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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE! - LIVROS
A Barcelona Brasileira (16)

Clique na imagem para voltar ao índiceEntre 1879 e 1927, Santos foi o centro de um dos três principais movimentos de reforma social no Brasil, tornando-se conhecida como a Barcelona Brasileira, em razão da chegada de grande contingente de imigrantes ibéricos, fortemente politizados, participantes ativos da corrente do anarco-sindicalismo. Santos tinha também uma imprensa engajada nas questões sindicais, com cerca de 120 jornais e revistas. Apesar disso, este período da história santista e brasileira foi muito pouco estudado.

Foi o que levou o jornalista e historiador Paulo Matos a produzir este material (que obteve o primeiro lugar do Concurso Estadual Faria Lima-Cepam/1986, da Secretaria de Estado do Interior de S. Paulo). Ampliado e revisado, para publicação em livro, tem agora sua edição pioneira em Novo Milênio:

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Santos Libertária!

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Imprensa e história da Barcelona Brasileira 1879-1927

PARTE II - A imprensa da Barcelona Brasileira

Capítulo V - (cont.) Imprensa operária em Santos/1879-1927- Análises:

 

[2] A Metralha - 1882

Citado no estudo Imprensa Operária Brasileira como editado em Santos em 1882 por Martins Fontes [1], e no relato dos jornais de Santos [2] como publicado em 1896 pelo mesmo, dizendo ser este veículo manuscrito e divulgador de suas poesias infantis, podemos dizer que ambas as fontes estão equivocadas sobre A Metralha. Isto porque Martins Fontes só nasceu em 1884.

Sobre ser dele a publicação em 1896, quando ele tinha doze anos, contamos com o depoimento do monsenhor Primo Vieira, estudioso da vida do poeta, que assegurou não conhecer sua participação neste jornal.

Tudo nos leva a crer que A Metralha foi o primeiro jornal elaborado por Silvério Martins Fontes, pai do poeta Martins Fontes, órgão de cunho abolicionista e socialista.

[3] A evolução - 1882

Ao chegar a Santos no ano de 1881, cedo aderiu às campanhas abolicionista e republicana o sergipano Silvério Martins Fontes, médico da Santa Casa de Misericórdia como Sóter de Araújo (1853-1924), com quem conheceu as precárias condições de vida do povo daqui. Em 1886, já casado na família Martins dos Santos, tradicional na cidade, funda o segundo A Evolução. Como já se pode supor pelo nome, um jornal ligado ao contismo, mas ligado às campanhas de que participava - sendo difícil supor que já não havia nele a pregação do ideário socialista que Silvério professava.

Em A Evolução colaboravam Martins Francisco, João Guerra, Cândido Carvalho e outros, como Carlos Escobar - que nesta época estava totalmente comprometido com a causa abolicionista. Atuou em Santos e Mogi-Mirim e, em São Paulo, participava da atividade clandestina da Confraria de Nossa Senhora dos Remédios e colaborava na Redenção de Antonio Bento. Em Campinas, colaborava no jornal abolicionista de Henrique Barcelos e esteve presente à noite do Quebra-Lampiões, quando a tropa do capitão Colatino reprime a massa abolicionista que resiste [3].

O livro de Olao Rodrigues sobre a imprensa santista atribui o surgimento de A Evolução ao ano de 1882, no dia 9 de novembro, feito por Silvério Fontes, Francisco Martins dos Santos Júnior, Garcia Redondo, Sóter de Araújo, Paula e Silva, Manoel Tourinho e Heliogábulo Fontes, tendo seu segundo número em 20/11/1882. Consideramos que houve dois jornais com este título e que este, citado por Olao, é o primeiro [4].

[4] O Tipógrafo - 1885

Os únicos dados sobre este jornal encontrados são que era um órgão de classe de efêmera duração e que teve seu primeiro número em 18 de outubro de 1885 [5].

[5] O Socialista - 1888

O jornal A Nação faz comentários sobre o surgimento de um jornal com este título em Santos, no ano de 1888, provavelmente feito pelo grupo que em São Paulo editava um jornal com o mesmo nome, em 1897, composto por Ambrosio Chiodi, Estrella, Bernardino Ferraz, Artur Breves, Bertolotti, Valentin Diego e outros [6].

[6] União Operária - 1891

Órgão da Sociedade União Operária, entidade de caráter mutualista fundada por mestres da construção civil em 25 de maio de 1890, visando atender às necessidades de saúde e instrução dos operários, União Operária foi editado em 2/5/1891 [7].

Entre os fundadores dessa entidade aparece o nome de Tomaz Antonio de Azevedo, mestre escultor "escrupuloso e detalhista em seu trabalho, responsável por quase uma centena de prédios na cidade, além de participar em obras públicas, reparos e construção da estrada Santos/São Vicente" [8].

Outros dois mestres, Leonardo Antonio de Castro e Francisco Cardine, também participaram da fundação da Sociedade União Operária.

Na greve geral de 1891, ao lado do tenente Augusto Vinhaes, líder do Partido Operário do Rio de Janeiro, a entidade forma uma comissão para parlamentar com os grevistas, integrada por Antonio Militão de Azevedo, Manoel Duarte de Almeida, João Braz de Azevedo, Elias Pinto Ribeiro e Palião Lopes da Silva, chefiada por Vinhaes [9]. Chega inclusive a ceder seu salão para uma conferência entre Vinhaes e os grevistas. Como não houve um acordo, publica uma carta em que dá por terminada sua missão, inclusive salientando que entre os operários em greve "não há associados da União".

Em 1896, cinco anos depois, Serapião Palma, dirigente da entidade, em carta enviada à Questão Social, fala no 1º de Maio como um dia de greve geral. Logo ela irá fundir-se com o Partido Operário e com o Centro Socialista para a formação de um Partido Socialista [10].

No relatório da entidade no ano de 1910 ela se institucionaliza como uma entidade assistencial, subvencionada pela Prefeitura, com biblioteca, escola, assistência médica e dentista [11]. Sóter de Araújo foi médico da entidade.

[7] O operário - 1892

Tendo por metas a criação de seguros mútuos, associações de ofício e cooperativas de produção, consumo e crédito, o Partido Operário, de Benedito C. Ramos, edita em 1892 o jornal O Operário e tem sua sede no Restaurante Socialista, na Rua General Câmara, nº 108 [12]. Sua assinatura por três meses custava 4$000 e o número avulso 400 réis.

Em seu número 3, inseria-se um artigo de fundo dizendo que "os horizontes mostram-se turbados, as nuvens correm de Sul a Leste e o câmbio, que parecia conservar-se tranqüilo, já não confia em seu apoio. Triste! Os governos não inspiram confiança externa, parece que vai desaparecendo. Muito triste! A República, que era esperada para salvar a pátria, não correspondeu à expectativa: os vendilhões do templo têm-se incumbido de prostituí-la. Tristíssimo!".

Ainda na primeira página dessa edição, há notícias sobre o conflito entre praças de linha e política [13], ocorrido a 23 de outubro daquele ano de 1892, "em que os policiais foram completamente batidos e a razão estava com os elementos de linha" [14].

O Operário "profligou" o acontecimento, acentuando que "não é para fazer baderna e demonstrações de força que o governo paga essas praças". "Enquanto brigam, o povo pobrezinho fica desprotegido e sem qualquer segurança", diz o texto, que identifica o jornal como uma folha de tendência socialista e alguma penetração nas classes trabalhistas.

A exemplo do Partido Operário do Rio de Janeiro, criado em 1890 e que tem como presidente o tenente José Augusto Vinhaes - militar, deputado e líder dos operários da Estrada de Ferro Central do Brasil - [15], apesar da feição reformista, este tipo de organização reivindicatória tem ligações com a política dominante e podemos observar como é distante da linguagem, dos trabalhadores organizados pelos sindicatos, a sua pregação.

Alguns trabalhos, como o de Nazareth Ferreira, confundem o jornal O Operário com o Jornal Operário [16], que é fonte importante para as notícias do movimento operário santista mas é de São Paulo, mantendo noticiário regular a respeito. Seus correspondentes são Primitivo Raimundo Soares (Florentino de Carvalho) e Severino Antunha [17].

[8] A Ação Social - 1892

Também em 1892 surge o jornal A Ação Social, dirigido por Silvério Fontes, do qual não obtivemos mais dados, senão o que teria sido feito pelo mesmo grupo que mais tarde editaria A Questão Social, ou seja, Sóter de Araújo, Carlos Escobar e Silvério Fontes [18].


Notas:

[1] FERREIRA, op. cit., p. 94.

[2] RODRIGUES, Olao, op. cit., p. 96. Na pág. 135, o livro cita um jornal com esse nome surgido em 1932, feito por Edmundo de Queiroz, Ramiro Calheiros e Floriano Cruz.

[3] SANTOS, Francisco Martins. História de Santos, apud GITAHI, op. cit., p. 55.

[4] RODRIGUES, Olao, op. cit., p. 41.

[5] RODRIGUES, Olao, op. cit., p. 50.

[6] A Nação, 408, 15/6/1927, p. 2., apud GITAHY, op. cit., p. 71. Os nomes dos possíveis articuladores do jornal vêm de PINHEIRO, P.S. e HALL, Michael. A classe operária no Brasil/1889-1930, p. 24, apud GITAHY, op. cit., p. 71.

[7] GITAHY, op. cit. Esse é o ano seguinte ao de fundação da entidade.

[8] COSTA E SILVA SOBRINHO, José da. Santos noutros tempos.

[9] O Estado de São Paulo, 17 a 20 /5/1891, apud GITAHY, op. cit., p.73.

[10] A Questão Social, 15, 1/5/1896, apud GITAHY, op. cit., p.73.

[11] Sociedade União Operária, Relatório do presidente à assembléia geral de 10/1/1910, apud GITAHY, p. 73. Este documento pode ser encontrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

[12] RODRIGUES, Olao. História da Imprensa de Santos, p. 68/9. APesar de Lucia Gitahy citar como fonte de suas informações sobre a natureza do Partido Operário, na página 72 de seu trabalho, no livro de Edgar Carone, A República Velha (p. 200), nada consta sobre esse organismo, apenas dados incorretos sobre a União Operária - dizendo-a efêmera - a entidade existe até hoje - e atribuindo sua fundação a Silvério Fontes, em 1894.

[13] Redação original. Idem, ibidem, p. 68. O número 3 foi editado em 30/10/1892.

[14] Idem, ibidem, p. 68.

[15] CARONE, Edgar. A República Velha, p. 199.

[16] FERREIRA, op. cit., p. 94.

[17] GITAHY, op. cit., p. 88. Esse jornal tem seus primeiros números em 1905.

[18] RODRIGUES, op. cit., p. 68.