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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IGREJAS - Capelas e oratórios
Capelas e oratórios da Baixada Santista [28]


A passagem do tempo e as ações humanas vão levando consigo os vestígios de muitas construções de caráter religioso, como os inúmeros oratórios e as capelas espalhadas pelo terreno hoje ocupado pelas cidades da Baixada Santista. Em alguns casos, fica a memória. Em outros, até ela se vai, por não ser apoiada pelos vestígios de sua existência, que faz com que as lembranças se esfumem até desaparecerem ou virarem mitos e lendas. Por isso, o pesquisador de História e professor Francisco Carballa procurou recuperar essas memórias e relacionar as edificações religiosas menores, neste relato por ele enviado em de novembro de 2012, para publicação em Novo Milênio:

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Capelas e igrejas particulares

Francisco Carballa

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[28] Capela de Santo António da Beneficência Portuguesa

Capela que ficava no Paquetá, onde hoje é a Rua João Octávio, tendo em seu lugar o Moinho Paulista. Algumas de suas palmeiras imperiais eram vistas ainda nos anos 1960, até que morreram, sufocadas pelo cimento e estacionamento de caminhões. O templo ficava na parte central do hospital e servia tanto ao povo como para as orações da instituição onde trabalhou monsenhor Moreira.

Quando ocorreu a construção da nova sede, fizeram outra capela, mas a antiga imagem barroca de Santo António foi mantida na provedoria, sendo colocada outra imagem no local, com as características lisboetas. Com o saco de pão, seu antigo altar de madeira, típico paulistano de meados do século XIX, está na parte dos velórios, com uma imagem de São Judas Tadeu dentro.

Hospital - O Hospital foi construído após ser lançada a pedra fundamental em 1868, sendo erigida uma capela ou Casa de Deus em 1878, quando começou a funcionar o atendimento ao povo. Assim, os cristãos poderiam fazer suas preces em horas difíceis.

Na capela, como era próprio da época, haveria um altar tridentino [11] e a imagem do orago [12] que deu nome do hospital, dedicado ao patrocínio de Santo António de Lisboa.

A antiga companhia de transportes coletivos dirigiu para lá seus trilhos, como pode ser visto em fotos antigas e postais, havendo inclusive, na frente do hospital, um intrincado complexo de trilhos de bonde, servindo a muitas linhas, para facilitar o acesso de pacientes ao hospital em horas de necessidades extremas [13].

Ocorre que, com a proximidade do cais do porto, insalubridade do local e necessidade de se ampliar o cemitério do Paquetá - que dominaria uma quadra quase inteira -, além do avanço dos bares e cabarés, a entidade mantenedora procurou outro espaço, erigindo um novo prédio em 1926, na Avenida Bernardino de Campos (Canal 2), para onde as instalações foram posteriormente transferidas.

Nesse novo prédio, em estilo neocolonial, foi instalada no primeiro andar a capela de Santo António, em 1930. Do antigo altar de madeira, em estilo paulistano, não temos referência se ficou algum tempo dentro da capela nova ou já foi usado na sala número 8 de velórios.

Porém, a imagem de Santo António ainda se mantém na Provedoria, sendo levada para a Basílica de Santo Antonio do Embaré no dia 13 de junho de 1994 e exposta no altar montado na praça fronteira à igreja, onde está o monumento em bronze do santo, dali saindo com a tradicional procissão pelas ruas do bairro e a preciosa imagem devolvida em seguida ao hospital.


Altar da capela
Foto feita em 7/1/2013 pelo pesquisador Francisco Carballa, imagem cedida a Novo Milênio

Altar - Quando o hospital tinha seu endereço na Rua João Otávio, também possuía sua capela, local para preces desesperadas pelo restabelecimento de um ente querido ou pela partida do mesmo, e onde o padre e monsenhor Moreira atendia os fiéis, pegando o bonde dali para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde celebraria missa.

É um altar em madeira típico paulistano do final do século XIX, guardado com carinho da demolição do antigo prédio dessa instituição. Caso o piso das antigas instalações tenha sido feito em madeira e o altar assentado sobre o solo, mesmo que com uma base de alvenaria, se forem feitos testes na sua base se constatará a presença da salinidade do solo, fronteiriço ao mar, onde fora construída a antiga capela. Atualmente, esse altar pode ser visto na sala nº 8 de velórios, tendo à sua frente uma eça funerária de alvenaria e a imagem de São Judas Tadeu no nicho ou trono.

Uma das características desses altares e a presença de dois puttos ou anjinhos com castiçais nas mãos, produzidos de forma igual e com dois exemplares no Museu de Arte Sacra do Mosteiro de São Bento de Santos (que, segundo se afirmava na época da criação do museu, vieram daquela região). Podemos notar que a madeira tem acúmulo de camadas de tinta e, no lugar da douração com folhas de ouro, foi usada purpurina, sendo pintado o fundo do mesmo. Apesar dessas reformas típicas, vistas em todos os lugares para se tentar preservar o patrimônio, o mesmo está em bom estado - mas não a salvo das ameaças de insetos destruidores de madeira.

Segundo uma placa comemorativa fixada na parede direita do presbitério, o novo altar em mármore (muito em uso desde o final do século XIX até meados do século XX) foi inaugurado em 13 de junho de 1930, citando-se Claudina Neves Gomes de Sá como sócia benemérita e Renata Morandi Martins como a sócia da instituição e benfeitora que ofereceu o piso.


Notas:

[11] Missa celebrada pelo sacerdote, em que o ambão do altar é a mesa da celebração, ficando o mesmo de costas para o povo - motivo pelo qual antes as casulas (peça de indumentária sacra) dos celebrantes tinham seus melhores desenhos nas costas. Esse tipo de liturgia não foi suprimido pelo Concílio Vaticano II, havendo agora uma retomada em muitos locais dessa forma de celebração, considerada por muitos cristãos a mais devota.

[12] Orago, oraga, ou simplesmente o orante do lugar, aquele que ora ou reza perpetuamente (palavra de origem árabe-portuguesa).

[13] Esse complexo de chaves ou jacarés nas ligações entre os trilhos eram cerca de sete, no cruzamento da Rua João Otávio com o fim da Rua João Pessoa e início da Rua Senador Dantas. Essas chaves permitiam a junção de cerca de quatro percursos que serviriam a muitas linhas de bonde até sua extinção, quando pude ver que o ultimo bonde que trafegou ali passou em direção da Rua Amador Bueno, pela posição da chave que existia no chão do início dessa rua com a parte traseira do cemitério (apelidada pelo povo de rua das almas ou rua do despacho, devido à quantidade dessa forma de culto afro-brasileiro ali encontrada nas sextas-feiras.

Altar da capela
Foto feita em 7/1/2013 pelo pesquisador Francisco Carballa, imagem cedida a Novo Milênio

Primeiro hospital da Beneficência Portuguesa, inaugurado em 6 de janeiro de 1878, na área hoje correspondente ao nº 82 da Rua João Otávio, no Paquetá
Foto: História de Santos/Poliantéia Santista, volume III (1986)