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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - RIOS & RIACHOS
Um rio de Dois Córregos (11)

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Quem visita Santos e encontra apenas alguns canais artificialmente construídos, talvez nem imagine a grande quantidade de rios que caracterizou a geografia local, muitos dos quais até hoje correm por caminhos subterrâneos, com seu traçado esquecido. Na região do Gonzaga, existiam os Dois Córregos, um deles canalizado como Canal 3, que se juntavam próximo à praia, então no trecho conhecido genericamente como José Menino - embora o ponto de deságue fosse junto ao atual Canal 3, no Gonzaga:
 
Esta planta de 1895 mostra os dois braços do Rio dos Dois Córregos e na vertical o traçado da Avenida Ana Costa, que perto da praia fazia um "joelho" para continuar até a areia pela atual Rua Marcílio Dias:


Imagem: detalhe de planta incluída no Atlas Saneamento 1895

Dado que o terreno era pantanoso, pode-se admitir a versão de que as duas nascentes eram bem mais distantes, uma iniciando no meio do Campo Grande, talvez no Morro do Jabaquara, e outra no meio da então futura Vila Macuco:


Imagem: decalque colorido em trecho da planta de A Baixada Santista: Aspectos Geográficos, V. III

Na edição de sábado, 6 de abril de 2013, o Diário Oficial de Santos publicou, em sua primeira página e em um encarte especial de quatro páginas:


DESCOBERTA GALERIA CENTENÁRIA NO GONZAGA - Durante as obras de reurbanização, Prefeitura localizou a galeria onde passava o Rio Dois Córregos; local será atrativo turístico

Imagem: montagem sobre fotos de Rogério Bomfim, na página 1 do Diário Oficial de Santos

Encontrada galeria de 120 anos no subsolo da Ana Costa

Estrutura de 18 metros de largura foi localizada durante escavações para obras de infraestrutura e energia que a Prefeitura realiza no trecho entre a Praça da Independência e a orla

A descoberta de uma galeria submersa na Avenida Ana Costa, no trecho entre o Shopping Parque Balneário e a orla, pode desvendar um mistério de aproximadamente 120 anos e mudar um capítulo da história da cidade. O achado deu-se por acaso, há 15 dias, durante uma obra da Siedi (Secretaria de Infraestrutura e Edificação).

"Durante uma escavação para trabalharmos nos dutos de infraestrutura e energia da região, foram encontrados resquícios da antiga galeria", disse o arquiteto Glaucus Farinello, chefe do Departamento de Obras Públicas da Siedi.

Com 18 metros de largura - ainda não se sabe o comprimento - e assoreada (coberta de areia) em boa parte de sua base, por conta da construção dos canais no início do século 20, a estrutura é composta por diversos arcos de tijolo, separados por alguns pilares feitos do mesmo material e perfil metálico, além de trilhos de bonde na parte superior dos arcos, que ajudam na sustentação do local, por conta das vigas metálicas.

 

Estudos vão apurar extensão da galeria

e origem e data de fabricação dos tijolos

 


Imagem de 1900 mostra área da Ana Costa próxima à praia, sem vestígio de nenhum rio, o que pode comprovar que a estrutura, agora localizada, estava submersa já há alguns anos

Foto: José Marques Pereira/Fundação Arquivo e Memória de Santos, publicada com a matéria

Mudança -  A descoberta pode reescrever a história do encontro de dois rios, que até então presumia-se acontecer na altura do canal 3. "Essa galeria foi construída entre os anos de 1890 e 1896 e teria função de canalizar um rio que vinha dos morros e outro oriundo do porto. O achado contesta a versão, que muitos historiadores sustentam, de que a desembocadura dos dois rios seria na direção do canal 3. Minha opinião é que isso acontecia na Ana Costa, contrariando os mapas. A galeria está localizada na direção da Praça da Independência, caracterizando a passagem do rio. Não haveria sentido em fazer uma galeria ali se isso não acontecesse", avalia o arqueólogo Manoel Gonzalez, diretor do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas, que, acionado pela Prefeitura, iniciou um trabalho de pesquisa e estudo na galeria.


Acesso à galeria pela Av. Ana Costa, próximo ao shopping

Ttijolos da antiga passagem serão estudados

Fotos: Fortnort, publicadas com a matéria

Para estudiosa, história pode ser reescrita

Até então, a historiadora Wilma Therezinha Fernandes (foto) tinha a convicção de que o Dois Rios, oriundo dos morros e do porto, desembocavam no canal 3. Por conta disso, de acordo com seus estudos, o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito projetou a construção do canal naquele local. Porém, ela não descarta a possibilidade de que o achado da galeria no subsolo da Ana Costa possa recontar a história desse episódio.

"A arqueologia está aí para descobrir novos fatos e reformular o que existe. Acredito que a canalização dos dois rios no canal 3 estava correta e que Saturnino de Brito utilizou o traçado dos rios para projetar essa construção. Mas é possível que os estudos do arqueólogo nos mostrem novidades", acredita a professora da Unisantos e doutora em História pela USP.

"Acho muito cedo para chegarmos a uma conclusão. Somente após a prospecção e escavação da galeria podemos dizer se naquele local existia um rio. Mas não acho essa hipótese absurda", conclui.


Wilma Therezinha

Foto: Rê Sarmento, publicada com a matéria

O Gonzaga, em 1889: Rua Marcílio Dias, aberta em consequência da colocação do último trilho do prolongamento da linha de bondes puxados por burros que ligavam a Vila Matias à praia, pela Avenida Ana Costa.

A ponte que aparece em primeiro plano tornou-se desnecessária com a obstrução do braço de rio que passava no fundo das velhas chácaras da Barra e diante da Rua Aimorés, atual Rua Othon Feliciano

Fonte: Novo Milênio


Bico-de-pena do artista Lauro Ribeiro da Silva, reproduzido no Calendário de 1987 editado pela Prodesan, com o tema Santos Antiga em Bicos-de-pena

Trajetória do rio - versão histórica

Assim chamado por ter duas nascentes. A primeira, aparentemente (a planta disponível não deixa essa indicação clara) iniciando no Morro do Jabaquara, acompanhando o trecho inicial da Avenida Ana Costa e entrando pelo atual Bairro Campo Grande, correndo então as águas no sentido Noroeste-Sudeste, talvez acompanhando o traçado da Avenida Marechal Floriano Peixoto (ex-Rua do Encanamento) até perto da Praça da Independência e prosseguindo aproximadamente pelo traçado da atual Rua Galeão Carvalhal até o canal 3.

A segunda, no Macuco, seguindo as águas com orientação inicial Leste-Oeste até atravessar o antigo Caminho da Barra e convergir para a orientação Norte-Sul em direção ao mar, aproximadamente pelo traçado do atual Canal 3, até encontrar no Gonzaga com o outro braço de rio procedente do Campo Grande e desaguar na praia, junto ao atual Canal 3, conforme a publicação A Baixada Santista - Aspectos Geográficos (V. III).

Por volta de 1896, o rio foi canalizado. Na parte da Avenida Ana Costa/Praça Independência, foram colocadas placas de ferro para não afundar a rua com o peso dos bondes, que só foram inaugurados nesta avenida em 1908.

Fonte: Novo Milênio


Imagem: reprodução

Maior rio santista passava pelo Gonzaga

Antes da orla de Santos ser ocupada e urbanizada, a região onde está atualmente o Gonzaga era banhada pelo maior curso de água doce da Ilha de São Vicente. Conhecido como "Dois Rios", uma vez que havia dois braços e duas nascentes distintas (uma nas proximidades do Morro do Jabaquara e outra no Macuco), ele foi diminuindo a partir da ocupação da Zona Leste insular por chácaras e lotes residenciais. Por conta disso, no final do século 19, o curso d'água passou a ser chamado pelos santistas de "Rio dos Dois Córregos".

Um de seus braços acompanhava o atual traçado da Avenida Floriano Peixoto (chamada antigamente de Rua do Encanamento, por conta dos canos de abastecimento de água que vinham da Cachoeira do José Menino), passando pelas atuais Rua Marcílio Dias, bulevar da Othon Feliciano, Avenida Ana Costa, ruas Fernão Dias, Carlos Afonseca e Alamir Martins (onde se encontrava com o outro braço de rio), de onde virava em direção à baía de Santos, onde desaguava.

Neste outro braço, o curso d'água passava pela área das atuais ruas Tocantins, Azevedo Sodré, Galeão Carvalhal e adjacências. Com a execução do projeto de saneamento de Saturnino de Brito, que incluiu a construção dos canais, e a ocupação mais intensa das áreas do bairro do Gonzaga, o Rio de Dois Córregos desapareceu da cena cada vez mais urbana daquele trecho santista.

Sérgio Willians é jornalista e escritor, autor de livros e revistas sobre a história de Santos.


Imagem: montagem sobre fotos de Rogério Bomfim e Marcelo Martins, publicada com a matéria

Entrevista: Manoel Gonzalez, arqueólogo

Diretor do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas, o arqueólogo Manoel Gonzalez é o responsável pelo trabalho de pesquisa e estudo da galeria encontrada no subsolo da Avenida Ana Costa, no Gonzaga, entre a orla e a Praça da Independência. Confira os principais trechos da entrevista concedida ao Diário Oficial de Santos.

Como surgiu esta descoberta?

Durante as obras de reurbanização do trecho foi encontrada uma galeria subterrânea, a qual teria canalizado o encontro de dois rios, um que vinha dos morros e outro do porto, os quais, na minha opinião, desembocavam na Ana Costa.

De que época são essas estruturas?

Por volta de 1890 e 1896 teria ocorrido essa canalização para a passagem dos bondes, que não conseguiriam passar por ali, para promover a valorização e crescimento desta região. Em 1895 também foi realizado saneamento no local, que era todo areia.

O que representa o achado arqueológico?

Agora vamos registrar a área no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como sítio arqueológico. Com isso estamos fazendo o resgate desta história, que não foi perdida porque não foi nem mesmo registrada na época. Esta foi uma obra muito importante e de grande valor sanitário, arquitetônico e de engenharia. O achado também pode mudar o conhecimento sobre onde era o encontro dos dois rios, que para alguns historiadores ficava na área do canal 3.


Manoel Gonzalez

Foto publicada com a matéria

Estudo vai dimensionar extensão da estrutura

A partir da descoberta da estrutura, os trabalhos da equipe comandada pelo arqueólogo Manoel Gonzalez estão concentrados nas prospecções (intervenções intensivas no subsolo) e escavações por toda a galeria, com o objetivo de desobstruir a edificação que está coberta por areia e dimensionar seu comprimento e altura.

Os estudos também servirão para identificar a olaria onde foram confeccionados os tijolos da estrutura e o ano de fabricação. os trabalhos devem seguir até o final do ano e, por serem exclusivamente subterrâneos, não vão interferir no trânsito da avenida.

Manoel Gonzalez acredita que a ausência de qualquer registro histórico desta edificação se deve ao fato de que na época talvez não fosse tão relevante formalizar tal documento.

O profissional ainda acredita que a construção do túnel serviu para que a região pudesse se desenvolver na transição entre os séculos 19 e 20.

"Após a construção dessa galeria, novas edificações proporcionaram o crescimento da Avenida Ana Costa, e possivelmente serviriam para passagem do bonde, que antes não transitava por lá", afirma Gonzalez.

Os rios que cortavam Santos começaram a ser canalizados um pouco antes do projeto de saneamento básico de Saturnino de Brito, em 1905. Porém, não é possível saber se a galeria que foi descoberta já fazia parte do projeto de criação dos canais do engenheiro sanitarista.


Prefeitura vai construir estrutura para exposição da galeria por onde passou o Dois Rios

Imagem: montagem sobre fotos de Rogério Bomfim e Marcelo Martins, publicada com a matéria

Público poderá observar a instalação

Por conta da descoberta histórica, a Prefeitura construirá um espaço para que o público possa observar a antiga estrutura da galeria. Intitulado Túnel do Tempo, o local será instalado no passeio público, em um poço de visita localizado na altura do número 479 da Avenida Ana Costa. Em volta do túnel será erguida uma parede para a sustentação de vidros temperados e laminados, que serão usados como piso para facilitar a visualização do local. Um totem informativo será colocado em cima da estrutura, que receberá iluminação cênica. A estimativa é de que o espaço esteja pronto para visitação em duas semanas.


Charge de Igor Villa, publicada na primeira página 2 do Diário Oficial de Santos

EXPEDIENTE: Textos e edição: Thiago Bastos e Carlos Guerra. Capa: Denis Moura e Felipe Polesi. Diagramação: Eduardo Fernandes e F. Tatsubô. Ilustração: Igor Villa.
Veja:

Encarte especial do Diário Oficial de Santos de 6/4/2013 (arquivo em formato PDF, 11 MB)

Clique na imagem para obter o arquivo PDF deste encarte


Foto da galeria, publicada sem autoria no site Melhor de Santos em 5/4/2013 (acesso:5/4/2013)

Vídeo postado no YouTube pela Prefeitura de Santos em 8/4/2013 (acesso: 8/4/2013)

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