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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Hamleto Rosato


Jornalista, escritor, Hamleto Rosato foi o criador do primeiro suplemento infantil na imprensa latino-americana, em 1960: A Tribuninha. Entre suas muitas publicações, escreveu As aventuras de Patolo e Patilda, que autorizou Novo Milênio a publicar pela primeira vez na forma digital. No dia seguinte ao seu falecimento, na edição de segunda-feira, 6 de outubro de 2008, o jornal santista A Tribuna destacou, nas páginas A-14 e A-15:
 


DESPEDIDA - JORNALISMO PERDE HAMLETO ROSATO - Funcionário mais antigo de A Tribuna, o jornalista Hamleto Rosato morreu às 4h20 de ontem, aos 94 anos, devido a complicações de uma insuficiência cardíaca. O enterro foi realizado também ontem no Cemitério do Saboó. Amigos destacaram o profissionalismo e o caráter de Hamleto.

Foto: Davi Ribeiro, em 3/5/2006, publicada com a matéria, na primeira página do jornal

ORGULHO - A Tribuninha foi a grande criação de Hamleto Rosato no jornal. O suplemento era o maior orgulho de Tio Leto, como era conhecido

ESPECIAL - Despedida

Adeus, Tio Leto, sentiremos saudades

Hamleto Rosato faleceu ontem, aos 94 anos, deixando em luto a família A Tribuna

Stevens Standke e Jossé Luiz Araújo

Da Redação

Funcionário mais antigo do Sistema A Tribuna de Comunicação (SAT), o jornalista Hamleto Luigi Pasquarelli Di Rosato faleceu às 4h20 de ontem, aos 94 anos, devido a complicações de uma insuficiência cardíaca. Seu corpo foi velado na Santa Casa de Santos até as 16h30, com a presença de parentes, colegas de trabalho e autoridades. Em seguida, foi levado ao Cemitério do Saboó, para ser enterrado na campa da família Pasquarelli.

Tio Leto, como ficou conhecido nos tempos de A Tribuninha, não temia a morte, como revelou em entrevista publicada em 3 de fevereiro: "Por que vou ter medo de morrer? Apenas estou procurando acertar minhas contas direitinho, para merecer mais regalias do que tenho aqui na Terra. Quero melhorar, quero subir".

Espírita, ele comentou, durante a comemoração dos 114 anos de A Tribuna, em 26 de março, que em breve faria companhia a Roberto Mário Santini, que foi diretor-presidente do Sistema A Tribuna de Comunicação e faleceu em 2 de janeiro de 2007. Dito e feito. Em julho, Hamleto começou sua batalha contra a insuficiência cardíaca. Depois de ficar um período internado, foi liberado para continuar o tratamento em casa.

No fim de setembro, começou a ter crises de falta de ar, que o levaram novamente à internação, no dia 30. Na última sexta-feira, precisou ser levado à UTI da Santa Casa. Na madrugada de ontem, faleceu devido aos reflexos do problema cardíaco nos demais órgãos.

Grandes paixões - Companheira de Hamleto há 12 anos, Zilma de Souza Ares aparentava tranqüilidade durante o velório - comportamento predominante entre as pessoas que foram até a Santa Casa dar adeus ao amigo. Segundo ela, o jornalista, que não teve filhos, tinha "um fôlego fora de série" e sempre deixou claro o quanto amava o trabalho em A Tribuna.

"Ele era tão apaixonado pelo jornal que eu até sentia um pouco de ciúme. Era uma dedicação em tempo integral. Chegou a fugir duas vezes do hospital para ir trabalhar. E guardava todos os documentos em sua sala, no 5º andar".

Um dos parentes mais próximos de Hamleto era seu afilhado, Júlio Hamleto Rosato, que recebeu esse nome justamente em homenagem ao padrinho. Em suas lembranças, a característica marcante do jornalista era se preocupar sempre com quem estava ao seu redor. "Ele era muito bom, se interessava pelos outros". A sobrinha, Elza Bittencourt Paiva, classifica o tio como um porto seguro. "Podíamos contar com ele para tudo".

Muito emocionado, Milton Teixeira, chanceler da Unisanta, lembrou da amizade de mais de 50 anos com Hamleto e de sua dedicação ao trabalho. "Ele sempre passava na universidade para conversar comigo, mas não se demorava. Dizia que não podia chegar atrasado. A Cidade perde um homem que sempre lutou por ela".

Número

5 coroas

de flores homenagearam Hamleto Rosato. Foram enviadas por sua família, pelas famílias Santini e Teixeira, por funcionários de A Tribuna e pelo prefeito João Paulo Tavares Papa

 

Despedida - Doze badaladas anunciaram a chegada do corpo de Hamleto Rosato ao Cemitério do Saboó. A tarde estava fria e cinzenta, como a emoção das cerca de 30 pessoas que foram lhe dar adeus.

Não havia comoção, talvez por conta da espiritualidade do Tio Leto, para quem a vida era um rito de passagem. No ar, uma tristeza respeitosa e a certeza de que ele fez valer cada momento. Foram enaltecidos seu patriotismo, civismo, a lealdade, a paixão pelo jornalismo e por A Tribuna.

Junto ao jazigo, Hamleto foi homenageado com a voz de José Ferreira Júnior, que cantou Creio em Ti, uma de suas músicas preferidas.

A cerimônia foi rápida e simples, mas carregada de significados. Gilberto Ruas, que foi gerente comercial de A Tribuna e muito amigo de Hamleto, resumiu o sentimento de todos: "A Cidade perde uma parte viva da sua história".


A cerimônia rápida e simples foi marcada pela espiritualidade e por uma tristeza respeitosa. Amigos enalteceram sua lealdade e espírito cívico

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Um funcionário que se tornou amigo e conselheiro de todos

Uma pessoa querida, especial, que incorporou A Tribuna e a Cidade em sua vida, e que jamais se afastou dos princípios básicos do bom jornalismo. Assim define a diretoria de A Tribuna, para quem Hamleto Rosato foi mais do que um funcionário: foi amigo e conselheiro.

"Ele sempre teve muito orgulho de pertencer à família A Tribuna. Tinha muita ligação com todos nós desde que começou no jornal e sua relação com o Roberto (Roberto Mário Santini, diretor-presidente falecido em 2007) era de amizade e lealdade marcantes. Ele viu meus filhos crescerem e os tratou como filhos também", disse, de Roma, Regina Clemente Santini, presidente do Conselho Diretor de A Tribuna.

Para os diretores do jornal e da TV, a ligação com Hamleto remete aos tempos da infância, já que todos o conheceram ainda pequenos. Para eles, o jornalista foi sempre o Tio Leto.

"Meus primeiros contatos com o jornal foram através do Tio Leto. Eu ficava em sua sala ouvindo suas histórias. O carinho que tínhamos por ele vinha da época do meu bisavô (Manuel Nascimento Jr./1909-1959), passou pelo meu avô (Giusfredo Santini (1959-1990) e pelo meu pai. Para mim, ele será sempre o Tio Leto", lembra Marcos Clemente Santini, diretor-presidente de A Tribuna, que esperava contar com a presença do tio no relançamento de A Tribuninha, em fase de projeto editorial.

Idéias e idéias - Nem mesmo a idade avançada e os problemas de saúde impediam o jornalista de expor suas opiniões, dar novas idéias e fazer suas exigências. "Sempre que nos encontrávamos ele vinha analisar alguma coisa do jornal, discutir o que achava que devia ser melhorado. Vai ficar um grande vazio", disse, com tristeza, o diretor-presidente da TV Tribuna, Roberto Clemente Santini.

"Sua sala era um santuário dentro do jornal. Ali ele recebia as mensagens espirituais, seus amigos, os colegas de trabalho e até leitores que viam nele um símbolo de Santos e do jornalismo local", completa Roberto.

Na memória de Flávia Clemente Santini, diretora de Circulação, que também passou a infância convivendo com aquela figura sempre presente na Redação, a imagem que vai ficar é de um funcionário leal e cheio de bons sentimentos. "Me chamava atenção ele vir sempre impecável, de terno e gravata. Dizia que um bom repórter deve estar sempre pronto para a entrevista, fosse ela com uma pessoa simples ou com uma autoridade".

Desenhos - "Até hoje ele tem desenhos meus guardados na sua sala. Tenho dele a imagem de uma pessoa bem humorada, sempre disposta ao trabalho. E impecável na aparência, sempre muito impecável".

Para Renata Santini Cypriano, diretora de Marketing, o exemplo que fica é de alguém que vivia o jornalismo de forma intensa e apaixonada. E de alguém que sabia usar o jornalismo em benefício da comunidade.

Roberto Antônio da Costa, diretor administrativo, conviveu com Hamleto em diversas fases de A Tribuna, e lembra que sua vida na empresa começou pelo parque gráfico, como auxiliar de mecânico.

"Dificilmente encontramos um funcionário tão leal. Ele soube conquistar seu espaço, sua credibilidade, o respeito de todos. Deixa um vácuo muito grande no quadro de A Tribuna. Era uma referência do jornal e do próprio desenvolvimento da região".


A antiga máquina de escrever o acompanhou nas últimas reportagens

Foto: Luigi Bongiovanni, publicada com a matéria


Na sala do quinto andar de A Tribuna, ele escrevia e se concentrava para receber mensagens espirituais

Foto: Luigi Bongiovanni, publicada com a matéria


EMPENHO

Uma vida de amor ao jornal

Desde criança, o futuro jornalista já se dedicava ao trabalho com seriedade e paixão

Rosilene Flud

Da Pesquisa

Hamleto Luigi Pasquarelli Di Rosato nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 20 de junho de 1914. Um dos oito filhos do alfaiate Casemiro Di Rosato e de Thereza Pasquarelli Di Rosato, veio menino para Santos, e com 11 anos começou a trabalhar em A Tribuna, onde permaneceu e teve a oportunidade de acompanhar as quatro gerações da família Santini, que dirige o Sistema A Tribuna de Comunicação (SAT).

A relação de amizade entre Hamleto e a diretoria da casa sempre foi destacada com orgulho pelo jornalista, que teve em A Tribuna o seu primeiro e único emprego.

Durante entrevista concedida ao caderno especial em comemoração aos 110 anos do jornal, Hamleto revelou ser um apaixonado pela profissão, à qual dedicou-se quase que exclusivamente. "Me casei com A Tribuna. O jornal foi meu primeiro amor, que permanece até hoje".

Coringa - Começar a trabalhar ainda menino não o impediu de continuar os estudos no Colégio Tarquínio Silva. Conciliou a escola com o trabalho noturno na oficina rotativa do jornal. Três anos depois, estava na revisão, função hoje extinta nas redações. A convite do diretor Nascimento Jr., foi transferido para a redação, sob o comando do redator-chefe Otávio Veiga, o Veiguinha, como Hamleto e demais colegas o chamavam.

No início de carreira, fez de tudo um pouco. Era um tipo de repórter-coringa, como ele mesmo se definia. Passou, entre outras, pelas editorias de Polícia, Esportes e Sindical.

Na reportagem, também ficou conhecido por realizar campanhas beneficentes, entre elas a criação da Casa da Criança, uma das maiores obras em benefício de menores desamparados, em todo País. A casa foi erguida em Praia Grande, na década de 60.

Escritor - Além de repórter, redator, editor e articulista, Hamleto Rosato publicou os livros Itinerário Lírico (crônicas) e Aventuras de Patolo e Patilda (infantil), e psicografou livros como Gotas de Luz, Mensagens de Sempre, Mensagens de Cada Dia, Mensagens e Mensagens do Dia. Nesses últimos, transcrevia mensagens enviadas pelos poetas Umberto de Campos, Cassimiro Cunha e Leonardo di Rosato, seu primeiro irmão, que morreu aos 16 anos.

Mensagens do Dia, uma coletânea de 365 mensagens psicografadas, surgiu em 1977. Os textos eram publicados diariamente nas páginas de A Tribuna, e, devido ao sucesso da edição, em 1988 ocorreu um relançamento, que foi chamado Mensagens nº 2, com renda revertida para entidades filantrópicas da região.

Mensagens nº 3 foi editado em 1994 e lançado na Sociedade Humanitária; em 2002, a Universidade Santa Cecília (Unisanta) foi responsável pela quarta edição da obra.

Sobre seus livros, o escritor dizia sempre que gostava de tocar o coração das pessoas com pensamentos psicografados: "Acendo um incenso, me concentro e começo a escrever. Não são mensagens somente para os espíritas, mas para pessoas de todas as religiões, pois falam de amor fraternal, que é um sentimento universal. Sei que servirão para alguém em algum ponto da vida".

Hamleto também respondia pela coluna diária A Tribuna nos Anos 60, um resumo do noticiário no período, acrescido de fatos e curiosidades que, embora não estivessem retratadas no jornal da época, eram fruto de sua própria memória.


Na sala do quinto andar de A Tribuna, ele escrevia e se concentrava para receber mensagens espirituais

Foto: Luigi Bongiovanni, publicada com a matéria

 

Ligação estreita com a Sociedade Humanitária

Pelos mais de 60 anos dedicados à Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos, Hamleto Rosato foi homenageado, em junho de 2005, como o sócio mais antigo da entidade.

O colunista ingressou na Humanitária em 1938, tornando-se sócio remido em 1947. Quatro meses depois, recebeu o título de sócio benemérito em razão de uma história que ele fazia questão de não esquecer: quando a entidade passava por tempos difíceis, por causa de uma dívida, Hamleto foi um dos que a ajudaram, solicitando aos empresários que colaborassem. Dessa forma, a sociedade conseguiu liquidar a dívida.

Em 1955, o jornalista foi eleito conselheiro, pela primeira vez. Já em 1994, ocupou o cargo de presidente do Conselho Deliberativo, sendo reeleito em 2000. Para o presidente da Humanitária, Pedro Mahfuz, a homenagem foi merecida, pois Hamleto era querido e estimado.


Além de incentivar professores e alunos, ele dava palestras em escolas

Foto: arquivo, publicada com a matéria

A Tribuninha era seu maior orgulho

De todas as suas iniciativas no jornal, indiscutivelmente o nome Hamleto Rosato ficou associado ao suplemento A Tribuninha, do qual foi editor durante 32 anos (1960 a 1992).

O primeiro número saiu em 24 de agosto de 1960, sob sua edição. Tinha quatro páginas e uma linha voltada ao público infanto-juvenil. Chegava às bancas todas as quartas-feiras.

A Tribuninha foi idealizada, segundo Hamleto, como forma de homenagear o diretor de A Tribuna, Nascimento Júnior, que ficou à frente do jornal de 1909 a 1959 e sempre quis publicar um suplemento exclusivo para as crianças.

Em pouco tempo, o suplemento passou a circular nas salas de aula das escolas de toda a região. E Hamleto tornou-se popular entre a comunidade estudantil, recebendo o apelido carinhoso de Tio Leto.

Quando era reconhecido na rua e cumprimentado por um juiz, um médico ou outro profissional que foi leitor ou colaborador de A Tribuninha, não escondia as lágrimas. "Sou emotivo e algumas vezes choro mesmo", conversava entre amigos.

Sua outra maior satisfação era saber que A Tribuninha foi o primeiro jornal infanto-juvenil da América Latina, e que realizou diversas campanhas e concursos. Criado na década de 70, o Professor do Ano foi o concurso que mais resistiu ao tempo, durando 10 anos.

O prazer em fazer um jornal para estudantes se irradiava no semblante de Hamleto e na sala que ocupava no 5º andar da sede do jornal. Nas paredes estavam as flâmulas, cartões de prata e outras homenagens que recebeu.

Em 5 de julho de 1980, Hamleto recebeu, das mãos do diretor-presidente de A Tribuna, Giusfredo Santini, Medalha de Honra ao Mérito, outorgada pela Câmara de Santos. Durante a solenidade, ofereceu a homenagem a todos que o apoiaram, particularmente os companheiros do jornal e o professorado, e concluiu fazendo uma defesa da autonomia política de Santos.

"Estou muito feliz por receber esta medalha numa casa de homens eleitos diretamente por nós, o povo. Por que não temos a liberdade de escolher os homens que nos dirigem?", indagou. "O primeiro direito do homem é o direito ao pão; o segundo, é o da liberdade", salientou.


Em junho de 1971, autografando o livro Mensagens de Sempre

Foto: arquivo, publicada com a matéria


Em maio de 1978, como redator responsável por A Tribuninha

Foto: arquivo, publicada com a matéria


Em agosto de 80, recebendo medalha das mãos de Giusfredo Santini

Foto: arquivo, publicada com a matéria


Em 2008, em sua sala, onde trabalhou até dias antes de morrer

Foto: arquivo, publicada com a matéria

A Tribuna não esquece


Imagem: reprodução, publicada com a matéria

3 de fevereiro de 2008

Nesta data, o jornal dedicou duas páginas à entrevista com Hamleto Rosato, que completava 77 anos de A Tribuna. Ele revelou ao repórter Luigi Di Vaio episódios da época em que atuava como repórter, além de curiosidades de sua vida profissional. Hamleto fez questão de contar passagens como a de quando Jânio Quadros visitou Santos, ou sua impressão sobre Luiz Carlos Prestes, quando o entrevistou na extinta Rádio Atlântica, além de fatos que perpetuaram a história da Cidade.

Fonte: A Tribuna

Frases

"Ele tinha orgulho de pertencer à Tribuna. Viu meus filhos crescerem e os tratou como filhos também. É uma perda muito sentida"

Regina Clemente Santini, presidente do Conselho Diretor de A Tribuna

"Por causa do trabalho na Tribuninha, ele foi amado por gerações e gerações de crianças que, hoje, são pessoas influentes da Cidade. Também não vou esquecer das histórias que o Tio Leto contava sobre o tempo do jornalismo romântico, heróico"

Míriam Guedes de Azevedo, atual secretária de Turismo de Santos e editora-chefe de A Tribuna de 1990 a 2001

"Entrei na Tribuna para substituir o Hamleto na equipe de revisão. Na minha opinião, ele foi um repórter perfeito. Não era um colega de trabalho, mas um amigo que conquistei e que dificilmente vai escapar da minha memória"

Carlos Klein, jornalista que atuou como editor-chefe de A Tribuna de 1967 a 1990

"É uma inteligência que Santos perde. Além disso, um defensor da Cidade e um amigo querido"

Manoel Lourenço das Neves, provedor da Santa Casa de Santos

"Nesses 49 anos de amizade, o Hamleto só me deu bons ensinamentos. A Cidade é que perde com a sua morte"

Edemar Castellar, proprietário da Distribuidora Castelar

"A história do Hamleto é a mesma da Cidade e do Jornalismo regional. Recentemente, foi eleito presidente honorário do Conselho Deliberativo da Sociedade Humanitária, que reúne pessoas tradicionais de Santos. Foi um batalhador"

Pedro Mahfuz, presidente da Sociedade Humanitária de Santos

"Sua lição ultrapassa a condução ética na Imprensa. A manchete que fica de seu legado é que só há um caminho: o do bem"

Clóvis Vasconcellos, jornalista

"Uma vida dedicada ao jornalismo. Mas, essencialmente, uma vida dedicada ao ser humano"

Tércio Garcia, prefeito de São Vicente

"Hamleto Rosato era um dos mais emblemáticos e singulares personagens de toda a história de A Tribuna. De todos os tribuneiros com os quais convivi, ele certamente foi o que - à exceção da família Santini - mais encarnava a identidade do jornal".

Clóvis Galvão, editor de Opinião, prestes a completar 48 anos na empresa.

No dia 9 de outubro de 2008, o mesmo jornal publicou, na seção Tribuna Livre (página A-13):

Hamleto Rosato

As pessoas boas não morrem. As suas ações permanecem nos corações daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-las.

O jornalista Hamleto Rosato semeou o bem na sua coluna, A Tribuna nos anos 60. As notícias do dia eram peculiares: notas sobre entidades de servir, destaques de fatos.

Nós, do Clube Soroptimista Internacional de Santos, fomos privilegiadas: recebíamos, anualmente, a partir de 1961 e sempre no dia do nosso aniversário, 30 de setembro, o reconhecimento de nossa existência. Muitas de nós, da velha guarda, esperavam, ansiosamente, aquela pequena nota, revelando nomes, citando acontecimentos.

O jornalista se foi, mas Hamleto Rosato vive na nossa memória.

Carmen Moral Sgarbi, membro do Clube Soroptimista Internacional de Santos e diretora da Federação Soroptimista das Américas


A notícia do falecimento do jornalista Hamleto Rosato me entristeceu muito. Mas foi a foto de sua sala, na página A-14, de segunda-feira, 6 de outubro, que ilustra a matéria sobre sua vida, que mais me emocionou.

Recordei do dia em que estive ali, há quase vinte anos, sob a claridade do sol que atravessava aquela vidraça, e na presença iluminada daquela criatura divina, para lhe falar sobre meu livro de poesias Filhos do Mundo.

Ele lia meus versos e os absorvia em silêncio profundo. Aquela sala tinha algo de especial. Uma aura, um clima diferente. Percebi, naquele momento, que estava diante de um ser iluminado. Conversamos sobre o livro e, dias depois, fui agraciada com uma bela reportagem em A Tribuninha, sobre o lançamento da obra, que tinha como objetivo auxiliar as crianças abrigadas na Casa Menino Felipe - Camefe, de Cubatão.

Recordo-me que, ao nos despedirmos, ele, veladamente, me fez uma recomendação: "Leia o Evangelho segundo o Espiritismo. Você vai entender melhor a razão deste trabalho". O tempo passou. Recentemente, um amigo, também ex-jornalista de A Tribuna, Paulo Mota, encontrou um exemplar do livro num sebo da Associação Espírita Ismênia de Jesus e me presenteou com uma linda dedicatória: "Este filho, no mundo, à casa volta. Ele estará melhor com você, do que comigo".

Peço licença para dirigir esta frase ao Tio Leto, pois ele, tal qual um filho dileto, volta à Casa do Pai, após cumprir sua bela missão.

Rozemeri de França Abreu Santos


Hamleto Rosato, nosso querido Tio Leto. Tantos jovens passaram por A Tribuninha; meu filho Maurício Armando, cirurgião-dentista, foi um desses, e assim como outros tantos participou dessa maravilhosa família que revelou muitos talentos.

Os srs. Nascimento Jr., Giusfredo Santini, Roberto Mário Santini e Hamleto Rosato, o querido Tio Leto, estão todos escrevendo juntos para os anjos do Senhor.

Maria Alice de Almeida Leça

A seção Tribuna Livre, publicada pelo jornal A Tribuna em 14 de outubro de 2008 (página A-13), registrou:

Tio Leto

Carolina Ramos

Escritora

Tio Leto partiu, aos 94 anos, deixando saudades e levando consigo sonhos de sempre, lutas, vitórias, cansaços e seu amor a Santos, que passou a ser sua desde que aqui chegou, ainda criança, em 1914. E foi em A Tribuna que aquele menino mineiro, Hamleto Luigi Pasquarelli Di Rosato, nome forte, maior do que ele, transformou-se no conceituado jornalista Hamleto Rosato, que sonhava sonhos santistas e lutava por eles com o mesmo desassombrado vigor com que os transmitia às crianças pela voz do Tio Leto, que se ameigava ao falar com elas.

Quantas mensagens cheias de civismo e espiritualidade deixou Hamleto, decorrentes da sua vontade de ajudar o próximo a aprimorar-se e a escalar com dignidade os degraus da vida. E foi certamente pensando nisto que, abrindo uma janela nas páginas do jornal da Cidade, incorporou Tio Leto e assumiu A Tribuninha, onde se debruçaram pequenos artistas a expor desenhos de garatujas, iniciando a primeira comunicação com o público leitor e colhendo, em conseqüência, os alentadores primeiros aplausos.

Tio Leto gostava de crianças. Era brando com elas. Já como jornalista, ou simples cidadão, Hamleto Rosato demonstrava gênio forte fiel às origens. Gostava de ajudar e ajudava sempre que podia. Abominava injustiças e desprezava atitudes auto-promocionais. E não poupava críticas, se necessárias!

Certa vez, quando eu ainda dirigia o IHGS, após a execução do Hino Nacional, na abertura de uma sessão solene, advertiu-me publicamente, dizendo: Senhora presidente, não se deve aplaudir o Hino Nacional! - levando-me a explicar, também publicamente, que não estávamos aplaudindo o Hino e, sim, as Bandeiras, o que era uma praxe da casa. Cavalheirescamente, Hamleto veio desculpar-se ao fim da solenidade, tentando apagar qualquer sombra que pudesse empanar uma velha amizade, sombra que absolutamente não existia! Sua interferência fora até bastante positiva, pois permitiu esclarecer uma situação por vezes constrangedora, já que uns aplaudem após o Hino, outros não.

Tio Leto, em virtude do seu trabalho, tem o nome ligado à Mini-Biblioteca Infantil do IHGS, que oferece literatura farta, didática e recreativa ao público mirim, o que tanto sensibilizava o padrinho (N.E.: essa biblioteca foi criada pelo Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa - MNDLP -, através do projeto Presenteando com Letras, sendo inaugurada em 13 de outubro de 2002).

Por apenas um dia não teve Hamleto a satisfação de ver o nosso prefeito reeleito, mas, convicto, previu e aplaudiu-lhe a vitória com muita antecipação!

 

Ele demonstrava um gênio forte, fiel às suas origens

 

Amava as artes e, em particular, a música, o sangue itálico que corria em suas veias falava alto. E foi a música que embalou seus últimos momentos. Música a ele dedicada e incorporada à oportuna homenagem que, naquela noite, lhe prestava a Secretaria de Cultura, no Teatro Municipal, envolvendo nomes bastante significativos como Marlene Akel, Antônio Manzione, seu pupilo Iury e as vozes de Carmela Pergolisi e Aldo Brasil.

E quando Marlene executou, com o virtuosismo costumeiro, o Noturno de Chopin, tantas vezes ouvido por Hamleto ao telefone, com certeza os ecos dessa encantadora melodia devem ter chegado aos ouvidos do homenageado, muito embora não tivesse ele cumprido a promessa de lá estar presente, se a peça preferida constasse do programa. O coração fragilizado impediu Hamleto de cumprir a derradeira promessa, mas o calor da carinhosa homenagem há de ter sido a dose de ânimo necessária para que ele, grato, se despedisse dos amigos que por aqui deixou.