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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [06-A]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 38 a 40, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte


A aléia dos bambus no Jardim Botânico, Rio de Janeiro
Imagem publicada com o texto, página 39

Flora

aís relativamente novo, no sentido de que a maior parte do seu território ainda não foi aproveitado pelo Homem; com uma extensão de Norte a Sul que lhe permite gozar quase todos os climas e portanto alimentar quase todas as produções, desde as equatoriais até as das zonas francamente temperadas; com uma rede fluvial incomparável, fertilizando vastíssimas regiões cobertas de florestas, na maior parte virgens - o Brasil é um país naturalmente dotado de uma flora privilegiada, pela abundância como pela variedade e utilidade das suas espécies vegetais.

Enquanto o Norte reúne toda a luxuriante e variegada produção que se pode encontrar nos países tropicais, como o Congo ou a Índia, acrescida por numerosos espécimes peculiares, o Sul é capaz de produzir todas as culturas da Europa meridional, muitas das quais têm sido para lá transplantadas com grande vantagem.

A fertilidade do solo em quase toda a área do Brasil é propícia ao desenvolvimento de quase todos os vegetais, alguns dos quais, uma vez aclimados - como o café - se adaptam melhor ali do que nos países de origem, fazendo do Brasil o seu habitat principal.

Entre originárias e aclimatadas, as espécies vegetais conhecidas no Brasil são em número quase incalculável. Em 1876-78, os irmãos André e José Rebouças publicaram, em 3 volumes de 300 páginas cada um, um índice geral das madeiras e outras plantas do Brasil, enumerando - já então - 22 mil espécies conhecidas, desde as pequenas plantas ornamentais até a sumaumeira (eriodendron suamauma), que rivaliza em tamanho com a Washingtonis gigantea da Califórnia.

Mas não merecem ser apontadas como pertencentes à flora do Brasil senão aquelas espécies que os naturalistas - como Agassiz, Martius, Humboldt, Bonpland, De Candolle, Waterton, Spruce, Bates, Wallace e outros - ali catalogaram pela primeira vez, e aquelas que encontraram no Brasil solo mais propício do que e qualquer outra parte.

Assim, mesmo reduzido o campo de estudos, os naturalistas que têm visitado o Brasil, depois de haverem já catalogado mais de 22.000 espécies endêmicas, dão por incompletas as suas investigações, havendo vastas zonas fecundas que não foram ainda visitadas, especialmente na região mal explorada da bacia amazônica, sempre fértil em surpresas e revelações para os sábios que procuram desvendar os segredos latentes das suas florestas primitivas.

Do ponto de vista da distribuição geográfica das plantas, o Brasil costuma ser dividido em três regiões: a da mata, a do litoral e a dos campos.


Tronco de árvores na floresta amazônica
Foto publicada com o texto, página 43

I - A Floresta Amazônica - A região propriamente da mata, que Humboldt denominou a Hiloea (N.E.: hiléia), por causa de sua enorme extensão nas margens do Amazonas e seus tributários, compreende a região equatorial, descendo, porém, até o Centro, pelas margens dos grandes rios.

Essa é, sem dúvida, a região mais importante da flora brasileira, a floresta tropical em todo o seu esplendor. Abandonada pelo homem, quase deserta, a floresta é, no entanto, como uma terra demasiadamente povoada de árvores e arbustos, os quais se empenham num formidável struggle for life, lutando pela luz e pelo espaço, e assim se agigantando umas às outras, na desesperada porfia pela conquista do sol.

E nos seus troncos, nas suas frondes, ainda se suspende toda uma outra variegada flora epífita, constituída por orquídeas e bromeliáceas, que são o seu toucado embelezador, mas também por cipós emaranhados, entre os quais figuram o mortífero ticus e a clusia, que abraçam tão fortemente as árvores, e por tal forma lhe sugam a seiva pelas raízes adventícias, que, afinal, elas vêm a morrer exangues.

A vegetação ribeirinha do Amazonas é diferente das matas que cobrem as montanhas, elevando-se muito mais e revelando maior vitalidade. Na região que, durante meses, é submergida pelas inundações do grande rio, as árvores em geral atingem a altura das palmeiras dominadoras; seus troncos são robustos e a fronde que as coroa é abundante e basta, dum verde carregado que logo acusa a riqueza da seiva.

À superfície do rio e seus afluentes, bóia a vitória-régia, prodígio de delicadeza na grandeza, com as suas pétalas gigantescas e suas flores que chegam a ter dois metros de diâmetro.

Na zona a que não atingem as inundações, as árvores se alteiam a 60 e 65 metros, sendo aí sobretudo que se ostentam, mais viçosas, as orquídeas e lianas.

Ainda nessas floretas, ao lado das incomparáveis árvores de construção, abundam as árvores frutíferas, as plantas medicinais e as de tinturaria, bem como a seringueira (siphonia elastica), de cujo tronco se destila a borracha, riqueza principal da região amazônica. Na Exposição Internacional de Chicago, só o estado do Amazonas exibiu 441 variedades de madeiras, que causaram geral admiração; e a seção de madeiras do Brasil, na recente Exposição de S. Luiz, mereceu particulares referências da imprensa norte-americana.

A região amazônica não é somente a parte do mundo regada por maior abundância de água fluvial, mas também a coberta por maior extensão de florestas. O sr. A. Keane, em seu Compendio de Geographia da America do Sul, assim descreve a região: "Em nenhuma outra parte do mundo existe tão vasta e contínua área de vegetação. Com exceção de algumas milhas de estradas em torno das grandes cidades, dificilmente conservadas ao abrigo da vegetação, toda essa zona coberta de matas é sem vestígio de gente e quase não batida pelo sol. Daí, o hábito singular, adquirido tanto pelos animais como pelas plantas, de trepar e enroscar-se, como que para lutar no alto, à procura da luz e do ar. Esta tendência, que lhes foi imposta pelas circunstâncias, é partilhada por muitas formas vegetais que noutras regiões não pertencem à classe das trepadeiras. Os exemplos mais comuns são oferecidos pelo jasmim, uma leguminosa, a urtiga, e famílias semelhantes. Existe até uma palmeira, a jacitara, dos índios tupis. Por outro lado, tais árvores, quando não trepam pelas outras, crescem descomunalmente e são por toda parte entrelaçadas por cipós que coleiam em torno delas como serpentes. As grandes árvores e plantas de crescimento parasitário entrelaçam a sua folhagem em confusão inextricável, algumas trançando-se como cordas de várias pernas, enquanto outras são enroladas de mil modos em torno dos caules, formando malhas gigantescas nos fortes galhos superiores. Outras ainda sobem em zig-zag, até galgarem as vertiginosas alturas em cima. Nessas regiões superiores dos ramos, onde o cume das árvores goza do ar livre, da luz e do calor dos sóis tropicais, é que se deve procurar as flores e os frutos das grandes florestas. Em baixo tudo é escuro, mofento e cavernoso, sem que o solo úmido e os recessos sombrios sejam alindados pelo brilho das flores ou sequer pelo verde das ervas".

E o príncipe Adalberto da Prússia assim resume suas impressões da floresta amazônica: "Cada objeto aqui é colossal, tudo parece pertencer a um mundo primitivo. A gente como que se sente amesquinhadas pelas coisas que a cercam, e formando parte de algum outro mundo. A nossa admiração é aumentada pela grande diferença entre a vegetação nestas florestas e a nossa (da Europa). Em vez dos arbustos floridos e das árvores frutíferas que nos são familiares, vemos aqui uma vegetação gigantescas, com duas ou três vezes o tamanho daqueles, em todo o esplendor da floração que veste a fronde da árvore com suas cores".

Dentre as plantas úteis mais importantes da mata, devemos salientar, além da segingueira (hevea brasiliensis), de que se extrai a borracha: o castanheiro (Bertholletia excelsa), que produz as conhecidas castanhas-do-Pará; a sapucaia (Lecytis Pisonis), que produz uma excelente castanha, boa madeira e estopa de sua casca; a maçaranduba (Mimusops elata), cuja casca contém um látex que é igual à guta-percha; o cedro (Cedrella brasiliensis), de madeira leve e cheirosa, com que se fazem caixilhos e caixas de charuto.

Entre as palmeiras, temos a inajá (Maximiliana regia), a palmeira açaí (Euterpe oleracea), com cujas bagas se prepara uma bebida muito usada pelos naturais; a piaçava (Attalea funifera), que dá excelente fibra para cabos de navios e vassouras; a esbelta miriti (Mauritia flexuosa), em forma de leque, domina a mata pela sua altura de 35 metros; a espinhosa pupunha (Guilelma speciosa), a mimosa juçara (Euterpe edulis), as flexíveis aricangas (Geonomas) etc. Sobressaem, ainda, por seu valor econômico, o cacau (Theobroma cacao), o cumaru (Dipterix odorata), cujas vagens contêm a cumarina; o urucu (Bixa orellana), com sua bela tinta;o guaraná (Paullinia sorbilis), cujas sementes torradas fornecem bebida saudável e apreciada; a salsaparrilha (Smilax salsaparrilha), a conhecida raiz depurativa etc. etc.


Uma giganta da floresta, estado de São Paulo
Foto publicada com o texto, página 42

II - As matas do litoral - A zona das florestas brasileiras não está, porém, reduzida à depressão da bacia amazônica. Ela se estende ainda pelo litoral, especialmente nos estuários dos rios e nas terras que ficam entre as escarpas do grande planalto central e a longa costa atlântica. Mas já aí, apesar de serem semelhantes as feições dominantes e de serem geralmente encontrados os mesmos gêneros da Hyloea, as espécies são muito diferentes, pelo que as matas da costa formam uma segunda zona floral, independente da Hyloea amazônica.

As diferenças podem ser notadas, principalmente, entre as palmeiras, as quais, embora apresentando a mesma variedade de tamanhos, caule, copa e folhas, são todavia representadas por espécies sensivelmente diversas nas duas zonas. Observa-se que, onde as terras são mais elevadas, as árvores são geralmente de menor crescimento e mais espaçadas umas das outras -  o que faz com que a mata do litoral não seja tão densa e tão encoberta como a floresta amazônica.

Demais, aquelas árvores de folhas grandes, largas e espessas, peculiares à úmida região interior, são aqui quase desconhecidas, dando lugar, em compensação, a uma profusão maior de flores e uma infinita variedade de fetos, que fazem o encanto das suas clareiras.

Relativamente à sua extensão, pode-se dizer que a região de matas do litoral se estende por toda a costa, desde a foz do S. Francisco - onde termina propriamente a zona árida do Nordeste - até o Rio Grande do Sul. Mas ao Sul, sobretudo, o trabalho da civilização, a penetração do homem, tem determinado a derrubada da maior parte das matas primitivas, para dar lugar a plantações de utilidade mais imediata, entre as quais sobressai a do café, principal fonte de riqueza do país, em S. Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Aí no Sul, porém, nas regiões elevadas do Paraná principalmente, é que se encontra o pinho do Brasil (Araucaria brasiliensis), que é um elemento quase isolado no cenário florestal do Brasil.

Por outro lado ainda, o desmatamento do litoral dá lugar ao aparecimento de um outro aspecto interessante da floresta brasileira: a capoeira e o capoeirão, isto é, a segunda vegetação que produz a terra uma vez desmatada, quando, após algum tempo de cultivo, é de novo abandonada à natureza durante alguns anos. Sem alcançar de novo o encanto e a luxúria da floresta que era, antes de desvirginada, a capoeira, com suas árvores relativamente baixas, formando moitas, apresenta todavia um aspecto peculiar e oferece quase sempre espécies novas, diferentes das que vegetavam antes da derrubada.

O número de plantas de valor econômico, encontradas na floresta brasileira, é quase incalculável. "A este respeito - diz o sr. Keane -, nenhum país pode ser comparado ao Brasil, como nenhuma outra árvore em todo o mundo pode ser comparada com a palmeira brasileira que os naturais chamam carnaúba (copernicia cerifera). Esta árvore maravilhosa, que ocupa uma larga área nos estados do Nordeste, parece concentrar em si metade das propriedades do reino vegetal".

O sr. A. Thomas assim enumerou as propriedades da carnaúba: "Ela resiste às secas intensas, conservando-se sempre verde e vigorosa. Suas raízes produzem o mesmo efeito medicinal que a salsaparrilha; seu caule oferece fibras fortes e leves, que adquirem um belo lustre, e serve também para vigas e outras peças de construção. De algumas partes da árvore extraem-se vinho e vinagre; ela produz também uma substância sacarina, bem como um amido semelhante ao sagu. Seus frutos servem para alimentação do gado, a polpa tem um gosto agradável, e o caroço é muitas vezes usado em substituição do café. Com a madeira do caule, fazem-se instrumentos musicais, canos para água e bombas; o miolo é um excelente substituto da cortiça; do caule se extraem um líquido branco semelhante ao leite de coco e uma farinha semelhante à maisena. Com sua palha fazem-se chapéus, cestos, vassouras e redes; pode-se extrair dela um sal e um álcali usado na manufatura do sabão; mas seu produto de maior valor é a cera que se obtém das suas folhas".

Outros representantes dessa flora do litoral, que merecem destaque, são os seguintes: a sapucaia (Bowdichia major), o tapinhoã (Sylvia navalium), canelas (Nectandras), cabreúva (Myroscarpus frondosus), pau-ferro (Caesalpinia ferrea), pau-brasil (Caesalpinia echinata), o pinheiro (Araucaria brasiliensis), o mate (Ilex paraguayensis), o barbatimão (Stryphnodendron barbatimao), a mais rica casca de curtim; o catiguá (Trichylia catigua), que dá bela tinta; o guarabu (Peltogyne guarabu), madeira rija, de cor roxa homogênea; o tucum (Bactris setosa), que é a lã vegetal, de fibra resistente; o tucumã (Astrocaryum tucuman); o bacari (Platenia insignis); os gravatás (Bromelias), de boa fibra; o bálsamo de copaíba (Copaifera officinalis); a ipecacuanha (Urogoga ipecacuanha); o jaborandi (Pilocarpus pinnatus), as guaximas (Urenas) e vassouras (Sidas), que dão excelentes fibras etc. etc.


Pinheiral do Paraná
Foto publicada com o texto, página 40

III - A Região dos "Campos" - Falta-nos descrever, finalmente, a região dos "Campos", designação bastante vaga e variável, que compreende - de um modo geral - todas as terras circundadas pela hyloea amazônica e as matas do litoral.

Quer dizer que essa região abrange, mais ou menos, todo o planalto central, portanto mais de metade do território brasileiro, incluindo zonas cujas características principais diferem consideravelmente de uma região para outra, e que, por isto mesmo, são designadas por diversos nomes locais.

Além disso, é preciso notar que a região dos "Campos" não oferece a mesma continuidade das outras, sendo, aqui e ali, alternada com matas virgens, algumas comparáveis às da região amazônica, nas margens dos grandes rios e nos vales úmidos que formam as depressões do planalto.

O sábio Augustin de Saint-Hilaire, no seu livro de Voyage à Goyaz, assim descreve a região dos "Campos" e a diferença entre sua flora e a das matas: "Uma mudança tão brusca produziu-me no espírito a mais viva impressão de surpresa e admiração. Esses campos a perder de vista dão uma imagem ainda mais perfeita da imensidade do que o mar, quando contemplados de um ponto elevado, e essa imagem tornava-se ainda mais frisante, ao sair das florestas primitivas, em que o horizonte desaparece, fechado por objetos ao alcance da mão do viajante. Saindo da mata virgem, pude fazer a comparação exata entre a disposição dos terrenos em que se desenvolve a sua flora e a do solo ocupado pelos campos. Este exame mais ainda me confirmou nas idéias que eu havia formado sobre as causas desta diferença tão acentuada na vegetação. As grandes matas cobrem regiões ouriçadas de montanhas ásperas e escarpadas, cujas arestas se protegem umas das outras contra a violência dos ventos, ao mesmo tempo que o s córregos e ribeirões, correndo aí entre vales estreitos e profundos, entretêm continuamente a frescura e umidade tão propícias à vegetação. Nos campos, pelo contrário, os morros são arredondados e de suave ondulação; os vales por eles formados são largos e pouco profundos, e os arroios são aí muito mais escassos. Deste modo, o ar é muito mais enxuto, e sobretudo os ventos aí reinam em correntes contínuas, não interrompidas por acidente algum. Essas duas causas impedem um pouco o desenvolvimento da vegetação e explicam a diferença profunda que se nota na flora das duas regiões".

O sr. J. Wells, que também faz uma comparação pitoresca entre as duas zonas, em seu livro de viagem Theree Thousand Miles through Brazil, refere-se igualmente à superioridade da atmosfera dos campos - sem o ar úmido, impregnado com miríades de cheiros bons e maus das plantas, algumas em putrefação, que formam a floresta.

Observa, porém, que, apesar de deliciosa, a região dos campos, para o Norte da latitude de Ouro Preto, só pode ser utilizada como pastagens, enquanto que, para o Sul, grande parte do solo, mais rico de húmus, pode ser adaptada ao cultivo dos cereais.

Como dissemos acima, a região dos campos não só apresenta muitas modalidades diversas, como toma nomes diversos, conforme as diferentes zonas por que se estende. Diga-se, porém, que elas ocupam por vezes, sobretudo em Mato Grosso e Goiás, áreas extensíssimas com o mesmo aspecto pardacento, monótonos como o oceano ou ainda como os pampas argentinos e os llanos da Venezuela.

Em Goiás, pode-se viajar dias seguidos sem encontrar, uma vez sequer, alguma floresta, ou coisa parecida. Esses são os campos chamados "abertos", noutras partes chamados "campos gerais", onde só medram as relvas duras, apenas entremeadas, em lugares mais úmidos, por um capim mais substancial e macio.

Os cerrados, que dão variedade aos campos não "abertos", são moitas de vegetação mais desenvolvida, geralmente em terras menos elevadas, e por isso mais abrigadas que a dos campos "abertos".

Pela denominação de "campos mimosos", designam-se os cobertos por uma relva baixa, mas verde e macia, conveniente para a pastagem, tais como as campinas do Rio Grande do Sul e grande parte das de Goiás e Mato Grosso, que são semelhantes aos pampas meridionais.

A expressão chapada serve para designar geralmente maciços de campos ou serras baixas que os atravessam. As denominações catingas, carrascos e tabuleiros são um pouco arbitrariamente empregadas para designar uma vegetação rasteira e seca, mais vulgar nos campos pobres do Norte: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba etc.

A feição, porém, dominante da região dos campos é a que é dada pelo sertão, palavra do uso mais corrente, porém, a que não se liga sempre um significado bem definido. Sertão é qualquer grande extensão de terra inculta, longe do mar e sobretudo longe da civilização, alguma coisa que representa vagamente a antítese da cidade, como que o espectro da natureza primitiva, recuando sempre, e cada vez mais, diante do homem civilizado.

Feita esta exposição geral dos diferentes aspectos da flora brasileira, passamos a examinar detalhadamente os seus principais produtos, em artigos especiais sobre as madeiras, as plantas têxteis, os frutos, as orquídeas e as plantas medicinais, escritos pelo dr. J. R. Monteiro da Silva, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura e comissário do Ministério da Agricultura.

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