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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Demografia-1913
Mudanças no crescimento populacional (9)

Os problemas de um recenseamento, apesar dos critérios adotados

Em 1914, foi publicada pela Prefeitura Municipal de Santos a obra Recenseamento da Cidade e Município de Santos em 31 de dezembro de 1913, que faz parte do acervo do historiador santista Waldir Rueda. Além de uma análise sobre o estado do município nesse ano, o livro apresenta a metodologia e os resultados do censo, e faz ainda comentários sobre os recenseamentos anteriores (ortografia atualizada nesta transcrição):

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PRIMEIRA PARTE
PREMIÈRE PARTIE
VIII - A naturalidade dos brasileiros e a nacionalidade dos estrangeiros

Estudemos agora o mapa da naturalidade dos brasileiros e da nacionalidade dos estrangeiros, que vai estampado à página XVII, da parte segunda deste volume.

Havia, em 31 de dezembro, 49.165 brasileiros contra um total de 39.802 estrangeiros, ou seja um excesso de pouco mais de 19% daqueles sobre estes, reunidos os dois sexos. A população nacional representava 55% e a estrangeira 45% da cifra total da população.

A população estrangeira masculina, na cidade, era de 13% superior à nacional. Em todo o Município a percentagem decaiu pela predominância do elemento brasileiro na zona rural, mas ainda assim, conservou uma superioridade de 2½% sobre a população nacional.

A superioridade dos homens estrangeiros tem sua explicação em duas causas naturais. A primeira é a imigração, porquanto, geralmente, os imigrantes, sobretudo os portugueses, como o demonstra o mapa, vêm para cá sozinhos. Dos 23.055 portugueses aqui domiciliados, 65% eram varões, dos espanhóis 57% e dos italianos 58%. Da população estrangeira presente em Santos a 31 de dezembro do ano passado, 63% era de indivíduos do sexo masculino. A segunda causa é a que se relaciona com o excesso de óbitos do sexo masculino sobre os femininos, nos primeiros anos de vida, o que determina o decréscimo dos algarismos da população nacional daquele sexo.

Os recenseamentos das nações européias, como já o dissemos, demonstram sempre o predomínio do sexo feminino, em virtude das correntes humanas que emigram para os países novos. Estes, pelo contrário, acusam o excesso do elemento masculino. O censo de Portugal, efetuado a 1º de dezembro de 1911, acusa um saldo de 302.694 mulheres.

O recenseamento de Santos veio, portanto, confirmar a veracidade da seguinte dupla lei estatística: "Nos países sem emigração, e com mais razão nos que a têm, as mulheres são mais numerosas que os homens; nos países de grande imigração e pouca ou nenhuma emigração, os homens sobrepujam numericamente as mulheres".

Todos os Estados brasileiros têm filhos em Santos, domiciliados na zona urbana. Na zona rural, porém, não há nenhum natural de Goiás; e o Amazonas e o Piauí não têm nela representantes do sexo forte.

Os estados de população mais numerosa estavam assim representados, em ordem decrescente:

Estados

 

Número de brasileiros

 

Brasileiros por 100 habitantes

H.

M.

Total

H.

M.

Total

S. Paulo
19.170
19.601
38.771
38  
49  
43  
Rio de Janeiro
836
756
1.592
1,6
1,9
1,7
Santa Catarina
323
396
719
0,6
1,0
0,8
Sergipe
340
228
568
0,6
0,5
0,6
Minas
271
247
518
0,5
0,6
0,5
Pernambuco
223
258
481
0,4
0,5
0,5
Bahia
216
200
416
0,4
0,5
0,4
Distrito Federal
182
180
362
0,3
0,4
0,4
Rio Grande do Sul
143
174
317
0,2
9,4*
0,3

*(N.E.: SIC - os números indicam que o percentual deveria ser 0,4 e não 9,4)

Convém notar que a população de naturais de Sergipe é notoriamente maior que a que se encontra no mapa. Mas a culpa é das próprias pessoas que preencheram as listas e que responderam deficientemente ao quesito respectivo.

Ao passo que em 39.802 estrangeiros apenas 24 não declararam sua nacionalidade, em 49.165 brasileiros 4.442 deixaram de acusar sua naturalidade. É bem de ver que devem estar incluídos nessa grande cifra os sergipanos, que não foram recenseados como tais.

O Estado do Rio aparece também com 1.592 filhos residentes em Santos, ao passo que o Distrito Federal figura apenas com 362. A Comissão de Recenseamento pensa que é isso devido também à má resposta aos quesitos, parecendo-lhe que grande parte dos algarismos referentes ao Estado do Rio pertencem ao Distrito Federal. Os recenseados responderam simplesmente - Rio de Janeiro, por terem nascido nessa cidade, e os apuradores, à falta de elementos de investigação, incluíram-nos no Estado fluminense, pois que, conforme as Instruções distribuídas, os naturais da Capital da República deveriam declarar-se nascidos no Distrito Federal.

Os estados com menos representantes em Santos eram: Goiás, com 1 homem e 3 mulheres, e Amazonas, com 2 homens e 6 mulheres.

A proporção de paulistas para brasileiros era de 78%, para estrangeiros de 97% e para o conjunto da população de 43%.

As nações estrangeiras que mais contribuíram para a cifra da nossa população estavam assim representadas, em ordem decrescente:

Nações

 

Número de estrangeiros

 

Estrangeiros por 100 habitantes

H.

M.

Total

H.

M.

Total

Portugal
14.986
8.069
23.055
30 
20 
25 
Espanha
4.828
3.515
8.343
Itália
2.066
1.488
3.554
Turquia
602
309
911
1,2
0,8
1,1
Japão
364
287
651
0,7
0,7
0,7

O Paraguai e o Chile eram as nações que menor número de representantes tinham em nosso Município: apenas 3 cada qual.

É conveniente observar que o mapa acima abrange toda a população recenseada em 31 de dezembro, a saber: residentes presentes, residentes ausentes, população à parte e população flutuante, assim terrestre como embarcada.

Os portugueses estavam na proporção de 46% para o total da população nacional, de 57% para o total da população estrangeira e de 25% para o conjunto da população recenseada.

Os espanhóis e os italianos estavam, respectivamente, na proporção de 16% e 7% para a população nacional, de 21% e 8% para a população estrangeira e de 9% e 3% para o total da população recenseada.

Os japoneses eram apenas 651, apesar de haver quem suponha que eles se elevavam a mais de 1.000. O recenseamento dessa colônia foi feito com extremo cuidado, tendo mesmo a Comissão nomeado um intérprete para colher, ao lado dos agentes, todas as informações necessárias à veracidade do trabalho.

Nos asiáticos em geral figuram mais 34 indivíduos, os quais, entretanto, não aumentam o número de japoneses, porque naquela cifra estão também incluídos alguns chineses que aqui se achavam no dia do recenseamento.

Deduzindo-se do número total de cada nacionalidade os indivíduos que se achavam de passagem pelo nosso porto, a bordo de vários navios nele ancorados, teremos a seguinte cifra da população estrangeira efetivamente domiciliada entre nós:

Nações

Número de indivíduos

Homens

Mulheres

Total

Alemanha
171
307
478
Áustria-Hungria
122
104
226
Argentina
49
75
124
Bélgica
24
12
36
Chile
7
3
10
Espanha
4.779
3.512
8.291
Estados Unidos
48
32
80
França
96
122
218
Holanda
40
30
70
Inglaterra (Escócia e Irlanda)
215
94
309
Itália
1.719
1.445
3.164
Japão
364
287
651
Paraguai
7
3
10
Portugal
14.738
8.049
22.787
Rússia
53
119
172
Suíça
34
23
57
Turquia
572
308
880
Uruguai
14
17
31
Africanos em geral
--
4
4
Americanos em geral
13
7
20
Asiáticos em geral
26
3
29
Europeus em geral
96
70
166
Ignoradas
17
8
25
Soma
23.204
14.634
37.838

Há ainda a deduzir as cifras relativas a forasteiros vindos dos Estados do Sul, da Capital da República, do interior e da Capital de S. Paulo, e que aqui se achavam eventualmente na noite de 31 de dezembro de 1913.

Façamos agora o cotejo destes algarismos com os algarismos do censo de 1872:

Províncias, hoje Estados

 

Número de indivíduos brasileiros

1872

 

1913

H.

M.

Total

H.

M.

Total

Amazonas
--
--
--
5
6
11
Pará
--
--
--
25
16
41
Maranhão
--
--
--
40
28
68
Piauí
--
--
--
11
9
20
Ceará
--
--
--
96
73
169
Rio Grande do Norte
--
--
--
117
38
155
Paraíba do Norte
--
--
--
73
45
118
Pernambuco
--
--
--
223
258
481
Alagoas
7
--
7
97
43
140
Sergipe
10
--
10
340
228
568
Bahia
105
106
211
216
200
416
Espírito Santo
--
--
--
17
22
39
Rio de Janeiro
40
47
87
836
756
1.592
S. Paulo
3.339
2.817
6.156
19.170
19.601
38.771
Paraná
403
110
513
74
112
186
Santa Catarina
--
--
--
323
396
719
Rio Grande do Sul
--
--
--
143
174
317
Minas
926
885
1.811
271
247
518
Goiás
78
100
178
1
3
4
Mato Grosso
28
22
50
15
13
28
Distrito Federal
--
--
--
182
180
362
Soma
4.936
4.087
9.023
24.427
24.738
49.165

O Município Neutro, hoje Distrito Federal, não consta da nomenclatura do mapa de 1872, parecendo que os seus representantes foram absurdamente incluídos na antiga Província do Rio de Janeiro.

Do estudo comparativo resulta que, há 41 anos, apenas 9 províncias tinham filhos domiciliados em Santos, ao passo que agora todos os Estados têm aqui os seus representantes. Das Províncias do Norte, apenas Alagoas, com 7 varões, Sergipe com 10 e Bahia com 105 homens e 106 mulheres, residiam em Santos naquele ano. Do Sul, o Rio Grande e Santa Catarina, cujas colônias são atualmente numerosas, não tinham aqui um só filho.

Em compensação, o Paraná, que contribuía, então, para a cifra total da população brasileira, com um contingente de 513 indivíduos, está hoje com a sua colônia reduzida apenas a 186. Minas Gerais, que era a contribuição numérica mais forte - 1.811 indivíduos - está hoje reduzida à terça parte - 518 pessoas. Goiás, que contava cerca de 200 filhos, não tem hoje mais que 4; e Mato Grosso cinge-se hoje a pouco mais da metade.

A proporção das Províncias e Estados numericamente mais fortes, em relação à massa geral da população, nos anos respectivos, era a seguinte:

Estados

 

Brasileiros por 100 habitantes

1872

 

1913

H.

M.

Total

H.

M.

Total

S. Paulo
66 
67 
66 
38 
49 
43 
Minas Gerais
18 
21 
19 
0,5
0,6
0,5
Rio de Janeiro
0,8
1,0
0,9
1,6
1,9
1,7
Santa Catarina
--
--
--
0,6
1,0
0,8
Sergipe
0,2
--
0,2
0,6
1,5
0,6
Paraná
5,1
0,1
Bahia
0,4
0,5
0,4

Vê-se que os principais elementos da população brasileira decresceram em relação à massa geral da população, nos 41 anos decorridos do censo imperial, o que se explica pelo acréscimo constante da imigração que para aqui afluiu.

A cifra de estrangeiros em 1872 era muito pequena para que valha a pena estabelecer-se qualquer comparação com a do ano de 1913.

Adotaram a nacionalidade brasileira, segundo se vê do mapa da página XIX, 3.802 indivíduos.

A proporção de naturalizados por 100 estrangeiros era esta:

 

   H. 

   M. 

  Total 

População aglomerada ..........
8,9
8,6
8,8
População esparsa ...............
14,0
12,0
13,3
Total de naturalizados ..........
9,7
9,1
9,5

A proporção de naturalizados em relação ao número das respectivas nacionalidades de origem, era a seguinte, em ordem descendente:

Estrangeiros que adotaram
a nacionalidade brasileira

Por 1.000
estrangeiros

  1 - Uruguaios

161

  2 - Italianos

120

  3 - Suíços

118

  4 - Belgas

112

  5 - Argentinos

111

  6 - Franceses

105

  7 - Espanhóis

102

  8 - Austro-Húngaros

  97

  9 - Portugueses

  96

10 - Alemães

  95

11 - Turcos

  86

12 - Russos

  83

13 - Holandeses

  26

14 - Ingleses

  18

Da demonstração resulta que nas três maiores colônias aqui domiciliadas - a portuguesa, a espanhola e a italiana - a tendência para adotar a nacionalidade brasileira está na razão inversa de sua massa numérica. Em primeiro lugar figuram os italianos, depois os espanhóis e, finalmente, os portugueses.

É de notar que estes, não obstante a identidade de costumes, de língua e de tradições, revelam fracas disposições para se identificar com o povo brasileiro, no tocante à sua incorporação à nossa vida política, pois figuram no nono lugar da escala, fato que se observou também no recenseamento de 1893, da Capital do Estado, o qual evidenciou que os alemães, os franceses, os suíços, os belgas e os norte-americanos tendiam mais que os portugueses a comparticipar politicamente os nossos destinos.

Nas três grandes colônias a que nos referimos, observou-se também que o grau de adaptação à nossa existência política está na razão direta do grau de instrução dos indivíduos, como se vê deste rápido confronto:

 

Analfabetos por
1.000 indivíduos

Estrangeiros que adotaram a nacionalidade
brasileira por 1.000 indivíduos

Portugueses

66,62

  96

Espanhóis

61,72

102

Italianos

60,62

120

Os elementos menos incultos revelaram-se mais aptos a adotar a nossa nacionalidade.

No mapa figuram em primeiro lugar os uruguaios e logo depois os italianos. Seguem-se os suíços e os belgas, cuja posição é exatamente igual à que lhes deu em S. Paulo o censo de 1893. Vêm depois os argentinos e os franceses (estes, em S. Paulo, ocupavam o segundo lugar da escala, imediatamente depois dos alemães, que ocupavam o primeiro lugar). Os austro-húngaros, que na Capital estavam em sétimo lugar, aqui se acham em oitavo. Os alemães vêm logo abaixo dos portugueses, 1 por 1.000 menos que estes. Seguem-se as outras nacionalidades.

Releva repetir que os nossos cálculos são feitos sobre o conjunto da população recenseada, inclusive a população de bordo, circunstância que não invalida tais cálculos, pois a população flutuante se renova todos os dias, formando uma cifra média mais ou menos estável, pelo balanço entre os que entram e os que saem.


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