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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA
Uma associação dos empregados da Docas

Associação Beneficente dos Empregados da Companhia Docas de Santos: escola e ambulatório
Texto publicado na edição especial comemorativa do cinqüentenário do jornal santista A Tribuna, em 26 de março de 1944 (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda - grafia atualizada nesta transcrição):
 


Fachada principal do edifício próprio, onde se localiza a sede da Associação e seu Ambulatório
Foto e legenda publicadas com a matéria

Instituição Beneficente modelar

O que é a Associação Beneficente dos Empregados da Companhia Docas de Santos - Um passado fecundo de realizações a garantir o mais promissor futuro

Desde os primórdios da evolução humana, quando os homens conseguiram libertar-se do peso excessivo dos instintos, que os igualava aos simples irracionais, e obtiveram o desenvolvimento das faculdades intelectivas, procuraram associar-se para melhor suportar os golpes do infortúnio.

Às exigências imperiosas das faculdades físicas ou instintivas, sucederam as que foram impostas pela compreensão coletiva, do aparecimento dos primeiros núcleos humanos.

As necessidades multiplicaram-se com a civilização e criaram obrigações para todos os indivíduos, que em troca obtiveram o apoio coletivo.

Assim nasceram as primeiras obrigações humanas. O convívio diário cria laços, desenvolve afeições, estimula a amizade e prepara o espírito para a comiseração, quando o nosso semelhante é visitado pela desgraça.

Se a civilização cria as obrigações coletivas, o convívio impõe obrigações fraternais; e, ao calor destas obrigações, não pode deixar de desenvolver-se o mutualismo, moderno sistema de apoio, com o qual as pequenas coletividades, que integram a grande coletividade humana, contribuem para o equilíbrio social.

***

Santos é uma cidade típica da benemerência, a "Cidade Docas de Santos", que está nela incluída, tem os mesmos hábitos que o glorioso burgo fundado ao redor de um hospital de misericórdia.

É por isso que a Associação Beneficente dos Empregados da Cia. Docas de Santos atingiu o grau de desenvolvimento que, ao celebrar a passagem do seu trigésimo nono ano de existência, em abril próximo, ostenta, unindo em seu quadro social, talvez, mais do que a décima parte da população total do município santense.

Para os que compreendem o verdadeiro alcance do mútuo socorro, na estrutura da sociedade moderna, a existência de uma sociedade de beneficência, na qual estão congregados e unidos os componentes de uma classe inteira, principalmente se esta classe é numerosa como a dos portuários de Santos, constitui um dos milagres da civilização.

Todos conhecem o ceticismo com que são encaradas essas obras coletivas, nascidas aos impulsos do verdadeiro entusiasmo e alimentadas pela abnegação de um grupo geralmente reduzido de indivíduos bem intencionados, que não medem sacrifícios para a realização do ideal sonhado.

***

A Associação Beneficente dos Empregados da Companhia Docas de Santos apareceu no cenário das atividades portuárias em uma época de verdadeiro apogeu econômico citadino, compreendendo-se, por isso, o pouco interesse que poderia despertar a fundação de uma sociedade de beneficência, quando todos ganhavam o suficiente, não apenas para atender às necessidades mais peremptórias da vida, mas até para economizar, guardando as sobras para os momentos de infortúnio.

Foi esse motivo que retardou a fundação de uma sociedade beneficente portuária em Santos, até o ano de 1905, apesar de que, já no início do ano de 1895, os próprios dirigentes da empresa concessionária do porto de Santos haviam feito várias tentativas no sentido de criar uma instituição que amparasse, quando necessário, a grande massa de pessoas que compunham o número de seus auxiliares.

A Companhia Docas prestava assistência aos seus inúmeros auxiliares, desde a sua fundação, mantendo para isso um corpo médico que a todos socorria, mas, malgrado a boa vontade dos dirigentes da empresa, aquele serviço não apresentava a eficiência indispensável, pela falta de um local apropriado, de um ambulatório que pudesse centralizar os serviços clínico-farmacêuticos.

A idéia da fundação de uma associação beneficente, apesar de todos os empecilhos que se opunham à sua concretização, não fora posta de lado; e se em 1895 não conseguira ambiente propício, em 1898 uma nova tentativa foi feita, chegando a ser convocada uma grande assembléia, que não chegou a realizar-se em virtude do falecimento do dr. Silvério de Sousa, grande propugnador da grandiosa associação que o meio portuário reclamava.

Para substituir o dr. Silvério de Sousa no cargo de engenheiro ajudante dos serviços do cais, foi nomeado o dr. Ulrico de Sousa Mursa, que, ao ter conhecimento da idéia que animara o seu ilustre antecessor, deu-lhe o seu valioso apoio, procurando incentivar a sua realização.

As dificuldades, porém, não haviam ainda diminuído. O pessoal que trabalhavam nos serviços do porto, naquela época, fazia de Santos o porto de convergência para obter dinheiro, porque os salários eram aqui maiores que em qualquer outra cidade do Brasil; não pleiteavam, porém, a estabilidade. Passavam aqui alguns meses e retiravam-se, para retornar meses após.

Foi esse o motivo por que somente a 9 de abril de 1905 foi realizada a primeira assembléia preparatória da fundação da associação ideada dez anos antes.

Estavam então à frente do movimento os srs. Antônio de Almeida Júnior, dr. Vítor de Lamare e Júlio Barreto de Sousa. Daquela primeira assembléia participaram 819 empregados, sob a presidência do sr. Álvaro Fontes.

Naquela memorável reunião, que foi realizada à Praça da República n. 21, saiu eleita a primeira diretoria, então denominada de Comissão Diretora e composta dos srs. dr. Ulrico de Sousa Mursa, Antônio de Almeida Júnior, Júlio Barreto de Sousa, Lindolfo Formiga e José Vicente de Oliveira.

A 1º de junho daquele mesmo ano, começaram a ser prestados pela novel instituição os serviços médicos, farmacêuticos e hospitalares, tendo registrado ao final do período administrativo, que compreendeu o ano de 9 de abril de 1905 a 31 de março de 1906, o seguinte movimento financeiro: Receita: 113:240$800; Despesa: 106:290$525, resultando, portanto, o saldo de 6:950$275.

Desde então, jamais deixou de cumprir, fielmente, os dispositivos da sua lei básica, aprovada em memorável assembléia, realizada em 11 de fevereiro de 1906.

Por parte da Companhia Docas jamais deixou, também, de ser auxiliada, tendo recebido desde o seu início uma subvenção mensal que ainda continua a lhe ser generosamente concedida.


O belo edifício próprio onde funciona o Grupo Escolar "Docas de Santos", mantido pelaAssociação, tendo custado o edifício Cr$ 301.332,00
Foto e legenda publicadas com a matéria

Os organismos coletivos, assim como os indivíduos, têm épocas de progresso e de estacionamento. A esses contratempos também a benemérita associação beneficente dos portuários santenses esteve sujeita.

As dificuldades que se lhe depararam durante a sua fecunda existência não foram poucas e somente foram superadas à custa do espírito de iniciativa e de abnegação dos seus dirigentes, que jamais lhe regatearam sacrifícios e boa vontade.

Basta, para ilustrar essa afirmativa, a ação benemerente da Associação durante a epidemia de gripe que assolou a nossa cidade em 1918, quando quase toda a totalidade do seu quadro associativo necessitava de socorros médicos-farmacêuticos. Nunca, porém, deixou de cumprir a sua nobre finalidade, graças à abnegação dos seus diretores.

Associados beneméritos
É a seguinte a relação dos associados beneméritos da Associação Beneficente dos Empregados da Cia. Docas de Santos:
  1 - Dr. Alberto Farias
  2 - Antônio Cândido Gomes
  3 - Candido Gaffrée (falecido)
  4 - Cesar Dantas Barcelar
  5 - Eduardo P. Guinle (falecido)
  6 - Dr. Emilio da Gama Lobo d'Eça
  7 - Dr. G. B. Weinschenck (falecido)
  8 - Dr. Gabriel Ozório de Almeida (falecido)
  9 - Dr. Guilherme Guinle
10 - Dr. Ismael Coelho de Sousa
11 - Dr. J. X. Carvalho de Mendonça (falecido)
12 - Dr. Oscar Weinschenck
13 - Dr. Vítor de Lamare
14 - Ulrico da Sousa Mursa

Associados honorários
Do quadro de associados categorizados da Associação Beneficente dos Empregados da Cia. Docas de Santos constam, como honorários, os seguintes:

Dr. João Nepomuceno Freire Júnior (falecido)
Com. João Manoel Alfaia Rodrigues (falecido)
Cel. Manoel Pereira Neto
Dr. Washington de Almeida

Os presidentes da Associação:
Desde a fundação passaram pela Associação Beneficente dos Empregados da Cia. Docas de Santos, dirigindo-a como presidentes, os seguintes senhores:

1905      - Dr. Ulrico de Sousa Mursa (falecido)
1906/7   - Dr. Vítor de Lamare
1908      -  Dr. Emílio da Gama Lobo D'Eça
1909      - Dr. Vítor de Lamare
1910      - Antônio de Almeida Júnior
1911      - Dr. Vítor de Lamare
1912/13 - Dr. Emílio da Gama Lobo d'Eça
1914      - Dr. Ulrico de Sousa Mursa (falecido)
1915/16 - Júlio Barreto de Sousa (falecido)
1917/18 - Júlio Barreto de Sousa (falecido)
1919/20 - Dr. Emílio da Gama Lobo d'Eça
1921/23 - Dr. Vítor de Lamare
1924/27 - Antônio Cândido Gomes
1928/29 - Dr. Vítor de Lamare
1930      - Dr. Afonso Krug
1931      - Júlio Barreto de Sousa (falecido)
1932      - Antônio Cândido Gomes
1933/34 - Dr. Ismael Coelho de Sousa
1935/36 - José Martins
1937      - Dr. João Cardoso de Mendonça
1938/41 - Álvaro Marques
1942/44 - José Martins


Sr.  José Martins, alto funcionário da
Companhia Docas e atual presidente
da Associação Beneficente dos
Empregados da Cia. Docas de Santos.
Cavalheiro dotado de invulgares
qualidades de espírito e coração, 
o presidente da A.B.E.C.D.S. 
desfruta de gerais simpatias não só
nos círculos sociais da cidade,
como nos meios esportivos santistas,
de que tem sido um dos 
mais inteligentes animadores
Foto e legenda publicadas com a matéria

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