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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE! - LIVROS
A Barcelona Brasileira (18)

Clique na imagem para voltar ao índiceEntre 1879 e 1927, Santos foi o centro de um dos três principais movimentos de reforma social no Brasil, tornando-se conhecida como a Barcelona Brasileira, em razão da chegada de grande contingente de imigrantes ibéricos, fortemente politizados, participantes ativos da corrente do anarco-sindicalismo. Santos tinha também uma imprensa engajada nas questões sindicais, com cerca de 120 jornais e revistas. Apesar disso, este período da história santista e brasileira foi muito pouco estudado.

Foi o que levou o jornalista e historiador Paulo Matos a produzir este material (que obteve o primeiro lugar do Concurso Estadual Faria Lima-Cepam/1986, da Secretaria de Estado do Interior de S. Paulo). Ampliado e revisado, para publicação em livro, tem agora sua edição pioneira em Novo Milênio:

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Santos Libertária!

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Imprensa e história da Barcelona Brasileira 1879-1927

PARTE II - A imprensa da Barcelona Brasileira

Capítulo V - (cont.) Imprensa operária em Santos/1879-1927- Análises:

 

[10] A Greve - 1897

Com seu primeiro número editado em 19 de outubro de 1897, o jornal A Greve tinha como editor Benedito Ramos, provavelmente após a dissolução da unidade feita em 1886 formando o Partido Operário-Socialista de Santos, que juntou o "seu" Partido Operário, o Centro Socialista e a Sociedade União Operária [1].

A ideologia de A Greve deve creditar-se ao seu editor, que professava o reformismo como prática de ação, buscando atenuar, através de reformas sociais no parlamento, as contradições sociais que se verificavam. Este periódico tinha o formato 25 x 37 e 4 páginas.

[11] O Dois de Fevereiro - 1905

Órgão de divulgação da Sociedade Beneficente Dois de Fevereiro, entidade mutualista fundada em 1904, que oferecia serviço médico, auxílio-funeral, biblioteca e cooperativa de consumo aos seus 672 associados. Mantinha contatos com associações semelhantes, inclusive com a União Operária de Engenho de Dentro [2].

Este jornal veicula não apenas os préstimos das entidades ao seu corpo associativo, que revela elevado grau de organização corporativa, mas também mensagens ideológicas, mostrando uma caminhada neste sentido das entidades mutualistas. Foi dirigido por Theotonio Mascarenhas Passos e Cesar Dantas Bacellar. Estes organismos de assistência mútua representam o primeiro sintoma da organização operária e se dedicam à estruturação de cooperativas de consumo, assistência médica, auxílio-doença e auxílio-desemprego. Tem redação e administração na Rua Amador Bueno, 12, e o telefone número 231.

Em um período em que não havia qualquer assistência aos trabalhadores, nem qualquer legislação protetora do trabalho, o operário urbano sentia a necessidade de agrupar-se para enfrentar as dificuldades surgidas, seja nos acidentes de trabalho, assistência jurídica, escolas, auxílio funeral e farmácia, por onde eram fornecidos aos trabalhadores remédios a preços acessíveis.

Em outra edição de O Dois de Fevereiro [3], além da divulgação das suas atividades, vem uma análise da questão social, de visão moderada. Noticiando que "no dia 23 do corrente haverá o segundo sorteio para o resgate das ações para a compra de farmácia", dá uma idéia do grau de organização econômica desse conjunto de trabalhadores, segundo o noticiário deste exemplar da entidade mutualista.

Relatórios de qualidades de assistências prestadas aos sócios, remédios fornecidos aos adultos e seus filhos e sobre a instalação da cooperativa de consumo são pontos de destaque no Dois de Fevereiro. Sobre a cooperativa, o órgão explica que "... ainda não em condições de satisfazer as necessidades do mais exigente consumidor e de sanar todos os abusos que se praticam nesse ramo de negócio..."

E traz um artigo denominado O sonho de Tolstoi: "A regeneração social sonhada de há longos tempos a esta parte, pelo grande filósofo russo, o conde de Tolstoi..." [4].

[12] União dos Operários - 1905

Trazendo no cabeçalho frases comuns aos anarquistas brasileiros, presentes na maioria dos jornais operários - "Um por todos, todos por um" e "A união faz a força", este jornal é porta-voz da Sociedade Internacional União dos Operários. Fundada em sete de agosto de 1904, é a segunda federação sindical da cidade, formada por dissidentes da Primeiro de Maio.

Primeiro órgão de imprensa da Sociedade Internacional, o União dos Operários antecede a Tribuna Operária, que só viria à luz em 1909. Segundo Lucia Gitahy [5], só se conservou um exemplar deste jornal aqui analisado, pertencente ao arquivo de História Social de Amsterdam, Holanda. É produzido pelo grupo que mais tarde se definiria como anarco-sindicalista, incluindo Primitivo Raimundo Soares, que usava a alcunha de Florentino de Carvalho. Prima pela análise da problemática local e se inclina para uma certa "crueza" de linguagem.

O exemplar citado, encontramos microfilmado no Arquivo Edgar Leuenroth, da Unicamp [6], endereçado à mão para "Les Temps Nouveau - Rue Broca, nº 4 - Ve Paris/France". Foi por nós fotografado e consta dos anexos deste trabalho.

Jornal predominantemente informativo do movimento operário nacional e internacional, traz também notícias de suas próprias atividades, as conferências ideológicas tão presentes nesse movimento. Comenta em um artigo que "ocorreu no dia 7 p.p. uma palestra do senhor Rutigliano Genaro, que com frases claras e inexcedível correção, discorreu sabiamente sobre as causas da infelicidade do proletariado, lembrando a agitação do povo russo e de seus mestres Tolstoi e Gorki" [7].

"Da Rússia", noticia do jornal, "de Balankhany contam que a população, indignada com a barbaridade das tropas, arremessou azeite fervendo sobre os soldados, que fugiram espavoridos, deixando em poder dos revoltosos toda a sua artilharia". De São Petersburgo, conta que Máximo Gorki apresentou-se candidato à Assembléia Nacional pela cidade de Nidigoroud [8].

Esse número traz também uma carta do líder operário Luiz La Scala, análises da questão social em nível acadêmico de autores nacionais e estrangeiros, em longos textos. Publica em capítulos o livro de Vicente Blanco Ibanez, A Catedral, em tradução feita por Ribeiro de Carvalho e Moraes Rosa.

Em um artigo intitulado Apelo ao operariado, notamos a tomada de posições que, mais tarde, vão justificar a divisão da Internacional e a criação da Federação Operária. A Internacional dá crédito ao sistema parlamentar, encaminhando através dele suas reivindicações - o que, na opinião dos anarco-sindicalistas, desvia do sentido da luta o operariado, dissolvendo-a.

Nele, noticia que os trabalhadores da fábrica Votorantim, Santa Helena, Santa Rosália, Nossa Senhora da Ponte e Santa Maria, em um meeting realizado em 12 do corrente, decidiram pelo envio ao Congresso Nacional representação sobre a necessidade de serem adotadas medidas urgentes "no objetivo da melhoria da indústria do país".

Um artigo de capa enaltece o papel da imprensa, "que é propagadora da verdade, do direito e da justiça, da civilização" [9]. E continuando: "É ela que nos traz notícias sobre os acontecimentos contemporâneos e tornou-se indispensável à vida dos povos".

Não se tem informações sobre o número de jornais editados com este título, observando-se apenas que a periodicidade mensal no ano de seu lançamento foi mantida, visto que no mês nove o jornal tem igual número.

[13] A Aurora - 1907

A presença do jornal A Aurora na relação de jornais paulistas de Nazareth Ferreira, atribuindo a Santos o seu lançamento por Luiz La Scala e Eládio Antunha [10], nos levou a crer que fosse o exemplar encontrado no Arquivo Edgar Leuenroth, de um órgão com este nome.

Sem dados sobre data ou editores, senão uma assinatura "Santos Junior", este jornal tem o formato de uma revista, com capa vermelha: 25 x 17. Há referências sobre um jornal com este título em São Paulo, no livro de Maran [11] e, possivelmente, o exemplar por nós encontrado no original pertence a esta safra.

"A Aurora, jornal eminentemente plebeu, que só pode viver se o povo lhe der a seiva". Com este texto na página interna, em todos os seus artigos somente uma assinatura: a de "Santos Junior", que julgamos seja um pseudônimo. O jornal se define na capa como um "panfleto social crítico", preferindo debater questões do que noticiar mobilizações ou reivindicações operárias, ao menos no número pesquisado.

A ausência de referências às lutas desenvolvidas pelos militantes, citados como seus editores, é mais um argumento no sentido de que este exemplar não é o citado pela publicação. Também segue neste sentido o fato do jornal ter escritório e redação na Rua Westphalia nº 1.207.

Anunciando para breve a publicação de "A Cavalhada - ironia e humorismo - folheto por Santos Junior - aceitam-se pedidos na redação de A Aurora", ainda no cabeçalho fala das dificuldades para por "este primeiro número na rua, a falta de recursos com que lutei por que sou pobre e não pedi auxílios/.../ Tudo isso retardou a saída de A Aurora. Felizmente realizei o que tinha prometido" [12].

O jornal, que custa 2$000 a série de 12 números e o número avulso $200 - atrasado, $400 -, tem ainda, naquilo que parece ser um editorial, uma desculpa: "... já composta, partiram-se duas páginas", ou seja, falhas no sistema de composição à linotipo, usada na época. E diz que deixa de publicar um artigo do "camarada e forte jornalista Astrogildo Pereira" sobre o movimento operário de Petrópolis.

Entre frases antológicas com a de Clemenceau - "Depois de tudo, os anarquistas têm razão: os pobres não têm pátria!" ou "Quem vai à barricada deve levar mais do que uma arma na mão, deve levar uma idéia no cérebro", um apelo: "Leiam e façam circular A Aurora! Ela não quer viver do favor oficial nem da esmola capitalista".

Há um anúncio de uma alfaiataria ("Internacional"), na Rua Thereza, nº 533, dizendo que seu proprietário foi boicotado pelo patronato após quatro meses de prisão sem causa justificada, pedindo aos trabalhadores para "responder ao gesto do capitalismo dando preferência à ...Alfaiataria Internacional".

Característica de uma iniciativa individual, A Aurora foi por nós fotografada no Arquivo Edgar Leuenroth.


Notas:

[1] RODRIGUES, Olao, op. cit., p. 100.

[2] O Dois de Fevereiro, 11, setembro de 1905, apud GITAHY, op. cit., p.78.

[3] O Dois de Fevereiro, 10, agosto/1905.

[4] Idem, ibidem, 10/8/1905.

[5] GITAHY, op. cit., p. 121.

[6] União dos Operários, 9, 15/9/1905.

[7] União dos Operários, 9, 15/9/1905.

[8] Idem, ibidem, 9, 15/9/1905.

[9] União dos Operários, 9, 15/9/1905, p. 1.

[10] FERREIRA,  op. cit., p. 95. Os nomes estão grafados erroneamente, "Lascala" e "Elídio".

[11] MARAN, op. cit., p. 178.

[12] A Aurora.