Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0033.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/16/06 10:53:26
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Poetas faziam um novo Dia da Criança

Na casa de Coelho Neto, Martins Fontes e Chaby eram alguns dos que faziam a festa

No tempo em que ainda existiam os saraus literários, e a televisão - ou mesmo o rádio - ainda não haviam surgido, as crianças tinham distrações diferentes. Na casa do educador Coelho Neto, mais diferentes ainda, como registra o texto publicado na edição de maio de 1944 da revista santista Flama (ano XXIII, nº 5), dedicada a Martins Fontes:


Luiz Edmundo e Martins Fontes, quando da visita daquele intelectual
ao autor de "Verão" (Martins Fontes)
Foto publicada com a matéria

Artistas - crianças

Paulo Coelho Netto

Entre os amigos de Coelho Netto, quatro havia que eram anunciados e recebidos festivamente pela petizada: Martins Fontes, Humberto de Campos, Aníbal Theófilo e Olavo Bilac. Certo egoísmo compreensível movia os manifestantes porque esses intelectuais eram sempre mensageiros de um habeas-corpus para a meninada, isto é - autorização para jantar à mesa do escritor, na companhia dos visitantes. Quando o aparecimento de Fontes coincidia com o de Aníbal Theófilo, Coelho Neto dizia: - "Hoje é o dia da Criança".

O poeta gaúcho divertia seus amiguinhos com as históricas do Chico Lambeta que nunca terminavam, como as de Sheherazade; Fontes repetia, invariavelmente, a pedido geral, uma quadrinha, cuja autoria ele atribuía a um alemão radicado em Santos:

Eu tinha um passarrinha
Que cantava no horrizonte
Meu passarrinha morreu
Eu chórra tesde ante-onte!

Humberto de Campos, o Conselheiro XX do Imparcial, empolgava seus ouvintes com as lendas nordestinas e as diabruras da mula sem cabeça e do saci-pererê. Os narradores eram ruidosamente aplaudidos, aplausos sinceros e que só cessavam quando Coelho Neto impunha silêncio.

Bilac era o espírito de contradição: aparteava e desmentia. Tanta vez o grande poeta se intrometeu, desfazendo as lendas que encantavam os pequenos, que Violeta, na ingenuidade de seus 5 anos, lhe indagou de chofre: - "SEU Bilac, como pode o senhor falar com as estrelas, se elas ficam tão longe?" Bilac arregalou os olhos e apelou para Coelho Neto: - "Você ouviu, ESGATEADO? Isso é maldade do Aníbal!" E Bilac tinha razão...

Nas bodas de prata do casal Coelho Neto, o círculo literário, que habitualmente freqüentava a casa do escritor, improvisou um sarau de arte. Coelho Neto, em seu gabinete de trabalho; Emílio de Meneses, na saleta de entrada; Martins Fontes, na escada que comunicava os dois pavimentos, e Olavo Bilac, na sala de jantar, iniciaram simultaneamente o torneio, pois foi um autêntico torneio em que não faltou nem o entusiasmo nem as preferências de numeroso e seleto auditório.

Outros artistas, quase todos, aliás, brasileiros e portugueses, entre 1906 e 1930, freqüentaram o gabinete de trabalho de Coelho Neto. Chaby Pinheiro, o grande ator português, costumava em suas digressões artísticas pelo país visitar o escritor. Em uma dessas ocasiões, Coelho Neto ofereceu-lhe um jantar, íntimo.

Amigo da meninada, Chaby pediu a Coelho Neto que enchesse a mesa de vozes e risos infantis. Ele apreciava, como bom ator, os ditos joviais. O escritor acedeu. Mas Chaby era sempre um espetáculo com o seu metro e oitenta de altura e 150 quilos de peso. Coelho Neto fiscalizava a curiosidade dos filhos, desviando-lhes a atenção à força de olhares severos.

E começou o jantar. À cabeceira da mesa, tendo D. Gaby à sua direita e Chaby à sua esquerda, o escritor serviu a sopa. O primeiro prato foi de D. Gaby. Mano, que acompanhava perscrutadoramente os movimentos de seu pai, relanceou o olhar pela mesa, demorando-o ligeiramente nos pratos de seus irmãos menores. Depois examinou o de Chaby. Nessa ocasião precisamente Coelho Neto estendia ao notável intérprete do Conde Barão o seu prato de sopa, igual aos outros. Era demais, e Mano não se conteve: - "Papai, dá a sopeira pra ele"..."

A estrondosa e comunicativa gargalhada de Chaby indultou o imprudente.

QR Code - Clique na imagem para ampliá-la.

QR Code. Use.

Saiba mais