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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IGREJAS - Capelas e oratórios
Capelas e oratórios da Baixada Santista [13]


A passagem do tempo e as ações humanas vão levando consigo os vestígios de muitas construções de caráter religioso, como os inúmeros oratórios e as capelas espalhadas pelo terreno hoje ocupado pelas cidades da Baixada Santista. Em alguns casos, fica a memória. Em outros, até ela se vai, por não ser apoiada pelos vestígios de sua existência, que faz com que as lembranças se esfumem até desaparecerem ou virarem mitos e lendas. Por isso, o pesquisador de História e professor Francisco Carballa procurou recuperar essas memórias e relacionar as edificações religiosas menores, neste relato por ele enviado em de novembro de 2012, para publicação em Novo Milênio:

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Capelas e igrejas particulares

Francisco Carballa

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[13] Capela do cemitério do Saboó

Capela demolida em setembro de 1972, feita em estilo neogótico. Em seu lugar existe atualmente uma mais simples, em forma de cubo, dedicada para Nossa Senhora da Piedade; No passado, havia um calvário, cujas imagens de Nossa Senhora das Dores, São João Evangelista e o crucifixo foram levados para o Valongo e ali estavam até o final dos anos 90.

Curiosamente o povo cristão devoto tinha o costume de passar por trás do altar como forma de veneração, semelhante ao que ocorre em santuários [08].

A nova capela, que foi construída em meados dos anos 1970, a princípio não recebeu título. Bem simples e em forma de cubo, seguia o estilo da época principalmente tentando ser um local ecumênico - o que nunca conseguiu, pois pessoas de todas as religiões que a usaram, deixaram-na imunda, danificaram alguma coisa ou deixaram folhetos de suas próprias convicções doutrinárias, até detrás da figura de Jesus. Sendo assim, qualquer forma de dialogo seria em vão: seriam essas as eternas reclamações de suas devotadas guardiãs voluntárias, as donas Lourdes, Benedita e Maria da Bica.

Situada bem para dentro do cemitério (ao final da cruz formada pelo seu caminho central), de arte nada teria e por dentro seria ainda mais simples, contendo uma cruz vazada com uma efígie de Jesus em agonia, nimbado de luz; uma imagem mais simples ainda de Nossa Senhora Aparecida, um altar de madeira (que logo foi devorado pelos cupins) e um pequeno crucifixo de metal antigo que ficaria sempre sobre o mesmo.

Na parte de trás, que serve de sacristia, havia um móvel muito antigo e encimado por três cruzes, usado como armário de sacristia. Devido à sua madeira ser amarga para os insetos, não apresentava sinais de cupins; tinha sido levado de uma antiga igreja de Santos para a capela demolida; de lá foi para um depósito e depois para a capela nova. Hoje seu paradeiro é ignorado.

Também existiam no local quatro grandes e escuros bancos, muito antigos, dos quais o primeiro balançava para o lado e era encostado na parede - assim mantido por muitos anos, para delírio das beatas.

Sendo essa casa de oração curada pelos franciscanos do Valongo, continuaram a dizer missas nas segundas-feiras e no dia de Finados eram rezadas três missas, segundo o que manda o Missal. De forma devocional, nesse dia havia uma procissão saindo da Igreja de Santo António, tendo à frente a cruz de procissão com o dossel negro, ladeada por duas lanternas e o tocador de matraca. Era acompanhada por uma associação devotada às almas, cujos membros usavam um crucifixo pendente de uma fita roxa, e pelo povo, percorrendo as ruas São Bento e Visconde de São Leopoldo, até chegar ao cemitério e finalmente à capela. Com o decorrer do tempo e o aumento do trânsito, e pelo fato de as vias de acesso à cidade serem muito estreitas, essa devoção aos poucos foi desaparecendo.

Somente em 1977, com o apoio de frei Francisco Marcochi (que celebrava as missas na capela), ressurgiu a Procissão das Almas (que o povo chamava "das Almas Vivas"). Uma pequena imagem da Virgem Maria, sob o título da Senhora da Piedade, de minha devoção,  era levada no pequeno andor, sendo depois resolvido que ela ficasse na capela; assim foi feito alguns dias depois, para plena satisfação minha e do frade franciscano, sendo fixada uma peanha na parede, à esquerda do altar, com a imagem presa por parafusos em suas bases. Do lado direito do altar, em outra peanha, foi colocada a imagem de Santa Maria Magdalena, igualmente presa por parafusos.

Com o tempo a Virgem seria a oraga da capela, hoje conhecida como Nossa Senhora da Piedade, sendo a imagem substituída por outra maior, por muitos anos usada na mesma procissão, doada por este pesquisador para aquela capela, quando ela era curada no tempo do padre Eniroc, pároco da Igreja de Nossa Senhora da Assunção do Morro de São Bento (na qual fez reformas significativas, dando-lhe mais estética e características de igreja).


NOTA:

[08] Tem o título de Santuário todo templo no qual ocorreu um milagre com muitas testemunhas como na Igreja de Nossa Senhora da Penha no bairro do mesmo nome em SP, ou na Igreja do Monte Serrat de Santos e Santo António do Valongo.


A capela é vista aqui no detalhamento de uma foto de José Marques Pereira, por volta de 1920

Imagem: detalhamento de foto cedida a Novo Milênio por Ary O. Céllio

 




Início da demolição da capela, em fotos publicadas no dia 13 de setembro de 1972 no antigo jornal Cidade de Santos

Imagens: pesquisa do historiador Waldir Rueda nos arquivos do jornal, mantidos no acervo da Unisantos