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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
A praça (que não é mais) dos fotógrafos (2)

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Conhecidos como lambe-lambes, em função de sua técnica de reaproveitamento das chapas fotográficas nas máquinas tipo caixão, os fotógrafos de rua de Santos acabaram se concentrando na Praça dos Andradas, até desaparecerem na década final do século XX. A praça foi por diversas vezes reformulada, sendo alvo de diversos projetos, como este, apresentado na edição de 15 de novembro de 1976 do jornal santista A Tribuna (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda):
 


Falta de relacionamento preocupa a arquiteta, que deseja uma praça mais bonita e funcional
Foto publicada com a matéria

Mudar a  Praça dos Andradas

Mário Screbys

Desde que, em 1960, devido ao tombamento da Cadeia Velha, ficou restrito o aproveitamento da Praça dos Andradas, surgiram diversas polêmicas a respeito do logradouro. Os problemas de natureza viária, ao menos em parte, foram superados pela construção do elevado sobre o Túnel Rubens Ferreira Martins. Assim, de certa forma, a administração municipal deu a volta por cima do problema. Mas subsistem algumas questões, uma delas levantada pela arquiteta Maria Estela de Almeida Neves, que sugere o aproveitamento da praça como área de lazer e convívio social. Essa proposta foi imediatamente apoiada pelo diretor do Sesc em Santos, Danilo Barros Fernandes, que ofereceu a colaboração da entidade aos órgãos públicos municipais, quanto à execução prática do que ainda é uma idéia.

A sugestão da arquiteta foi colocada em dois planos. Um, no sentido de revitalizar a utilização em si do logradouro, de forma que a praça volte a ser o que era antigamente, um ponto de reunião. O outro, dentro do mesmo contexto, abrange aspectos físicos e, conforme a proposta, caberia a execução de obras objetivando aumentar o passeio interno, eliminando-se as conversões onde atualmente há pontos de táxis e locais de estacionamento (junto à Cadeia Velha).

Maria Estela Neves também propõe calçadas mais largas em torno da praça, nos trechos entre as ruas São Francisco e Visconde de São Leopoldo e, dando-se a volta pela direita, da São Leopoldo até a confluência da Rua Visconde de Embaré, sem alterações defronte da Estação Rodoviária. Assim, o centro da praça passaria a ser um calçadão contínuo, reservado ao passeio, o mesmo acontecendo nos passeios alargados em volta.

E vai mais além: sugere inversão de mão da Rua Amador Bueno, a restauração do antigo Teatro Guarani, e a realização de espetáculos teatrais, feiras de artesanato e outras promoções que possam contribuir para consolidar a Praça dos Andradas como um ponto de encontro e convívio; e as edificações ficariam limitadas a apenas um andar, além do térreo, com as fachadas restauradas de forma mais disciplinada e estética.

Aqui estão resumos da proposta feita pela arquiteta, preocupada com a distância cada vez maior no relacionamento entre as pessoas, que poderia ser atenuado pela implantação de áreas de lazer e convívio: o ponto de vista do diretor do Sesc, que oferece ainda a sua colaboração; e a íntegra das considerações feitas, a respeito do problema, pelo prefeito Antônio Manoel de Carvalho, cuja opinião é a mesma da diretoria da Prodesan.

Esta é a proposta

Revitalização do Centro Urbano - Uma Proposta de Lazer: Praça dos Andradas. Este foi o título do trabalho elaborado pela arquiteta Maria Estela de Almeida Neves, que serviu para sua graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos e que permanece como sugestão às autoridades do Governo Municipal. Nesse trabalho, ela estudou o meio-ambiente urbano e a qualidade de vida nele encontrada, relacionando o homem ao seu meio-ambiente. A resposta encontrada, em termos de projeto, resume-se numa "proposta de lazer em uma área de muito uso, a ser recuperada para o indivíduo". Em outras palavras, Maria Estela propõe uma nova função à Praça dos Andradas, a sua função original, isto é, uma área de convívio.

Efetivamente, algumas observações da arquiteta poderão coincidir com o que as pessoas, de um modo geral, já estão sentindo na comunidade em que vivem: "A qualidade de vida na cidade atual tornar-se dado de constante preocupação. As pessoas não mais se relacionam como outrora, tornam-se mais egoístas, vivendo e lutando isoladamente, passivas e alienadas. A fim de adquirir sempre mais para o que julga ser o seu bem estar, o homem urbano pensa em termos de conquistas materiais, não tendo noção de que muito lhe foi imposto, que ele foi educado, doutrinado para agir desta forma, sem muita consciência de que existem outros meios que levam a fins muito mais compensadores".

Ela acha que o homem de hoje vive muito mais em função de seu trabalho do que em função de si mesmo. E assim as pessoas fecham-se em suas residências, para assistirem a programas de televisão, porque o espaço urbano não mais as atrai. O projeto de revitalização de centro urbano, focalizando a Praça dos Andradas, objetiva, segundo diz a arquiteta, "devolver um espaço ao homem, um espaço que já lhe pertenceu, para que possa descobrir por si mesmo, fazendo reviver um centro que no passado teve sua importância dentro do contexto urbano, mas que atualmente apresenta-se deteriorada".

Em termos práticos e objetivos, a proposta de Maria Estela é no sentido de que aconteça uma verdadeira "intervenção física", para que a Praça dos Andradas seja reaproveitada como área de lazer e convívio, ao mesmo tempo impedindo que o logradouro, de importância histórica além de tudo, continue sofrendo degeneração.

Logo será aberto o Museu dos Andradas, no prédio da Cadeia Velha, com seções históricas da Cidade, do Patriarca da Independência e outras, de importância reconhecida pela arquiteta. Mas ela faz ressalvas quanto ao antigo Teatro Guarani, "que outrora concorreu para muitos acontecimentos memoráveis da Cidade, e hoje é um cinema decaído, palco de filmes pretensamente eróticos e de baixa qualidade", achando que, dentro de uma possível revalorização do logradouro, deveria haver também utilização condizente daquela casa de espetáculos.

E, quanto à remodelação da Praça dos Andradas, ela diz: "A eliminação do tráfego ao redor da praça mostrou-se totalmente inviável, considerando-se a Estação Rodoviária, o túnel, o posicionamento da praça dentro de um significante sistema viário, mesmo com o novo viaduto suavizando o problema. Nas tentativas de retirada dos veículos, foram procuradas soluções nas ruas circundantes, mas estas apresentam-se muito estreitas para suportar tal corrente de tráfego. Portanto, a solução mais viável é restituir a integridade da praça, uniformizando o piso com pedras, tal o qual calçadão original da Cadeia Velha.

"As calçadas circundantes seriam alargadas para 25 metros, sendo o seu piso tratado com mosaico português. As ruas, por sua vez, ficarão com 20 metros de largura e, como equipamentos, deveria a praça contar com bancos, mesas, bancas de jornal, cestos de lixo, telefones e marco informativo sobre o funcionamento das atividades locais, assim como orientação em relação à Cidade.

Os pontos de ônibus e o terminal de linha externa teriam novo tratamento, com a colocação de abrigos. Quanto ao contorno, deveria haver sempre uma preocupação quanto à preservação da escala do conjunto.

As edificações serão restauradas, deveria haver maiores cuidados quanto à escolha de novas cores. Novas edificações ficariam limitadas a apenas um andar acima da do térreo".

Ela propõe a instalação de um centro administrativo, localizado no Teatro Guarani, e explica: "A função desse centro seria a de organizar e orientar programações de atividades culturais e recreacionais, tanto no teatro quanto na praça. Deveria contar com uma zeladoria, com respectivo equipamento, almoxarifado e controle, e serviria também como centro de informações turísticas, culturais e de atividades desenvolvidas na cidade".

A arquiteta sugere, na praça, atividades tais como teatro profissional e amador, inclusive infantil e de marionetes, apresentação de danças, bandas, conjuntos musicais, cinema, cursos, seminários, palestras e exposições.


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Apoiada pelo Sesc

A proposta da arquiteta Maria Estela de Almeida Neves é considerada bastante viável pelo diretor do Sesc, Danilo Barros Fernandes, que apresentou a idéia - juntamente com outros técnicos da instituição - durante o Seminário de Treinamento, programado em Bertioga.

Ele explicou que "a articulação do Sesc e do Senac com organismos municipais e estaduais poderá tornar viável a implantação do anteprojeto apresentado pela arquiteta Maria Estela de Almeida Neves, com a utilização da Cadeia Velha não só como museu, mas como local que abrigaria os artesãos com trabalhos típicos da área litorânea, bem como onde se apresentariam grupos de música popular, danças folclóricas e de toda a rica cultura popular existente na região, e ainda com adaptações necessárias para a fabricação e venda de quitutes, doces e salgados de todas as regiões do País. Seria um mercado modelo, como o de Salvador, adequado às reais características e necessidades da cidade de Santos".

Danilo também destacou que "Sesc e o Senac se dispõem a contatar os órgãos responsáveis pela implantação do projeto, como a Prodesan, Prefeitura Municipal, Sectur e os demais que possam ser envolvidos, colocando à disposição da comunidade a sua larga experiência em projetos de lazer e seu quadro de pessoal técnico especialmente treinado e reciclado para trabalhos que exijam a exata compreensão da realidade social, aliada ao entusiasmo, interesse e disposição de transformar em realidade as idéias e projetos que às vezes podem parecer inviáveis e utópicos".

Como exemplos, o diretor do Sesc citou a colônia de férias que a entidade mantém em Bertioga e o Centro Campestre de São Paulo, "dois monumentos que atestam a assertiva".

O diretor do Sesc ficou com uma cópia do projeto da arquiteta, a qual, entretanto, mostrou-se surpreendida pela possibilidade de ver o seu trabalho de graduação transformado em realidade. Entretanto, nem ela nem o Sesc elaboraram cálculos sobre o investimento necessário à execução da proposta, nem foi considerado o fato de que o tombamento do local pelo Patrimônio Histórico implica em restrições substanciais quanto à sua utilização. O prédio da Cadeia Velha foi tombado, assim como as árvores da Praça dos Andradas, em 1960, fato que impediu - em outro aspecto - melhor aproveitamento viário no local, ensejando posteriormente os estudos, recentemente concretizados em obras, do elevado sobre o Túnel Rubens Ferreira Martins.

Aceita e recomendada

Quando foi inteirado da proposta e da disposição da diretoria do Sesc em colaborar com a administração pública municipal, o prefeito Antônio Manoel de Carvalho estava em seu gabinete, acompanhado pelo presidente da Prodesan, engenheiro José Lopes dos Santos Filho, e preferiu redigir, de próprio cunho, as suas considerações a respeito da sugestão.

Essas considerações, conforme explicou, englobam, também, o ponto de vista da diretoria da Prodesan: "Ao tomar conhecimento da sugestão do meu amigo e colaborador Danilo Barros Fernandes, a quem agradeço, após examiná-la em conjunto com o sr. José Lopes dos Santos Filho, presidente da Prodesan, tenho a informar a utilidade do estudo, que encaminharei ao IPHAN, tendo em vista que o logradouro é tombado. Promoverei todos os esforços necessários para o contacto do autor da idéia junto às autoridades competentes. Felicito-o pela sugestão. Apenas não concordamos com a eliminação dos pontos de táxis".

O prefeito, após assinar a nota, fez questão de deixar bem claro que, na impossibilidade do Poder Público Municipal obter o destombamento da Cadeia Velha e - conseqüentemente - assim liberar a Praça dos Andradas para outros eventuais planos, contará com a disposição formalizada pelo diretor do Sesc, para que ele faça a sua própria tentativa nesse sentido.

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