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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA
Santa Casa de Misericórdia (2)

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Texto publicado na edição especial/comemorativa dos 460 anos da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos, publicada em 1º de novembro de 2003 pela entidade, em formato tablóide, com edição de José Eduardo Barbosa, textos dele e de colaboradores, revisão de Isabel Machado e editoração eletrônica de Marinilza Barroso Bueno (com impressão A Tribuna e patrocínio Unibanco):
 


Leonor de Lencastre
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O nome da fundadora das Misericórdias

"Leonor... Lianor... Eleonora... Lianora... Alienora... Eulianor... Lenore... - Misericordiosa... Compassiva... " El-Nor ou !Allah nuur, ou "noor" (em árabe): DEUS É A LUZ.

(Dr. Francisco J. Velozo)


 LEONOR DE LENCASTRE

"Durante oito séculos sentaram-se no trono de Portugal apenas cinco rainhas nascidas em terras lusitanas: Dona Leonor Teles, a "Flor de Altura", mulher Del Rei Dom Fernando; Dona Izabel, casada com Afonso V; Dona Leonor, esposa de Dom João II; e as duas infantes reinantes, Dona Maria I, que sucedeu a seu pai, el-rei Dom José e Dona Maria II, filha do Imperador do Brasil, Dom Pedro I.

Dentre elas, destaca-se, pela formosura, inteligência e, sobretudo, pelo muito que sofreu e pelo bem que espalhou, Dona Leonor, a fundadora das Casas de Misericórdias, filha do Duque de Viseu, Dom Fernando, Grão Mestre de Aviz, e Grão Mestre de Santiago; neta Del Rei, Dom Duarte e duas vezes bisneta de Dom João I, Dona Leonor, a "Rainha dos sofredores", era de temperamento muito diverso do seu real consorte. Ela, linda e faceira, era impressionantemente bondosa. Tinha a fisionomia suavíssima, marcada pelos olhos azuis e cabelos louros, herdados de sua bisavó, Dona Filipa de Lencastre.

Ele, sangue e alma dos Príncipes da Casa de Aviz. Bravo até a mais audaz intrepidez. Vontade de ferro. Coração de pedra. Só tinha uma preocupação: o engrandecimento da Pátria pelo fortalecimento do poder real. O destino colocou desde cedo em suas nobres mãos, ora a espada, ora o punhal, com que deveria vencer os africanos, ou apunhalar fidalgos inimigos.

Ela, Rainha exemplar. Ele, um dos maiores, talvez o maior Rei de Portugal.

A vida da Rainha desdobra-se em três fases bem distintas: a primeira, até a morte do filho, período não muito longo, mas em que Dona Leonor foi uma eleita da Felicidade.

("... Pela tarde de 12 de julho de 1491, tarde de calor sufocante, o Rei resolveu banhar-se no rio e convidou o jovem, que se recusou. Quando o pai partiu, reconsiderou, perguntando-se se não ofendera o progenitor com a recusa. Desceu e mandou aparelhar uma mula mas, porque esta demorara, vendo D. Afonso chegar o estribeiro-mor com um cavalo ajaezado a seda negra, mandou apear o homem e montou o veloz cavalo na certeza de que alcançaria o Rei antes de este chegar ao rio. Sem que se saiba porque, andou a passear ao longo da margem, sendo aconselhado por D. João de Menezes, a quem encontrara, para mudar de montada que aquele cavalo era perigoso. O Príncipe continuou a correr até que o cavalo se assustou ou tropeçou e caiu, acabando por espezinhar o Príncipe que, derrubado, jazia no chão inconsciente. Foi transportado para uma humilde cabana de pescadores; chamados os físicos que nada puderam fazer, ante o desespero do pai, da mãe e da jovem mulher que abraçavam o príncipe em agonia.

Afastada a última esperança, D. João II beijou até quase gastar as mãos frias do filho, olhando o rosto amado, não se perdoando por ter convidado o filho a acompanhá-lo.

No dia seguinte, 13 de Julho, o Príncipe morreu...")

A segunda, até 1496, quando lhe morreu o esposo, fase em que ela curtiu as mais cruéis aflições; por fim, durante 30 anos ainda, até deixar este mundo, em 1525, quando tão bem mereceu o benemérito epíteto: "Flor da Caridade".

Casada aos 12 anos de idade com o primo, jovem de 15, Dona Leonor só teve vasa, no linguajar de Damião de Góis, dois anos depois. Realizara a princesinha o mais lindo sonho de uma infanta de Portugal: casava com o herdeiro do trono, e um dos mais belos rapazes de seu tempo. Aos dezessete anos nasceu-lhe o filho, que recebeu o nome do avô paterno. Nessa época, acesas andavam as lutas entre as casas reinantes de Castela e Portugal, a propósito da sucessão de Henrique IV. A infanta, dona Izabel, fez-se aclamar Rainha, em Segóvia, em prejuízo da sobrinha, a Beltrajana, cujos direitos ao trono eram amparados por Dom Afonso V, de Portugal. Nessa altura, o príncipe dom João conheceu a formosa dona Ana de Mendonça, que tantas lágrimas fez Dona Leonora derramar...

A guerra da sucessão na Espanha terminou pelo Tratado de Alcaçovas, pelo qual o filho único de Dona Leonor, com menos de cinco anos de idade, lhe foi tirado para ser entregue em "terçaria" à Infanta D. Beatriz, só lhe sendo restituído quatro anos depois. Parecia terminado, com a volta do filho, o pesar da Rainha, mas na verdade, começa pouco depois o seu calvário. Por morte de Afonso V, em agosto de 1481, sentara-se novamente Dom João II no trono de Portugal, pois por ele já havia passado cerca de um ano, quando seu pai abdicou e tornou a assumir o régio governo. Balanceando o poderio e a riqueza dos nobres com o pouco que cabia ao erário real, concluiu Dom João II: "Meu pai deixou-me apenas as estradas do reino em senhorio".

As prerrogativas e apanágios dos fidalgos sofreram violento golpe. O Rei saiu vencedor em tão feroz luta. E a Rainha, sem forças para defender os que lhe eram caros, aproximou-se quanto pôe de Deus, a fim de alcançar perdão pelo sangue derramado para consolidação do poder real.

Depois de viúva, dona Leonor consagra-se inteiramente a obras de benemerência. Dedicou-se às artes, às letras e aos sofredores. Cuidou das capelas Imperfeitas (cujo nome deveria ser Capelas Inacabadas), do famoso Mosteiro da Batalha, de Santa Maria da Vitória, onde deveriam repousar eternamente seu avô, Dom Duarte; o tio e sogro Dom Afonso V; o marido D. João II e o pranteado filho, o Infante D. Afonso. Protegeu decisivamente a Gil Vicente, o fundador do teatro português. Na infância ainda da arte de Guttemberg, Dona Leonor fez imprimir à sua custa a famosa "Vita Chrissti", d. Cartusiano, traduzida por Valentim Fernandez. Custeou a publicação de muitos outros livros, entre os quais as Viagens de Marco Pólo, os Atos dos Apóstolos e o Espelho de Cristina.

Dona Leonor já havia fundado, em vida do marido, o Hospital das Caldas, nome mudado em sua honra para Caldas da Rainha. Sustentou-o com suas rendas e, quando essas se esgotaram, vendeu suas jóias pessoais para pagar as dívidas do Hospital. Fundou vários conventos, entre eles o da Madre de Deus, em Lisboa, onde Dona Leonor repousa em campa rasa, ao lado de sua irmã, a duquesa de Bragança, depois de ter feito, no dizer de Carolina Michaelis de Vasconcelos, "a favor da civilização e da humanidade, mais que qualquer outra rainha portuguesa".

O maior ato de benemerência de Dona Leonor foi, sem dúvida, a fundação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Iniciativa exclusivamente sua, lembrança do frade Contreiras, idéia transplantada de Florença, ou imitação da China, a verdade é que a instituição benemérita medrou admiravelmente, e multiplicou-se em Portugal e Colônias, conservando sempre o espírito magnânimo que lhe imprimiu a rainha.

As obras de misericórdia da Santa Casa, prescritas pelo seu compromisso original, eram sete espirituais e outras tantas temporais.

As espirituais obrigavam os irmãos: 1) a rezar pelos vivos e pelos mortos; 2) a dar bom conselho a quem o pede; 3) a castigar com caridade os que erram; 4) a consolar os aflitos; 5) a sofrer com paciência as injúrias; 6) a anular as desavenças; 7) a amparar os expostos e ensinar os simples.

As obras de misericórdia corporais, segundo o ideal de Dona Leonor, são: 1) remir cativos; 2) visitar os presos, confortando-os; 3) cobrir os nus; 4) dar de comer aos famintos; 5) curar os enfermos; 6) dar pousada aos peregrinos pobres; 7) dar assistência aos condenados e enterrar os mortos.

O hospital termal das Caldas - o primeiro em todo o mundo

"Como quer que uma obra tão grandiosa como a fundação deste majestoso Hospital das Caldas não podia ter princípio senão de algum motivo grande, e este não consta das crônicas do Reino, nem nas memórias, que todas desta matéria conhecerão com perfeição a virtude do silêncio, valer-me-ei assim das inferências e conjecturas como de algumas tradições, que nas coisas antigas têm grande força de verdade, mormente quando na fundação de uma obra tão superior havia de proceder algum motivo Santo, e de grande piedade. Este Santo motivo declarou a mesma Rainha nas súplicas que fazia aos Sumos Pontífices dizendo que, movida de piedade com os pobres de Cristo, edificara com grandes despesas de sua fazenda no lugar das Caldas, um magnífico hospital por louvor de D. e da Virgem Maria e por usar de Caridade para com os próximos, e por ser bem de muitos pobres.

E em outra súplica diz: que desejando trocar os bens da Terra pelos do céu, e os transitórios pelos eternos, movida de piedade para com os pobres de Cristo, fundara um suntuoso hospital. De modo que este foi o motivo santo e principal deste grandioso edifício, e talvez a moveria o exemplo do Santo Rei Luiz IX da França, como se refere na sua vida que depois da morte de sua mãe a Rainha D. Branqua se entregou todos às obras de piedade: "Totus se dedit pietatis officiis: e assim, com muita razão, podemos dizer que esta nossa Rainha D. Leonor, depois que perdeu a companhia de seu filho o Príncipe D. Afonso e o amparo de seu marido El Rei D. João II, tratou de exercitar todas as obras de piedade, das esmolas, casar órfãs, amparar viúvas, resgatar cativos, instituir Irmandades, edificar Conventos e a mais superior de todas elas, continuar com fervoroso zelo com toda a perfeição a fundação deste hospital, que em vida do Rei seu marido, lhe tinha dado princípio, porém, entendo que houve alguma intercadência na continuação da obra por falta de sua pessoal assistência, por ser ela necessária no governo de sua casa real em vida do marido Rei que diligências alheias pouco valem se faltam as próprias".

(Frade Jorge de São Paulo em A Rainha D. Leonor e as Misericórdias Portuguesas)

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Santa Isabel
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Santa Isabel

Isabel nasceu na Espanha em 1271, tendo entre seus antepassados, santos, reis e imperadores.

Seu pai, Pedro II, rei de Aragão, era ainda muito jovem quando ela nasceu. Por isso, foi criada pelo avô Thiago I, convertido à vida cristã.

Com apenas 12 anos, Isabel foi pedida em casamento por três príncipes. Porém os pais escolheram-lhe o mais próximo: D. Dinis, herdeiro do trono de Portugal.

Isabel deu ao rei dois filhos: Constância (futura rainha de Castela) e Afonso (herdeiro do trono de Portugal).

Foi uma esposa traída pelas aventuras amorosas do marido e mesmo assim cuidou com muito carinho dos filhos adulterinos do rei. Perdeu muito cedo a filha e o genro, sofrendo ainda com as desavenças políticas dos parentes com o seu marido e o filho. A tudo isso ela suportou com muita paciência e com muita oração.

Após a morte do marido em 1325, retirou-se para junto do mosteiro de Clarissas de Coimbra, onde passou a viver como religiosa, sem votos, após ter deposto a coroa real no santuário de Compostela e haver dado todos os seus bens pessoais aos mais necessitados. Todo o resto de sua vida, foi vivida em total pobreza voluntária.

Quando deixava Coimbra para pacificar o filho e o neto que viviam em litígios políticos, veio a falecer ainda em viagem em 1336.

De Santa Isabel, aprendemos a virtude do perdão, da fé, do amor e da paz e, por isso, pedimos:

"Deus, fonte da paz, nos ajude a trabalhar pela paz, assim como o fez Santa Isabel".

(padre José Carlos Romano)

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Cruz bicentenária
A cruz
Foto publicada com a matéria


Ao lado da escadaria principal (à esquerda de quem olha), no jardim, poucos percebem, mas lá existe uma Cruz bicentenária que originalmente se encontrava na torre da Igreja de São Francisco no antigo hospital, na Av. São Francisco. A colocação da mesma se deu no dia 2 de julho de 1967, conforme o Dr. Edgard Ferraz Navarro, na época presidente do I.H.G.S. de Santos e vice-presidente da Comissão de História da Cidade, que na oportunidade proferiu as seguintes palavras:

"Após mais de 20 anos de ausência, eis que nesta data retorna ao antigo lugar, isto é, ao Hospital da Santa Casa, a cruz bicentenária que estava colocada na torre da Igreja de São Francisco, do antigo hospital. Por iniciativa da Comissão Municipal de História da Cidade de Santos, que agiu de acordo com o sr. Provedor da Irmandade (na época o Dr. Cyro de Athayde Carneiro), após alguns entendimentos que contaram com a colaboração do Sr. Geraldo Ferrone, para satisfação do povo católico desta terra, nesta data, que é a maior da Santa Casa, a cruz secular é devolvida a seu antigo lugar.

Após a demolição do antigo hospital da Santa Casa, ela esteve guardada na Venerável Ordem Terceira da Penitência que, sabedora, por intermédio do sr. Provedor, do desejo da Irmandade de novamente possuí-la, se prontificou a entregá-la à Santa Casa de Santos.

Tivemos a colaboração decidida do sr. Prefeito Municipal, eng. Sílvio Fernandes Lopes, eng. Armando Martins Clemente, que por meio de suas secções especializadas, com boa vontade construíram a base da cruz. Hoje, completamos mais uma etapa, a última, fazendo entrega da cruz bicentenária a seu antigo possuídor, a ISCM de Santos. Desejamos que ela continue, gloriosamente, a abençoar nosso hospital, como fez durante muitas dezenas de anos".

Houve missa campal celebrada por D. David Picão, DD. Bispo diocesano.


A cruz, defronte ao prédio atual da Santa Casa, em fins do século XX
Foto: arquivo do antigo jornal Cidade de Santos (filme 2026x75)

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