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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1822 - Nos tempos dos nossos avós (2)

Retratos da vila/cidade, em textos e imagens, de viajantes e historiadores

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então. Como neste artigo do falecido pesquisador santista Olao Rodrigues, autor de vários livros, entre eles um que leva o nome de sua coluna Nos tempos de nossos avós, publicada semanalmente no jornal santista A Tribuna. Uma edição especial dessa coluna foi publicada no Caderno Comemorativo do Sesquicentenário da Independência do Brasil, desse jornal, em 7 de setembro de 1972:

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José Bonifácio, o Patricarca, em bico-de-pena de Ribs
Imagem publicada com a matéria

Nos tempos de nossos avós

Olao Rodrigues


[I] Santos em 1822
[II] Famílias tradicionais
[III] Profissões no ano da Independência
[IV] Não havia abastecimento de água, mas sobravam as lavadeiras profissionais
[V] Se havia criaturas de posses, também havia mendigos
[VI] Entre os sacerdotes, um irmão do Patriarca
[VII As comemorações do 1º centenário

II - Famílias tradicionais

Nosso intuito era especificar as famílias domiciliadas na Vila e Praça de Santos, no ano de 1822, de acordo com o recenseamento procedido na época, e assinalar seus descendentes que ainda hoje, decorridos 150 anos, residem no Município.

No entanto, por premência de tempo para cuidadosa pesquisa, não nos é possível o registro adequado e integral, senão em parte, limitando-nos a apontar algumas das famílias tradicionais de Santos com raízes no ano histórico da Independência.

Para a elaboração deste trabalho contamos com a preciosa ajuda do linhagista Luís Carlos Sampaio Mendonça.

A família Andrada tem apenas uma descendente em Santos, do ramo Martim Francisco, a senhora Marina Gruber Hossri, moradora na Avenida Washington Luís, ausente da Cidade quando redigíamos esta seção.

Bárbara Joaquina de Aguiar, viúva, 54 anos, que há 150 anos residia na Rua Direita, casa 14, irmã de José Bonifácio, o Patriarca, e viúva do capitão-mor Francisco Xavier da Costa Aguiar, teve grande geração em Santos. Ascendente o casal das famílias Andrada Peixoto, Peixoto Duarte, Peixoto Miler, Iguatemi Martins e Martins Fontes.

Antônio Xavier de Lima, alferes d'ordenança, 48 anos, residia em Cubatão Geral com sua segunda mulher, Maria Joaquina, e os filhos Antônio e Francisco, bem como 5 escravos, vivendo "de lavoura e aluguel de bestas". A filha do casal, ou Francisca Leopoldina de Lima, veio a casar com José Antônio Soares de Campos, ascendente do dr. José da Costa e Silva Sobrinho, autor de Santos Noutros Tempos, Romagem Pela Terra dos Andradas e Panteão dos Andradas.

Manuel da Silveira, 64 anos, casado com Rosa Maria dos Reis, 62 anos, morava no Bairro da Enseada de Santo Amaro e tornou-se ascendente das famílias Xavier da Silveira e Barbosa da Silveira.

Antônio Joaquim Ferreira, 44 anos, casado com Gertrudes da Piedade, 39 anos, morava com os filhos João, 7 anos, Francisco, 6 anos e Manuel, 4 anos, além de 2 agregados e 11 escravos. Francisco, mais tarde, passou a ser conhecido por "Chico Munguata" e ascendente de d. Olga de Oliveira Machado, viúva de Eduardo Machado. O outro filho, Manuel Luiz Ferreira, também conhecido por "Maneco Munguata", foi bisavô do tabelião Armando Veridiano Laranja e de Amauri Veridiano Laranja, também cartorário, muito conhecido e apreciado por sua prodigiosa memória.

Entre os negociantes que moravam na Vila e Praça de Santos em 1822 incluía-se João da Silva e Oliveira, 52 anos, casado com Clara Joaquina Rosa, genitores de Gabriel da Silva Oliveira, que, mais tarde, contraiu matrimônio com Inácia Carolina Tavares, casal ascendente da tradicional família Pinto de Oliveira, como Ricardo Pinto de Oliveira, Américo Pinto de Oliveira, Randolfo Pinto de Oliveira e Ricardo Pinto de Oliveira Júnior, bem como vários membros das famílias Vaz Guimarães e Pinto da Silva Novais.

Manuel Joaquim da Trindade, 43 anos, músico, casado com Ana da Trindade, de 21 anos, tinha 2 escravos e morava na Rua do Campo, casa 24. Veio a ser pai de Luís Arlindo da Trindade e Manuel Joaquim da Silva, por alcunha "Maneco Orelha", músicos muito conhecidos e apreciados, ascendentes de Eucaris Bicudo Trindade, Eurici Trindade, casada com José Pinto da Silva Novais Neto, presidente da Bolsa de Valores, Eulina Trindade, casada com Omar Fonseca, Eunice Trindade, casada com Carlos Arruda Botelho e Juelson Trindade, atualmente no Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico da União.

Também morava na Vila e Praça de Santos, naquele recuado tempo, Francisco Manuel do Sacramento, carniceiro, 42 anos, casado com Manuela Sacramento, 41 anos e os filhos Francisco, 9 anos; Luísa, 8 anos e Maria, 6 anos, além de 6 escravos. Tinha domicílio na Rua Meridional, casa 20, e foi tronco da respeitável família Sacramento Macuco, que deu nome à Vila Macuco, hoje apenas Macuco. Residem em Santos d. Luísa Macuco Fortunato e seu distinto filho o vulto causídico dr. Sílvio Fortunato, bem como os srs. Herondino Macuco Borges e René Baccarat.

Domingos José de Moura, igualmente músico e natural de Santos, pertencente à distinta família de músicos, como os Moura e Trindade, casado com Maria Rosa de Lima, morava na Rua Áurea, casa 29, com os seguintes filhos: Joaquim, 19 anos; Maria Vicência, 12 anos; e Rita Joaquina, 6 anos, que, a 27 de maio de 1865, casou com Zeferino Barbosa, avô do dr. Heitor Guedes Coelho, médico sanitarista e historiador, que tem uma via pública no Município com seu nome. São seus descendentes: Maria José Barbosa S. Mateus, Ina Guedes Monte Alegre e Jorge Guedes Monte Alegre, Jaime Guedes Monte Alegre e Maria Luísa Lebon Destchamps.

Família tradicional em Santos é a Azevedo Marques, com seu distinto membro sr. Ovídio de Azevedo Marques, residente à Rua Acácio Nogueira n. 57.

Voltando ao Recenseamento de 1822, apontamos Antônio Martins dos Santos, negociante, 37 anos, casado com Senhorinha dos Santos, 30 anos, sendo filhos do casal: Maria do Carmo, 5 anos e Antônio, com a mesma idade, Antônio Martins dos Santos, grande abolici-  [N.E.: SIC] chamada Câmara dos Padres, por ser formada por 4 sacerdotes entre seus 7 membros. Veio a ser genitor de Américo Martins dos Santos, grande abolicionista e republicano, ambos com ruas na Cidade, com seus nomes. Américo Martins dos Santos - Comendador Martins - deixou ilustre descendência, como seus netos Francisco Martins dos Santos, consagrado historiador, autor de História de Santos, d. Carolina Martins Costa e dr. Caio Ribeiro de Morais e Silva, presidente da Associação Comercial (bisneto).

Na Rua do Campo, casa 23, residia João Mariano Campos, carniceiro, 25 anos, casado com Inácia Francisca Campos, 27 anos, e os filhos Arlindo, 9 anos; Maria, 8 anos e Brisobela, 1 ano. Tinha 3 escravos. Veio a ser bisavô do dr. Antenor de Campos Moura, fundador do Asilo de Inválidos, antes Asilo de Mendicidade, e do dr. Luis de Campos Moura, médico e advogado, genitor de Alberto de Campos Moura, funcionário da Prefeitura Municipal de Santos, ora em disponibilidade remunerada.

Na Rua Direita, casa 23, morava o capitão de milícias Antônio Botelho, 34 anos, casado com Maria Isabel Martins Botelho, 32 anos, sendo filhos do casal: Carolina, 13 anos; Maria, 12 anos; Antônio, 10 anos, Ana, 9 anos, Justina, 7 anos; Luísa, 6 anos; Luís e Higino José, 1 ano. Antônio Botelho veio a ser avô paterno do grande poeta e jurisconsulto santista Vicente de Carvalho, filho que foi do major Higino José Botelho Carvalho, casado com d. Augusta Carolina Bueno de Carvalho, descendente de Amador Bueno. Nos dias de hoje moram em Santos os netos de Antônio Botelho e filhos de Vicente de Carvalho, srs. Paulo Mesquita de Carvalho, Augusto Mesquita de Carvalho e Mercedes Carvalho Morelli, bem como o sr. José Carlos Martins de Carvalho, neto do consagrado poeta.

Continuando nosso trabalho de retrospecção por Santos de 150 anos atrás, impõe-se-nos assinalar que na Rua Direita, casa 19, morava Cipriano Proost, negociante, 44 anos, solteiro, que tinha como agregados Manuel Guedes, Benedito e Laureano, bem como grupo de 16 escravos. Na Rua Direita, casa 37, residia o boticário Custódio Antônio de Souza, 25 anos, que mais tarde casou com Delfica Umbelina da Silva Proost e que, há cerca de 50 anos, era estabelecido com farmácia na Rua Nova (General Câmara). Genitor de José Proost de Sousa e Cipriano Proost de Sousa, Custódio Antônio de Sousa e sua esposa Delfica Umbelina da Silva Proost são ascendentes das famílias Proost de Sousa, Raposo de Almeida, Rocha Leite, Cunha Moreira, Lyra, Backeuser, Proost Melchert e Proost Muniz, ainda moradores no Município.

Tinha domicílio na Rua da Praia, casa 6, Bernardino Antônio Vieira Barbosa, tenente de milícias, 47 anos, viúvo, 8 filhos e 13 escravos. Português, esse cidadão faleceu em Santos a 1º de abril de 1840; cunhado do comendador Antônio Martins dos Santos e irmão de João Batista Vieira, que era o presidente da Câmara de Santos em 1822. Ascendente das famílias Ferreira da Silva (do Visconde de Embaré), Marques Lisboa, Lisboa Wright, Graça Martins, bem assim das famílias maternas de Vicente de Carvalho, Cócrane e Vieira Barbosa, entre cujos membros apontamos Ari Vieira Barbosa e Luís Vieira Barbosa.

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