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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - HOSPITAIS - BIBLIOTECA
Hospital Anchieta (4-f03)

 

Clique na imagem para voltar ao índice do livroEste hospital santista foi o centro de um importante debate psiquiátrico, entre os que defendem a internação dos doentes mentais e os favoráveis à ressocialização dos mesmos, que travaram a chamada luta antimanicomial. Desse debate resultou uma intervenção pioneira no setor, acompanhada por especialistas de todo o mundo.

Um livro de 175 páginas contando essa história (com arte-final de Nicholas Vannuchi, e impresso na Cegraf Gráfica e Editora Ltda.-ME) foi lançado em 2004 pelo jornalista e historiador Paulo Matos, que em 13 de outubro de 2009 autorizou Novo Milênio a transcrevê-lo integralmente, a partir de seus originais digitados:

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Na Santos de Telma, a vitória dos mentaleiros

ANCHIETA, 15 ANOS (1989-2004)

A quarta revolução mundial da Psiquiatria

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FOUCAULT, MARX E A TEORIA DO MANICÔMIO

 

"Fazer da palavra uma arma destrutiva e terna, levar a linguagem ao limite de suas possibilidades" (Foucault)

 

As torturas e esquartejamentos, marcas de ferro quente nos internos em prisões e manicômios eram comuns até o início do século XIX – escreve o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), quem propôs a ruptura radical com a tradição iluminista e positivista baseada na autoridade e coerção, para quem a liberdade educa. As instituições, esses hospícios e manicômios, sempre foram "casas dos horrores", como escreve a literatura, seus internos estigmatizados.

 

As instituições repetem a violência da própria sociedade, na evolução do poder punitivo a todos os que divergem e contrariam as normas e postulados da produção em série do sistema capitalista, que tem como princípio a finalidade única do lucro. Esse fetiche obsessivo do capitalismo da reprodução do capital levou à sua desumanização e às guerras de conquista.

 

A exclusão é a política aplicada aos divergentes, que se mascarou mas que permaneceu, elemento fundamental do sistema econômico baseado na exploração do homem pelo homem, calcada no rebaixamento dos salários,  permitindo o que o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) chamou de "mais valia" – a diferença entre o preço pago pela força de trabalho e o valor que o capitalista consegue extrair do produto. É no trabalho não pago que reside o caráter de roubo assentado sobre a sociedade capitalista, que se torna criminosa em suas ações. Nesse sistema, quem não tem e não produz tem valor equivalente – nenhum, sequer como gente.

 

Fazendo crescer a miséria, a opressão, a escravidão e as guerras, a destruição da natureza transformada em instrumento  de produção como o homem - no regime que, segundo Marx, produz seus próprios coveiros, dele e do planeta. São destas políticas que decorre a marginalidade e as prisões, instrumentos repressivos como a polícia e o exército, garantindo a mão-de-obra rebaixada e sucateada, o manicômio e a loucura. Na construção de uma nova sociedade, é mister derrubar seus pilares fundamentais e isto foi feito aqui.

 

Na perspectiva da imposição globalizadora privatizando os serviços públicos e tendências maximizadoras da exploração do trabalho, bem diferente da globalização desejada de 1868 na Associação Internacional dos Trabalhadores, firma-se o objetivo neoliberal movimentando uma contra-tendência às taxas de lucro do capitalismo em crise, com ataque direto aos salários e ampliação dos horários com precarização das condições de trabalho.

 

Evidente é o fato gerador da loucura. Porém, aceitar uma indústria de tratamento que submete seus pacientes é resignar-se aos ditames do sistema econômico: revoltar-se deveria ser a regra, mas foi exceção. Valeu o exemplo de Santos, que fez a Revolução que a cidade precisava.