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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Quando uma associação governou Santos

A cidade já teve como prefeito a Associação Comercial de Santos (ACS)

Extraído do Almanaque Santos 1971, de Olao Rodrigues (1971, Prodesan Gráfica, Santos/SP):

Em razão de sua influência e autoridade na vida comunitária, a Associação Comercial já foi convocada para dirigir o município. E convocada pelo povo, que nela via e sentia organismo suscetível de refrear o impulso e precipitação que dominavam o ambiente político da terra. Faz tempo que isso ocorreu, no século XIX.

Colocando-se em antagonismo com a ditadura implantada por Deodoro da Fonseca, o povo de Santos não perfilhou a atitude de Américo Brasiliense, então Presidente (N.E.: antiga denominação do cargo de governador) da Província de São Paulo, aliando-se, como se aliou, ao regime ditatorial. Houve resistência, houve pregação na rua, houve crítica da imprensa, houve, enfim, ato público pelo qual o povo santista, repudiando o sistema administrativo, sustentou seus sentimentos de independência cívica-política - esse mesmo povo que provinha, por ideais e conterraneidade, de um grande santista, que dera emancipação à Pátria.

Primeiro prédio da Associação Comercial de Santos, em bico-de-pena do artista Ribs

Foi no dia 14 de dezembro de 1891; concentração na Praça da República (onde então funcionavam Câmara e Prefeitura municipais), o povo exigiu a deposição de Américo Brasiliense, do intendente e dos vereadores municipais, por meio de moção lida por Martim Francisco (3º dos irmãos Andradas), segundo a qual a administração do Município deveria ser entregue à diretoria da Associação Comercial, que se encarregaria de exercê-la até "que o novo Presidente do Estado resolva a tal respeito as atribuições da atual Intendência, cuja competência fica terminada".

Dr. António Carlos da Silva Teles

Em face desse pronunciamento popular, a Associação Comercial, no mesmo dia, assumiu a direção do município, mas no dia seguinte transmitiu-a ao dr. Almeida Morais, que renunciou ao cargo a 18, três dias depois, passando-o ao organismo representativo do Comércio Santista, que era presidido pelo dr. António Carlos da Silva Teles.

Santos foi governada pela Associação Comercial de Santos até o dia 30 de dezembro de 1891, quando assumiram a nova Intendência os drs. João Galeão Carvalhal e Lino Cassiano Jardim e srs. Francisco Cruz, António Augusto Bastos, António José Malheiros Júnior, Raimundo Gonçalves Corvelo e Teófilo de Arruda Mendes. Por 15 dias, portanto, a ACS administrou o Município de Santos, assegurando-lhe a tranquilidade social e a ordem pública, antes conturbadas.

Os fatos em Santos e em todo o estado foram registrados assim pelo jornal paulistano O Estado de São Paulo, na primeira página da edição de 15 de dezembro de 1891 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição - clique >>aqui<< ou na imagem abaixo para obter a página completa):

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Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria, no Acervo Digital Estadão

SANTOS 14

O povo reunido em meeting depôs Americo Brasiliense e a intendência, aclamando o dr. Cerqueira Cesar e entregando a direção do município à diretoria da Associação Comercial. O delegado de polícia Porchat foi preso pelo povo; no Diario da Manhã apelou para a lealdade de seus amigos, sendo solto ao chegar ao quartel, onde resignou o cargo de delegado, sendo aclamado nesta ocasião para o cargo de delegado o capitão Benedicto que aceitou.

A força pública aderiu unanimemente. Preparam-se forças dispostas a marchar contra S. Paulo.

Viva a Revolução!

- As violências da força pública continuaram em vários pontos, ouvindo-se o tiroteio durante toda a noite.

A polícia, como era de prever, tomou todas as precauções para encobrir os seus crimes. Afirma-se, porém, que o número de mortos elevou-se a 19, sendo 4 soldados.

Os ferimentos foram em grande número, como o dissemos. Diversos soldados estão gravemente feridos, e muitas pessoas têm vindo ao nosso escritório mostrar-nos os golpes e ferimentos que receberam.

Os cadáveres das vítimas dizem ter sido sepultados de madrugada, sem que nenhum dos médicos da polícia fosse chamado para fazer o competente exame legal.

***

À meia noite a cavalaria da polícia invadiu anda as oficinas do Correio Paulistano, quebrando as máquinas e todos os utensílios de trabalho.

As paredes apresentam inúmeros vestígios de balas, e todas as divisões internas, bem como a mobília, estão reduzidas a estilhaços.

Não há um só livro que não tenha sido inutilizado e é de crer que todos os valores que havia em caixa fossem subtraídos, porque as mesas e armários da administração acham-se todos quebrados.

- À hora em que se deu o assalto já não havia uma única pessoa no edifício do Correio.

***

Hoje o povo, indignado com as selvagerias praticadas contra o Correio, reuniu-se em frente à Federação e, apesar dos esforços do dr. Bueno de Andrada, invadiram as oficinas daquela folha e empastelou-as.

O dr. Bueno de Andrada dirigiu-se por muitas vezes ao povo, em nome dos revolucionários, procurando impedir a violência contra a Federação e por último tentando impedir a entrada, foi agredido pelos assaltantes que em tumulto invadiram as oficinas e destruíram o material tipográfico.

Novos detalhes foram fornecidos por O Estado de São Paulo, na primeira página da edição de 17 de dezembro de 1891 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição - clique >>aqui<< ou na imagem abaixo para obter a página completa):

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Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria, no Acervo Digital Estadão

SANTOS, 15

O tenente dos antigos bombeiros com toda a força de aqui dispõe está com a revolução e bem assim o Jabaquara em peso.

Santos não desmentirá nesta emergência as suas tradições de terra livre e digna. Reina grande entusiasmo pela revolução.

SANTOS, 15

Bravo! Lutem e contem conosco.

Organizamos batalhões para marchar sobre S. Paulo.

As entradas da cidade estão defendidas por patriotas preparados para o primeiro sinal de rebate.

Em S. Vicente a revolução venceu sem resistência.

Viva S. Paulo!

Outras informações do mesmo O Estado de São Paulo, na primeira página da edição de 18 de dezembro de 1891 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição - clique >>aqui<< ou na imagem abaixo para obter a página completa):

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Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria, no Acervo Digital Estadão

SANTOS, 16

Ao exmo. dr. José Alves Cerqueira Cesar, mui digno presidente do Estado de S. Paulo.

Comunicamos vossa excelência ter assumido cargo de intendentes desta vila por aclamação do povo ontem reunido. Protestamos sincero e leal apoio a v. excia.

Frederico Schimidt

Theotonio Gonçalves Corvello

Hermano Nayn

Gil Alves Araujo

Intendentes de São Vicente.

As notícias finais do mesmo O Estado de São Paulo, na primeira página da edição de 19 de dezembro de 1891 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição - clique >>aqui<< ou na imagem abaixo para ampliá-la):

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Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria, no Acervo Digital Estadão

Ainda O Estado de São Paulo, na primeira página da edição de 30 de dezembro de 1891 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição), registra a posição de Vicente de Carvalho:

Imagens: reprodução parcial da pagina com a matéria, no Acervo Digital Estadão

O dr. Vicente de Carvalho faz pelo Diario da Manhã a seguinte declaração:

"Declaro para os fins convenientes que eu e os meus amigos, solidários com a política dos atuais governos, da União e do Estado, abstemo-nos, entretanto, por motivos especiais, de qualquer intervenção na direção da política local.

"Santos, 28 de dezembro de 1891 - Vicente de Carvalho".

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