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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1587 - BIBLIOTECA NM
1587 - Notícia do Brasil - [II - 177]

Clique na imagem para voltar ao índice desta obraEscrita em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza, essa obra chegou ao eminente historiador Francisco Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou em 1851, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários. Em 1974, foi editada com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, com extensas notas de importantes pesquisadores. Mais recentemente, o site Domínio Público apresentou uma versão da obra, com algumas falhas de digitalização e reconhecimento ótico de caracteres (OCR).

Por isso, Novo Milênio fez um cotejo daquela versão digital com a de 1974 e com o exemplar cedido em maio de 2010 para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá. Este exemplar corresponde à terceira edição (Companhia Editora Nacional, 1938, volume 117 da série 5ª da Brasiliana - Biblioteca Pedagógica Brasileira), com os comentários de Varnhagen. Foi feita ainda alguma atualização ortográfica:

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Tratado descritivo do Brasil em 1587

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Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa

SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIA

TÍTULO 17 — Noticia etnográfica do gentio tupinambá que povoava a Bahia

Capítulo CLXXVII

Que trata de como entre os tupinambás há muitos mamelucos que descendem dos franceses, e de um índio que se achou muito alvo.

Ainda que pareça fora de propósito o que se contém neste capítulo, pareceu decente escrever aqui o que nele se contém, para se melhor entender a natureza e condição dos tupinambás, com os quais os franceses, alguns anos antes que se povoasse a Bahia, tinham comércio; e quando se iam para França com suas naus carregadas de pau de tinta, algodão e pimenta, deixavam entre os gentios alguns mancebos para aprenderem a língua e poderem servir na terra, quando tornassem da França para lhes fazer seu resgate; os quais se amancebaram na terra, onde morreram, sem se quererem tornar para a França, e viveram como gentios com muitas mulheres, dos quais, e dos que vinham todos os anos à Bahia e ao Rio de Seregipe, em naus da França, se inçou a terra de mamelucos, que nasceram, viveram e morreram como gentios; dos quais há hoje muitos seus descendentes, que são louros, alvos e sardos, e havidos por índios tupinambás, e são mais bárbaros que eles.

E não é de espantar serem estes descendentes dos franceses alvos e louros, pois que saem a seus avós; mas é de maravilhar trazerem do sertão, entre outros tupinambás, um menino de idade de dez anos para doze, no ano de 1586, que era tão alvo, que de o ser muito não podia olhar para a claridade; e tinha os cabelos da cabeça, pestanas e sobrancelhas tão alvas como algodão, com o qual vinha seu pai, com quem era tão natural, que toda pessoa que o via, o julgava por esse sem o conhecer; e não era muito preto, e a mãe, que vinha na companhia, era muito preta; e pelas informações que se então tomaram dos outros tupinambás da companhia, achou-se que o pai deste índio branco não descendia dos franceses, nem eles foram àquelas partes, de onde esta gente vinha, nunca; e ainda que este menino era assim branco, era muito feio.

Nesta povoação onde este índio branco veio ter, que é de Gabriel Soares, aconteceu um caso estranho a uma índia tupinambá, que havia pouco viera do sertão, a qual ia para uma roça a buscar mandioca, levando um filho de um ano às costas, que ia chorando, do qual se enfadou a mãe de maneira que lhe fez uma cova com um pau no chão, e o enterrou vivo; e foi-se a índia com as outras à roça, que seria dali distância de um bom tiro de bombarda; e arrancou a mandioca, que ia buscar; e tornou-se com ela para casa, que seria de onde a criança ficava enterrada, outro tiro de bombarda; sobre o que as outras índias, que viram esta crueldade de mãe, estando fazendo a farinha, se puseram a praticar, maravilhando-se do caso acontecido, o que ouviram outras índias da mesma casa ladinas, e foram-no contar a sua senhora, que logo se informou do caso como acontecera, e sabendo a verdade dele mandou a toda pressa desenterrar a criança, que ainda acharam viva, e por ser pagã a fez batizar logo, a qual viveu depois seis meses.

Daqui por diante se vai continuando com a vida e costumes dos tupinaés, e outras castas de gentio da Bahia que vive pela terra dentro do seu sertão, dos quais diremos o que pudemos alcançar deles; e começando logo nos tupinaés.