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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [09]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 99 a 103, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte


A "Cascatinha" da Tijuca, Rio de Janeiro
Foto publicada com o texto, página 103

Exploração

escoberto o Brasil em 1500, despachara Pedro Álvares Cabral o piloto Gaspar de Lemos, a fim de anunciar à corte de Portugal o auspicioso acontecimento. D. Manuel, depois das formalidades diplomáticas da época, resolveu que uma expedição partisse de Lisboa, em 1501, a fim de fazer os primeiros reconhecimentos na costa do Brasil.

Essa expedição, sob o comando de Gonçalo Coelho e direção técnica de Americo Vespuccio, defrontando terras do Brasil, descobriu os cabos de S. Roque (no Rio Grande do Norte) e Santo Agostinho (em Pernambuco); o Rio S. Francisco, o cabo de S. Thomé e a baía do Rio de Janeiro, onde entrou em 1º de janeiro de 1502.

Continuando daí a viagem para o Sul, descobriu Angra dos Reis (no estado do Rio de Janeiro), S. Vicente, S. Sebastião e Cananéia (em S. Paulo).

Voltando a expedição a Portugal, soube o rei que aquela terra, considerada uma grande ilha, era, na verdade, parte de extensíssimo continente, merecedor de uma exploração em regra; e no ano seguinte, mandou que nova expedição, ainda sob a direção do experimentado Vespuccio, mas sob o comando de Christovão Jacques, viesse fazer mais amplo conhecimento com estas plagas.

Coube a esses ousados exploradores descobrirem a ilha de Fernando de Noronha (a 80 léguas da costa de Pernambuco), e a magnífica pérola do Atlântico, a Baía de Todos os Santos. Daí, a expedição seguiu até Porto Seguro, onde foi fundado, sob o nome de "Santa Cruz" o primeiro núcleo de população européia na América do Sul, com alguns marinheiros que escaparam do naufrágio de um dos seis navios da frota.

A partir deste ano de 1503, não mais se lembrou Portugal da terra descoberta por Cabral, enquanto que pela Europa se espalhavam notícias de fantásticas riquezas em minerais e madeiras, das quais a principal era o "pau-brasil".

Isto acendeu a cobiça de ousados navegadores que, para as costas do Brasil, se fizeram de vela, no intuito de tentarem explorações mercantis de produtos tão valiosos na Europa.

Deixando de parte Affonso de Albuquerque, Tristão da Cunha, Francisco de Almeida, João Dias de Solis, Vicente Yañez Pinzon, Fernando de Magalhães e Ruy Falleiro, que em expedições científicas e geográficas, a serviço da Espanha, tocaram em pontos da costa do Brasil, assinalemos a descoberta da Ilha de Santa Catarina por Sebastião Cabot e a chegada de vários aventureiros para o contrabando do "pau-brasil".

A dois destes, que naufragaram, muito deve a primitiva civilização do Brasil. Com efeito, em 1510, naufragou na Ilha de Itaparica um português, Diogo Alvares Corrêa, que, salvando-se, se acolheu entre os Tupinambás da Bahia, sobre os quais veio a exercer a mais salutar influência. Dois anos depois, João Ramalho, outro aventureiro português, naufragou também nas costas de Santos, e entre os Guaianases achou guarida.

Só em 1526, d. João III, sucessor de d. Manoel, seriamente receoso pelas notícias que lhe chegavam de freqüentarem espanhóis e franceses a costa do Brasil, com assiduidade e proveito pecuniário, resolveu mandar que Christovão Jacques, mais uma vez, viesse ao Brasil, trazendo ordem de não somente dar caça aos estrangeiros que por ali encontrasse, como também de localizar alguns portugueses em colônias que deveria fundar.

Christovão Jacques, chegando a Itamaracá, fundou a colônia de Iguaraçu (Pernambuco). Daí navegou toda a costa, desde o cabo de Santo Agostinho até o Rio da Prata, e, de regresso a Portugal, meteu a pique navios franceses que encontrou na Baía de Todos os Santos. Depois regressou para a Europa, e contou ao rei o que vira pelo Brasil.

O rei julgou de tal valor a terra brasileira, que logo mandou aparelhar outra expedição, confiada a Martim Affonso de Souza, que trazia a incumbência de fundar colônias e tomar posse das terras que devessem pertencer a Portugal. Chegando ao Cabo de Santo Agostinho, Martim Affonso meteu a pique três navios franceses. Depois, seguiu para Todos os Santos e aí foi carinhosamente recebido por Diogo Alvares Corrêa e a sua já cujos costumes já eram mais brandos.

De Todos os Santos, Martim Affonso alcançou o Rio de Janeiro, de onde mandou 40 homens explorar o interior, chegando eles até as margens do Rio Paraíba. Depois de permanecer aí por três meses, Martim Affonso seguiu para o Sul e chegou a Cananéia, onde encontrou um bacharel português e alguns castelhanos. Continuando a viagem, Martim Affonso alcançou a foz do Rio Chuí (atual divisa com a República Oriental do Uruguai), de onde voltou, chegando a S. Vicente.

Aí resolveu fundar uma colônia, que foi o começo da atual cidade de Santos. Nesta empresa, foi auxiliado por João Ramalho, o náufrago de 1512, que o induziu a fundar outra colônia, nos campos de Piratininga, colônia essa que deu origem à atual cidade de S. Paulo.

Estas duas colônias foram os pontos básicos da colonização futura das vastas regiões que, adjacentes aos grandes rios Paraná, Tietê, Paranaíba, Grande, Velhos, Araguaia, Tocantins e Paraguai, deviam constituir os atuais estados de S. Paulo, Minas, Goiás, Mato Grosso e Paraná.

Assim se deve considerar como de capital importância para os destinos do Brasil a viagem de Martim Affonso, que não somente preparou a fundação das atuais cidades de Santos e S. Paulo, como também tornou possível, pelas relações que firmou com os Tupinambás da Bahia e os Tamoios do Rio de Janeiro, o fácil estabelecimento de civilizados nestas importantes regiões do Brasil atual.

Não obstante todas as vantagens que trouxe ao conhecimento geográfico do Brasil e ao seu desenvolvimento social, impossível era ao erário português fazer face às despesas que trariam novas expedições, pelo que resolveu d. João III entregar à iniciativa particular, mediante favores extraordinários, não somente a fundação de colônias no litoral como também a exploração do interior.

Em conseqüência, foi o litoral do Brasil dividido em 10 grandes porções, que, em faixas paralelas, se estendiam pelo interior. A estas vastas superfícies territoriais se deu o nome de "capitanias": e aqueles que delas tiveram a posse, foram chamados "donatários".

As capitanias foram conhecidas sob as denominações de São Vicente, Santo Amaro, Paraíba do Sul, Espírito Santo, Porto Seguro, Ilhéus, Todos os Santos, Pernambuco, Ceará e Maranhão.

Já vimos que em São Vicente estabeleceu Martim Affonso os núcleos de população de S. Vicente e Piratininga. Em Santo Amaro estabeleceu-se a colônia da ilha do Guaimbé na parte do Sul; e a da ilha de Itamaracá na parte do Norte. Pero Góes da Silveira, na Paraíba do Sul, fundou a vila da Rainha, na margem do Rio Paraíba; no Espírito Santo, Vasco Fernandes lançou as bases da atual cidade da Vitória. Em Porto Seguro, Pero de Campos Tourinho fundou uma povoação e igual procedimento teve o delegado do donatário Jorge de Figueiredo Corrêa, em Ilhéus. Na Bahia, Francisco Pereira Coutinho estabeleceu as bases de uma povoação que, mais tarde, Thomé de Souza aproveitaria para início da cidade de Salvador.

Em Pernambuco, Duarte Coelho Pereira fundou a cidade de Olinda. Todas as tentativas feitas, nestes primeiros tempos, para colonizar as regiões que se estendem do Norte da Bahia de Todos os Santos até o Rio S. Francisco e do Rio Goiana para o Norte, fracassaram, devido à ferocidade selvagem dos indígenas. Entretanto, em 1540, foi o Amazonas pela primeira vez navegado, graças à ousadia de Orellana, que, depois, contou ter combatido com numeroso bando de mulheres guerreiras.

Em 1549, lavrava a desmoralização nestas colônias, sempre em luta com o gentio, pelo que a metrópole portuguesa resolveu estabelecer outra forma de governo para o Brasil que, então, passou a ser administrado por um governador geral. Coube a Thomé de Souza o inaugurar esse sistema; e é a ele que se deve a fundação da cidade do Salvador (atual capital da Bahia), bem como a fundação definitiva de Santos, Conceição de Itanhaém e Santo André.

Nesse mesmo período (1549-1553), os jesuítas iniciaram o serviço de catequese, e levaram as suas explorações algumas léguas para o interior, deixando ficar bem conhecidos os terrenos marginais às embocaduras dos rios Paraguaçu, Contas, Una e Jequitinhonha, na Bahia, ao mesmo tempo que a gente de São Vicente, Santo André e Piratininga se familiarizava com a porção de litoral que se estende de Ubatuba a Iguape e tomava conhecimento com os terrenos contíguos às picadas que de S. Vicente davam acesso a Piratininga.

No período de 1553 a 1558 esteve o Brasil sob a administração de Duarte da Costa, sendo então as principais explorações dirigidas para Cabo Frio e terreno marginal à lagoa Araruama, alcançando os rios S. João e Macaé, ao Norte. Neste período, estabeleceram-se os franceses na baía do Rio de Janeiro e, travando-se de amizade com os índios, levaram as suas explorações para além dos rios Macacú (Estado do Rio), Meriti e Guandu (Distrito Federal).

De 1558 a 1573, governou o Brasil Mem de Sá, que fez várias e importantes expedições penetrarem pelas terras próximas do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Ilhéus e Porto Seguro, enquanto que Pedro Ursua, em 1560, navegando pelo Amazonas, chegava aos rios Jutaí e Juruá, que explorou. Durante o seu governo é que os franceses foram expulsos do Rio de Janeiro, deixando então os tamoios de ser hostis aos portugueses graças à influência dos jesuítas Nóbrega e Anchieta. E com a amizade dos tamoios, tornou-se possível fazerem os portugueses mais amplo conhecimento com o interior do atual estado do Rio de Janeiro, datando dessa época as comunicações por terra entre S. Paulo e Rio de Janeiro.

Infelizmente, em 1573, tendo sido o Brasil dividido em dois governos gerais com as respectivas sedes em Salvador e Rio de Janeiro, acordaram os governadores, com o fim de tornarem os sertões acessíveis aos brancos, em mover aos caboclos uma perseguição sem tréguas, escravizando os que pudessem e matando os insubmissos. E então, tribos inteiras de Tamoios, Aimorés e Tupinambás se espalharam pelos vales do Tocantins, Amazonas e afluentes, onde se constituíram em nações poderosas, cujas tradições ainda subsistem. Desta perseguição resultou o primeiro conhecimento do sertão do Espírito Santo, Bahia, Goiás e Sul do Maranhão, ainda que ninguém pensasse em estabelecer qualquer núcleo de povoação no meio das selvas brasileiras.

Logo depois de desbravada a parte que da Baía de Todos os Santos vai ao Rio Real, esta parte principiou a ser freqüentada e explorada, como produtora de madeiras, pelos habitantes da cidade do Salvador. Em 1578, fundiram-se os dois governos gerais em um, sob a direção de Lourenço da Veiga, que, sem resultado, tentou a colonização da Paraíba, enquanto que João Rodrigues de Souza iniciava a exploração do Rio São Francisco e Antonio Dias Adorno tornava conhecidos os sertões baianos e mineiros, no espaço compreendido entre a costa e as imediações do S. Francisco.

Sob o governo de Manoel Telles Barreto, em 1584, tentou Diogo Flores Valdez, auxiliado por Felippe de Moura e Fructuoso Barbosa, conquistar a Paraíba e fundar ali uma colônia, o que só foi conseguido em 1586. Em 1591, a parte entre o Rio Real e o Rio São Francisco era definitivamente conquistada, fundando-se à embocadura do Rio Sergipe o forte de São Cristovão. Desde então, ficou quase totalmente entregue ao trânsito dos portugueses a extensa região limitada a Norte e a Oeste pala grande curva do interior formada pelo São Francisco e a Leste pelo Oceano Atlântico. Mais ou menos por essa época, Alvaro Rodrigues fundou, no Rio Paraguaçu uma povoação que mais tarde viria a ser cidade da Cachoeira (Bahia).

Por esse tempo, já corriam por todo o litoral vagos rumores da existência, no sertão, de metais e pedras preciosas, o que fazia gerar na imaginação do povo idéias da conquista de riquezas, com pouco trabalho. Então, principiaram a correr notícias de que Roberto Dias conhecia opulentíssimas minas de prata para os lados da serra do Sincorá. E da Bahia, dos Ilhéus, de Porto Seguro e talvez também de Pernambuco e Espírito Santo, partiram aventureiros ávidos de fortuna, em busca do metal precioso que, se nunca foi encontrado, teve a virtude de pôr o litoral em comunicação com o sertão.

A colonização das terras para além da Paraíba preocupava o governo geral, pelo que, em 1597, Manoel de Mascarenhas, capitão de Pernambuco, fundou a povoação do Natal (atual capital do Rio Grande do Norte) e um forte que teve o nome de Três Reis Magos.

No Sul, não era menor a febre de aventuras. Os paulistas internavam-se pelas florestas virgens, para escravizar índios que, depois, seriam vendidos aos fazendeiros do litoral; e levaram as suas incursões até Laguna (Santa Catarina), onde encontraram alguns jesuítas já empregados na catequese do gentio. Entretanto, se, no princípio do século XVIII, já era possível o trânsito entre a porção da costa compreendida entre a barra do Rio Grande do Norte e a barra da Laguna, o afastamento do litoral, para além de 20 léguas, ainda não era freqüentemente tentado, porque em muitos lugares permaneciam hordas de selvagens, encarniçados inimigos dos brancos.

Dentre todos, se salientavam os Aimorés, escapos à perseguição de 1572 e que infestavam Ilhéus e Porto Seguro. Estes, porém, foram submetidos em 1606; e com essa submissão, tornou-se acessível ao homem civilizado uma faixa de terra brasileira em uma distância da costa de mais ou menos 20 léguas, a partir da embocadura do rio Grande do Norte, para o Sul, até Laguna.

Desconhecida ainda era toda a região do Rio Punaú para o Norte, dirigindo-se para o Cabo Orange, e banhada pelo Atlântico. Uma vez, porém, devassada a parte oriental da costa do Brasil, cuidou-se em tomar conhecimento com o litoral do Norte, e com as terras que daí se estendessem para o interior. Assim, partiu de Pernambuco Pero Coelho, que se estabeleceu no Ceará, chegando à serra da Ibiapaba (perto de Piauí) e explorando a foz do Jaguaribe. Mas, aí não se pôde conservar devido às habilidades dos índios.

Fracassada esta tentativa, os padres jesuítas Luiz Figueira e Francisco Pinto partiram de Pernambuco e chegaram a Ibiapaba; mas os caboclos assassinaram um deles, obrigando o outro a voltar para Pernambuco. Só em 1610, criadas as capitanias do Ceará, Piauí e Maranhão, foi levantada, em Mucuripe, a primeira povoação do Ceará, a qual mais tarde deveria dar nascimento à cidade de Fortaleza. E para mais de perto velar pela colonização do Norte, foi o Governo Geral transferido, em 1612, para Olinda.

Foi então que, em 1613, partiu, para estabelecer um núcleo de população no Maranhão, Jeronymo de Albuquerque, que já encontrou, na Ilha do Maranhão, uma próspera colônia francesa, criada, em 1594, por Jacques Riffault e Carlos de Vaux; e em 1612 se fundara uma cidade que, em honra do rei da França, recebera o nome de S. Luiz. Entretanto, Jeronymo de Albuquerque fundou, na Baía das Tartarugas, a povoação do Rosario e empenhou-se em expulsar os franceses do Maranhão, o que conseguiu em 1614.

Em 1616, partida de S. Luiz, para a conquista do Pará, Francisco Caldeira Castello Branco, que conseguiu fundar a povoação de Belém (atual capital do Pará), donde, tendo notícias da existência de holandeses em ponto do litoral do Norte da embocadura do Amazonas, seguiu para obrigá-los a levantar acampamento, como conseguiu. Esta expedição deu ensejo a que ficasse bem conhecido todo o litoral até acima da foz do Araguari. Mas os índios do Pará e do Amazonas tantas hostilidades moveram contra os portugueses que estes se viram forçados a usar de represálias, de que resultou a mortandade da maior parte e o escravizamento de alguns milhares de selvagens.

Quando, em 1625, teve início, pela invasão da Bahia, a guerra holandesa, já todo o litoral do Brasil, desde o cabo de Maguari, até a Laguna, era francamente acessível, bem como mais de 100 quilômetros para o interior. As incursões dos defensores dos pontos atacados pelos holandeses revelaram grandes extensões dos sertões dos atuais estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Todo o vale do S. Francisco ficou então mais conhecido.

Contudo, a guerra holandesa não paralisou o movimento explorador do interior do Brasil. Assim, em 1626, se fundou a povoação de Gurupi, e, em 1637, a capitania do Cabo Norte (Pará), com o fim de impedir o desenvolvimento das colônias que franceses e holandeses haviam fundado em terras amazônicas. A audácia dos exploradores foi tentada a levar as suas incursões cada vez mais pelo interior e, em 1636, dois frades franciscanos, Domingos de Brieba e André de Toledo, bem como Pedro Teixeira, haviam descido todo o Amazonas e chegado ás imediações de Quito, estabelecendo a possibilidade de relações com o  Peru, por via fluvial. Com Pedro Teixeira, vieram do Peru dois professores da Universidade do Quito; e ao chegar ao Pará, anunciou aquele, solenemente, que havia tomado posse, para a coroa de Portugal, de todas as terras encontradas a uma distância de 100 léguas da confluência do Napo com o Amazonas.

Ao mesmo tempo que Pedro Teixeira percorria o Amazonas, os paulistas seguiam o Tietê e, atravessando o Rio Paraná, penetravam no Paraguai, onde conseguiram escravizar mais de 20.000 índios, pertencentes à Missão de Guaíra, cujo diretor, o padre Ruiz de Montoya, protestou perante a Corte de Madrid e o papa contra tais atentados. O papa expediu uma bula, proibindo a continuação do escravizamento dos índios. Tal bula, porém, deixou de ter formal cumprimento,  porque em S. Paulo e Santos romperam distúrbios que degeneraram em revolução. E assim continuaram as incursões dos paulistas para o interior do Brasil.

Em 1637, chegou ao Brasil, encarregado da direção dos negócios holandeses, o príncipe conde Mauricio de Nassau que, estabelecendo-se no Recife, cuidou seriamente de mandar fazer explorações que tornassem mais conhecidas as regiões de Pernambuco e Paraíba e determinou notáveis excursões para a parte Sul do Rio São Francisco – o que aumentou os conhecimentos que já havia da região sergipana, ao Norte do Rio Real.

Entretanto, até meados do século XVII, não se pode dizer que das regiões do interior tivessem obtido grande conhecimento os exploradores. Mas, a partir dessa época, com o descobrimento das primeiras minas de ouro e diamantes, formaram-se as "Bandeiras" que, em vez de seguirem os caminhos sempre trilhados, deles se afastavam, sempre na esperança de encontrarem mais rico depósito aurífero ou diamantífero do que os já conhecidos.

Assim, em 1647, Manoel Corrêa atravessou Minas e Goiás e penetrou em Mato Grosso, onde se estabeleceu no lugar chamado "Aráes" e, pouco mais tarde, Paschoal Paes de Araujo alcançava as cabeceiras do Rio Tocantins, onde descobria riquíssimas minas de ouro e diamantes. Desde então, estas regiões passaram a ser freqüentemente visitadas; pelas suas incursões pelo sertão e pelo descobrimento que fez de novas terras, se tornou célebre o paulista Fernão Dias Paes Leme.

Ao Norte e ao Sul se fizeram sentir os benefícios do gênio empreendedor dos paulistas. Assim, em 1667, o capitão-de-mato Domingos Jorge Velho, atendendo às solicitações do governo de Pernambuco, que se receava da vizinhança da "República dos Palmares", fundada na Serra da Barriga, por negros e desertores dos exércitos beligerantes, partiu para o Norte, a fim de tentar o extermínio deste agrupamento de indivíduos, o que só se conseguiu em 1697.

Esta expedição trouxe como imediata conseqüência a maior facilidade de comunicações, então definitivamente estabelecidas entre todo o litoral e o sertão de Alagoas, Sergipe e Pernambuco. E tal fato contribuiu para o desbravamento, pelo Sul, do sertão piauiense, dando lugar a que se conhecessem as cabeceiras do Parnaíba, na serra da Tabatinga, pertencentes ao grande sistema orográfico das "Vertentes", que nesse tempo principiou a ser explorado, porque muitos viajantes anônimos seguiam para esta região, em caça do gado que ali abundava. Um deles, Domingos Affonso Mafrense, ali penetrou em fins do século XVII, chegando a possuir 25 fazendas de criação.

Justamente nesta época, os paulistas alcançam, no Sul, não somente as margens do Rio Grande, pelo Paraná, como também o vale do Rio das Velhas e o do Rio das Mortes, descobrindo inúmeras jazidas de ouro, nos terrenos que se estendem de S. João d'El-Rei, pelo vale do Paraopeba, até Sabará.

A descoberta destas minas atraía nos princípios do século XVIII muitas bandeiras que, sob a direção dos paulistas Carlos Pedroso da Motta Silveira e Bartholomeu Bueno, ali penetraram. Dentro em pouco, toda esta vasta região, que foi chamada "Campos Gerais de Cataguás", se tornava centro do intenso labor de uma população, misto de portugueses e paulistas. Breve, também, do embate de ambições nasceram conflitos que levaram à denominada "Guerra dos Emboabas", e que, travada entre paulistas e portugueses, durou um ano, até 1709.

Por esse tempo, já os atuais extremos limites do Sul do Brasil não eram totalmente desconhecidos, porque, em 1679, a metrópole portuguesa, para assegurar a margem setentrional do Rio da Prata como limite meridional do Brasil, mandara d. Manoel Lobo, governador do Rio de Janeiro, fundar uma colônia no Rio S. Gabriel; e assim se criou a Colônia do Sacramento. Isto deu lugar, durante todo o século XVIII, a lutas e guerras que se prolongaram até muito depois de 1822, gerando a célebre questão das Missões.

Entretanto, a Espanha desenvolvia as suas colônias do Prata; e isso não deixava de causar apreensões ao governo de Portugal, que resolveu desenvolver a colonização do Sul do Brasil.

Assim, em 1726, João de Magalhães empreendeu a construção de uma estrada capaz de ligar, pelo sertão, o litoral à Colônia de Sacramento. No ano seguinte, a Ilha de Santa Catarina foi explorada e povoada, cabendo a José da Silva Paes fundar, 10 anos depois, uma povoação que se tornou a atual cidade da Barra do Rio Grande.

Em 1750, o litoral do Brasil, de Paranaguá para o Sul, contava as povoações de Laguna, Desterro, Rio Grande, desenvolvendo-se no interior a Colônia do Sacramento, todas sob a jurisdição de S. Paulo. Entretanto, também os sertões mineiros, goianos e matogrossenses se civilizaram, criando-se prósperos núcleos de população.

Passemos em rápida revista as principais incursões que fizeram a esses pontos os audazes paulistas. Em 1719, Paschoal Moreira Cabral descobre, no Rio Cachipomirim, riquíssimas minas de ouro, para a exploração das quais se estabelece em Forquilha e vai até Cuiabá, onde funda uma povoação em 1723. Tão ricas eram as minas de Cuiabá que, em um mês, se retiraram delas 700 arrobas de ouro. Espalhou-se a fama de tais riquezas e não se pode descrever o movimento de viajantes avulsos e bandeiras que então atravessavam os sertões interpostos entre S. Paulo e Cuiabá. Datam dessa época as bases de muitas povoações que hoje se ostentam prósperas e desenvolvidas.

Em 1726, Bartholomeu Dias alcança o centro de Goiás, onde descobre algumas minas importantes e se estabelece no arraial dos Ferreiros. Em 1728, outra povoação foi fundada, em Cáceres. Em 1751, fundou-se a povoação (atualmente cidade) de Mato Grosso, na margem direita do Rio Guaporé, afluente do Madeira, o qual já em 1725 havia sido explorado por Martim de Mello Palheta, que, então, trocou o seu antigo nome de Cairi pelo atual.

Em meados do século VIII, grande parte do interior de Minas, Goiás e Mato Grosso, em uma faixa mais ou menos adjacente ao paralelo de 20º de Latitude Sul, era bem conhecida, e, nesta região, já brotavam notáveis grupos de população, dos quais os mais importantes eram Paracatu, Bagagem, Araxá, Uberaba, São João d'El-Rei, Sabará, Vila Bella (atualmente Ouro Preto), Caeté (em Minas); arraial dos Ferreiros, Vila Boa (hoje Goiás), Jaraguá e Catalão (em Goiás); Sant'Anna do Paranaíba, em um extremo desse paralelo, e Corumbá, em outro (em Mato Grosso).

Daí, os núcleos de população se deslocavam para o Norte, até encontrar o paralelo 15º, e deles os principais eram Cuiabá, Santo Antonio, Poconé, Cáceres e Mato Grosso. Entretanto, enormes extensões estavam por explorar e a maior parte delas restam ainda desconhecidas.

Neste ponto, deve ser mencionada a exploração de La Condamine, que (1743) estudou o Solimões e as terras ribeirinhas do Amazonas, tirando importantes conclusões quanto ao clima e patologia da região.

De 1750 a 1800, há duas importantes explorações a mencionar; e de Gomes Freire de Andrade quando foi demarcar as fronteiras do Sul e a de Francisco Xavier de Mendonça, continuada por dom Antonio de Moura Rollim no Norte, com o fim de demarcar as fronteiras setentrionais.

De 1783 até 1792, fez o naturalista Alexandre Ferreira Velloso, por orem do governo português, exploração científica ao Norte do Brasil, percorrendo toda a região amazônica e o Norte de Mato Grosso, e fez estudos preciosos sobre a fauna terrestre e aquática do Amazonas, Rio Negro e Rio Madeira e uma profícua exploração na Ilha do Marajó.

De 1800 a 1821, as guerras entre portugueses e espanhóis determinaram várias expedições que vieram devassar o atual território do Rio Grande do Sul, parte do de Santa Catarina e a região que atualmente forma o Território das Missões. Para o Norte, foi enviada uma expedição em 1809, que operou até 1821, tornando, em parte, conhecida a região do Amapá, e grande porção da Guiana Francesa.

Foi por este tempo que Augustin de Saint Hilaire fez notáveis estudos de História Natural e Física do Globo, muito  concorrendo as suas viagens para o progresso geográfico do Brasil. Em excursão por Goiás, fez este naturalista a ascensão da Serra dos Pirineus e estudou e descreveu a sua constituição geológica. A ele se deve também a descrição da Serra do Piauí e da Canastra, onde nasce o Rio São Francisco. Explorou a cachoeira do Rollim, no Rio de Santo Antonio, afluente do S. Francisco. Visitou e descreveu a Cachoeira da Casca d'Anta, ou antes a Cachoeira de São Francisco (nome atual), que constitui os cabeceiros do grande rio.

Nessa viagem, coube-lhe também estudar as águas sulfurosas de Araxá, cujas propriedades terapêuticas considera sem rival. Também estudou os rios Paraná e Grande e subiu ao planalto de Curitiba, cujo clima louvou com entusiasmo; e fez notáveis estudos sobre a Serra da Mantiqueira.

Deve-se ainda a Saint Hilaire a confecção de um quadro de temperaturas médias observadas desde a Serra da Estrela, no Rio de Janeiro, até as terras de Goiás, incluída a cidade desse nome.

Alguns anos antes dos trabalhos de Saint Hilaire, exploraram os naturalistas Spix e Martius o Rio S. Francisco, estudando as enchentes desse rio que compararam ao Nilo, pela ação fertilizante que exerce sobre os terrenos ribeirinhos. A ação desses sábios estendeu-se depois aos rios Amazonas e Tietê, este em S. Paulo.

O ilustre brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva merece também referência muito especial, pelas suas explorações em S. Paulo, por todo o território, e em particular no vale do Tietê e nas serras pertencentes ao conjunto da Serra do Mar, na parte da Serra do Cubatão. Mineralogista exímio que era, coube-lhe determinar as riquezas minerais do Estado de S. Paulo, a maior parte das quais ainda esperam os exploradores.

Cumpre notar que, antes de José Bonifácio e Martius, já em 1808 John Mawe, em uma exploração geológica, visitara a Serra do Cubatão e os vales do Tietê e do Juqueri; e digna de menção se tornou a viagem que o explorador austríaco Pohl fez a Goiás, cujo sistema orográfico estudou, tornando bem conhecidas as serras das Figuras e do Duro.

Quando se fez a independência em 1822, era, portanto, bem notável o incremento que iam tendo as explorações pelo interior do Brasil; mas só a partir do 2º reinado as explorações de ordem científica tomaram maior desenvolvimento, tendo por base não só conhecimento dos sistemas fluviais do Brasil, como também do sistema orográfico e a determinação da constituição geológica do país e da sua fauna e flora. Então, vários naturalistas e cientistas partiam a explorar o sertão, e de todos estes trabalhos grande proveito resultou para a Geografia do Brasil, sobretudo porque várias e continuadas correções têm sido feitas a erros estabelecidos pelas explorações dos tempos coloniais.

É dessa época que datam os estudos de Alincourt sobre as costas do Espírito Santo e as suas notáveis explorações dos rios Aquidauana e Camaquan.

Em 1838, iniciou Castelnau importantes estudos para determinações geológicas e geográficas, no Pará, e explorou grande parte do Rio Amazonas. Em 1846, percorreu diversas serras de Goiás e de Mato Grosso, colhendo observações sobre os rios afluentes do Amazonas e alguns do Tocantins. Os seus estudos muito contribuíram para desvendar os segredos dos sertões do Pará, Amazonas, Goiás e Mato Grosso.

Pela mesma época (1841), o almirante Roussin estudou as costas do Brasil e muito especialmente as da Bahia. Das suas observações resultaram importantes deduções, que muito influíram sobre os ulteriores estudos de climatologia do Brasil.

Em 1842, fez o príncipe Adalberto da Prússia uma excursão pelo vale do Amazonas, explorando os rios Tocantins e Xingu; e trouxe enorme soma de notas e observações para a constituição de uma corografia dos estados do Pará e Amazonas e da parte Norte de Goiás e Sudoeste de Maranhão.

Mais ou menos por essa época, enquanto Bellegarde percorria as divisas de S. Paulo, Minas e Espírito Santo, com o estado do Rio de Janeiro, para levantar a sua Carta da Provincia do Rio de Janeiro, procedia o sábio naturalista alemão Humboldt a um estudo admirável sobre o vale do Amazonas, e depois sobre o resto do Brasil.

Pouco depois, em 1847, coube a Augusto Leverger levantar uma planta da região do Rio Paraguai, com informações que muito vieram a servir, quando, em 1865, rompeu a guerra do Brasil contra a ditadura do Paraguai.

Depois desses notáveis exploradores e homens de ciência, destaca-se Halfeld (Henrique Guilherme Fernandes Halfeld, engenheiro), que, comissionado pelo governo imperial, percorreu, de 1851 a 1854, desde Pirapora até o mar, o Rio S. Francisco, em uma distância de 1.910 quilômetros, levantando preciosíssimo atlas de toda a região percorrida.

Os estudos de Halfeld muito contribuíram para a resolução do problema da navegação do Rio S. Francisco e seus afluentes. A eles muito deve a corografia dos estados da Bahia, Minas, Sergipe e Alagoas. Esses estudos foram continuados por Liais (Emmanuel Liais), na parte compreendida entre Pirapora e as nascentes do S. Francisco. Liais procurou mostrar a exeqüibilidade da navegação do Rio dos Velhos e as vantagens que esse empreendimento traria às comunicações das regiões marginais. E deixou importantes cartas e plantas da região percorrida.

Em 1859, empreendeu o astrônomo francês Mouchez uma viagem pelas costas brasileiras, que estudou, bem como algumas das serras do litoral e da Serra do Mar, merecendo menção especial os trabalhos relativos à Serra dos Aimorés e às do Ceará. São notáveis, também, os estudos que fez sobre a altitude de diversas cordilheiras, no decurso do ano de 1860.

De resultados igualmente apreciáveis foram as explorações de Chandless, em 1864 e 1865, ao Purus e ao Juruá, através de grande extensão de muitas regiões desconhecidas, e que tornaram possível a exploração futura de enormes seringais, hoje em franca produção.

Pela mesma época (1865-1866), Coppeland faia uma viagem ao Rio S. Francisco e revelava muitos dos seus segredos; e Hartt aparecia entre os exploradores da terra brasileira. Por toda a parte Hartt procurou fazer estudos sobre a paleontologia brasileira, e, para isso, visitou o vale do Amazonas, percorreu serras do Paraná, devassou os campos gerais de Curitiba e de Guarapuava e contemplou as maravilhas de Paulo Affonso, ao mesmo tempo que pensava em reconhecer a idade geológica da Serra do Espinhaço e da região vizinha, bem como estabelecer os limites geográficos da Serra do Mar. Explorou também os rios Escuro e S. Francisco, reconhecendo a veracidade das conclusões de Halfeld. O seu estudo sobre a "Chapada de São Marcos" é uma maravilha de exatidão e de síntese acerca da orografia brasileira.

Depois de Hartt, aparecem em 1867 diversos homens de ciência que percorrem vários pontos do Brasil. Assim: Franklin Massena, em suas investigações pela Serra do Itatiaia (Estado do Rio de Janeiro), mede a altitude das Agulhas Negras (em frente à cidade de Rezende); Francisco Germano de Annecy explora os arredores de Caldas (Minas) e estuda as suas fontes de águas minerais e termais; Agassiz estuda o vale do Amazonas, percorre o Tocantins e lança a hipótese científica de pertencer esse rio, bem como os rios do Estado do Maranhão, ao sistema amazônico. Ao mesmo tempo dirige as suas vistas para o Sul e declara que na orla marítima dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul devem existir abundantes minas de carvão de pedra, talvez tão bom como o de New Castle e Cardiff, conclusões mais tarde confirmadas pelos trabalhos da Comissão Geológica de 1877, e já em 1873 firmadas pelo professor Gorceix.

Todas as afirmações de Agassiz, da Comissão Geológica de 1877 e de Gorceix, foram ultimamente confirmadas pelo professor americano J. C. White, que estudou as minas de hulha do Sul do Brasil.

Em 1868, fez Carlos Karuss estudos no Rio São Francisco e tentou contestar algumas das afirmações de Halfeld; e apareceu, pouco depois, nos mesmos lugares, o coronel Accioly, que não só tem feito acurados estudos sobre as montanhas de Pernambuco,como também procurado estabelecer relações entre as serranias que formam a cachoeira Paulo Affonso com a Serra da Borborema.

Em 1874, a canhoneira brasileira Taquary subiu o Rio Paraguai até a Barra de Santa Tereza e esta viagem assumiu as proporções de uma exploração, tanto contribuiu para melhor conhecimento da região. Dois anos depois, em 1876, Jules Crevaux, francês, explorou o Oiapoque e descobriu quatro das suas cachoeiras, que estudo, bem como os rios Paru e Jari.

No mesmo ano, Monteiro Tourinho percorreu todo o centro do Paraná; explorou os arredores de Curitiba e os Campos Gerais; visitou a garganta de Itupeva e a Serra do Mar e chegou à ousada conclusão de que no Paraná só há um planalto.

Em 1879, empenhado o governo imperial em resolver definitivamente o problema da navegação do S. Francisco, constituiu uma comissão que, chefiada por Milnor Roberts e auxiliada, entre outros, por Orville Derby e Theodoro Sampaio, foi encarregada de estudar este rio e apresentar o resultado das suas observações. Estes três sábios realizaram magníficos trabalhos. A Milnor Roberts deve o Brasil um excelente estudo sobre o Rio dos Velhos e importantes observações sobre o território de Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

De então por diante, principiou a levantar-se a figura altamente simpática de Orville Derby, que, ora só, ora de colaboração com outros, tem levado por diante as mais arrojadas explorações. Fez magníficos estudos sobre a constituição geológica do Pará, e explorou o Rio Amazonas e o Paraguai, aos quais denomina "rio de baixada", enquanto que a todos os outros chama "rios do planalto". Depois, em 1879, estudou o S. Francisco, de que deu uma descrição inesperada e inteiramente especial; e a serra do Grão-Mogol mereceu dele carinhoso estudo, bem como a do Espinhaço. Ainda mais tarde, dirigiu, em 1885, as visitas à Serra de Itatiaia e, em 1889, à Serra dos Pirineus e outras regiões de Goiás, sem falar nas observações que fez sobre os terrenos diamantíferos de Minas, Goiás, Mato Grosso e Bahia, e outros consideráveis trabalhos.

Em 1880, houve duas expedições notáveis no Rio Madeira, que tiveram por chefes Marckhan e Heath. Esta última foi tão importante como a realizada, em outra época, por Keller. Em 1882, fez o barão Homem de Mello frutuosa exploração às serras de Itatiaia e Mantiqueira, tendo subido aos picos do Itacolomi e da Pedra Branca. Pouco depois, em 1885, fazia o general Jacques Ourique exploração no Tietê, estado de S. Paulo. Em 1896, explorou H. Coudreau o Tapajós, o Xingu e o Tocantins; e o dr. Wenele o Xingu. Depois, coube a Euclides da Cunha, como chefe brasileiro da comissão mista de 1905, fazer explorações no Rio Purus e outros afluentes do Amazonas, estabelecendo a possibilidade da passagem daquele rio para o Ucaiali, sem mudança de embarcação, pelo istmo de Pascaral.

Também por essas regiões andou o general Thaumaturgo de Azevedo, a quem coube fazer uma proveitosa exploração do Juruá. Couto de Magalhães explorou todo o Amazonas e traçou um roteiro destas paragens; percorreu a maior parte do Araguaia, estudando as cachoeiras da Carreira Comprida, Martírios, Corredeira e outras; e tomou também conhecimento de grande extensão do Tocantins e da Serra do Paredão, bem como as serras de S. Jerônimo e da Chapada, a 40 léguas de Cuiabá, e as de S. Lourenço e de Água Branca, também em Mato Grosso.

E, falando em Mato Grosso, não devemos deixar de citar o coronel de Graty, que estudou a Serra do Amambaí, nem von Stein, Clauss, Smith, Wallace, que percorreram e exploraram o Xingu, tanto nesse estado como no do Amazonas. Este último, além dos exploradores que já temos citado, deve também muito ao barão de Marajó, Cavalcanti de Albuquerque, Crockatt de Sá Torquato Tapajós, Severiano da Fonseca, Bissau, Le Cointe e outros.

Os principais pioneiros do estado do Pará, além dos já citados, foram o barão de Marajó, Torquato Tapajós, Tardy de Montravel e Ferreira Penna, que poética e imaginosamente descreveu o Tocantins. Além dos exploradores já mencionados, foi este rio visitado por James Orton, Ladislau Bueno, que reconheceu 26 dos seus afluentes; Francisco da Silva Castro e James C. Wells, que explorou também as serras do Maranhão, existentes entre o Tocantins e o Parnaíba.

Uma destas serras, a de Tabatinga, foi estudada e descrita pelo engenheiro Dodt, que estendeu as suas explorações por todo o estado do Maranhão e especialmente pelos rios Mearim, também explorado pelo visconde de Saint Amand, e o Itapicuru, visitado e estudado por exploradores notáveis, entre os quais João Nunes de Campos, Miguel Vieira Ferreira etc.

E antes de encerrarmos este artigo, mencionando as duas grandes expedições atualmente em curso pelas regiões, merece referência o nome do general Cunha Mattos, que estudou detalhadamente grande parte dos estados de Mato Grosso e Goiás, chegando a determinar a constituição geológica de muitas das serras desse último estado, entre as quais as do Espigão Mestre, Talhado, Tombador, Dourada e outras. O general Cunha Mattos também produziu belos estudos sobre o clima do Brasil.

Dois outros viajantes que merecem especial menção na história das explorações do sertão brasileiro são Milliet de Saint Adolphe, que percorreu as serras de Botucatu e do Diabo e explorou o Rio Paraná; e Richard Burton, notável geólogo e etnógrafo a quem o Brasil deve uma conscienciosa exploração por todo o planalto central e pelo vale do S. Francisco, desde Pirapora ao Oceano. Estes estudos que constam da sua monumental obra Exploration of the Highlands of Brazil, têm servido de prova ou correção a tudo quanto se tem até agora escrito a respeito.

Depois destas explorações, figuraram, como as mais notáveis, as últimas feitas nos sertões de São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Amazonas pelo coronel Candido Rondon, e a que empreendeu a destemida professora municipal d. Leolinda Daltro, acompanhada por seu filho, de 20 anos de idade, Alfredo Napoleão de Figueiredo.

Esta senhora, que empreendeu a sua excursão, sem receber o menor auxílio dos cofres governamentais, partiu do Rio de Janeiro, em 1903, chegou a Uberaba, alcançou Araguari, Morrinhos, Alemão, Aricuns, Bacalhau e Goiás, depois atingiu a vila de Leopoldina, onde seguiu o curso do Araguaia, que desceu em uma distância de mais de 1.000 quilômetros até Santa Maria. Daí, a pé, fez 300 quilômetros, para alcançar o Rio do Sono. Principiou depois a subir o Tocantins, passando por Piabanha, Porto Nacional, Natividade, Palma, Cavalcante, S. José do Tocantins, Jaguara e Goiás.

Depois de curta permanência nessa cidade, d. Leolinda principiou a visitar as diversas aldeias dos índios, espalhadas pelos sertões, tanto na margem esquerda do Araguaia, como entre o Araguaia e o Tocantins e na margem direita do Tocantins.

Foi assim que, auxiliada pelos Xavantes, percorreu 100 povoações carajás, 23 aldeias cherentes, 2 javaés, 1 tapirapés, 14 caiapós, 10 carajaís, 2 morcegos, 4 urubus, 1 puri, 4 coroados, 1 veadeiro, 18 caraós etc. Durou a sua excursão 5 anos, e coube-lhe a honra de destruir, em parte, a má fama que prejudicava os brancos na imaginação dos índios. D. Leolinda conseguiu difundir o conhecimento da língua portuguesa nos lugares que percorreu, e ensinar a ler e a escrever 17 índios e 2 índias, dos quais 2 são os atuais intérpretes do coronel Rondon, na sua viagem através dos sertões acima indicados.

O coronel Rondon, como chefe da Comissão das Linhas Telegráficas e acompanhado por diversos homens de ciência, varou os sertões de S. Paulo, Paraná, Mato Grosso, Goiás e Amazonas, em todos os sentidos e direções, nos anos de 1907, 1908, 1909 e 1910, regressando ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1911. Em julho deste mesmo ano voltou para as mesmas regiões, onde ainda permanece.

Não é fácil detalharem-se os serviços prestados pelo denodado oficial do exército brasileiro; basta, porém, dizer que, nas suas  arriscadas excursões tem o coronel Rondon conquistado a estima de centenares ou milhares de índios, e destruído erros e fantasias geográficas de toda a espécie. Muitos rios e serras novas tem descoberto, entre as quais o verdadeiro Juruena, a Serra do Norte, o Rio Piroculuina, os Campos dos Palmares. As explorações que fez na Serra dos Parecis e no Rio Guaporé e seus afluentes são de grande importância científica.

Recentemente, percorreu também o Brasil o notável explorador inglês sr. Savage Landor, que tendo atravessado a região goiana e mato-grossense do Sul para Norte, chegou ao Pará, de onde partiu, a fim de, mais ou menos paralelamente ao Rio Amazonas, atravessar em toda a sua largura os estados do Pará e Amazonas, indo ao Peru, onde galgou os Andes, para alcançar o Chile.

E são estas, sucintamente, as explorações mais notáveis a que tem servido de campo a enorme superfície do Brasil, desde o seu descobrimento, em 21 de abril de 1500, até se encerrar o ano de 1911.

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