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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TRANSPORTES
Antigamente era assim

Com esse título, o Jornal Popular publicou em 29 de abril de 1995 este artigo do pesquisador Bandeira Júnior, recordando os primórdios dos transportes urbanos na Baixada Santista:


As gôndolas (como esta, defronte à Igreja do Carmo)
funcionaram até o advento dos trens de passageiros...
Bico-de-pena de Ribs

Bandeira Júnior (*)

Outrora o transporte de pessoas em Santos - como em todas as cidades - era feito por montarias (cavalos), séges, banguês, cadeirinhas (de arruar) e, nas distâncias maiores, por carros-de-bois.

Séges eram pequenas e leves carruagens; banguês eram liteiras montadas em animais (um na frente, outro atrás), conduzidos por um cocheiro; e cadeirinhas eram transportadas por dois escravos.

Em julho de 1864, o italiano Luigui Massoja [N.E.: outros autores grafam Luigi ou aportuguesam para Luís Massoja] - estabelecido com botequim e bilhares, na Rua Antonina (trecho da Rua 15 entre as ruas do Comércio e Frei Gaspar) fundou sociedade, por ações, denominada Serviço Regular de Gôndolas, iniciativa que teve grande repercussão em Santos.

Os carros - puxados por cavalos - faziam o trajeto do Largo da Coroação (Praça Mauá) à Praia da Barra (Boqueirão), pelo centenário Caminho da Barra Grande, o mesmo chão hoje ocupado pelas ruas Braz Cubas, Luís de Camões e Oswaldo Cruz, custando a passagem 1$000 (hum mil réis) - bem elevado para a época...


Anúncio do início de um serviço regular de diligências entre Santos e São Paulo, em 1865
Publicado em um jornal paulistano em 11 de janeiro de 1865. Reproduzido no livro Sala São Paulo - Café, Ferrovia e a Metrópole, editado em 2001 pela Secretaria da Cultura do Estado de S. Paulo, comemorando a abertura da "Sala São Paulo" (antiga estação da Estrada de Ferro Sorocabana).

Imagem enviada a Novo Milênio em 15/5/2009 pelo fotógrafo paulistano Gilberto Calixto Rios

Um ano depois, o audacioso botequineiro deliberou estender o trajeto até a Capital da Província, aproveitando os melhoramentos da Estrada da Maioridade, inaugurada por D. Pedro II, dezoito anos antes, quando de sua primeira visita a Santos (1846).

Os bilhetes intermunicipais podiam ser adquiridos, ao preço de 15$000 (quinze mil réis) no 60, da Rua do Rosário (João Pessoa).

Mas, a empresa do Sr. Luigui Massoja teve dificuldades, e, um ano depois, ele falia fragorosamente e escafedia-se de Santos...

Não obstante esse fracasso, o Sr. Alexandre José de Melo, dono de uma cocheira da cidade, teve a coragem de restabelecer o transporte de gôndolas para São Paulo, nos primeiros dias de 1866 [N.E.: era a Companhia Diligências Guanabara].

A inauguração, logo a 16 de fevereiro desse mesmo ano, da Saint Paul Railway Co., foi fatal para os interesses do Sr. Alexandre José de Melo, que em julho, também, requeria sua própria falência!

Em nossa cidade, afora os bondes, só voltamos a ter transporte coletivo por volta de 1914, quando começaram a circular ônibus (a diesel) que o povo logo alcunhou de Mamãe me leva...

A partir de março de 1925, Santos ganhava novos e alinhados ônibus: os célebres amarelinhos da City of Santos Improvements Co., que também explorava os serviços de água, força, gás e bondes.

Outra conseqüência da eficiente ferrovia inglesa foi o abandono e decadência da Estrada da Maioridade, utilizada apenas por tropeiros, até o raid automobilístico do esportista Antônio Prado Júnior, em 1908, que chamou a atenção das autoridades para seu uso pelos novos carros a motor.


A impecável Via Anchieta e os ônibus mataram os trens de passageiros
Ilustração publicada com a matéria

Com Rodrigues Alves no governo do Estado (19/12/1916) iniciou-se a remodelação do Caminho do Mar (não mais da maioridade) a fim de adaptá-lo em pista carroçável para veículos motorizados.

Em 1926, o trecho mais difícil - o da serra - recebeu rolamento de concreto; entretanto, as curvas bruscas (havia uma com o assustador nome de Curva da Morte!) e o declive violento tornavam a viagem, por essa rodovia, em façanha para destemidos motoristas! Tanto assim que somente em 1933 voltou-se à ligação Santos-Capital por coletivos, evidentemente motorizados.

Desta vez, a iniciativa vitoriosa [coube] aos irmãos Alonso, dois antigos choferes, que fundaram a Auto Viação São Paulo-Santos Limitada, com dois únicos carros - marca Chevrolet tipo Roma - que partiam da agência Mauá defronte à Estação da Luz, numa concorrência que, igualmente, com o passar do tempo, seria fatal para os pullmanns da inglesa.

Em Santos, as romanas dos irmãos Alonso faziam ponto, na praia, no Resturante Boa Vista (hoje Condomínio Samburá) e, na cidade, defronte ao Bar Suísso (onde hoje é o Edifício Martim Francisco).


Na década de 1930, forte concorrência entre a São Paulo Railway e os primeiros ônibus interurbanos Santos/São Paulo - este visto junto à ferrovia, na Avenida Martins Fontes ou já na Via Bandeirantes, junto à entrada de Santos pelo bairro do Saboó
Foto: acervo do historiador Waldir Rueda

A segunda empresa no transporte de passageiros entre o litoral santense e o planalto foi a Companhia Geral dos Transportes (CGT), subsidiária da Saint Paul Railway Co., cujos ônibus, de fabricação inglesa, marca Thornicroft, de dois andares, ganharam o apelido de King Kong.

Em 1935, a CGT era substituída pela União dos Transportes Interurbanos Ltda. (Util), com estação na porta do Santos Hotel (esquina das praças da República e Barão do Rio Branco). Logo surgiria a concorrência dos coletivos das empresas Expresso Brasileiro e Viação Cometa.

A perfeição técnica da Via Anchieta - a melhor rodovia do Hemisfério Sul -, inaugurada em 1947, incentivou a formação de outras empresas que encamparam ou absorveram as antigas, até o aparecimento da Ponte Rodoviária, com apenas três empresas, já na fase da Via dos Imigrantes, que ainda não conta com via descendente [N.E.: só seria concluída em dezembro de 2002].

(*) Bandeira Júnior é memorialista e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos.


Anúncio da Viação Coringa em 1º de julho de 1967
Imagem: jornal Cidade de Santos, edição de lançamento (nº 1)