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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE! - LIVROS
A Barcelona Brasileira (23)

Clique na imagem para voltar ao índiceEntre 1879 e 1927, Santos foi o centro de um dos três principais movimentos de reforma social no Brasil, tornando-se conhecida como a Barcelona Brasileira, em razão da chegada de grande contingente de imigrantes ibéricos, fortemente politizados, participantes ativos da corrente do anarco-sindicalismo. Santos tinha também uma imprensa engajada nas questões sindicais, com cerca de 120 jornais e revistas. Apesar disso, este período da história santista e brasileira foi muito pouco estudado.

Foi o que levou o jornalista e historiador Paulo Matos a produzir este material (que obteve o primeiro lugar do Concurso Estadual Faria Lima-Cepam/1986, da Secretaria de Estado do Interior de S. Paulo). Ampliado e revisado, para publicação em livro, tem agora sua edição pioneira em Novo Milênio:

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Santos Libertária!

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Imprensa e história da Barcelona Brasileira 1879-1927

PARTE II - A imprensa da Barcelona Brasileira

Capítulo V - (cont.) Imprensa operária em Santos/1879-1927- Análises:

 

[22] A Razão - 1919

Sobre este jornal editado por Francisco Sá [1], encontramos apenas a citação de Nazareth Ferreira como sendo um veículo originário de Santos. A bibliografia de Maran [2] diz que houve jornais com esse nome em Bauru, no estado de São Paulo, em 1919, e no Rio de Janeiro, entre 1916 e 1921. Presume-se que a informação correta seja a deste autor, que cita A Razão como editado no interior paulista em 1919.

[23] Tribuna Proletária - 1920

O relato da imprensa santista de Olao Rodrigues fala da existência de um jornal com este título editado em Santos em 1920 [3], tendo seu primeiro número surgido em 8 de novembro desse ano.

[24] O Mutualista - 1923

Segundo a informação transmitida no relato de Olao Rodrigues, o jornal O Mutualista [4] era um órgão de propaganda e divulgação das vantagens dos sistemas de socorros mútuos para os trabalhadores, estimulando a auto-organização proletária nesse sentido, nessa época em que nasciam os primeiros sintomas de assistência patronal e estatal. Seu primeiro número veio em 16/10/1923.

[25] O Solidário - 1923

Considerado um dos principais jornais comunistas do estado, ao lado do Internacional de São Paulo, ambos quinzenários e órgãos dos trabalhadores da alimentação em hotéis e restaurantes, o jornal O Solidário surge em 1923 como porta-voz desta categoria. Em 1925, torna-se "órgão da classe operária" [5]. Não sofre os atropelos das autoridades nem de um problema comum aos jornais operários - as dificuldades financeiras. Tinha como fonte de renda os anúncios de cereja, uísque escocês, gim e vermute, pagos pelas grandes empresas como a Matarazzo, a Antártica e a Brahma, ligados profissionalmente.

O jornal O Solidário, assim como O Internacional, sai com regularidade durante o estado de sítio, que perdura de 5/7/1924 a 31/12/1926, data em que chegou ao fim após sucessivas prorrogações. Em fevereiro de 1925, O Solidário noticia com alarde a intervenção policial no movimento dos operários da Docas, que reivindicavam um aumento de 25% sobre os 8 mil réis que recebiam pelos dias de 8 horas de trabalho [6].

Em março, quando os trabalhadores santistas de outros ofícios pediam aumento salarial, o jornal aplaudiu a extensão da "admirável agitação proletária" [7]. O Solidário deixou de aparecer na segunda metade de 1925, mas teve sua venda normalizada em janeiro de 1926, surgindo então como "órgão da classe operária", ao invés de "órgão dos trabalhadores em alimentação".

O seu ressurgimento, sob a direção do garçom comunista João Freire de Oliveira, foi bem acolhido pelos seus correligionários. Outro jornal operário, A Voz Cosmopolita, chamou o novo O Solidário de "o grande jornal dos trabalhadores santistas" e disse ainda que "é o jornal de um partido, é o jornal da política proletária" [8].

É importante destacar que a classe dos anúncios de bebidas alcoólicas veiculados por estes jornais não interferia em sua ação, como se pode observar na edição do Internacional de 1º/5/1924, que divulga uma conferência de Maria Lacerda Moura sobre alcoolismo e a questão social.

Em junho de 1926, a edição de O Solidário entra no debate ideológico que se travava entre as diversas correntes, e diz que vai "provar com fatos" [9] que "os brancos como os burgueses, os amarelos como Amaro de Araújo e Luiz de Oliveira, os róseos como os socialistas e os rabanetes como os anarquistas, os sindicalistas e os anarco-sindicalistas, constituem uma só pessoa" [10].

A postura contestava as posições do jornal A Vanguarda, que assumira posições em defesa do anarquismo e do anarco-sindicalismo, atacando os comunistas bolchevistas de O Solidário como fascistas. Estes diziam que os anarquistas haviam se aliado aos capitalistas brancos, aos socialistas róseos e aos amarelos, sindicalistas reformistas.

No Solidário, na discussão sobre a palavra de ordem PCB para constituir uma Confederação Geral do Trabalho no país, em 1925, a "frente única do proletariado" [11] - para conquistar, entre outras reivindicações, o dia de 8 horas e a legalidade do PCB, "o primeiro e único partido operário do Brasil - vanguarda do proletariado" -, a manifestação do representante santista do Partido, João Freire de Oliveira, não foi otimista.

Sobre o objetivo dos comunistas de fazer frente à "ofensiva burguesa", com uma frente única de sindicatos organizados com jornais próprios, com dezenas de milhares de membros, Freire mostrou que em Santos havia apenas 6.040 trabalhadores organizados, entre 42.250 operários, no início de 1926. E sobre estas entidades, observou serem "isoladas, vivendo cada uma para si" [12].

O jornal O Solidário atribui esse estado de coisas "à cegueira, à ineficiência e extemporaneidade dos métodos anarco-sindicalistas, que arrastariam as massas ao movimento sem o devido preparo, sob o pretexto de que uma greve sempre seria um bem" [13]. Eles tocaram no ponto crucial do retrocesso do movimento operário, após as greves.

Nas eleições municipais de 1925 em Santos, realizadas em 29/11, o garçom João Freire de Oliveira, como líder local do PCB, organizou uma coligação operária e foi convidado por ela. Os resultados foram lastimáveis para esta tentativa eleitoral, pois de um eleitorado de 3.200 eleitores, com 1.912 votantes "apesar do aguaceiro" [14], João Freire conseguiu apenas 34 votos.

Em O Solidário ele falou com otimismo "dos futuros triunfos" [15]  e pôs a culpa do recente fracasso na desorganização operária, na traição de operários e nos resíduos de anti-parlamentarismo anarquista presentes nos sindicatos.

Em 1927, o jornal A Nação, do Rio de Janeiro, tinha como seus redatores o dirigente do Solidário, João Freire de Oliveira, junto com Paulo Mota Lima. A Nação era o jornal do professor de Direito Leonidas de Resende, que desapareceu de circulação durante a maior parte dos anos de 1924 a 1926, em que o estado de sítio perdurou, por causa dos artigos contra o presidente Artur Bernardes, que ele e Mauricio de Lacerda haviam publicado neste jornal diário. Ele deixou de circular em 14/6/1924 para reaparecer depois, quando seu proprietário havia aderido ao comunismo [16]. Em 3/1/1927, A Nação reaparece como órgão do PCB, que ofereceram como "doação" dois mil réis ao jornal, episódio que repercutiu entre os anarquistas.

No livro de Olao Rodrigues [17], este jornal é citado como sendo editado em 1924, tendo sido noticiado no Jornal da Noite como "órgão de defesa de uma classe honrada e mal paga", na edição de 19/6/1924.

Estatística de todo o município de Santos - Segundo o jornal O Solidário, é a seguinte a composição do proletariado santista em 1926 [18]:

Ocupação Total

Organizados

Edificação 5.040 310
Veículos 4.260 1.800
Docas 4.080 980
City Improvements Co. 3.500 --
Ferroviários 2.700 --
Café (armazéns) 2.700 1.300
Pescadores 2.240 650
Comércio 4.200 200
Diversos 2.000 --
Serviços públicos 1.600 --
Panificação e massas 1.160 400
Hotéis e bodegas 1.100 400
Madeira 1.050 --
Diversões    980 --
Metalurgia   720 --
Vestuário   650 --
Têxteis   630 --
Carne   830 --
Barbeiros   540 --
Fábricas de bebidas   410 --
Couros e peles   400 --
Imprensa   400 --
Produtos químicos e análogos   350 --
Telefonistas   380 --
Leiteiros   330 --
  42.250 6.040

Notas:

[1] FERREIRA, op. cit., p. 95.

[2] MARAN, op. cit., p. 179.

[3] RODRIGUES, op. cit., p. 217.

[4] RODRIGUS, op. cit., p. 124.

[5] DULLES, J. W. Foster. Anarquistas e comunistas no Brasil, 1900-1935, p. 225/6.

[6] "Será greve?", O Solidário 2, nº 31, de 5/2/1925, apud DULLES, 225.

[7] "Atividade reivindicatória", O Solidário 2, nº 35, 24/3/1925, apud DULLES, op. cit., p. 225.

[8] A Voz Cosmopolita, 2/2/1926, apud DULLES, op. cit., p. 226.

[9] O Solidário 3, nº 45, 27/6/1926, apud DULLES, op. cit., p. 241.

[10] Idem, ibidem, p. 241.

[11] DULLES, J. W. Foster. Anarquistas e Comunistas no Brasil, 1900-1935, p. 243/4.

[12] O Solidário 3, nº 39, 25/2/1926, apud DULLES, op. cit., p. 251.

[13] O Solidário 3, nº 45, 27/6/1926, apud DULLES, op. cit., p. 251.

[14] DULLES, J. W. Foster, op. cit., p. 236.

[15] João Freire de Oliveira, entrevista concedida à Folha da Manhã de SP, reproduzida em A Vanguarda de 11/1/1926, apud DULLES, J. W. Foster, p. 237.

[16] A Nação 2, nº 325, 2/1927, apud DULLES, p. 254.

[17] RODRIGUES, Olao. op. cit., p. 217.

[18] O Solidário, 25/2/1926, apud DULLES, J. W. Foster, Anarquistas no Brasil, 1900-1935, p. 243.