Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0296a05.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/04/07 10:49:38
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Demografia-1913
Mudanças no crescimento populacional (5)

Os problemas de um recenseamento, apesar dos critérios adotados

Em 1914, foi publicada pela Prefeitura Municipal de Santos a obra Recenseamento da Cidade e Município de Santos em 31 de dezembro de 1913, que faz parte do acervo do historiador santista Waldir Rueda. Além de uma análise sobre o estado do município nesse ano, o livro apresenta a metodologia e os resultados do censo, e faz ainda comentários sobre os recenseamentos anteriores (ortografia atualizada nesta transcrição):

Leva para a página anterior[...]

PRIMEIRA PARTE
PREMIÈRE PARTIE
IV - Estatística predial e densidade respectiva

O mapa da página X (Segunda parte) dá-nos o número, por natureza, estado e aplicação dos prédios encontrados no Município,  no dia do recenseamento, e mais a respectiva densidade domiciliar média. Os prédios eram 10.578, dos quais 6.790 na zona urbana e 3.788 na zona rural. A proporção % de cada espécie de prédios sobre os eu número total era a seguinte:

Natureza dos prédios

Número

Proporção %

Térreos
7.357
69,5
Assobradados
957
9,0
De 1 andar
520
4,9
De 2 andares
46
0,4
De 3 andares
1
--
Casebres
1.697
23,6

Estavam em boas condições de habitabilidade 10.190, em ruínas ou interditos pela Comissão Sanitária local, 237; em construção, 96 e em reconstrução 55. Os prédios vagos eram em número de 123.

A sua aplicação era a seguinte:

Prédios ocupados:
Domicílios .................. 7.830
Mistos ......................    897
Casas comerciais ........ 1.284
Repartições públicas ....     56        10.067
Prédios desabitados:
Vagos .......................   123
Em ruínas ..................    237
Em construção ...........     96
Em reconstrução ........     55             511
                                                10.578

Infelizmente, por falta de estatísticas regulares, não podemos confrontar os dados atuais do desenvolvimento predial de Santos com os do seu passado. Apenas o recenseamento imperial de 1872 dá-nos deficientes informações a respeito, que reproduzimos ao lado das cifras de 1913:

Natureza dos prédios

1872

1913

Estavam desabitadas

1872

1913

De 1 pavimento
1.160
8.314

239

511

 "  2 pavimentos
229
520
 "  3     "
18
47
Casebres
--
1.697
Soma 
1.407
10.578

239

511

É evidente que em 1872 os prédios de um pavimento eram os térreos, os de dois eram os que nós hoje chamamos de 1 andar; e os de 3 os que nós chamamos de 2. Hoje, quando o rés-do-chão é armazém ou loja, nós costumamos contar apenas os pavimentos do sobrado para designar quantos andares tem uma casa.

A densidade predial que se encontrou em todo o Município foi de 10,19 habitantes por prédio habitado. Na cidade, isto é, na zona de população aglomerada, ela é muito alta - de 14 pessoas por prédio; na zona rural, ou de população disseminada, ela é de 4,70.

A densidade predial do Rio de Janeiro, segundo o censo municipal de 1906, foi de 10,45 pessoas por habitação, quase a mesma que a nossa, o que não admira, porque a composição demográfica da Capital Federal é idêntica à de Santos, predominando numa e noutra o elemento proletário, representado, sobretudo, pela colônia portuguesa e pela espanhola.

Não existindo lá, nem aqui, casas, à semelhança das que abundam na Europa e principalmente nos Estados Unidos da América, edificadas especialmente para servirem de habitações coletivas - conclui-se das cifras acima que as condições de habitabilidade na capital da República e em Santos não são satisfatórias. Há uma média de habitantes elevada demais, para a natureza dos prédios habitados.

E tanto assim é que a Comissão de Estatística do Distrito Federal, no volume relativo ao censo, procurou habilmente iludir essa dura verdade. O Rio de Janeiro acabava de ser belamente reformado pela dupla e enérgica iniciativa do governo geral e dos poderes locais; as novas e esplêndidas avenidas achavam-se abertas ao trânsito público; as principais ruas tinham sido alargadas e asfaltadas; as obras do cais estavam sendo atacadas com presteza; a febre amarela desaparecera; a limpeza pública era realmente modelar; a fiscalização sanitária dos domicílios privados era feita com solicitude; mas a população proletária continuava a residir aglomerada em casas sem as condições higiênicas indispensáveis e sem o indispensável conforto.

Ora, o recenseamento de 1906, e a sua publicação em volume, foram executados tendo em vista a propaganda da Capital do Brasil, durante as grandes festas da Exposição Nacional. Fazia-se mister, ao que parece, ocultar aquela circunstância; e como fazer para sofismar a verdade resultante dos algarismos? Tomou-se, para calcular a densidade predial, a totalidade, somente, da população terrestre, isto é, não foi contada a população marítima; e o cálculo foi feito, absurdamente, sobre o número total dos prédios existentes no Distrito Federal, inclusive os que se achavam em ruínas, interditos, em construção, em reconstrução, e vagos!

Encontrou-se, dest'arte, uma densidade favorável: 9 pessoas por prédio. A Comissão justificou-se de seu ato, declarando que os agentes recenseadores acharam habitados muitos prédios em ruínas, ou em construção.

Não era razão para incluir no cálculo todos os prédios em tais condições: bastava incluir os que os agentes tinham encontrado habitados. Mas, ainda mesmo que todas as casas em ruínas ou em construção estivessem habitadas no dia do recenseamento e entrassem, por isso, no cálculo da densidade, não se compreende que fossem contemplados nele os 2.521 prédios reconhecidamente vagos. Só mesmo o pensamento de baixar a média predial de habitantes poderia ter levado a Comissão a esse despautério.

Assim, pois, se tomarmos para o cálculo a população total recenseada, e o número real de casas habitadas no dia do censo - teremos uma média de 10,45 indivíduos por prédio. Se da totalidade deduzirmos a população marítima - a média, ainda assim, será de 10,37 pessoas, um poucochinho mais alta que a nossa.

Aplicando ao nosso Município o processo carioca, isto é, excluindo-se da totalidade dos habitantes a população marítima (2.213 indivíduos) e tomando-se em consideração todos os prédios existentes - obteríamos para Santos a média de 8,20 pessoas por casa, algarismo ainda mais favorável que o que se obteve no Rio de Janeiro.

As comparações da densidade predial só podem ser feitas, logicamente, com as cidades nas condições da nossa, porquanto na Europa e nos Estados Unidos há, conforme notamos, milhares de prédios construídos propositalmente para habitações coletivas, em vista de escassear lá o terreno que é aproveitado com a edificação de casas de muitos andares.

Todavia, damos aqui alguns algarismos colhidos em volumes de recenseamentos diversos, e que temos, no momento, mais à mão:

Cidades

Períodos

População

Número de prédios

Densidades

Rio de Janeiro

1906

811.443
77.615
10,45
Santos

1913

88.967
8.727
10,19
Itatiba

1904

21.700
2.631
8,23
S. Paulo

1893

130.775
17.982
7,34
Lençóis

1905

13.754
2.449
5,60
Campos

1892

108.534
19.856
5,40
Niterói

1892

54.855
10.040
5,40
Petrópolis

1892

29.331
5.927
5,40
Piraju

1904

17.594
3.267
5,38

Convém observar que na população de Campos e na de Petrópolis prepondera o elemento rural, que, em especial na primeira daquelas cidades fluminenses, é mais do dobro da população urbana.

O número de prédios encontrados em 31 de dezembro refuta, por completo, os cálculos e as opiniões, mais ou menos fantásticos, dos que atribuem ao nosso Município uma população mínima de 100.000 almas. A densidade predial mostraria uma cifra tão elevada que colocaria Santos nas condições de terra verdadeiramente inóspita, por falta de prédios para habitação. A densidade na zona urbana elevar-se-ia, então, fenomenalmente, a mais de 17,5 pessoas por casa.

Ainda há pouco, a Arquidiocese de S. Paulo publicou o seu Annuario Estatistico e deu a Santos a população arbitrária de 96.245 almas. Santos seria, pela massa numérica de seus habitantes, a segunda paróquia do mundo, sendo a primeira a do Braz, em S. Paulo, a terceira a de Sainte-Marguérite, e a quarta a de Clignamont, estas últimas na França.

Ora, 96.425 almas distribuídas por 8.827 prédios habitados dão uma média de mais de 11 indivíduos por prédio, para todo o Município. Dividindo-se proporcionalmente esses 96.425 habitantes pela zona urbana e pela rural, teríamos, só para aquela, a alta média de 15,5 por casa. Mesmo com seus 88.967 habitantes, Santos é uma grande paróquia, é a quarta do mundo, digna, por isso, de ser dividida, como vai ser, pelo Arcebispado, que cogita em criar a nova paróquia da Vila Mathias.

Para terminar: do exame do mapa, particularmente dos algarismos referentes à zona urbana, se verifica que o problema das habitações para o proletariado se impõe energicamente à meditação de nossos políticos e administradores. A quase totalidade das casas compõe-se de prédios térreos e de casebres toscos. Os 957 assobradados são ocupados pelas famílias abastadas. Os sobrados, em sua maioria, são casas comerciais. E ninguém dirá que as nossas casas térreas tenham sido construídas de modo a abrigar uma média de 10 pessoas em cada uma.

Os esforços que a Municipalidade já iniciou, subvencionando a construção de habitações proletárias, e dispensando-as dos ônus fiscais dentro de certo período, devem, pois, prosseguir, d'ora avante, com mais intensa tenacidade.

Como complemento à estatística predial, anexamos aqui a relação das ruas, travessas, avenidas, praças, largos, praias e becos, existentes na cidade. Não estão nela compreendidos os bairros situados fora da cidade propriamente dita, como sejam a Bertioga, o Guarujá etc. As ruas eram 87, as travessas 13, as avenidas, 11, as praças, 7, os largos, 4, as praias, 4 e os becos, 1.
 

Ruas

  1 Amador Bueno
  2 Augusto Severo
  3 Aguiar de Andrade
  4 Andrade Neves
  5 Alexandre Rodrigues
  6 Alexandre de Gusmão
  7 Ângela Macuco
  8 Ana Macuco
  9 Ana Carvalhaes
10 Antonio Macuco
11 Antonio Prado
12 Almeida Moraes
13 Alexandre Herculano
14 A
15 B
16 Bittencourt
17 Braz Cubas
18 Benedito Pinheiro
19 Barão de Paranapiacaba
20 Borges
21 Batista Pereira
22 Dr. Cochrane
23 Campos Melo
24 Cunha Moreira
25 Caminho Velho
26 Cento e Cincoenta
27 Carvalho de Mendonça
28 Constituição
29 C
30 Dois de Dezembro
31 Encanamento
32 Eduardo Ferreira
33 Frei Gaspar
34 Guarujá
35 Guerra
36 General Câmara
37 Henrique Porchat
38 Henrique Ablas
39 Itororó
40 Júlio Mesquita
41 Júlio Conceição
42 José Ricardo
43 João Macuco
44 João Otávio
45 João Eboli
46 João Cardoso
47 Joaquim Apolinário
48 Joaquim Macuco
49 Joaquim Nabuco
50 Lucas Fortunato
51 Luísa Macuco
52 Luís Gama
53 Marquês do Herval
54 Marechal Pego Júnior
55 Martim Afonso
56 Manoel Carvalhal
57 Noventa e Três
58 Onze de Junho
59 Oitenta e Oito
60 Particular
61 Pádua Sales
62 Pública
63 Porto Caldeira
64 Quarta
65 Quinze de Novembro
66 Rosário
67 Rangel Pestana
68 Senador Feijó
69 Santo Antonio
70 São Bento
71 São Francisco
72 Sete de Setembro
73 Soter de Araújo
74 Santos Dumont
75 Treze de Maio
76 Vasconcelos Tavares
77 Visconde do Rio Branco
78 Visconde de Embaré
79 Visconde de Vergueiro
80 Visconde de São Leopoldo
81 Viscondessa de Embaré
82 Vala Grande
83 Vinte e Quatro de Maio
84 Vinte e Sete de Fevereiro
85 Vinte e Oito de Setembro
86 Xavier Pinheiro
87 Xavier da Silveira

Travessas

  1 Adelina
  2 Bittencourt
  3 Caiuby
  4 Gonzaga
  5 Mauá
  6 Marquês do Herval
  7 Rosário
  8 Santo Antonio
  9 Santa Casa
10 São Francisco
11 Visconde do Rio Branco
12 Visconde de São Leopoldo
13 Vinte e Quatro de Maio

Avenidas

  1 Ana Costa
  2 Barnabé
  3 Bernardino de Campos
  4 Conselheiro Nébias
  5 Canal n. 1
  6 Canal n. 5
  7 Liberdade
  8 Municipal
  9 Rebouças
10 Saneamento
11 Taylor

Praças

1 Andradas
2 Barão do Rio Branco
3 José Bonifácio
4 Mauá
5 Narciso de Andrade
6 República
7 Teles

Largos

1 Imperatriz
2 Monte Alegre
3 Rosário
4 Sete de Setembro

Praias

1 Boqueirão (Embaré)
2 José Menino
3 Ponta da Praia

Becos

1 Loureiro


Imagem publicada no livro


[...]Leva para a página seguinte da série