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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Crime criou a avenida e acabou com o morro

Após o crime, em 1889, apareceu a Av. Ana Costa e sumiu o Morro do Lima

Trecho de "Avenida Ana Costa... a sofisticada", extraído do Informativo Cerqueira, boletim empresarial do santista Centro de Cópias Cerqueira, publicado em outubro de 1978 em Santos/SP:

Olao Rodrigues

A Avenida Ana Costa começou com um crime. Crime de morte, que abalou o provincianíssimo burgo pela categoria econômico-social de seus figurantes.

Na manhã de 8 de maio de 1889, Casimiro Alberto Matias Costa acompanhava seus trabalhadores, que abriam caminho para ligar Vila Mathias ao Gonzaga. A artéria trabalhada teria o nome de Ana Costa, sua esposa. Por volta de 10 horas, foi assediado pelos irmãos António Batista de Lima e Ovídio de Lima, também donos de extensas glebas e, por herança, do Morro do Lima.

Alegando que aquela faixa de terra lhes pertencia, os irmãos Lima discutiram fortemente com Matias Costa. Houve um tiro de revólver e Matias Costa foi alvejado na testa, sofrendo ferimento letal. Devemos lembrar que o Morro do Lima, a que nos referimos, ficava até há pouco defronte da Praça de Esportes da Associação Atlética Portuguesa, já arrasado.

Matias Costa veio a falecer duas horas depois. Houve reboliço pela cidadezinha de então. António e Olívio responderam a julgamento pelo Tribunal do Júri, no prédio da Cadeia Velha, na Praça dos Andradas, defendidos pelo Dr. Cesé Cesário Bastos e acusados, particularmente pela família Matias Costa, pelo Dr. Martim Francisco Ribeiro de Andrada (3º), jornalista e advogado, neto de Martim Francisco, o glorioso vulto da Tríade Andradina.

O outro, também advogado e parlamentar, foi - a nosso ver - o maior chefe político de Santos de todos os tempos. Dois privilegiados talentos oratórios em cotejo. Gente por todos os cantos, apesar de mais de 24 horas de julgamento. Houve falhas no processo, tanto que não ficou caracterizada a autoria do disparo. Afinal, os irmãos Lima foram absolvidos por unanimidade e imediatamente soltos, segundo a processualística penal.


Início da Av. Ana Costa, na Vila Mathias, vendo-se ao fundo o Morro do Lima, no início do séc. XX
Foto: reprodução do raro Calendário de 1979 editado pela
Prodesan - Progresso e Desenvolvimento de Santos S.A., com o tema Imagens Antigas e Atuais

Abre-se a Avenida Ana Costa - A Avenida Ana Costa continuou a ser aberta, de ponta a ponta. Tinha, na Planta Geral, o nº 298, e foi oficializada pela Lei nº 647, de 16 de fevereiro de 1921, que entrou em vigor a 1º de janeiro de 1922.

Quem foi Ana Costa?

Pouca gente sabe, mesmo os que há anos moram nessa artéria.

D. Ana Costa era fluminense de Maricá, onde nasceu a 22 de setembro de 1857, filha de José Paulo de Azevedo Sodré e D. Cândida Ribeiro de Almeida. Por parte materna, pertencia à família Ribeiro de Almeida, de renome nacional. Pelo lado paterno, fazia parte da família Azevedo Sodré, muito conhecida em Santos e São Paulo. Há até uma via pública, no Gonzaga, com o nome Azevedo Sodré, que era José Paulo de Azevedo Sodré, seu irmão, vereador e intendente de Santos.

Ela foi educada no Colégio da Imaculada Conceição, no Rio de Janeiro. Casou-se pela primeira vez com Casimiro Alberto Matias da Costa, de cujo matrimônio teve seis filhos. Em segundas núpcias, com José Bloem, funcionário da firma Hard, Rand & Cia.

Outro fato excepcional e pouco conhecido: a Avenida Ana Costa foi a primeira via pública de Santos a receber iluminação pública elétrica. Esse serviço foi executado por etapas. No dia 15 de agosto de 1903, a Companhia de Ferro Carril Santista iluminou pela primeira vez, pelo sistema elétrico, o trecho de suas oficinas, em Vila Mathias, até a esquina da Rua Carvalho de Mendonça, completando logo depois toda a distribuição de luz elétrica.

Como disseram os jornais da época, os moradores da Ana Costa saíram à rua e não cabiam em si de contentamento pela grande melhoria que se lhes proporcionava. As lâmpadas foram colocadas à distância de 50 em 50 metros. A segunda artéria a receber a iluminação elétrica foi a Avenida Conselheiro Nébias, na noite de 14 de setembro de 1903.


Avenida Ana Costa em 1950, justificando o apelido de Avenida das Palmeiras
Foto: Poliantéia Santista, de Fernando Martins Lichti, vol. III, Gráfica Prodesan, Santos/SP, 1996

Avenida das Palmeiras - Num crescendo natural técnico-urbano, a Avenida das Palmeiras - palmeiras imperiais - foi ganhando recursos gerais exigidos pela modernização dos costumes e eis plenamente adaptada ao Plano Físico do Município, que é habitar, trabalhar, circular, recrear e proporcionar aos seus moradores o ambiente urbano que lhes permitia usufruir vida equilibrada e social e progressivamente sadia. (...)

E ainda mais: mantém o maior monumento do Município, o dos Irmãos Andradas, construído pela Companhia Construtora de Santos e inaugurado a 7 de setembro de 1922. (...)


Avenida Ana Costa em 1922, vista da praia para o Centro, junto à Praça da Independência
Foto reproduzida do boletim empresarial Informativo Cerqueira, de novembro de 1978

N.E.: O Jornal da Vila Mathias, em edição presumida pelo seu texto como sendo de fevereiro de 2005 (não havia data no recorte enviado a Novo Milênio em 1/2007 - publicou uma foto como sendo de Ana e Mathias Costa em 1887. Na verdade, aquela foto era do casal Joaquim da Costa e Maria Amélia (Rodrigues) Costa.

A informação foi dada a Novo Milênio em 17/4/2010 por Regina Célia Moura da Costa, neta de Joaquim e Maria Amélia. Este casal veio para Santos na década de 1920, instalando-se na região de Pilões, em Cubatão - onde aliás nasceu José da Costa, cujo nome é lembrado na denominação de uma escola municipal cubatense. Após a Segunda Guerra Mundial, este ramo familiar se transferiu para a área insular de Santos, onde nasceu Regina Célia.

O crime foi registrada pelo jornal paulistano A Província de São Paulo, (antecessor do atual O Estado de São Paulo) na primeira página de sua edição de sexta-feira, 10 de maio de 1889 (Acervo Estadão, que não possui o exemplar do dia anterior - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da página com a matéria (Acervo Estadão)

Mathias Costa - As folhas de Santos quase nada adiantam sobre o horrível assassinado de que foi vítima aquele conhecido negociante e que tão profundamente abalou a população santista.

Os jornais noticiam o fato, revestido dos mesmos pormenores tristíssimos que ontem relatamos.

Há apenas o seguinte a acrescentar à notícia desenvolvida que demos:

- Antonio Lima, quando o povo indignado perseguia os assassinos, recebeu na testa uma pedrada que o feriu levemente.

Durante a agonia de Mathias Costa, sua casa conservou-se apinhada de amigos e conhecidos.

--

O fato criminoso, como dissemos, resultou duma questão de terras agitada entre assassinos e morto.

Mathias Costa pretendia abrir picada em um terreno que Olivio e Antonio diziam ser seus.

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