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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [32-e]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 422 a 430, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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A fábrica Mascarenhas, Juiz de Fora
Foto publicada com o texto, página 424. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Estado de Minas Gerais

Companhia Industrial de Bello-Horizonte – Esta companhia foi estabelecida em 1906, com o capital de Rs. 600:000$000, depois elevado a Rs. 1.000:000$000 para manufaturar e estampar tecidos de algodão. São seus diretores os srs. coronel Americo Teixeira Guimarães, dr. Flavio Fernandes dos Santos, coronel Aristides Ferreira, e dr. Christiano T. F. Guimarães, sendo este o diretor-gerente.

A companhia tem duas fábricas. Uma, perfeitamente montada, para a manufatura de panos crus, com 200 teares e 6.880 fusos, e acionada por motores elétricos de 200 cavalos de força, produz diariamente 10.000 metros de pano, e emprega 250 operários, entre homens, mulheres e crianças. Na outra, separada da primeira por um canal, é a fazenda alvejada e depois estampada, em cores e desenhos diferentes.

A companhia importa da Europa as cores, drogas etc., e dos Estados do Norte, o algodão. A máquina de estampar pode, em 10 horas, produzir 20.000 metros de pano estampado, chita. Na seção de estamparia, trabalham 50 operários e é empregada uma força motriz (elétrica) de 100 mil cavalos. Há uma caldeira geradora de vapor destinada ao aquecimento.

As fábricas ficam situadas em Belo Horizonte, a 40 metros apenas da estação da estrada de Ferro Central do Brasil. O diretor-gerente, dr. Christiano F. F. Guimarães, é filho do coronel Americo Teixeira Guimarães, também diretor da companhia. Este foi o gerente desde a fundação; em março de 1911 deixou o lugar, que passou para seu filho, eleito em assembléia geral de 5 de março de 1911.

Fiação e Tecelagem Moraes Sarmento – Esta fábrica foi fundada, em 1908, pelo sr. Severiano de Almeida Moraes Sarmento. Manufatura toda a sorte de tecidos de algodão, tais como algodões crus, zefires, riscados, brins, toalhas etc., e fabrica também brins de linho.

A fábrica tem 67 teares 3.500 fusos; é movida por força elétrica, empregando para acionar os seus maquinismos uma energia de 105 cavalos divididos por 4 motores, sendo 2 de 10 cavalos cada um, 1 de 30 e um de 55. A fiação trabalha 22 horas por dia, isto é, dia e noite; e a tecelagem 10 horas. Produz 2.000 metros de pano diariamente, além do fio para o seu consumo. Vende também para fora uma boa quantidade. As seções de fiação e tecelagem ocupam 3.000 metros quadrados de um terreno de 10.560 meros quadrados, pertencentes à mesma fábrica. Há também uma seção de tinturaria, alvejamento etc. Os produtos são vendidos em todos os estados do Brasil. Entre homens, mulheres e crianças, emprega a fábrica 140 operários.

O proprietário, sr. Severiano de Almeida Moraes Sarmento, nasceu em Rio Novo, Minas Gerais, em 1867. Em 1887, ocupava-se no comércio do café; depois entrou para o comércio de todos os gêneros do país e estrangeiros, onde se conservou até 1908, ano em que, como foi dito, fundou a sua fábrica. É proprietário em Juiz de Fora.

Fiação e Tecelagem Mascarenhas – Esta fábrica de Juiz de Fora, hoje propriedade da viúva Bernardo Mascarenhas, tem de frente 80 metros e ocupa a área de 6.000 metros quadrados. Foi fundada em 1888 pelo falecido sr. Bernardo de Mascarenhas. É movida a força elétrica, fornecida pela Companhia Mineira de Eletricidade de Juiz de Fora, e emprega uma força de cerca de 200 cavalos, para mover os seus 150 teares, 4.700 fusos e máquinas acessórias.

Tem a fábrica cerca de 300 operários, entre homens, mulheres e crianças; e a sua produção vai a 4.000 metros, mais ou menos, de tecidos diversos, tais como xadrezes, holandas, tecidos de fantasia para vestidos, lençóis de algodão, flanelas, toalhas de mesa, brancas e de cor, guardanapos, colchas, toalhas de rosto, panos de linho etc. Só o fio de linho é produzido na própria fábrica. O algodão é importado de Pernambuco. Há também uma grande seção de tinturaria. Esta fábrica foi uma das primeiras a usar eletricidade como força motriz; os seus motores, que são da Westinghouse Elec. Co., foram instalados em 1898, e desde então têm sempre trabalhado com a maior regularidade.

O fundador, o falecido sr. Bernardo Mascarenhas, nasceu em 1843, em São Sebastião (Minas Gerais); foi educado no colégio de Caraça e, moço ainda, se entregou aos negócios. Estabeleceu diferentes empresas industriais, uma delas a Companhia Cedro-Cachoeira, com uma das primeiras fábricas de tecidos de algodão estabelecidas no Brasil. Visitou a Europa por duas vezes e esteve nos Estados Unidos da América do Norte. Veio para Juiz de Fora em 1887, e um ano depois fundou a sua fábrica. Foi também o fundador da Companhia Mineira de Eletricidade de Juiz de Fora, a primeira, no país, que produziu eletricidade, utilizando a força hidráulica.

O sr. Bernardo Mascarenhas foi presidente do Banco de Crédito Real de Minas, e fundou ainda outras indústrias e companhias. Durante toda a sua vida se dedicou à indústria e ao comércio. Morreu em 1899, tendo valiosamente cooperado para o desenvolvimento do estado de Minas. Por algum tempo, foi a fábrica dirigida pelo dr. Agenor Barbosa, hoje diretor do Banco Mercantil do Rio de Janeiro; atualmente, administram-na os filhos do fundador, os srs. Eneas G. Mascarenhas, engenheiro, e dr. Romeu Mascarenhas, médico. A viúva d. Amelia Guimarães Mascarenhas é a única proprietária da fábrica.

Companhia Industrial São Joanense – Esta importante fábrica foi fundada em 1891, com 40 teares; foi aumentada em 1906 e tem atualmente 78 teares e 1.614 fusos. Os maquinismos são, todos eles, acionados por força elétrica, fornecida pela Companhia de Eletricidade. A fábrica possui também um motor a vapor de 25 cavalos para a tinturaria e as engomadeiras. A produção mensal vai a 75.000 metros. O edifício da fábrica ocupa uma área de 2.700 metros quadrados, havendo ainda em armazéns e terreno não edificado cerca de 1.800.

A fábrica, entre homens, mulheres e crianças, emprega 200 pessoas, além dos viajantes, empregados do balcão e escritório etc. O interior da fábrica é bem arejado e iluminado; em sua tinturaria, fazem-se toda a sorte de cores e o fio é tingido em cores diversas e em parte estampado. A matéria-prima, algodão, é importada de Pernambuco e Bahia, vindo também grande parte do estado de Minas. A fiação trabalha dia e noite e a tecelagem 10 horas por dia; vende também a companhia grande quantidade de fio de sua manufatura. Cada máquina de fiar tem o seu motor independente. A companhia possui 12 casas, onde vive parte do seu pessoal. Todas as transmissões da tecelagem são feitas por baixo do soalho de madeira da fábrica.

Os produtos especiais da fábrica são brins e riscados, zefires, flanelas, cobertores, aflanelados, atoalhados e algodões crus e tintos. O capital da empresa é de Rs. 300:000$000, dividido em ações de Rs. 200$000.

O presidente da companhia é o sr. José do Nascimento Teixeira, que também exerce o cargo de diretor-gerente; e os outros diretores são os srs. capitão Affonso Dalle e José Simons Baêta. A maior parte dos acionistas reside em São João d'El Rei, Tabuleiro Grande e Curvello, estado de Minas Gerais.

O sr. Nascimento, presidente da companhia, nasceu em Lagoa Santa, distrito de Santa Lúcia do Rio das Velhas, em 1875, e foi educado em Mariana. Começou a sua carreira comercial como guarda-livros da Companhia Cedro e Cachoeira, onde trabalhou de 1892 a 1906; daí em diante exerceu o cargo de diretor-gerente da Companhia Industrial São Joanense e foi eleito seu presidente em 1908.

Companhia Fiação e Tecidos Sarmento – Esta empresa foi fundada pelo falecido Daniel de Moraes Sarmento e inaugurada em 17 de julho de 1895, com o título de Fábrica de Tecidos Mineira. Em 1905, o seu fundador organizou a empresa em companhia, com o título acima. Atualmente, conta a fábrica 297 teares e 4.862 fusos. Tem a companhia um capital e reservas no valor de Rs. 1.302:463$959. Trabalham na fábrica 700 operários.

A fábrica ocupa uma área de 17.664 metros quadrados em diversos pavilhões claros e bem ventilados, que compreendem a seção de máquinas, um salão de fiação, dois de tecelagem, uma sala de carretéis, engomadeiras, sala de pano, tinturaria, almoxarifado, oficinas e escritórios.

Possui a empresa três grandes reservatórios de água para 1.100.000 litros, abastecidos por bombas movidas por eletricidade. A força motriz para os maquinismos é dada por 34 motores elétricos com a energia total de 366 hp, havendo de reserva dois motores a vapor com 139 hp.

A produção da fábrica atinge a 7.392 metros por dia e consta de brins de linho e de algodão, riscados, zefires e outros artigos congêneres. A empresa é também concessionária da exploração de energia elétrica na cidade, serviço em que emprega 110 lâmpadas de 32 velas para a iluminação pública, fornecendo ainda luz a 238 casas particulares e força a diversas indústrias locais.

A diretoria da companhia compõe-se dos srs. Emygdio de Moraes Sarmento, presidente, e Antonio da Fonseca Lobão, que tem como auxiliar na gerência o sr. Bernardo de Moraes Sarmento. O sr. Antonio da Fonseca Lobão nasceu no estado do Rio em 1891 e fez os seus estudos em Friburgo. Ocupou-se na carreira comercial, no Rio de Janeiro, de 1887 a 1891, ano em que veio para São João Nepomuceno. Mais tarde entrou para esta empresa; e, por morte do fundador, foi eleito diretor-gerente. É vereador municipal desde 1907 e sócio da firma viúva Sarmento. É proprietário em São João Nepomuceno.

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A fábrica da Cia. Fiação e Tecidos Sarmento, em São João Nepomuceno, Estado de Minas
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Estado de Rio Grande do Sul

Companhia Fiação e Tecidos Pelotense – Esta empresa de tecidos em algodão tem atualmente em sua fábrica, iluminada a luz elétrica, 200 teares, que brevemente serão elevados a 420, e 6.500 fusos, que também serão aumentados. Para acionar este maquinismo, possui a fábrica um motor de 500 hp, dos fabricantes Yates & Blackburn (Inglaterra), a que duas caldeiras fornecem o vapor. A fábrica possui também um dínamo de 50 hp e 220 voltts, dos fabricantes Mather & Platt. Há também boas oficinas de carpintaria e ferraria.

O número de empregados nas diversas seções é de 320. O algodão é importado de Pernambuco e o carvão de Cardiff.

O sr. Antonio Planella, diretor comercial, nasceu na cidade do Rio Grande, em 1863; e adquiriu a prática do comércio de fazendas em Pelotas, onde se estabeleceu com este ramo de negócio em 1892, de sociedade com seu irmão, casa que ainda existe atualmente. É diretor da Companhia Pelotense, desde 1910, e faz parte do Club Commercial.

O sr. Ambrosio Perret, diretor técnico, nasceu em 1875, em Pelotas, onde fez o seu tirocínio comercial; possui uma importante quinta fora da cidade, onde cultiva toda a espécie de árvores frutíferas, exportando frutas para vários pontos do Brasil; esta quinta é administrada por um irmão do sr. Perret. O sr. Perret é diretor da companhia desde 1910; faz parte do Club Commercial e da Sociedade de Geografia Comercial de Paris; e é membro honorário da Sociedade Nacional de Agricultura.

Companhia de Tecelagem Ítalo-Brasileira – Esta companhia foi fundada em 1893, para a manufatura de artigos de algodão. A matéria-prima é importada dos estados do Norte e a produção anual vai a 360.000 metros de manufaturas diversas. Os edifícios da fábrica são de boa e sólida construção; e o maquinismo, completo e moderno, é acionado por um motor a vapor de 500 hp; as caldeiras são de fabricação suíça; há cerca de 200 máquinas para fiação e 800 teares, de manufatura inglesa.

A companhia tem em sua fábrica de 600 a 700 operários; e vende os seus produtos em vários mercados do Brasil. A fábrica e o terreno em que esta se ergue são propriedade da companhia. A sede da empresa está em Gênova, e é seu diretor-gerente o sr. Santo Becchi.

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Société Cotonnière Belge-Brésilienne: 1) A fiação; 2) A tecelagem; 3) A fábrica Catende, em Morenos; 4) Seção de acabamento; 5) Seção de enfardamento

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Estado de Pernambuco

Société Cotonnière Belge-Brésilienne – É esta uma das mais modernas e mais importantes empresas industriais do estado de Pernambuco. A Société Cotonnière Belge-Brésilienne foi organizada em 9 de março de 1907 em Antuérpia. Conforme os estatutos sociais, o seu objetivo é a manufatura de tecidos em geral, em branco e em cor, e estamparia, e, com especialidade, a exploração de fábricas de algodão no estado de Pernambuco, com o direito entretanto de ter interesses em toda a sorte doutras empresas. O capital da companhia é de 4.000.000 de francos, dividido em 8.000 ações de 500 francos, havendo também 10.000 ações preferenciais.

Atualmente, possui a companhia 7 a 8 quilômetros quadrados de terras em torno da estação de Morenos, a meia hora da cidade de Pernambuco, pela estrada de ferro Great Western. Em 1909, foi iniciada a construção duma fábrica de tecidos em Morenos; e a 30 de maio de 1910, foi o grande e bem montado estabelecimento conhecido por Fábrica do Catende oficialmente inaugurado pelo governador do estado. Esta fábrica está montada com os mais modernos maquinismos, empregados na manufatura de tecidos de algodão, e é uma das melhores, não só do estado como em todo o Brasil.

Hoje, produz a fábrica unicamente tecidos brancos de excelente acabamento, havendo em atividade 306 teares. Esta fábrica foi construída, tendo-se em vista o seu aumento futuro; assim, o número de teares será em breve elevado a 850. Todo o algodão empregado é de Pernambuco e a totalidade dos produtos vendida diretamente às casas de atacado da capital. A disposição interna da fábrica é de modo a não só dar rapidez ao trabalho, como também assegurar boas condições higiênicas para os 500 operários que nela trabalham.

Os motores são de manufatura belga; as caldeiras, da afamada firma Babcock & Wilcox; a instalação elétrica, suíça; e o restante maquinismo, proveniente de diversos fabricantes ingleses. Graças à iniciativa tomada pela companhia, há hoje uma grande e laboriosa colônia operária em Morenos, onde antes existiam apenas algumas cabanas de madeira. A companhia construiu para os seus operários residências próprias e melhorou, na medida do possível, as condições locais. As terras vizinhas à fábrica são extremamente férteis e igualmente apropriadas a lavouras diversas e à criação de gado.

Desde o estabelecimento da fábrica, está a sua gerência a cargo do sr. Thomas Bryers, único representante da companhia no Brasil. O sr. Bryers, natural de Bolton, tem longa prática da indústria de tecidos de algodão, no Lancashire; e durante seis anos foi gerente da fábrica de São Rosário, em Sorocaba, estado de São Paulo. O subgerente é seu filho, sr. George F. Bryers.

Fábrica Fiação e Tecidos de Malha – Esta fábrica, situada a 14 quilômetros do Recife, no arrabalde denominado Várzea, é de propriedade da firma J. Octaviano de Almeida & Cia., da qual são sócios os srs. Joaquim Octaviano de Almeida, solidário, e Arthur Gomes de Mattos Sobrinho, comanditário. O capital é de Rs. 450:000$000, registrado na Junta Comercial de Pernambuco em 1907.

Montada e explorada em amplos moldes de progresso, possui elegantes e sólidos edifícios, maquinismos os mais aperfeiçoados, competindo francamente a sua produção com os melhores artefatos estrangeiros. A sua manufatura consiste em meias para homens, senhoras, meninos e meninas, assim como em camisas de meias para homens. Os produtos são consumidos no mercado do Recife, assim como nos dos outros estados do Brasil, desde o do Amazonas até o do Rio Grande do Sul. A fábrica, que começou em 1898 com 40 operários apenas, conta atualmente 550. Os seus produtos são confeccionados com fios estrangeiros, encontrando-se ali um estoque para mais de 200 contos de réis, e fios nacionais de sua própria produção, para o que em 1910 foram montados maquinismos especiais, acionados por força elétrica com hp.

A outra instalação para o movimento dos teares e demais misteres da indústria é provida com uma caldeira de 200 hp, tipo Cornish. A seção de tinturaria e branqueamento é perfeita; possui hidro-extratores, estufas e todos os acessórios. Prepara a fábrica, também, a cartonagem, e tem oficina mecânica com tornos e plaina, assim como uma seção de carpintaria com máquinas de serrar, aplainar e todo o preciso para suas obras e preparo de embalagem para os produtos de exportação.

É uma fábrica perfeitamente montada e os seus produtos honram a indústria do país. Na exposição de Pernambuco, em 1904, conquistou o prêmio de Medalha de Ouro; na do Rio de Janeiro, em 1908, Grande Prêmio; e nas de Bruxelas e Turim, em 1910 e 1911, os prêmios de Diploma de Honra.

Companhia Tecidos Paulista – Esta empresa, que tem interesses importantes, quer na indústria de tecidos de algodão, quer na açucareira, de Pernambuco, é uma das primeiras, não só no estado mas em todo o Brasil. A companhia é proprietária de vasta área de terras no distrito suburbano de Olinda, onde possui uma fábrica de tecidos e também uma usina de açúcar, da qual se encontrará notícia detalhada em outra seção desta obra.

A fábrica de tecidos, que é um dos maiores e mais importantes estabelecimentos do seu gênero no Brasil, trabalha em todos os ramos da indústria do algodão, fiação, tecelagem, tinturaria, branqueamento e estamparia, para o que está provida dos mais modernos maquinismos ingleses.

Para os seus operários, possui a companhia casas de residência, escolas, clubes e assistência médica. Há cerca de três anos, iniciou a companhia a criação de gado nas suas terras, com o que tem obtido um êxito considerável. A raça ali preferida é o zebu da Índia.

Da sua atual prosperidade, muito deve a companhia ao falecido sr. Herman Lundgren, que veio da Suécia para o Brasil em 1866.O sr. Lundgren tentou fortuna primeiramente no Rio de Janeiro, depois na Bahia; e em 1870, mais ou menos, estabeleceu-se em Pernambuco. Em 1900, começou a comprar ações da Companhia Tecidos Paulista e em 1904 adquiriu também a Usina Timbó. Ambas essas empresas ele dirigiu pessoalmente, até a sua morte. O sr. Lundgren era consideradíssimo em Pernambuco e durante muitos anos desempenhou as funções de cônsul da Suécia e Noruega.

Hoje, nove décimos das ações da Companhia Tecidos Paulista pertencem à família Lundgren. Os atuais diretores da companhia são os srs. Frederick Lundgren (filho do fundador), Lindsay Andersen e Pedro D'Able, secretário.

Companhia Industrial Pernambucana – Esta fábrica, que fica situada à margem da estrada de rodagem do Recife ao Limoeiro, a 12 quilômetros da capital do estado, e ocupa uma área de 10.000 metros quadrados, compreende seções de fiação, tecelagem, branqueamento e tinturaria.

A fábrica é movida a vapor por uma máquina horizontal Compound, com 550 hp, dos srs. Buckey & Taylor, Oldham; as caldeiras são em número de três e do tipo Lancashire. As máquinas de fiação e tecelagem são dos fabricantes Platt Brothers & Co. Ltd., Oldham, à exceção duma fiadeira americana e 24 teares Northrop, 2 enchedeiras e uma máquina para novelos. Compreendem estas máquinas um abridor, um alimentador, duas séries de dois batedores duplos, 37 cardas de chapéus móveis, 17 bancos com 2.360 fusos, 32 fiadeiras com um total de 12.772 fusos, 16 meadeiras com 640 fusos, 4 enchedeiras com 540 fusos, 3 outras com 720 fusos, 5 enchedeiras com 500 carretéis, 8 urdideiras com 4.500 carretéis, 2 engomadeiras e um total de 428 teares, fora outras pequenas máquinas acessórias.

A tinturaria é montada a capricho e possui máquinas modernas para facilitar este gênero de trabalho. O alvejamento é também feito em maquinismos modernos, e o acabamento e empacotamento são feitos com o maior cuidado. A fábrica possui ótimas oficinas e é iluminada à luz elétrica fornecida por uma instalação própria.

A Companhia Industrial Pernambucana possui também uma fábrica de tijolos e telhas necessárias à construção desta última e da vila operária. Aí fabrica a empresa tijolos de barro seco e tijolos plásticos, sendo a capacidade de produção de 18.000  tijolos do primeiro tipo e 6.000 dos do segundo. Para o cozimento dos tijolos existe um forno Hoffmann, de 10 compartimentos, com capacidade para 20.000 tijolos cada um.

Para o abastecimento de água à vila operária e às fábricas, possui a empresa dois grandes açudes denominados de São João e de São Bento. A vila operária de Camaragibe fica em ótimo local e compreende 155 casas de tipos diversos, higiênicas e de sólida construção, cujo valor total se eleva a Rs. 494:000$000. A vila operária compreende também um armazém-cooperativa, padaria, escolas, consultório médico e um círculo católico. Os operários desta companhia, em número de 731, organizaram entre si a Corporação Operária de Camaragibe, com fins religiosos, beneficentes e sociais.

A Companhia Industrial Pernambucana, também proprietária da Usina Goyanna, a que nos referimos em outra parte desta obra, tem por diretores os srs. conselheiro dr. Joaquim Corrêa de Araújo, presidente; Pereira Carneiro & Cia., tesoureiro; e dr. Luiz Corrêa de brito, gerente. O conselheiro Araújo, reputado advogado de Pernambuco, é lente da Faculdade de Direito do Recife e foi já governador do estado. O gerente, dr. Brito, natural da Bahia, formou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1881. Foi durante dez anos engenheiro do serviço de abastecimento de água no Rio de Janeiro e em seguida foi para Pernambuco, onde reside há mais de 20 anos.

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Fábrica de Tecidos de Malha (J. Octaviano D'Almeida & Cia.)
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Estado da Bahia

Companhia Empório Industrial do Norte – Esta companhia é uma das mais importantes na indústria do algodão, na Bahia. Com sede na capital do estado, foi fundada em 1903, sendo seus fundadores o falecido sr. Luiz Tarquinio, sr. Leopoldo José da Silva e sr. Miguel Moraes. O capital da companhia é de Rs. 3.000:000$000; há uma emissão de debêntures do valor primitivo de Rs. 2.000:000$000, hoje reduzido a Rs. 1.000:000$000; o fundo de reserva é de Rs. 1.000:000$000. Até 31 de dezembro de 1910, tinha sido distribuída, em dividendos, a soma de Rs. 5.5890:000$000.

A companhia é proprietária da fábrica Boa Viagem, montada com maquinismos modernos e que tem 1.300 teares e emprega 1.600 operários. O operariado habita uma vila modelar, com escolas, consultório médico, sociedade beneficente etc. Os diretores da companhia, posição que exige a posse de 15.000 ações de Rs. 200$000 cada uma, são o dr. Lino Meirelles da Silva e interinamente o sr. Otto Bittencourt.

O dr. Lino da Silva é natural da Bahia e foi educado na Europa, onde viajou pelo espaço de 10 anos. Tem diploma de engenheiro pela Suíça e pela França e faz parte da direção da companhia desde 1903. É presidente da Escola Comercial, fundada há 12 anos.

Companhia Progresso Industrial da Bahia – A Companhia Progresso Industrial da Bahia foi fundada em 1891, para a manufatura de tecidos de algodão, e é uma das mais importantes empresas industriais do estado. O capital da companhia é de Rs. 2.145:000$000 e o valor da ação de Rs. 100$000. Os dividendos pagos pela companhia têm oscilado entre 6 e 12%.

A companhia possui duas fábricas, uma em Plataforma e a outra na Mangueira, ambas no município da Capital. A mais antiga é a da Mangueira, que tem 130 teares; as máquinas são movidas a vapor. A maior das duas fábricas fica situada na Plataforma; tem 915 teares e a sua força motriz é fornecida conjuntamente por um motor a vapor e um motor elétrico. Ambas as fábricas são muito bem montadas, com maquinismos ingleses, e trabalhadas com os métodos modernos.

A companhia emprega cerca de 1.400 operários. Anexas à fábrica, em Plataforma, existem casas para moradia dos empregados e suas famílias, com escola, consultório médico e outras regalias. A companhia possui também 3.000 hectares de terreno próximo à cidade.

O diretor da companhia é o sr. Augusto Pinho, sócio da firma Almeida Castro & Cia., com os srs. dr. Alcides Pinto de Almeida Castro e Bertholino Pinto de Almeida Castro. Esta última firma, que foi estabelecida em 1904, negocia como casa bancária, faz empréstimos e ocupa-se de construção de estradas de ferro e outras empresas locais. O dr. Castro goza de grande nomeada como clínico; e o sr. Bertholino de Castro é, não só, um dos mais importante da Bahia, mas também um grande proprietário.

Companhia União Fabril da Bahia – Esta importante companhia, fundada em 1891, tem na Bahia cinco fábricas de fiação e tecidos e uma de fiação. O capital nominal da companhia é de 4.025:000$000, dividido em 161.000 ações de 25$000 cada uma; destas, foram emitidas 145.263 ações, que foram integralizadas e representam 3.631:575$000, capital realizado. A companhia tem também um empréstimo hipotecário por debêntures, dos quais estão atualmente em circulação 1.575, no valor de 1.575:000$000.

Das fábricas de propriedade da Companhia União Fabril da Bahia, a mais importante é a Fábrica de nossa Senhora da Conceição, situada na cidade da Bahia (N.E.: assim era denominada a capital, Salvador), movida a vapor e possuindo 700 teares e competente maquinismo e cardas, fiação, tinturaria etc., todo ele inglês e de tipo moderna. Só ela produziu, em 1911, 7.090.361 metros de tecidos diversos, tintos ou crus.

A Fábrica de Nossa Senhora da Penha, também situada na cidade, acha-se atualmente em trabalhos de reconstrução e remodelação, e ficará com 650 teares e competente maquinismo de cardas e fiação. A Fábrica Santo Antonio do Queimado, movida a vapor e dispondo de 150 teares e competente maquinismo de fiação, fabrica apenas tecidos grossos. A Fábrica São Carlos, situada na cidade de Cachoeira, Bahia, possui 118 teares e maquinismo correspondente para o fabrico de tecidos grossos; atualmente está parada. A Fábrica São Salvador fica na cidade da Bahia; a Fábrica Modelo é exclusivamente para fiação.

A companhia possui também, na Penha, uma fundição e oficinas para reparos do maquinismo das fábricas. O pessoal operário empregado nas diversas fábricas eleva-se a 2.800 pessoas. A Companhia União Fabril dispõe de elementos  para se tornar um grande e próspero estabelecimento industrial e, vencidas umas tantas dificuldades financeiras e remodeladas algumas das fábricas da companhia, cujo maquinismo é um tanto antiquado, é de esperar que esta companhia entre em franco período de desenvolvimento e venha a ocupar a posição que lhe asseguram o seu capital considerável e amplos recursos de material técnico.

A sua atual diretoria, que muito se tem esforçado para colocar a companhia em pé de prosperidade, é constituída pelos srs. Edward W. Wysard, presidente; Tertuliano Soares de Góes; José Gama de Costa Santos, secretário; João Pereira de Carvalho, caixa; Theodoro Oedekoven, diretor comercial; Arthur Fierz, diretor técnico; dr. Manoel Luiz do Rego, consultor jurídico; Bernardo Martins Catharino, W. Smith Wilson, dr. Eduardo Rodrigues de Moraes, Guilherme A. Rehder e dr. Quintino Fontes Ferreira.

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Cia. Tecidos Paulista: 1) Vista geral da fábrica Paulista; 2) Usina Timbó; 3) Outra vista da fábrica Paulista
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Estado de Sergipe

Companhia Industrial da Estancia – Esta companhia, com fábrica de fiação e tecidos, situada na Estância, estado de Sergipe, tem a sua sede na Bahia. A Companhia Industrial da Estancia tem um capital de 1.250:000$000 e um fundo de reserva que presentemente se eleva a 268:281$787.

A fábrica possui 252 teares, número este que em breve será aumentado, e o correspondente maquinismo de fiação, sendo todas as máquinas de origem inglesa e de tipos modernos. A fábrica é movida a vapor durante uma parte do ano e acionada por força hidráulica durante a outra parte. Com o propósito de aumentar o maquinismo de que dispõe a fábrica, foram importadas, durante o ano de 1911, três cardas, uma fiadeira e outras máquinas. A fábrica possui também uma seção de tinturaria, para a qual foi também adquirida, no ano findo, uma caldeira para o suprimento de vapor.

A produção elevou-se no ano de 1911 a 3.353.341 metros de tecidos diversos, crus e tintos, os quais, pela sua boa qualidade e preços razoáveis, encontram venda fácil e têm grande procura. A matéria-prima é proveniente do próprio estado de Sergipe, um dos grandes produtores de algodão no Brasil, sendo a importação de drogas e ouros produtos necessários à indústria feita por intermédio do porto da Bahia.

A fábrica dispõe de boas oficinas para o reparo de suas máquinas, que se acham instaladas em bom e sólido edifício construído de acordo com as regras estabelecidas para fábricas desse gênero. A posição financeira da Companhia Industrial da Estancia é invejável. Para o ano de 1911, o lucro realizado foi de 261:147$911, deduzidas as verbas determinadas pelos estatutos, o que permitiu nesse ano a distribuição de um dividendo de 15 por cento, ficando ainda um saldo considerável, que foi levado ao fundo de deterioração. A cotação das ações da companhia tem atualmente um ágio de vinte por cento.

Situado em posição excepcional e com facilidades extraordinárias, de pessoal, matéria-prima e força motriz, tencionando-se ainda desenvolver a sua capacidade de produção, é de esperar que, no futuro, ainda mais se aumente a importância deste estabelecimento, já bem considerável. São seus diretores os srs. José Alves Ferreira e João Joaquim de Souza Sobrinho, que muito têm concorrido para a atual prosperidade da companhia.

Estado de Maranhão

Companhia Fabril Maranhense – Esta companhia foi fundada em 1893, pelo falecido sr. Chrispim A. Santos, pai do atual diretor-gerente, sr. J. M. A. Santos. A fábrica manufatura tecidos de algodão e sacaria; tem 13.000 fusos e 650 teares. Todo o maquinismo é de proveniência inglesa e acionado por dois motores a vapor: um de 500 hp e o outro de 120 hp. O pessoal operário eleva-se a 700 pessoas.

O algodão é todo de produção do estado, consumindo a fábrica 600.000 quilos, anualmente, e 300 toneladas de juta, sendo esta importada da Índia. Esta fábrica, uma das principais do Estado, exporta seus reputados produtos para os diversos estados da União.

Candido Ribeiro & Cia. – Esta firma é proprietária da fábrica de fiação São Luiz e da fábrica de tecelagem Santa Amelia, ambas fundadas há 16 anos. Manufaturam fios de vários números, brins e riscados, que exportam para todos os estados da União.

Todo o maquinismo é moderno e de origem inglesa, sendo acionado por dois motores a vapor, que desenvolvem 600 hp. A matéria-prima é toda proveniente do estado do Maranhão. O diretor-gerente das fábricas é o sr. Candido José Ribeiro.

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Cia. Industrial Pernambucana: 1) Carregamento de cana-de-açúcar para a Usina Goyanna; 2) Os teares da fábrica de algodão Camaragibe; 3) Fábrica de tijolos em Camaragibe; 4) Fábrica de algodão em Camaragibe; 5) Usina Goyanna
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