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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ASSISTÊNCIA
Uma Rosa em minha vida

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A atividade voluntária da Associação Santa Isabel e suas Rosinhas foi enfocada em trabalho de estudantes de Jornalismo da Universidade Monte Serrat (Unimonte), que integrou o livro-brochura Vidas em Pauta - o cotidiano narrado por futuros jornalistas, lançado em 2008 por aquela universidade santista, com a coordenação da professora Helena Gomes e impressão pela Gráfica Guarani, de Santos. O material, compreendido nas páginas 75 a 98, é a seguir transcrito:


Imagem: ilustração na página 75 do livro Vidas em Pauta

[Páginas 77 a 79]

Quatro amigas, um só pensamento

Por Guilherme Freitas

Nelli levava uma paciente chamada Amélia na cadeira de rodas. Esta tinha o costume de andar com o braço para fora da cadeira. Naquele dia, a mesma cena se repetiu. Nelli, sempre delicada com os pacientes, pediu: "Põe o braço para dentro, Amelinha, que um dia ainda vou te machucar. Você está ficando pesada. Você engordou, viu?". Quando Nelli percebeu, a paciente havia acabado de falecer.

Hoje em dia, vivemos em um mundo onde nem sempre as oportunidades que nos surgem são aproveitadas. Aprendemos que muito das coisas que nos acontecem não passam de simples coincidências. Ou mera sorte. Mas, para várias pessoas, a combinação desses dois elementos resultou em uma única palavra: GRATIDÃO.

"Você não gostaria de conhecer a Santa Casa de Santos?", perguntou Levy para Nelli, uma senhora de baixa estatura, descendente de italianos, que costumeiramente passeava pelo calçadão da praia em Santos.

A princípio, ela não reconheceu aquele senhor que tinha parado para falar com ela. Mas, com certeza, seria uma conversa que mudaria os rumos da vida de uma grande parte da sociedade.

O início – Nascida na cidade de São Paulo, em 23 de agosto de 1930, Nelli Valente ficou órfã de pai logo com um ano e meio de idade. Seu pai, Nicola Valente, faleceu em plena juventude, aos 27 anos, deixando viúva Antônia Valente, aos 24 anos. Aos 7, Nelli foi morar com sua avó, pois, nesta mesma época, a mãe começava um novo casamento, com outros filhos, uma vida nova. Mas, apesar de estar em um outro relacionamento, Antônia ainda mantinha contato com a filha.

Criada da melhor maneira possível, Nelli conviveu com a avó até o falecimento desta, quando passou a morar com uma tia. A menina foi educada com a idéia de que o marido ideal para sua vida tinha que possuir a mesma nacionalidade de seus familiares. Sua avó dizia que os rapazes italianos eram melhores, por serem responsáveis e trabalhadores!

Nelli, no seu melhor estilo, argumentava que preferia os brasileiros por achar que eles tinham "fala mansa" e, portanto, seria com um que se casaria. Passados os anos e, com eles, dois namorados, mais precisamente em 1950, aos 20 anos, Nelli acabou realizando a vontade de sua avó ao se apaixonar e casar com Omero Cavallucci, italiano, com quem vive até hoje. Juntos, tiveram três filhos, dois meninos e uma menina, que lhe presentearam com três netos (também dois meninos e uma menina).

Até aí, tudo parecia ser uma história de vida como qualquer oura. No entanto, em um dos retiros espirituais da Igreja católica, chamados de Cursílio de Cristandade, que Nelli costumava freqüentar, ela conheceu algumas pessoas da sociedade paulistana que a convidaram para realizar um trabalho voluntário dentro da cadeia feminina, em São Paulo. Sem possuir conhecimento sobre o assunto, Nelli se viu mergulhada em dúvidas. Como poderia ser útil naquele tipo de trabalho?

Foi, então, que ela percebeu que o seu forte seria o diálogo, a conversa, enfim, uma proximidade com essas pessoas que estavam há algum tempo sem alguém com quem pudessem contar. Antônia foi uma das críticas mais ferrenhas desta nova idéia da filha. Afinal, Nelli nunca tinha trabalhado na vida e ia justamente começar trabalhando dentro de uma prisão! Mas, para Nelli, isto era coisa pequena perto da vontade que possuía de poder ajudar o próximo.

Em pouco tempo, conquistou várias amizades dentro da cadeia feminina, chegando a levar discos do rei Roberto Carlos, solicitados por algumas das presidiárias. Para ela, isto foi um grande estágio em sua vida no voluntariado que estava apenas começando.

Nesta mesma época, Nelli assistiu na televisão a uma propaganda sobre uma senhora que convocava as mulheres para fazerem um curso no Hospital do Câncer, em São Paulo. Só de pensar em doenças e doentes, já sentia um certo desconforto. Mesmo assim, aceitou o desafio e encarou este duelo particular. Antônia, mais uma vez, achou loucura a filha ser voluntária em um hospital. Esta se matriculou.

Devido à sua dedicação ao curso, logo ela conquistou nada mais, nada menos que o respeito de Carmen Annes Dias Prudente, a mulher que tinha feito a convocação pela televisão e a pioneira no serviço de voluntariado do Hospital do Câncer, conhecido por Rede Feminina de Combate ao Câncer. Isto ocorreu em 1972, quase 73.

A amizade entre as duas foi se expandindo cada vez mais. Já participavam de simpósios juntas e viajavam pelo país propagando as idéias do serviço voluntário em prol dos doentes de câncer. Carmen incumbiu a amiga de ser a responsável pela comunicação com os doentes do ambulatório. Nelli ficou à frente deste serviço por 28 anos. Neste período, já tinha se mudado para a cidade de Santos e, sem qualquer preguiça, subia e descia a serra todos os dias para cuidar dos pacientes que a aguardavam, ansiosos.

Em 1992, no calçadão da praia, o encontro com um desconhecido mudaria mais uma vez a vida de Nelli. Para ele, a imagem da voluntária não havia se apagado da memória. Este homem era Alberto Eduardo Levy, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Santos, que já conhecia o trabalho de Nelli e fazia questão de sua visita à instituição. Para ela, um motivo de orgulho. Por ser moradora da cidade e por ser reconhecida na rua graças a seus granes esforços em favor dos que mais precisam.

O desafio – Ao chegar à Santa Casa, as imagens que presenciou não foram as mais agradáveis. O 2º F, ala de Oncologia do hospital, estava completamente longe dos padrões aceitáveis de condições de funcionamento. Até as paredes estavam descascadas. E pior: a ala era conhecida como o "corredor da morte". Indignou-se.

Em 1992, o então governador de São Paulo, Luís Antônio Fleury Filho, que conhecia dos simpósios ocorridos em São Paulo, lançou um desafio a Nelli: se a Santa Casa conseguisse construir a casamata (local onde são realizadas as sessões de radioterapia) com recursos próprios até 1993, ele doaria uma bomba de cobalto (aparelho usado no tratamento contra o câncer). Desafio aceito, desafio vencido. Nelli e suas amigas realizaram diversos eventos para arrecadar dinheiro e conseguirem construir a casamata. Conseguiram. E o aparelho foi doado.

A partir de então, a rotina de Nelli se viu dividida entre os pacientes do Hospital do Câncer, em São Paulo, e os da Santa Casa de Santos. Depois de tantas situações vividas no Hospital do Câncer, Nelli percebeu que sua trajetória na capital estava chegando ao fim.

Uma nova fase – Logo após o feito heróico destas mulheres, com a construção da casamata, surgiu o convite do médico-chefe do setor de Oncologia, Márcio Antônio Berenstein, para a permanência do serviço de voluntariado. A proposta é levada ara a nova presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer. Foi aceita, mas desde que este novo braço da Rede Feminina realizasse alguns eventos para arrecadação de dinheiro e o remetesse integralmente para os gastos da sede.

A condição deu início a um desgaste com a liderança de São Paulo. Nelli não concordou com a idéia de recolher dinheiro em festas realizadas em Santos para enviá-lo a São Paulo. Argumentou que o povo de Santos não tinha condições de arcar com tais despesas e que era impossível tratá-los como cidadãos paulistanos, estes com melhores condições financeiras na época.

O racha com a atual presidente da Rede em São Paulo foi inevitável. Nelli e mais quatro amigas decidiram por bem se desligar do voluntariado na capital. Agora, elas estavam somente em quatro pessoas: Nelli (como presidente), Adelaide Barletta (falecida em 2002), Lenita Loureiro Scuder (atual tesoureira) e Ocirema Danezi Mandolesi (vice-presidente). Eram amigas inseparáveis e estavam com Nelli nesta crise. Adelaide era uma das mais assustadas com esta nova fase que estavam vivendo. Dizia: "O que vamos fazer?". E com toda a tranqüilidade e bom humor que lhe é peculiar, Nelli assumiu as rédeas da situação: "Agora nós vamos fazer do jeito que nós queremos".

Então, em outubro de 1997, as quatro amigas se desligaram da Rede Feminina de Combate ao Câncer. Fundaram logo um mês depois a Associação Santa Isabel de Combate ao Câncer. As voluntárias, carinhosamente conhecidas como Rosinhas, mudaram radicalmente o tratamento dado aos pacientes que sofrem com essa terrível doença, que é o câncer. E com isso, devolveram aos rostos de milhares de enfermos um sorriso de esperança, um pouco de alegria e, principalmente, a tão famosa gratidão ao mostrar para estas pessoas que elas não estão sozinhas nesta batalha pela vida.


[Páginas 80 e 81]

A importância de uma Rosa

Por Paola Viana

"Adoro alegrar as crianças na Pediatria. Uma vez inventei uma brincadeira onde tinham que dançar algumas músicas, para que... no final eles me fizeram dançar na boquinha da garrafa e eu acabei caindo com tudo no chão, como demos risada. Foi inesquecível..."

Sorriso no rosto e otimismo são as principais características que definem estas mulheres mágicas, que fazem com que momentos difíceis se transformem em sementes de esperança e força para quem enfrenta o doloroso tratamento do câncer. Além disso, as Rosinhas possuem um equilíbrio psicológico excepcional. Não se comovem com as tristezas que infelizmente as rodeiam quase que diariamente e, ao mesmo tempo, não deixam que a sensibilidade deixe de estar presente em suas pequenas grandes atitudes.

"Aceita um chazinho de maçã com canela e um pedacinho de bolo?", diz a Rosinha Yara Domingos Siniscalchi, 59 anos, para cada paciente que encontra no corredor do 2º F, ala onde funciona a Oncologia da Santa Casa. No seu jeitoso carrinho cor-de-rosa, ela e mais outra voluntária servem os lanches das manhãs de terça-feira. Isto porque cada uma delas trabalha apenas um dia da semana, na parte da manhã ou da tarde. Tudo bem fresquinho, o chá, os pães recheados e os bolos são servidos carinhosamente por elas. O famoso lanche das Rosinhas é aguardado por pacientes e acompanhantes. Pode-se dizer até que ficou fazendo parte do tratamento.

"Cuidei durante nove anos da minha mãe que teve Mal de Alzheimer", lembra a Rosinha Yara. "Convivi muito tempo com o sofrimento dela. Não foi fácil. Desde então, comecei a refletir sobre a importância do trabalho voluntário. 'Quantas pessoas devem estar em leitos de hospitais precisando de apoio e carinho?', me perguntei. Minha mãe, antes de falecer, pediu para que eu continuasse minha missão aqui na Terá. Foi quando procurei a presidente da Associação Santa Isabel para poder me integrar ao grupo. Hoje, cumpro com muita satisfação minha tarefa aqui no hospital".

Assinar a lista de presença na sala da Nelli é a primeira coisa a se fazer. E ai de quem não respeitar a regra. O nome tem que ser assinado tanto na chegada quanto na saída, seguindo o seu dia e horário de trabalho. O primeiro horário é das 8h às 12h e o segundo, das 13h às 17h. Aos finais de semana e feriados, as Rosinhas não trabalham, mesmo porque não há tratamento de quimioterapia nesses dias. Em cada horário são escaladas entre seis e sete Rosinhas, sendo somente uma na Casamata, setor onde funciona a radioterapia, uma no 2º E, ala de Oncologia Pediátrica, uma no Fonecan, serviço pelo qual pessoas esclarecem dúvidas através do telefone gratuito, e oura na venda de jornais e revistas. As demais ficam responsáveis pelo lanche e pelo trabalho psicológico. Uma conversa, uma brincadeira, são a maior especialidade dessas guerreiras que ajudam na luta de combate ao câncer.

A importância do trabalho voluntário resulta em milhares de aspectos positivos, tanto para pacientes, acompanhantes e até mesmo os funcionários do hospital. Alguns pacientes chegam lá para tomar medicações fortes e acabam não passando bem, tendo vontade de desistir do tratamento e jogar tudo para o alto. Ao conversar com uma das Rosinhas, acabam se sentindo mais seguros e otimistas. É o grande poder que elas têm de dar alegria aos pacientes. É surpreendente.

"A gente vem trabalhar com o intuito de fazer bem a quem está aqui, doente, mas no fundo o resultado é recíproco. O bem volta na mesma hora, é nítido", conta Yara, emocionada.

2º E – Oncologia Pediátrica – Toque o interfone e se identifique. O acesso à Pediatria é rigoroso. Os horários de visita são controlados, apenas um acompanhante por criança. Se sua entrada for permitida, lave as mãos e nada de tristeza lá dentro. As crianças precisam de alegria, bom humor e muita brincadeira.

Na ala, fica somente uma Rosinha. Seu dever é contagiar o setor, contar histórias, brincar, conversar e não deixar que as crianças fiquem sozinhas.

Maria Rosalina Maluza Sartório, 51 anos, é professora aposentada e psicóloga, e realiza seu trabalho voluntário há 11 meses na Pediatria. Segundo ela, trabalhar com criança é mais fácil pelo fato delas não terem noção da gravidade da doença. Mas, por outro lado, ver uns seres tão pequeninos recebendo aquelas medicações fortes nos faz dar valor para qualquer coisa nessa vida e, principalmente, deixar de lado todas as futilidades que por algum motivo insistem em fazer parte da rotina dos seres humanos. Os efeitos do tratamento são muitos e atingem com mais intensidade as crianças, embora elas tenham maiores chances de recuperação.

O que me chamou atenção na Pediatria foi o comportamento das mães acompanhantes em relação aos filhos. Estar ali naquele quarto de hospital não era o que aquelas crianças desejavam, e muito menos suas mães, que demonstravam insegurança e sofrimento diante da situação. O fato é que elas não possuem amplo conhecimento da doença, mal sabem o que é e por isso acabam ficando sem estrutura para apoiar os próprios filhos. Eu diria até uma ignorância inconsciente, que se reflete muito na recuperação das crianças.

A Rosinha responsável pela Pediatria procura sempre estar ao lado dessas mães, para que tanto elas quanto seus filhos tenham um tratamento tranqüilo, sem causar desamparo.

A caridade de uma Rosa – O serviço das Rosinhas é reconhecido e admirado por todos no hospital, principalmente por pacientes e acompanhantes.

Simples atitudes fazem com que milhares de pessoas encontrem conforto para momentos difíceis em que a esperança já havia sido deixada de lado. Mas estas Rosas de Deus têm o grande poder de trazer a essas pessoas o mais importante: a vontade de viver!


[Páginas 82 a 84]

O sofrimento latente desperta a humanidade

Por Virgínia Medeiros

Há exemplos de vida como o de Alzira Diniz Santana que, com 83 anos, quatro filhos, sete netos e cinco bisnetos, ainda se mantém firme em ajudar seu semelhante. "Não posso deixar a peteca cair. A gente tem que se animar."

Na luta contra o câncer, nossos principais soldados usam saias – Mulheres que se dedicam ao próximo. Reservam uma parte do tempo de suas vidas para praticar o bem. São arquitetas, aposentadas, mães de família, esposas, costureiras e esteticistas que deixam suas obrigações por um tempo, para levar carinho, amor, conforto e alegria. Tudo em roca de um sorriso, de gratidão, e bem-estar e de paz interior.

"Me sinto melhor como pessoa", afirma a arquiteta Mariluci Ruivo Nicolau, 52 anos, que há seis anos trabalha no voluntariado das Rosinhas. Mariluci, no começo, tinha dúvidas quanto à sua competência. Ela vem de uma família em que o voluntariado já era presente, pois sua mãe participava da Rede Feminina de Combate ao Câncer, no Hospital do Câncer, em São Paulo, e convivia com Carmen Prudente, fundadora do grupo.

Hoje, Mariluci é a alegria das crianças, sempre com bom humor. Sua marca registrada é a gargalhada alta, que contagia os pacientes. "A criançada me diz que sabe quando estou chegando porque escutam minhas gargalhadas desde o corredor".

A arquiteta de olhar expressivo e voz marcante diz que o voluntariado é uma forma de agradecer as coisas boas que acontecem em sua vida. "Para ser voluntária, basta der dois ouvidos que saibam ouvir, pois nessa área em que trabalho existe muita carência. São pessoas que precisam de instrução".

Mariluci consegue não levar tristeza para casa. Procura absorver somente os poucos momentos de alegria. E com fé, acredita que Deus é que dá forças para viver os dias na Oncologia. "Se é para chegar aqui com pena dos doentes, é melhor nem vir. Eles precisam de sorriso no rosto e uma boa conversa".

"Cuidar sempre. Curar, às vezes" – A esteticista Tânia Regina Ferreira, 52 anos, que na sua profissão lida com pessoas que se preocupam com a aparência, vive uma situação totalmente oposta ao entrar na Santa Casa. Ali convive com pessoas que estão apenas lutando para viver. A jovem senhora de cabelos loiros, voz baixa e suave e semblante sereno, é conhecida entre os pacientes como "sol do corredor", por estar sempre alegrando a todos que estão por perto, com seu sorriso sincero e suas palavras de carinho.

"Quando preciso faltar, todos sentem a minha ausência e alguns pacientes chegam a me ligar em casa. Me sinto feliz por isso", conta Tânia, que sempre pensou em se dedicar a algo que ajudasse o próximo. Foi quando, há sete anos, surgiu a Associação Santa Isabel (ASI) em sua vida. "Minha prima Amelinha, já falecida, era voluntária e me encaminhou ao grupo das Rosinhas".

Todo mundo é passível de ficar doente – Há três anos, mais precisamente em 7 de agosto de 2003, Marly Fernandes Monteiro Augusto, 55 anos, descobriu o trabalho das Rosinhas através de uma reportagem no jornal A Tribuna. "Me interessei e resolvi tênar fazer parte do grupo".

No outro dia, Marly já estava na sala da ASI e um mês depois tornou-se integrante das Rosinhas. "Até hoje, tenho guardada a página do jornal que me motivou a começar nessa vida de doação ao próximo".

Funcionária aposentada do Banco do Brasil, pensava em trabalhar com crianças, mas não imaginava que seria em um hospital e tampouco na ala da Oncologia. Sua irmã também trabalha no grupo das voluntárias. "É muito gratificante saber que levamos um pouco de alegria às pessoas".

Além de toda a rotina que o grupo vive, ainda promove festas em datas comemorativas para animar os pacientes – A história de Sheila Nunes, 58 anos, é um pouco diferente. Há três anos teve uma crise de hipertensão, que lhe deixou nove dias na UTI de um hospital. Após sua recuperação, sentiu que precisava fazer algo para confortar doentes que estão nos leitos hospitalares.

Foi quando, através de uma amiga que trabalhava na ASI, ingressou no grupo das Rosinhas. "Sinto que melhorou minha qualidade de vida após me dedicar ao voluntariado". Na sua época de adolescente, já havia experimentado esse tipo de trabalho na instituição Gota de Leite.

Eu senti que precisava fazer algo por mim, me sentia doente, com um vazio interior – Algumas voluntárias tentam convencer suas amigas a se dedicarem ao voluntariado, mas nem sempre é fácil. Elisabeth Mahtk conta que uma amiga sempre lhe convidava a participar do grupo das Rosinhas, mas ela tinha muito medo em lidar com pessoas doentes, em trabalhar dentro de um hospital. Sempre que prometia à sua amiga que a acompanharia, acabava não indo. "Nunca havia trabalhado fora, era do lar".

Mas, um dia, sentiu algo tocar em seu coração e ligou para a amiga, que ficou surpresa. "No início, minha família desacreditava, achava que era fogo de palha, pois eu era uma dona-de-casa bem quadradona. Desde então, Elisabeth não largou mais o grupo. O trabalho voluntário já faz parte de sua rotina há 12 anos.

As Rosinhas são muito vaidosas, não dispensam batom, os auto-elogios e uma boa pose para fotografia – Foi há sete anos que Geralda Filgueira Gomes, hoje com 64 anos, decidiu mudar a sua vida. Sempre dedicada aos filhos e à sua profissão de costureira, prometeu no dia da formatura da filha caçula que faria algo para transformar sua rotina. "A partir de amanhã, minha vida vai mudar. Me aguardem!", lembra. Conhecia o trabalho das voluntárias da Santa Casa de Misericórdia através da televisão e do marido, que há 40 anos é funcionário do hospital.

Quando Geralda optou pelo voluntariado, foi procurar o grupo das Amarelinhas, que são voluntárias em outro setor do hospital. "Para eu ser voluntária, não importava a cor do grupo, eu queria servir o meu próximo". O grupo das Amarelinhas não estava precisando de voluntárias. Foi aí que Geralda procurou Nelli, presidente do grupo ASI, e fez a entrevista para se juntar às Rosinhas.

Ficou esperando a resposta durante um mês e não agüentou. Procurou novamente Nelli e lhe deu um ultimato. "Como é? Vou ser aceita ou não?", recorda, com sorriso no rosto. Hoje, Geralda sente-se muito feliz em poder proporcionar aos doentes momentos de alegria.

Conta que gostaria de fazer muito mais e que só pede a Deus que lhe dê paz e força para continuar nesse trabalho tão bonito. Além de ser voluntária, também participa do coral da Santa Casa. Seu ritual de força é rezar a oração da serenidade, todo dia antes de sair de casa. "Antes de ser voluntária, reclamava muito das coisas insignificantes e era materialista. Hoje, não sou mais assim. Agradeço a Deus, todos os dias, a oportunidade de estar aqui. Cresci muito como pessoa".

Deus não dá a cruz maior do que se pode carregar – Apensa com seis meses no grupo das Rosinhas, Maristela Gaiotto, 39 anos, sente que achou o que estava procurando. Maristela já havia trabalhado com crianças em creches, mas nunca em hospital. Uma amiga insistia que ela possuía o perfil ideal para se juntar ao voluntariado das Rosinhas.

Maristela se apresentou a Nelli e foi aceita de imediato. Com um lado espiritual muito forte, Maristela, que é católica, encara a morte como um conforto e não como uma perda. "Consigo ajudar mais do que sofrer. Estou sempre tirando um sorriso das crianças. Sinto que isso é um diferencial na vida dos pacientes".


[Páginas 85 a 87]

A lembrança de um sorriso

Por Caroline Binato

Com um semblante cansado, Erivânia acompanha o marido Moacir na sala de Quimioterapia. A acompanhante mostra sofrer com a situação, mas confessa que as Rosinhas deram um grande apoio. "Se não fosse por elas, eu não saberia o que fazer", conta. "As Rosinhas são a alegria deste lugar", acrescenta Moacir

A dor da promessa – Tânia vai à Unidade Oncológica Pediátrica para visitar um menino de 4 anos, Danilo. "Engraçadinho", como lembra a voluntária, Danilo cativa a todos. Ao chegar no quarto do garoto, a Rosinha recebe um pedido. "Tia, sabe o que eu queria, aquelas batatinhas que vêm na latinha e um brinquedo, um caminhão". Como os pacientes passam por dietas controladas, Tânia disse ao menino que, caso o médico autorizasse, ela traria as batatinhas. "Eu te prometo, terça-feira que vem, se puder, te trago as batatinhas. O brinquedo tenho certeza que vou trazer". Mas Danilo respondeu com um sinal de decepção. "Você vai ser mais uma Rosinha que diz que vai trazer e não traz".

Tânia conversou com o médico e recebeu autorização. Passou a semana e na terça-feira, como havia prometido, Tânia levou o caminhão e as batatinhas para Danilo. Chegou na ala pediátrica da Oncologia e recebeu a triste notícia: "O menino faleceu na semana passada".

Devido ao câncer de medula, Danilo passou por um longo tratamento. Durante cinco anos enfrentou tratamentos sofridos e criou uma forte amizade com as Rosinhas. "Ele tomava lanche com a gente", conta Tânia, confessando que o rosto de Danilo não sai de sua cabeça.

Estes e muitos outros casos fazem parte da vida destas mulheres que, além de enfrentar os problemas e emoções particulares, dividem com pacientes e familiares a dor e o sofrimento, mas lembram que o que levam a eles é somente alegria e esperança. E como estas mulheres conseguem conviver com emoções tão fortes como esta, vivida por Tânia, e não prejudicar a vida familiar? A explicação dada pelas voluntárias é a seguinte: "Deixar do lado de fora as emoções e tristezas. Afinal, se levar para casa, você começa a ficar depressiva".

O último dia – Para Mariluci, um caso marcante foi o do paciente Ricardo. Como o marido trabalha como médico dentro da Santa Casa, a Rosinha estava sempre informada sobre a situação clínica das crianças. Uma das informações que havia recebido naquela segunda-feira era a de que Ricardo havia sido desenganado pelos médicos e que tinham feito tudo o que podiam pelo garoto.

No dia de seu plantão na ASI, Mariluci resolveu visitar Ricardo e, ao entrar no quarto da criança, levou um susto. "Era um breu aquele quarto. O pai e a mãe estavam velando o menino vivo", conta Mariluci, com uma certa indignação. "Janela lacrada, porta fechada... Nem ar entrava direito. O menino deitado, crucifixo de um lado e o terço do outro". Então, Mariluci tentou induzir o pai da criança a abrir as janelas e convencer Ricardo a brincar um pouco. "Você não pode ir à brinquedoteca, mas posso trazer alguns brinquedos para você brincar com seu pai aqui no quarto".

Aquele foi o último dia de felicidade para Ricardo, um dia prazeroso ao lado de seu pai. Ricardo faleceu no dia seguinte. A Rosinha explica que, quando a pessoa está disposta a ajudar alguém, Deus dá força para cumprir esse objetivo.

A revolta – Muitos pacientes ficam revoltados ao descobrir que estão com câncer. As voluntárias explicam que, durante a sessão de Quimioterapia, alguns ficam nervosos e agitados. Ao entrar na sala de medicação da Oncologia, Alzirinha não foi bem recebida. "O que você está fazendo aqui?", perguntou o paciente. Alzirinha explicou que estava ali para lhe dar amor, carinho e para ouvi-lo, mas ele foi irredutível, dizendo que não queria saber de conversa.

A Rosinha mais velha do grupo tentou mais uma vez praticar a sua solidariedade, oferecendo um chá e um lanche. "Se eu quiser, vou lá buscar", respondeu o paciente. Alzira explica que nestes casos elas precisam ser pacientes e humildes, entendendo que para os pacientes é complicado.

A lembrança que deve ser esquecida – No início, a impressão que se tem, lendo todos estes depoimentos de convivência com a dor e o sofrimento, é a de que parece ser fácil relatar, em detalhes, estes casos que maçaram a história da Associação. Porém, as Rosinhas preferem esquecer as lembranças que causam tristeza e dor, ou melhor, deixá-las guardadas a sete chaves.

Algumas voluntárias, como Tânia, Mariluci e Alzirinha, resgataram, com emoção, de suas lembranças, a passagem de Danilo, Ricardo e o paciente malcriado. No entanto, o que caracteriza a conversa com as voluntárias é o jogo de cintura que elas têm quando o assunto é paciente. Não foi fácil tirar da Alzirinha algo para contar. Ela chegou a perguntar para si mesma: "Posso contar?!"

A Rosinha Heliana Cyntia Neres Serra, na dúvida se podia falar algo, preferiu se reportar a Nelli, que respondeu de modo direto. "O que nos marca aqui é o carinho, o sorriso e o abraço que recebemos das crianças". Então, somente após a declaração da presidente da Associação, Heliana resolve se abrir. "Às vezes, a gente se pega um pouquinho. Somos humanos, ficamos sensíveis, mas temos que levar a alegria e lembrar as coisas boas".

A conversa é regada de: "Lembra daquela menina que teve câncer no fêmur? E aquela outra do câncer na boca?!", mas os detalhes as voluntárias preferem deixar guardados em suas memórias e corações. Elas gostam mesmo é de elogiar, de mostrar o orgulho de fazer parte das Rosinhas. "Faço questão que vocês mencionem a Dona Augusta. É ela quem faz os gorrinhos de crochê que distribuo para os pacientes", exige Geralda, durante a conversa.

No entanto, não é difícil de entender a postura destas mulheres. A importância de levar um pouco de conforto aos pacientes é mais gratificante de ser lembrada do que a tristeza de uma mãe ao ver seu filho recém-nascido na cama, tomando fortes doses de Quimioterapia. Para elas, até mesmo para aqueles que estiveram ali por alguns dias para realizar um pequeno trabalho, a lembrança do sorriso é mais prazerosa do que o correr de uma lágrima no rosto de uma criança.


[Páginas 88 a 94]

Cavaleiro da Rosa

Por Rafaella Bartiloti 

Ao contar como sugiram os Cavaleiros da Rosa, Nelli se lembra de um episódio engraçado. Um dia, sem que ela esperasse, surgiu um belo rapaz, muito bem vestido, em sua sala. "Ele era bonito, achei que eu ia ter trabalho porque as meninas iam querer abraçá-lo, beijá-lo". Convicto do que queria, o jovem senhor insistiu dizendo que queria ser voluntário e colaborar. Nelli havia gostado dele à primeira vista e, decidida a integrá-lo de imediato, foi buscar o jaleco. Ao ver a vestimenta cor-de-rosa, Nelli conta que o rapaz desmunhecou e se recusou a vesti-la.

Quando toda história parece ser sobre mulheres fortes e lutadoras que superam seus medos, angústias e receios para conseguirem trabalhar em algo que acreditam, nos surpreendemos ao perceber que homens, que muitos julgam ser frios e insensíveis, possuem a mesma vontade imensa de ajudar. Eles se apresentam ao voluntariado com tamanha garra que muitos desconheciam existir dentro de si mesmos.

Em um desses dias comuns, onde tudo parece rotineiro e ao mesmo tempo singular, o que acontece de diferente sempre chama atenção. Em 2002, Nelli recebeu a visita de um rapaz que insistiu em fazer parte do grupo de voluntárias. Já que esta proposta era nova e no grupo não havia homens, Nelli foi pega de surpresa. Como presidente da Associação, é ela quem decide quais são as voluntárias aprovadas e, como havia gostado do interesse que o rapaz havia demonstrado, pediu que ele voltasse para fazer um curso, que prontamente ele aceitou.

A sorte daquele homem bem intencionado foi que a presidente havia gostado dele. Por isso, em meio a tantas dificuldades, e apesar de Nelli ter decidido pensar antes de responder ao pedido dele, no final, depois de ouvir as opiniões do grupo e dos médicos, decidiu aceitá-lo. Em uma pequena reunião para dar a notícia ao rapaz, surgiu o título Cavaleiro da Rosa, que nomeia o voluntário do sexo masculino. Na dúvida sobre a vestimenta, já que as mulheres usam vestidos rosa, Nelli decidiu que os homens teriam que vestir um avental com esta cor. Foi assim que a Associação se modificou e cresceu, não somente em números, mas também em humanidade.

Este primeiro Cavaleiro, que iniciou o grupo e abriu as portas para que outros pudessem ter a chance de ajudar aqueles que precisam, não está mais na Associação. "Essas coisas acontecem. Ele era maravilhoso, mas de repente não deu mais certo", justifica Nelli, com o semblante tenso, movimentando muito as mãos e a testa enrugada, como se lembrasse de algo que não lhe trouxe boas lembranças.

A perda do pai - "Eu tinha 15 anos quando meu pai faleceu. Naquele momento eu não tinha idéia do que representava aquela perda, mas, em função da morte dele, eu precisei começar a trabalhar", explica José Carlos Romeu, 67 anos, um senhor de cabelos grisalhos, bigode, estatura mediana, que presta atenção nas palavras que diz e as fala de forma calma, com o tom da voz baixo.

Sem largar os estudos, o menino de apenas 15 anos passou a ser responsável por suas coisas. Morava numa casa com sua mãe, uma irmã mais nova e quatro irmãos mais velhos, sendo dois frutos do primeiro casamento que seu pai, João Romeu Soares, teve.

A vida mais independente começou no dia 1º de junho de 1955, em um banco na cidade de São Vicente. Romeu trabalhava em período integral e estudava à noite na escola Senac. Sua vida girou em torno desta correria até completar 18 anos e ser chamado para se apresentar ao exército. Prestou o serviço militar até 1959. "Ao freqüentar o Exército, as coisas começaram a mudar na minha cabeça. Criei novas responsabilidades, outros compromissos", diz, com olhar profundo e disperso como se voltasse àquela época e se visse vestido com uniforme, menino-moço, sem mais aquele semblante de criança, sem mais sonhos de brincar de carrinho, com um brilho de orgulho por ter conseguido sozinho tornar-se o homem que é hoje. "A disciplina é até um pouco rígida - militar, mas é muito boa para o jovem amadurecer um pouco mais rápido".

Ao voltar do Exército, ainda permaneceu trabalhando no banco por um mês. E é a partir dessa época que Romeu considera iniciada sua verdadeira carreira profissional.

O menino-homem - Ainda no banco, logo depois da experiência do Exército, Romeu fez uma entrevista na Union Carbide do Brasil, uma empresa petroquímica em Cubatão onde é fabricado o polietileno.

Com o curso no Senac já concluído, o rapaz recebeu uma bolsa de estudos para fazer técnico em contabilidade na escola modelo do Carmo, mas quando passou a fazer parte do quadro de funcionários da empresa, Romeu logo sentiu dificuldades em estudar. O horário de trabalho era dividido em turnos. "Eu perdia uma semana de aula". Para conseguir concluir os estudos, depois do primeiro ano no Carmo, o estudante-trabalhador transferiu o curso para o colégio José Bonifácio. "O emprego atrapalhava um pouco os estudos, mas eu consegui, superei esses problemas", diz Romeu com um tom de vitória na fala, porém sem mudar as feições sérias e serenas.

No mês de novembro do ano de 1960, através de contatos com amigos, Romeu recebeu uma proposta para fazer um teste na empresa Companhia Docas de Santos. Aprovado, passou a integrar o efetivo no dia 19. "Eu estava muito bem empregado. Financeiramente era bom, mas tinha muito problema de horário e, às vezes, aconteciam acidentes".

Este emprego, na empresa que hoje é conhecida como Codesp, se prolongou por 30 anos, quando em 1990 Romeu se aposentou. Ele também exerceu, paralelamente, de 1980 a 1996, a profissão de conferente, uma atividade avulsa no porto.

Chefe de família - Ainda muito jovem, Romeu se casou em 1962. "Casei com 23 anos e minha esposa, que também era jovem, casou com 18 anos. Dia 1º de dezembro estaremos completando 44 anos de casados", diz, tranqüilamente, como se fosse natural um casal conseguir conviver tantos anos juntos.

Menos de um ano depois, nasceu a primeira filha do casal, a advogada Elza Maria Leite Romeu Basile, hoje casada e mãe de um dos quatro netos que Romeu e Maria Odila têm.

Depois desta primeira, veio ao mundo mais uma menina, Lucia Helena, e um menino, o mais novo da família, José Carlos Romeu Junior, hoje com 35 anos.

O pai fala dos três filhos com um tom de orgulho na voz. "Meus três filhos são advogados. O mais novo exerce a profissão, minha filha do meio é oficial de justiça e a mais velha foi aprovada em junho no concurso para juíza federal".

As escolhas - "Em 1981, por causa de dificuldades que tivemos, decidimos procurar a religião espírita", explica Romeu. Devido à ajuda que a decisão proporcionou para a resolução dos problemas, o casal, antes católico, decidiu adotar a doutrina espírita. Junto com os pais, o filho mais novo e a filha mais velha também passaram a seguir a religião. Lúcia, por causa de seu primeiro casamento, que durou 10 anos, agora é evangélica. "Não há problemas de relacionamento. Cada um respeita a escolha do outro e é assim que tem que ser".

Os anos passaram e, com os ensinamentos espíritas, Romeu e Maria Odila começaram a pensar em ajudar mais o próximo. "Com o passar do tempo, a gente começou a parar com as atividades profissionais. Então, talvez por causa da maturidade aprendida com a doutrina, passamos a pensar em alguma coisa", justifica Romeu.

Os dois auxiliam muitas instituições que trabalham com crianças e idosos, e sempre que podem fazem mais. "A gente ajuda não só as instituições espíritas, mas também as católicas e evangélicas".

Devido aos trabalhos beneficentes, Romeu e a esposa passaram a freqüentar palestras, debates e cursos. Em um desses eventos, Maria Odila conheceu Nelli.

O voluntariado - Maria Odila é hoje uma Rosinha. Ao conhecer Nelli, ela se interessou em ingressar no grupo. Após ser aceita, passou a praticar o trabalho voluntário e a instigar o marido a fazer o mesmo.

"Eu tinha um problema. Vinha no hospital e não me sentia bem, talvez em função da mediunidade, pensei que eu ia ter dificuldades", confessa Romeu ao lembrar dos convites que sua mulher fazia.

Há mais de dois anos na instituição, Romeu começou devagar. Ao decidir tentar, foi conversar com Nelli para ter um prazo de experiência. Iniciou no hospital na ala de repouso, em que todo tipo de pessoa chega com todo tipo de doenças e ferimentos. Os mais comuns eram os ferimentos a faca e a bala.

Mas, depois de ter decidido permanecer no trabalho, passou a ajudar na ala de nefrologia do hospital.

É na nefrologia que todos os Cavaleiros da Rosa trabalham, devido a uma decisão que Nelli tomou. Nesta ala, os voluntários têm mais contato com pacientes com câncer, já que é na nefro que é feita a hemodiálise.

Todo paciente que precisa fazer hemodiálise, processo de tratamento do sangue através de uma máquina, entra numa lista de espera para transplante. Muitos optam por não transplantar, mas, quem consegue o transplante, muitas vezes sai curado.

A enfermeira - Um dos primeiros casos que marcaram Romeu não era de um paciente que a associação cuidava.

Enquanto trabalhava na ala de repouso ajudando os médicos e conversando com os pacientes, Romeu se deparou com um rapaz, tatuado, de aproximadamente 40 anos, que havia sofrido um atentado em Mongaguá e levado vários tiros. Já em recuperação, após ter ficado internado na Uti, há mais de um mês no hospital, e impossibilitado de falar com clareza, pois um dos tiros havia atingido a garganta e ele havia feito uma traqueotomia, o rapaz ia ganhar a alta. Rita de Cássia, uma das enfermeiras que cuidavam do caso, na ala de traumatologia, entrou em contato com Romeu, na esperança de que ele pudesse ajudá-la a encontrar familiares da vítima, que já esteve envolvida com entorpecentes e até já foi presa.

Ao chegar ao quarto, Romeu não conseguia entender direito o que aquele homem dizia. Sua primeira questão foi: "Qual seu nome?" Com dificuldades e com a fala meio embaralhada, o voluntário entendeu que o nome do paciente era Zecão ou Chicão.

Depois de muitas tentativas frustradas, o senhor do jaleco rosa teve a idéia de pedir que o rapaz escrevesse seu endereço. "No papel, ele só escreveu o nome do bairro e o nome da rua em que morava em São Paulo", disse Romeu, com os olhos fundos como quem quisesse acrescentar que não tinha dados suficientes para fazer uma boa pesquisa.

"Na lista telefônica, não tinha o número da casa dele. Procurei o telefone de uma casa nas proximidades". Ao ligar, explicou a quem atendeu que ele era voluntário da Santa Casa de Santos e tinha entrado em contato com um paciente de nome Zecão ou Chicão e que, já que o rapaz não podia falar direito, o único dado que ele tinha era o nome de uma rua próxima. Ao conhecer qual era a família que Romeu queria entrar em contato, a moça que havia atendido ao telefone pediu que ele aguardasse, pois ia chamar alguém".

"Foi uma irmã dele quem atendeu. Ela me explicou que ele sumia sempre e que havia saído da cadeia há três meses. Quando expliquei o caso, ela disse que o nome dele era Ticão". No dia seguinte a esta conversa, os familiares do Ticão vieram até a Santa Casa e passaram a acompanhar de perto o caso até que fosse dada a alta. A enfermeira Rita de Cássia entrou novamente em contato com Romeu para agradecer que a família do Ticão tinha sido encontrada.

Passado um tempo, teve uma exposição de quadros dos funcionários na Santa Casa. Romeu e a esposa foram para apoiar e ajudar. Um quadro pelo qual o voluntário havia se interessado era a pintura de um farol na beira de um mar e, ao saber que a esposa também tinha gostado, decidiu comprar. Na ponta do quadro, tinha a assinatura do artista: RCC. Mesmo saem saber quem era, os dois encomendaram a pintura, que não era de pronta entrega, pois tinha que ficar exposta até o final da vernissage.

Ao final da exibição, Romeu foi procurar saber quem era o autor da pintura que mais havia lhe chamado atenção. Foi uma surpresa descobrir que era de Rita de Cássia, a enfermeira que havia cuidado de Ticão e solicitado sua ajuda. Ao falar com Rita, propôs ir buscar o quadro na casa dela, já que ele tinha carro, e prontamente a enfermeira aceitou. Junto com a esposa, Romeu chegou à casa de Rita, que os convidou pra entrar. Depois de um bate-papo gostoso, o quadro foi entregue e Maria Odila e Romeu foram embora.

No hospital, o contato do voluntário com a enfermeira era pouco. Um dia, diante da agitação dos funcionários, curioso, o Cavaleiro da Rosa foi averiguar o que havia acontecido. Descobriu que alguém havia falecido. A única informação que conseguiu foi que a falecida era uma mulher, trabalhava no hospital, era muito querida entre os colegas, tinha 30 e poucos anos e a doença que a tinha levado à morte foi um câncer. Sem mais informações, Romeu desistiu de saber quem era.

Quando precisou ir à ala de traumatologia novamente, procurou logo a Rita de Cássia para ajudá-lo. Quando não a achou, questionou os funcionários que circulavam pela ala para saber da enfermeira. "A funcionária que tinha falecido uns meses atrás era a Rita. Na época, não liguei os rumores a ela por que não imaginava que fosse ela", explica, com o olhar fixo na parede. "A morte dela me marcou".

Um transplante, uma vida - Romeu trabalha no hospital toda segunda-feira e em uma dessas ocasiões conheceu Edson Efigênio, um senhor que fazia hemodiálise.

No dia em que o conheceu, Edson vestia uma camisa velha do Santos Futebol Clube. Todo homem que se junta adora conversar sobre futebol e na nefrologia não poderia ser diferente. Toda vez que Edson Efigênio, Romeu e um outro Edson se juntavam, o assunto era futebol. Cada um torcia por um time diferente, mas Efigênio e Romeu tinham algo em comum. Mesmo sendo torcedor do Palmeiras, o filho do voluntário jogou no Santos. Por causa do time, José Carlos Romeu Júnior viajou para a Europa, morou um tempo lá e trouxe para o pai uma camisa do Santos, na volta.

Quando conheceu Efigênio, o Cavaleiro da Rosa criou vontade de dar a camisa de presente. Antes de tomar qualquer decisão, foi conversar com o filho. "Expliquei que tinha um senhor fazendo hemodiálise que era fanático pelo Santos, o lembrei da camisa que há muito tempo havia me dado e confessei que queria doá-la àquele senhor". Romeu lembra que, ao dar a camisa, Efigênio ficou muito contente e agradeceu. Recorda também que sempre que ele ia assistir a um jogo do Santos, dizia que ia levar a camisa "deles".

As conversas trouxeram um ambiente amigável e, com isso, uma amizade se criava. Mas a amizade foi interrompida por uma boa causa. "Em maio do ano passado, ele foi transplantado e acredito que ocorreu tudo bem. Se tivesse acontecido algo, eu saberia. Eu nunca mais o vi", diz o Cavaleiro da Rosa com um olhar distante.

A preocupação - Depois de se acostumar ao hospital e trabalhar com o voluntariado por vontade própria, por vontade de ajudar ao próximo, Romeu desenvolveu uma preocupação com os pacientes com quem tem mais contato, ou seja, os que freqüentam a ala da nefrologia às segundas-feiras de manhã.

Para manter o vínculo e saber o que acontece com cada um deles, o voluntário tem um caderninho onde registra os nomes dos pacientes e em qual sala eles fazem a hemodiálise. No hospital, há 57 máquinas distribuídas em salas. São mais de 40 pacientes fazendo o tratamento.

Sempre que ocorre alguma alteração, Romeu corre para averiguar e atualizar seu caderninho. "Quando a pessoa não está, eu espero uma semana e pergunto o que aconteceu. Muitas vezes, só foi troca de horário, mas tem vezes que acontecem falecimentos", explica Romeu, que ainda completa dizendo que refaz a lista a cada seis meses.

O espírito do voluntariado - Não é só Romeu que sente que pode ajudar mais as pessoas. Reynaldo Gomes Ferreira, um senhor baixo, com cabelos brancos, de pele clara e olhos grandes, também é um desses homens que querem fazer mais pelo próximo.

Sua história não é muito diferente da de Romeu, já que perdeu o pai quando tinha quatro anos. Ainda criança, sua mãe teve que trabalhar e não conseguia manter a família unida. "Eu fiquei com uma tia minha, uma senhora portuguesa, e minha irmã foi morar com um outro parente", explica. A tia, analfabeta, lavava roupa para fora. Sem o acompanhamento da mãe, mesmo com a boa criação da tia, Reynaldo não conseguiu terminar a escola.

Alguns anos depois, a mãe e a irmã foram morar com ele e a tia portuguesa. Nessa época, a criança de apenas nove anos já trabalhava na pensão do companheiro da tia. Já crescido, conseguiu vaga em um banco holandês, onde ficou trabalhando até adoecer. "Minha família tem problemas com pulmão, meu pai morreu com tuberculose", lembra, com o olhar disperso e fixo no tempo. Ao voltar para o banco, depois de curado do problema que teve no pulmão, Reynaldo foi dispensado. Passou a trabalhar, então, em uma concessionária, onde permaneceu por 14 anos.

Crescidos, a irmã casou, a tia faleceu e Reynaldo ficou cuidando da mãe e trabalhando para sustentá-la. "Quando eu tinha 52 anos, conheci uma moça que era casada, trabalhava e tinha filhos", conta, piscando muito os olhos e parecendo disperso. "Quando ela se separou, fomos morar juntos, mas foi muito complicado no início. Minha mãe era muito ciumenta". Os dois se encontraram em uma pensão quando Reynaldo foi comprar comida, já que a mãe não cozinhava mais. Neti Reis Santana Ferreira e Reynaldo se apaixonaram e decidiram enfrentar as dificuldades.

Mesmo com a implicância da mãe, Neti cuidou da sogra até sua morte e os dois conseguiram casar no dia 16 de setembro de 2006.

A vontade de ajudar - "Sempre gostei de ajudar as pessoas. Cuidei da minha mãe e cuido de uma senhora de 84 anos que mora sozinha em meu prédio", justifica Reynaldo, ao falar da vontade de trabalhar com voluntariado.

Ingressou na ASI depois que assistiu a uma palestra sobre câncer. No final, Nelli convidou os participantes que se interessaram para trabalhar com ela nas Rosinhas. "Eu me interessei, quis tentar, não sabia se ia conseguir porque sou muito emotivo, me sensibilizo por qualquer coisa", conta Reynaldo, lembrando que foram essas as palavras que disse a Nelli.

Começou como todo Cavaleiro da Rosa, trabalhando na ala de repouso. Depois passou para a nefrologia. "Ajudo como posso os funcionários, a secretaria, os pacientes".

Reynaldo, com seus 69 anos, atua com vários tipos de voluntariado, não só na Santa Casa. Além disso, mantém uma rotina ativa, fazendo exercícios, sempre que pode. "Sou síndico do meu prédio, nado na piscina do Sesc e ando bastante".

Este senhor, que veste jaleco rosa todas as quartas-feiras, diz que sua vida é ajudar as pessoas e é isso que faz ele se sentir melhor. "Quando estamos fora de um hospital, não conhecemos o trabalho que os médicos e enfermeiros fazem. Só estando aqui dentro é que passamos a dar valor". Valor que não deve ser dado apenas para funcionários, mas também para os voluntários que estão ajudando seus semelhantes sem esperar nada em troca.


[Páginas 95 a 98]

Os funcionários da Santa Casa

Por Rodrigo Lima

Claudete Brás Soares, 48 anos, enfermeira do Ambulatório de Endoscopia, acompanhou de perto a história de Hérik Aparecido, um garotinho de um ano de idade que possui síndrome de Down. Hérik precisou fazer uma traqueostomia, pois teve problemas respiratórios. O menino precisa trocar pelo menos três vezes por semana o aparelho que mantém sua respiração. Infelizmente, para o desespero dos pais do garoto, o Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre a manutenção desse aparelho. Os pais de Hérik tiveram a idéia de procurar Nelli, presidente da Associação Santa Isabel, que imediatamente abraçou a causa, cobrindo as despesas do pequenino no hospital.

O serviço de voluntariado das Rosinhas na Santa Casa de Misericórdia de Santos é algo que se supera a cada dia. Cativa, além de pacientes, com seus gestos de carinho e apoio, os funcionários que acabam apreciando na sua rotina de trabalho a disposição desse grupo que atua também na área da saúde.

Os colaboradores do hospital têm o maior orgulho em compartilhar o espaço com essas senhoras e senhores. Uns com aparência calma e simpática e outros com ânimo de adolescentes e uma alegria que empolga quem está ao redor.

Débora Brito dos Santos, 32 anos, é uma dessas pessoas que integram o quadro de funcionários da Santa Casa de Santos, há oito anos. Ela atua há um ano e dois meses na ala pediátrica da Oncologia.

A jovem enfermeira tornou-se, além de amiga, uma fã, pois convive diretamente com as Rosinhas, que sempre estão próximas para auxiliar em qualquer tipo de serviço.

Débora presenciou um fato marcante em sua vida profissional, que foi o caso de uma criança da cidade de Eldorado Paulista (interior de São Paulo). A criança estava com um tumor cerebral e precisava ser operada, mas os pais não tinham condições de pagar uma estada na cidade até que o menino se recuperasse da cirurgia.

Em um gesto de solidariedade, as Rosinhas conseguiram falar com a assistente social do hospital para que cedesse um lugar à mãe do menor até que este se recuperasse da cirurgia.

A mãe autorizou a permanência da criança no hospital até arrumar um lugar próximo para observar de perto todo o processo da cirurgia e tratamento do pequenino.

Conseguiu um local, mas ainda era um pouco distante, em São Vicente. As Rosinha procuraram ajudar ainda mais essa mãe, contribuindo com a condução, para que ela pudesse ficar próxima de seu filho todos os dias em que ele permaneceu no hospital.

Uma das Rosinhas que acompanhou essa família foi Liliane, conhecida como Lili, que se mostrou presente do princípio ao fim, sempre levando, além dos lanchinhos, seu amor e apoio aos pais dessa criança enferma.

Débora admira a forma de carinho com que as senhorinhas seguem cada caso. "Acho linda a forma com que as voluntárias se envolvem junto às crianças do setor pediátrico, alegrando o ambiente com um simples minuto de atenção, brincando e participando com a meninada de atividades na brinquedoteca".

Vontade de ajudar - É difícil achar alguém dentro desse enorme espaço denominado hospital, que não demonstre alguma admiração a esse grupo que a cada dia se expande mais e mais. Nádia Rodrigues, 27 anos, é enfermeira. Já está há três anos no hospital e há um ano e meio atua na ala da Oncologia.

Nádia trabalhou antes no Pronto-Socorro do hospital e, neste período, não tinha muito contato com as Rosinhas. Hoje a enfermeira presencia de perto os serviços da Associação Santa Isabel.

"Não tenho o que reclamar dessas pessoas maravilhosas que atuam na Santa Casa", ressalta Nádia, demonstrando uma enorme simpatia ao se pronunciar sobre os voluntários e voluntárias. "De forma direta, consideramos todo o grupo como auxiliares para nós, funcionários. Ele nos ajudam bastante em outras funções".

Nádia admira o lado humano dessas senhoras e senhores, que optaram por estar no hospital ajudando aos pacientes. Sempre bem dispostos, sempre sorridentes, cumprimentando a todos. Não cobram nada pelo que fazem. Em troca disso, um obrigado ou um sorriso compartilhado para eles é o bastante.

A enfermeira passa um bom tempo com as Rosinhas e não saberia como funcionaria a ala sem a ajuda das voluntárias. Seria um desânimo total, além de ter que preencher o quadro com funcionários novos para auxiliar nos serviços.

O acompanhamento, por exemplo, é fundamental, função esta exercida pelas Rosinhas, que encaminham os pacientes até os outros andares abaixo. No primeiro andar, elas guiam as pessoas para as salas de tratamento quimioterápico e de radioterapia.

"O trabalho desse grupo é importante aqui na Santa Casa, pois uma vez que o paciente está dentro do hospital, não pode andar sozinho para fazer os exames", comenta a enfermeira. "Sempre tem que ter um acompanhante e muitos geralmente vêm sozinhos. As Rosinhas, na maioria das vezes, os encaminham até o local dos exames a serem feitos".

O que facilita no tratamento aplicado aos doentes é a presença da Associação, que contribui com benefícios. São distribuídas cestas básicas e os lanches. Para o quadro hospitalar, é importante que os pacientes estejam bem nutridos.

"A colaboração da Associação Santa Isabel é fundamental na ajuda clínica dos pacientes", diz Nádia.

A importância dos lanches das Rosinhas - Muitos dos pacientes atendidos na Santa Casa de Santos são de origem humilde. Quando vão fazer os exames e tratamentos, chegam sem nada no estômago. Isto prejudica, de certa forma, o organismo no momento em que irão passar por processos químicos.

Aline dos Santos, 25 anos, que trabalha há um ano no hospital como técnica de enfermagem, gosta de presenciar o atendimento das Rosinhas. As voluntárias, para não deixar que os pacientes façam os exames e os tratamentos em jejum, servem os famosos lanches, com bolo, sanduíche de queijo com presunto, chás e sucos.

"Além da alimentação, acho importante o acompanhamento que as Rosinhas aplicam aos pacientes em tratamento", diz Aline. "É essencial essa atitude, pois naquele momento o enfermo está com sua estima em baixa e isto, na maioria das vezes, acarreta a piora da doença. Os Cavaleiros da Rosa e as Rosinhas são como psicólogos não formados na teoria, mas sim na prática, e passam essa vivência que adquiriram no decorrer de suas vidas para dar segurança ao doente na sua pior fase".

Aline se surpreende com a alegria que as senhorinhas dedicam às crianças da Oncologia. Esses pequeninos passam por tratamentos muito fortes e mesmo assim essas voluntárias conseguem arrancar sorrisos gostosos da garotada. "As Rosinhas sempre estão presentes nos principais dias comemorativos, como a Páscoa. chegam com toda energia, distribuindo ovos aos meninos e meninas ali presentes na ala", comenta Aline.

O reconhecimento - Márcia Regina Gonçalves Padinha, 41 anos, enfermeira que atua na Casamata, reconhece os serviços das Rosinhas dentro do hospital, pois são elas que acompanham os pacientes até o setor para a realização do tratamento.

"Fico mais tempo dentro da ala, mas observo a forma de atendimento delas com os pacientes e lhe afirmo que o carinho que transmitem a essas pessoas é enorme", diz Márcia.

Márcia presta atenção nas Rosinhas e repara que, além dos cuidados aplicados aos pacientes, as voluntárias acabam escutando até casos pessoais dos enfermos. Estes estão em um nível sensível de suas vidas e a oportunidade de ter alguém que os excute é de uma generosidade tremenda. Sem querer, os pacientes relatam às Rosinhas suas histórias de vida, tanto alegres quanto tristes.

"É interessante a carência que essas pessoas trazem para dentro do hospital e, graças a essa Associação, os doentes têm com quem contar, pelo menos aqui dentro do hospital", afirma Márcia. "Nós conhecemos um pouquinho de cada história, pois mesmo de longe acabamos nos envolvendo também com os pacientes e sentimos que, ao entrarem na Radioterapia, o ânimo dessas pessoas aumenta".

Márcia acha incrível a capacidade dos voluntários, pois, para estarem envolvidos com tanto sofrimento e dor, têm que trabalhar bastante com o lado emocional.

A enfermeira se acostumou com a rotina de cuidar e tratar dos doentes, mas admira o interesse desse grupo em prestar ajuda àqueles que necessitam. Mostra que ainda existem seres humanos bons e que querem ajudar a vida do semelhante.

"As Rosinhas vieram para trazer um pouco de conforto a essas pessoas que vivem na dor, por carregar consigo uma das doenças que mais mata no mundo. Acho um trabalho super essencial do voluntariado aplicado aqui na Santa Casa", finaliza Márcia.

Cada caso acompanhado, tanto por funcionários da Santa Casa quanto pela Associação Santa Isabel, mostra diretamente a felicidade daqueles que conseguem se recuperar e até mesmo se curar da doença ou vivenciam histórias tristes de perda, de pessoas que chegaram ali lutando de todas as formas pela vida.

Cada uma dessas pessoas que trabalham na área da saúde e que têm ligação direta com os enfermos leva consigo um pouco da história daqueles que um dia passaram pelo hospital e necessitaram do auxílio e carinho de todos que ali estão.

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