de céu alvorecente;

um pedaço de muro engrinaldado de hera;

e, resumo feliz de toda a primavera,

Ao leve sopro de uma aragem preguiçosa

O balanço de um galho embalando uma rosa...

Da terceira parte de De Manhã, poema do livro Poemas e Canções


Estátua e nome de rua não ajudam a divulgar o poeta entre os jovens
Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria

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