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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TELECOMUNICAÇÃO
Um século de telecomunicações (10-B)

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Datam dos anos finais do século XIX as primeiras referências sobre os serviços de telecomunicações em Santos. E, apesar de ser importante porto e estar próxima a centros de negócios como a capital paulista, só na década de 1980 (como o resto do Brasil) começou a ter serviços como a discagem direta à distância. Passou pelas eras dos telegramas, do telex, do fac-símile (fax ou telefax), do videotexto, dos BBSs e desembarcou na Internet, com todos os seus recursos.

Clique na imagem para voltar ao índice da obraUm pouco da história da telefonia brasileira está neste álbum, editado em novembro de 1984 pela empresa Telecomunicações de São Paulo S.A. (Telesp), em comemoração ao 100º aniversário da instalação dos serviços telefônicos em São Paulo. Este exemplar (número 1.091, de uma edição de 3.000 exemplares) fazia parte da biblioteca mantida pelas telefonistas do posto telefônico santista (Tráfego). Quando a empresa foi privatizada e se desfez de muitos de seus arquivos, em 7 de julho de 1989, este álbum foi oferecido a um dos funcionários, Francisco Vazques Carballa, que o mantém no seu acervo. Continua aqui a transcrição integral da obra, de 150 páginas não numeradas:


O GRANDE INCENTIVADOR - D. Pedro II foi o responsável pela vinda do telefone ao Brasil. Nosso país tornou-se um dos primeiros a receber a novidade, graças à iniciativa e à visão de futuro do imperador. Apesar dos problemas enfrentados pela Corte em setores fundamentais, como abastecimento e educação, ele soube dar importância ao aparelho e tratou logo de procurar pessoas capazes de torná-lo uma realidade por aqui
Imagem: coleção particular do deputado Antonio Henrique da Cunha Bueno

1884: São Paulo ganha o telefone

Em 1884 o telefone chegava a São Paulo, mas sua caminhada até aqui começou oito anos antes, na Filadélfia. No dia 25 de junho de 1876, d. Pedro II e outras autoridades internacionais da época elegiam o invento de Graham Bell como o principal da Grande Exposição Científica em comemoração ao primeiro centenário da Independência dos Estados Unidos. Com isso, nosso imperador torna-se um dos primeiros grandes incentivadores do aparelho e resolve trazê-lo logo para o Brasil. Havia, porém, problemas mais urgentes a serem resolvidos na Corte, como instrução, transporte e abastecimento. O espírito inovador e a grande visão futurista de d. Pedro II, no entanto, não deixariam o sonho esmorecer.

Foi justamente por isso que já em 1877 acontecia a primeira experiência telefônica em solo brasileiro, por conta do comerciante Leon Rodde. Ele instalou um telefone na O Grande Mágico, loja de sua propriedade na Província do Rio de Janeiro. Na ocasião, o resto do mundo contava com nada menos que 3 mil aparelhos funcionando, enquanto surgiam entre os norte-americanos propagandas sobre a última novidade tecnológica.

O aparelho utilizado era uma verdadeira engenhoca pesada e incômoda, que não tardou a ser substituída por uma versão mais prática: o telephono, desenvolvido em 1877 pela Western & Brazilian Telegraph Company. A imprensa recebeu a inovação como "o instrumento transmissor e ao mesmo tempo receptor de sons, tendo meio palmo de comprimento e constando de um pequeno cubo de madeira de cerca de uma polegada de diâmetro e três de extensão, com uma rodela de duas a três polegadas de diâmetro" (A Província de São Paulo, de 1º de dezembro de 1877).

Com esse equipamento mais leve e fácil de manejar, o invento de Bell começa sua convivência entre os paulistanos, trazido para cá pelo engenheiro norte-americano Morris Kohn - figura conhecida no Rio de Janeiro pela instalação de uma linha de "bonds" e por ser sócio de Leon Rodde. "Hoje às 10 horas da manhã, no Grande Hotel, o sr. Morris Kohn propõe-se a fazer uma experiência pública. Diz ele que pretende fazer com o seu telephone uma experiência maior e mais notável entre esta capital e algumas cidades a que estejamos ligados por um fio telegraphico, sendo talvez Sorocaba a cidade escolhida", publicava A Província de São Paulo, do dia 28 de julho.

Uma semana depois, o mesmo jornal anunciava, entusiasmado, o sucesso do teste, presenciado por muitos estudantes e engenheiros, no qual o telefone do sr. Kohn havia ligado a estação ferroviária do Brás com as da Luz e de São Bernardo do Campo.

Animados com os resultados positivos, Morris admite levar sua máquina falante para Santos e Rio Claro, enquanto já se dizia que o invento tornaria fácil uma conversa com o outro lado do mundo. "Nesse andar o sr. Morris é capaz de atravessar o continente, sulcar o Pacífico e pôr esta capital em communicação telephonica com Melborne, na Austrália, por exemplo...", afirmava o jornal A Província, de 4 de agosto de 1878.

Ao mesmo tempo, Leon Rodde fazia outras demonstrações em São Paulo, com o "Telephono e Tympanos Eléctricos", como ficou conhecido o aparelho instalado antes na sua loja do RIo de Janeiro. "Hoje, às 7 da tarde, no salão da propagadora, o Sr. Rodde fará exposição e experiências públicas d'aquelles curiosos instrumentos, fazendo a respeito d'elles minuciosa explicação verbal. Será uma verdadeira conferencia scientifica, que pela sua importância merece sem dúvida a attenção pública", lembrava A Província de São Paulo daquele 18 de agosto.

Pouco tempo depois, uma fazenda de Limeira recebia a visita do sr. Rodde. O dono das terras, Bento da Silveira Franco, agradece publicamente a instalação dos primeiros aparelhos em sua propriedade, por meio de uma carta divulgada no dia 5 de setembro de 78. "Communico-lhe que estou satisfeito com os aparelhos telephonicos que assentou em minha Fazenda do Barreiro, por quanto funcionam perfeitamente e nada deixam a desejar, tanto pela sua perfeição artística como pela claresa com que transmitem a voz", diz um trecho da carta.


EXPOSIÇÃO DECISIVA - No dia da inauguração da Exposição Universal de Filadélfia, em 1876, o imperador d. Pedro II foi visto à frente do cortejo oficial conduzindo pelo braço a mulher do presidente Grant, dos Estados Unidos, o qual o acompanhava, ao lado, dando, por sua vez, o braço à imperatriz Tereza Cristina. Para melhor conhecer a Exposição, voltou ali mais tarde, já desembaraçado dos programas oficiais.

Nessa ocasião, assistiu às primeiras experiências do telefone, feitas por Alexandre Graham Bell, e foi - graças à sua incansável curiosidade científica - o revelador do invento que iria revolucionar, dentro em pouco, o sistema de transmissão da palavra. Chamou para ele, calorosamente, a atenção dos jurados da Exposição, arvorando-se no maior propagandista do novo aparelho.

Entusiasmado, d. Pedro II diz a célebre frase: "Meu Deus, isto fala!". Imediatamente ele resolve que aquela seria a principal novidade da mostra comemorativa dos 100 anos de independência dos Estados Unidos. As outras autoridades presentes acompanharam seu voto e o telefone conhecia sua primeira grande vitória.

Conseguiu, assim, tirar da obscuridade o jovem Bell que ele conhecera pouco tempo antes, modesto e desconhecido professor numa escola de surdos-mudos de Boston, e torná-lo quase uma celebridade nos Estados Unidos.

"O telefone ficou sendo uma das sensações da Exposição, e quando ele se tornou um objeto de comércio, o imperador foi dos primeiros a utilizá-lo na prática", escrevia Mary W. Williams
Imagem: ilustração do jornal World da Filadélfia, 1876

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