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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS - BIBLIOTECA
Pequeno histórico da Mayrink-Santos (14)

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Em 1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):

Pequeno histórico da Mayrink-Santos

Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá

Antonio Francisco Gaspar

[...]


2ª PARTE - ESTUDOS E CONSTRUÇÃO
XIV - Continuação de meus serviços na Mayrink-Santos

Rancho Fundo - 1931 - Quarta-feira, 29 de julho. No trem N2 segui à Mayrink para ir no trem de Lastro 318, a Caucaia, chegando ali às 12 horas. No Lastro 17, prossegui às 13 horas até a ponta dos trilhos, quilômetro 44, boca do túnel 32. Comecei a instalar o aparelho telegráfico numa casinha de tábuas que estava construída, com auxílio da turma telegráfica do feitor Joaquim de Almeida. Pernoitei no vagão que achava-se no quilômetro 40. No dia seguinte, 30, continuei o serviço, que ficou pronto e funcionando às 16 horas.

Foi seu primeiro telegrafista nessa estaçãozinha de emergência, confeccionada somente para os serviços da estrada e licenças de trens, o sr. Aparecido de Freitas, que a inaugurou nesse dia com o trem de pagamento, no qual regressei a Sorocaba. Até ali, nessa data, estava a ponta dos trilhos, pois a Empresa José Giorgi construía, nesse trecho, três túneis e uma variante contornando o túnel 32, na serra do Chiqueiro. Depois de pronto esse túnel, essa variante desapareceu.

O túnel ia ter 400 metros de comprimento e como sua perfuração estava calculada em mais de dois anos, o sr. José Giorgi, empreiteiro, construiu essa variante de cinco quilômetros, contornando esse túnel, um dos maiores da Mayrink-Santos. Já falamos noutro capítulo sobre essa variante. Rancho Fundo foi fechada em 5 de outubro de 1934.

Como havia necessidade de mais um aparelho telegráfico na construção desse túnel, foi por mim instalado dentro de um vagão imprestável, colocado fora da linha, no lado de Santos, um telégrafo e um telefone. Chamava-se Posto Telegráfico Boca Túnel 32. Foi seu telegrafista o sr. Benedito Lopes. Foi fechado logo que terminou e deu passagem a trens, em 13 de abril de 1934, e sr. Benedito Ramos, que nessa data era o seu telegrafista, foi removido para Caucaia. Os aparelhos telegráficos e telefônicos foram retirados por mim, após serem fechados esses postos.

Aldeinha - 1932 - Segunda-feira, 6 de junho. Às 3,30 horas, segui para Mayrink para alcançar o trem de lastro à Aldeinha. Às 6 horas partiu de Mayrink, chegou em Rancho Fundo às 8 horas. Depois de 12 horas é que tive condução para Itaquaciara. Tempo brusco e chuvoso. Cheguei no vagão da turma telegráfica às 18 horas, onde pernoitei. No dia seguinte saí com os trabalhadores a pé, percorrendo 8 quilômetros. Instalei num vagão velho o aparelho telegráfico. Foi inaugurada no dia 8 de junho de 1932, pelo telegrafista, sr. Mário Nunes Vieira.

Itaquaciara - 1932 - Nessa mesma ocasião, 6 de junho, com a turma telegráfica, feitor sr. Joaquim de Almeida, instalei, também, em um vagão velho, um aparelho telegráfico que foi inaugurado dia 8, juntamente com Aldeinha. Seu primeiro telegrafista foi o sr. Francisco Barros Pestana. Correu um trem especial composto da locomotiva nº 119 e carro A.3, com os srs. drs. Sebastião Ferraz, da 5ª Divisão, Luiz Netto, chefe do Movimento, Ferreira Sobrinho, inspetor do Tráfego do 1º Distrito e outros. Esse trem, de volta a Mayrink, observou o seguinte horário: Itaquaciara, 13,10; Aldeinha, 13,36; Posto Boca Túnel 32, 14,00; Rancho Fundo, 14,20; Caucaia, 15,00; Aguassahy, Cangüera, Guaianã, Mayrink, 15,55. Estava inaugurado esse trecho, nessa data.

Antes, nesse mesmo ano, na locomotiva nº 4, fui a Itaquaciara instalar um telefone do trecho P.13. Ficou funcionando com Rancho Fundo às 13,00. Nessa hora, chegou ali uma locomotiva com uma gôndola. Nessa gôndola, vinham: o dr. Gaspar Ricardo Júnior, diretor da estrada; dr. Sebastião Ferraz, dr. Domingues, sr. Suzano, sr. Bento, sr. Gino Ferrari, chefe trem Adauto Rodrigues.

O dr. Gaspar Ricardo inaugurou o telefone, com satisfação, lendo para o telegrafista de Rancho Fundo uns telegramas para serem passados para São Paulo. Depois de um saboroso café oferecido pelo dr. Araújo, atravessamos o túnel em construção na serra de Taquaciara, que levou o nº 29. Como não tinha mais serviços ali, pedi permissão ao dr. Gaspar Ricardo, para regressar a Mayrink.

De boa vontade me deu essa licença. Lembro-me bem. Quando atravessávamos o túnel em construção, cheio de pedras, barro, escoramentos, traves e quando dentro de uma galeria, descíamos por uma escada, o dr. Gaspar Ricardo, que ia à frente de nós, bateu a cabeça numa viga de madeira e caiu num buraco, sujando-se todo de lama. "O dr. machucou-se?", foi a pergunta de todos. "Não houve nada, isto é cavaco de ofício", respondeu a rir. Saindo do túnel, fomos por cima dele até onde estava o trem, do outro lado. Embarcamos e o comboio partiu célere, apitando por dentro daquelas matas. Chegando a Rancho Fundo, era noite. 19 horas. Daí para diante já o trem seguia com licença pelo telégrafo. Ai estava o Carro A.1, e todos nós íamos palestrando animadamente.

Passamos Caucaia, Aguassay e de repente o trem parou. Veio o maquinista e nos avisou que a locomotiva tinha pegado um boi na linha e descarrilado um dos truks do tender. Descemos todos e fomos verificar o acidente. O boi estava cortado ao meio e jazia morto. A composição do trem passou por cima dele. O truk do tender estava descarrilado, porém só um dos rodeiros. Eram 21 horas passadas. O maquinista disse que ia a pé avisar a próxima estação. O dr. Gaspar disse que "Não. Vamos nós, colocar o rodeiro nos trilhos". Os macacos da locomotiva e paus de lenha foram postos em baixo do tender, com o fim de encarrilhar o rodeiro.

"Onde estamos?" - perguntou o dr. Gaspar. "Entre Aguassay e Caucaia", respondi. Ficou o maquinista e o foguista, no lado esquerdo da locomotiva e o dr. Gaspar e eu, no lado direito. Com as manobras de se conseguir por a locomotiva nos trilhos, por meio desse modo de encarrilhar, passaram-se 3 horas de fatigantes trabalhos. Era quase 1 hora da madrugada quando apareceu o chefe da estação Caucaia, que veio com ordem do Movimento, saber o que se passava com o trem especial do sr. diretor.

"Não é nada, disse o diretor. São cavacos do ofício. Um boi está ali bem morto. Diga ao Movimento que nós todos estamos sãos e salvos". "Precisa mandar o trem de socorro de Mayrink?", perguntou o chefe de Caucaia, sr. Bosco. "Não precisa incomodar a esta hora o chefe do Depósito de Mayrink. Nesse tempo era o sr. Ivo Pedrazi.

O sr. Bosco, ao regressar para sua estação, avisou a turma da Via Permanente mais próxima. Chegando em sua estação, avisou o Movimento. Este, por sua vez, avisou o Depósito de Mayrink. A turma veio e não havia mais nada a fazer. O rodeiro estava encarrilhado. Somente tiveram de retirar o boi morto da linha e guardar os macacos no tender da locomotiva.

Por prevenção, o dr. Gaspar mandou um dos trabalhadores, com lampião com luz vermelha, fazer o "correio de alarme", uma vez que o trem estava sem licença. Eram 4 horas da madrugada quando nós partimos daquele infausto lugar. Ao chegarmos em Caucaia, chegava de Mayrink o trem de socorro, chefiado pelo sr. Ivo Pedrazi. "Muito obrigado pela atenção a nós dispensada", disse o dr. Gaspar. "Pode falar ao Movimento dar ordem de ligar no trem N.2, em Mayrink, o meu carro A.1". Ao chegarmos em Mayrink, o dr. Gaspar disse que ia descansar até São Paulo. E despediu-se de mim. Tinha as mãos sujas de óleo preto. Pudera. Ele trabalhou ajudando encarrilhar a locomotiva. Eu embarquei num trem de gado, gaiolas vazias, que passava para Sorocaba.

De outra estada em Itaquaciara, eu, desprezando o convite para almoço, que o dr. Carlos de Araújo insistia para almoçar com ele, eu a pé vim de Itaquaciara a Itapecirica, 9 quilômetros. Tomei o ônibus e às 16 horas achei-me na estação de São Paulo. Tomei o trem das 17 horas, e às 19 horas e 30 estava em Sorocaba. Se ficasse em Itaquaciara, só no dia seguinte à mesma hora é que eu estaria em minha residência.

Em outra vez que estive a serviço em Itaquaciara, vim à Boca do Túnel 32, ligar um telefone na residência do engenheiro dr. Tomé Passos. Depois de executada essa ligação com Rancho Fundo, divisei à frente uma xiboca (armazém de gêneros alimentícios). Esse nome é dado às pequenas mercearias que sempre existem nos avançamentos de estradas de ferro em construção. Eram 15 horas da tarde do dia 16 de junho de 1932. Como estava narrando, divisei uma caminhoneta pertencente ao Café da Serra, Rua Jaguaribe nº 18, São Paulo. Abordei o chofer e perguntei se ia de volta para a Capital. Disse-me que falasse com o senhor que estava ainda na xiboca. Conversei com essa boa alma e pedi-lhe que me deixasse ir ao menos até os Pinheiros. Mandou-me embarcar. Saímos às 15,10. Passando em Itapecirica, pararam a caminhoneta. Era frente o mercado. Compraram ovos. Eu, que estava com a minha Kodak, mandei-os fazer pose diante do auto. Tirei uma boa fotografia, e disse que lhes levava cópias quando estivessem prontas.

De Itapecirica, 16 horas, passamos no vilarejo M'Boy 16,34 e Pinheiros às 17,20. Ali despedi-me deles: sr. Francisco Izola e chover sr. Jacinto. Pousei na residência do sr. Antônio dos Santos, inspetor dos Telégrafos da Sorocabana, naquela época. Tenho muita coisa que narrar, mas fica por aqui, este meu relato sobre Itaquaciara.

Itaquaciara, foi, por ordem superior, fechada em 7 de abril de 1958. Foram retirados os aparelhos telegráficos e Seletivo e retirados, também, os trilhos e chaves, ficando somente a linha principal.

M'Boy-Guassu - 1932 - Estando a ponta dos trilhos junto à ponte em construção sobre o rio M'Boy-Guassu, na terça-feira, 13 de dezembro de 1932, fui instalar um telefone no vagão nº 14. Esse telefone era para haver correspondência entre os engenheiros dr. Tomé Passos e Carlos Araújo, Rancho Fundo e Itaquaciara. Era encarregado ali o telegrafista sr. Pedro Bueno. Foi instalado, também, um aparelho de telégrafo pelo eletricista sr. Miguel Araújo. Nessa ocasião, pedi ao proprietário dos terrenos marginais à estrada, que me deixasse apanhar alguns palmitos para eu trazê-los para Sorocaba. Autorizou-me. Com o machado da turma, entrei no palmital e derrubei uma dúzia. Cheguei a Sorocaba só com três palmitos, e... por muito favor!


Em Parelheiros, caminhonete do Café da Serra. Viagem que fiz nesse carro em 16-1-1934
entre o túnel nº 32, Itapecirica, Parelheiros, Santo Amaro e Pinheiros
Imagem e legenda reproduzidas do livro


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