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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [43]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 894 a 901, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Belém do Pará: a frente do novo porto, construído pela Port of Pará Co.
Foto publicada com o texto, página 894. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Pará

"

inda quando a nossa pátria não contasse mais de uma região como a do Pará, este só nos bastaria para nos desvanecermos da nossa riqueza e apresentá-la com orgulho aos que no-la desconhecem. Entre outros irmãos, porém, semelhantemente extraordinários, cuja rivalidade o honra, a importância da sua grandeza não diminui, nem o brilho da sua opulência empalidece.

Nesta competência gloriosa, os filhos daquele torrão privilegiado saberão certamente medir-se pelas qualidades fortes da inteligência e do caráter, com os favores da natureza e da fortuna, assegurando a essa maravilhosa província brasileira a distinção que lhe cabe entre as suas pares, na primeira linha das garantias sobre que deve assentar o futuro do Brasil".

Estas entusiásticas palavras do dr. Ruy Barbosa (embaixador e primeiro delegado do Brasil à segunda Conferência da Paz em Haia), a respeito da maneira por que foi o estado do Pará contemplado com os dons da Natureza, não representam um simples arroubo oratório, mas sim a expressão de fatos reais que mais evidentes se tornam à medida que os anos vão passando.

Durante muito tempo, só viam os europeus no Pará uma vasta zona inexplorada e misteriosa do Novo Mundo; hoje em dia, porém, o Pará tem se revelado sob um aspecto diferente, o de uma região que oferece as maiores vantagens ao espírito progressivo e empreendedor dos homens de qualquer condição e de qualquer camada social; de uma região cujo desenvolvimento comercial, industrial, social e intelectual se tornou um problema instrutivo e cativante.

O estado do Pará fica entre as latitudes 4º22' Norte e 9º15' Sul do Equador, e longitudes 3º11' e 15º20' Oeste do meridiano do Rio de Janeiro. É limitado ao Norte pelas Guianas Francesa, Holandesa e Inglesa; a Oeste pelo estado do Amazonas; ao Sul pelo estado de Mato Grosso e a Leste pelos estados do Maranhão e Goiás e pelo Oceano Atlântico. A superfície do estado é de 1.149.712 quilômetros quadrados.

O Pará é banhado a Leste, desde o Cabo Orange, ao Norte, até o Rio Gurupi que o separa do estado do Maranhão, em uma extensão de 700 léguas marinhas, pelo Oceano Atlântico. Ao Norte é o estado cortado de lado a lado pelo gigantesco Amazonas, o qual despeja no oceano 250.000.000 de metros cúbicos de água por hora e cuja foz, entre a Ilha de Maracá e a Ponta de Maguari, tem 320 quilômetros de largura. Centenares de outros rios correm através este fértil estado e dentre eles merecem especial menção o Tocantins, o Araguaia que separa o estado do Pará do de Goiás, Jamundá, Trombetas, Cuminá, Curuá, Tapajós, Paru, Jari, Xingu, Ananserpucu, Araguari, Amapá, Colçoene, Cunani, Oiapoque, Anajás, Arari, Anapucu, Pacajá, Capim, Guamá, Gurupi, Guajará etc.

O clima do Pará é quente e úmido, conquanto o termômetro nunca acuse temperaturas anormais, devido às chuvas freqüentes, aos rios que cortam o estado e à brisa do mar que reina constantemente nestas paragens, fatores esses graças aos quais a temperatura média oscila entre 26º e 27º C. Em 1906, a temperatura máxima observada foi de 29,6º C e a mínima de 22,9º C, e em 1907 a temperatura máxima foi de 29,56º C, a mínima de 22,5ºC.

As estatísticas referentes à salubridade do estado são as mais lisonjeiras; não se conhecem casos de morte por insolação, não obstante a posição tropical do estado. A mortalidade na capital compara-se favoravelmente à de outras grandes cidades. Assim, em 1904, a mortalidade foi de 20,2 por 1.000 habitantes, enquanto que na Cidade do México foi de 48,5, em Lima (Peru) de 34,7, em Santiago (Chile) de 32,6, em São Petersburgo de 30,5, em Trieste de 28,1, em Nápoles de 24,3, em Porto Alegre de 24,3, em Marselha de 21,4, em Roma de 20,8, em São Paulo de 20,8, no Rio de Janeiro de 20,7, em New York de 18,3, em Bruxelas de 17,9, em Paris de 17,61, em Berlim de 17,1 e em Londres de 15,1.

Calcula-se que, em futuro não muito remoto, deverá o estado do Pará ter uma população de 20.000.000 ou 30.000.000 de habitantes; atualmente tem talvez menos de um milhão, ou seja menos de um habitante por quilômetro quadrado.

As profecias de Humboldt, Smith, Agassiz, Wallace e outros, de que o vale do Amazonas virá  ser "um centro de civilização e o celeiro do mundo", estão ainda para ser cumpridas; mas dia virá em que deixarão de ser profecias, tornando-se fatos reais e palpáveis. "As riquezas superficiais e desconhecidas desta magnífica região excedem toda a expectativa" - escrevia Ernesto Mattoso em 1887. "As sementeiras crescem, por assim dizer, espontaneamente, com uma regularidade constante. Nem o descuido, nem a imprevidência ou a indolência dos homens impedirão nunca este distrito de produzir colheitas grandes e esplêndidas. A Natureza se encarrega de desenvolver a zona por si própria, com uma energia indomável".

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O Mercado de Ferro, Belém
Foto publicada com o texto, página 895. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Resumo histórico

Foi o aventureiro espanhol Orellana, companheiro de Pizarro na conquista do Peru, quem, abandonando os seus camaradas, pela primeira vez percorreu a Amazônia, descendo pelo Rio Napo ao Amazonas, e por este grande rio indo até o mar. Mas a sua expedição foi mais proveitosa para a lenda do que para a ciência. Foi ele quem, na Europa, contou as fábulas tentadoras do Eldorado, e a história, cheia de prodígios, das mulheres guerreiras - as Amazonas.

O Pará, o Amazonas e o Maranhão foram as últimas terras colonizadas pelos portugueses, embora por essas paragens já andassem estabelecendo feitorias os ingleses, os franceses e os holandeses. Estes últimos chegaram até a construir fortes nas margens do Amazonas. Com o tempo, foram os portugueses tomando e arrasando essas fortificações.

De todos esses aventureiros, só um deixou o seu nome ligado à história do descobrimento do Pará. Foi o francês La Ravardière, que penetrou pelos rios da Guiana até muito no interior daquelas selvagens regiões. Em 1612, La Ravardière ocupara o Pará com um troço de soldados e índios. Foi então preciso que os portugueses tratassem de conquistar aquelas terras. Francisco Caldeira Castello Branco, que já lutara no Maranhão, às ordens de Jerônimo de Albuquerque, contra os franceses, fundou em 1616, por ordem de Alexandre de Moura, a cidade de Nossa Senhora de Belém, na baía de Guajará, sendo dela nomeado capitão-mor.

Nesse tempo, era o Pará habitado por índios muito industriosos e guerreiros. Os primeiros anos de colonização passaram-se sem novidade, sucedendo-se governadores entre intrigas jesuíticas, incessantemente. Desse período só se destaca uma figura - Pedro Teixeira, que subiu o Amazonas até Quito, cravando o marco das possessões portuguesas no Rio Napo. Daí datam as primeiras noções científicas do grande rio.

Nesse tempo, começou a escravização de índios, contra a qual os jesuítas fizeram uma nobre e alevantada campanha.

Até o ano de 1641, esteve o Pará sujeito ao governo do Maranhão. Nesse ano, tornou-se independente daquela outra província. Foi então conquistado pelos holandeses, que dentro de um ano o abandonaram por mero descaso. Voltou o Pará à dependência do Maranhão.

Com o correr dos tempos, foi o Pará progredindo vagarosamente, obtendo alguns melhoramentos com a Companhia Geral do Comércio do Brasil. O seu sertão foi devassado pelos catequizadores; aumentou a sua produção; começou a sua vida municipal. Em 1725, já era bispado. Em 1741, uma comissão de sábios, da qual fazia parte La Condamine, andou em trabalhos geodésicos pelo seu território. Pouco depois, mandava o governo português regimentos de soldados para as colônias militares do Araguaia e do Araguari, a fim de aprenderem  lavoura.

Com a mudança da corte de d. João VI para o Brasil, melhoraram as condições do Pará, que foi elevado à categoria de província do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Durante o primeiro e segundo reinados, foi província do Império; e depois de proclamada a República, à qual aderiu em 16 de novembro de 1889, passou a constituir um estado da Federação Brasileira.

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Cenas festivas na Ilha de Arapiranga
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Flora e fauna

A afamada borracha do Pará é naturalmente o principal produto do estado e a sua exportação tem sido o mais forte elemento do seu rápido progresso. Em 1909, foram exportados pelo estado do Pará nada menos de 17.243.249 quilos de borracha seringa, além de 766 quilos de borracha mangabeira, cujo valor total subiu a Rs. 130.939:957$000.

Toda a exportação foi feita por intermédio do porto do Pará, pelo qual passa também toda a borracha do Amazonas e uma grande parte da do Peru e Bolívia. Em artigo especial desta obra, encontra-se a descrição completa do método de extração da borracha, preços do mercado e outras informações concernentes a esse produto.

O cacau cresce livremente e requer muito pouco cuidado. Em alguns pontos, as árvores dão fruto aos 4 anos e continuam a produção durante 50 ou 60 nos; todavia, se o fruto é somente colhido após o quinto ano, as colheitas que se seguem são muito mis abundantes. O único cuidado, que requerem os pés de cacau, é revolver-se a terra na sua base, duas ou três vezes por ano.

O cacau do Pará é igual ao melhor que se encontra no mercado, e o fato de não obter este o mesmo preço que o de Caracas deve ser atribuído à falta de cuidado dos lavradores para com as árvores e ao processo para secar e preparar o produto.

O cacau é plantado em quase todos os distritos do estado, sendo os que mais exportam os seguintes: Óbidos, Cametá, Santarém, Alenquer, Mocajuba, Belém, Igrapé, Miri, Muauá, Gurupá, Monte Alegre, Baião, Breves, Abaeté, Acará, Marapanim, Moju Maracaná e Viseu.

A castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa) é uma das mais importantes fontes de riqueza ao longo de todo o vale do Amazonas; e só do Pará a exportação anual atinge a 50.000 hectolitros. A castanha é produzida por uma árvore enorme, que atinge cerca de 170 pés nos planaltos de moderada altitude no meio de matas; e essas árvores estão geralmente agrupadas.

Os frutos, grandes e de forma esférica, amadurecem durante a estação das chuvas (de janeiro a março) e caem ao chão aos centenares. São então abertos a machado e cada um contém de 15 a 30 das castanhas denominadas "do Pará". Um homem só pode facilmente apanhar ½ hectolitro por dia. A fibra derivada da casca da árvore é também de grande valor comercial. O Pará tem destas árvores em número inesgotável, em distritos ainda não habitados e que são apenas conhecidos por um número limitado de exploradores.

O algodão por algum tempo caiu em desfavor entre os lavradores do Pará, mas está agora sendo novamente plantado em larga escala em vários distritos. O clima e o solo são admiravelmente apropriados à cultura do algodão, que deverá em pouco tempo tornar-se uma das lavouras mais importantes do estado.

O milho e o arroz dão perfeitamente; entretanto, nem um nem outro são plantados em quantidades suficientes para suprir o consumo local. O feijão e a mandioca são produzidos em larga escala. Excelente tabaco é cultivado em vários pontos; o de Acará, principalmente, é de um aroma delicioso e por isso obtém elevado preço nos mercados do Sul do Brasil.

São numerosas no estado as plantas fibrosas de valor comercial. Entre elas estão a piaçaba, empregada na manufatura de escovas, vassouras, e que pode também ser utilizada para a fabricação de cestos, chapéus, cabos e redes; a bassa, uma bela palmeira da qual se extraem fibras para a manufatura de escovas, cabos e vassouras; a inaia, que fornece fibras finas e resistentes que servem para a fabricação de cestas; o tucuman, cuja fibra, de primeira ordem, é torcida para cordões, serve também para redes e obtém preço elevado. As quantidades de fibras vegetais atualmente exportadas são pequenas.

Encontram-se em várias partes do estado plantas medicinais em quantidades abundantes, as quais são principalmente exportadas para a Inglaterra, Estados Unidos e França; assim o quinino, a quassia, o guaraná, a marapuana, a salsaparrilha, o manacá, a urtiga, o assacu, a ipecacuanha, o capim de contas, caeté grande e o muru.

Entre outras plantas valiosas e aproveitáveis, contam-se também o carajuru, que produz uma excelente tinta avermelhada e que é exportada em pó; o sangue de drago, que produz uma matéria corante usada como verniz para madeira; o urucu, usado como tempero; o jenipapo, que produz uma boa tinta violeta, e de cuja fruta se extrai um licor tônico, usado para combater a anemia e outras moléstias devidas ao solo pantanoso; o angico; o copal, mais barato e tão bom como a goma-arábica; o incenso, que produz uma resina preciosa; o cumaru, do qual se extrai uma essência muito apreciada pelos fabricantes de perfumes e que dá ao tabaco um aroma delicioso; a baunilha e o cravinho, cuja exportação pode ser muito aumentada; o óleo de andiroba, que fornece um excelente lubrificante e que é produzido em larga escala; o óleo de mamona, cuja produção aumenta de ano para ano, é produzido em várias partes do estado; e, finalmente, deve-se mencionar a palmeira carnaúba, de cujas folhas é extraída uma cera usada para a confecção de velas e para lustrar os soalhos.

As florestas do Pará são abundantes em caças de toda a espécie, tais como o jacu, macuco, mutum ou peru-do-Pará, inhambu, pato real, marreco ou pato anão, pombo selvagem e milhares de outras aves que constituem presas interessantes e valiosas não só como alimento mas também pelo valor das suas penas. A exportação de penas de aves, principalmente da garça (Ardea egretta), constitui uma parcela importante, assim como também a exportação de peles de animais selvagens.

Nos rios do estado abunda variedade infinita de peixes saborosos. O pirarucu, ou bacalhau do Amazonas, é salgado e exportado em larga escala; o camorim, a pescada, o robalo, o tucunaré, podem ser comparados aos mais finos peixes do mundo. A tartaruga é conhecida no Pará como "boi do Amazonas", pois que dela fazem as classes pobres o seu principal artigo de consumo. Dos ovos da tartaruga extrai-se um óleo chamado "manteiga de tartaruga", que é muito apreciado.

A criação de gado tem, nos últimos anos, tomado grande impulso, principalmente nos distritos de Bragança, Ilha de Marajó, Cachoeira, Soure, ilhas Mexiana e Caviana, e Ponta de Pedras. Destes pontos, são envidas anualmente para a cidade de Belém 50.000 reses, cuja carne é vendida de Rs. 1$000 a Rs. 1$200 por quilograma.

Calcula-se que, só na Ilha de Marajó, as fazendas de criação, em número de 150, contenham cerca de 400.000 cabeças. Ponta das Pedras entrega-se quase exclusivamente à criação de cavalos, que exporta em número considerável. Quando forem empreendidos os trabalhos necessários para proteger a Ilha de Marajó e outros distritos contra as inundações, não há dúvida de que esses distritos poderão, não só suprir todo o vale do Amazonas, como também as cidades principais das três Guianas, onde não há também centros de criação.

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Largo da Pólvora, Belém
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Outras indústrias

Nos últimos anos, tem se operado certo desenvolvimento nas indústrias do estado. É verdade que a manufatura de artigos de borracha, que era florescente antes de 1850, está hoje inteiramente abandonada; mas foi substituída por outras indústrias.

Assim, por exemplo, existem hoje importantes serrarias, nas quais as valiosas madeiras extraídas das florestas do estado são desdobradas para os usos comerciais. Entre os quilômetros 15 e 106 da estrada de ferro de Bragança, existem atualmente nada menos de 17 grandes serrarias.

Há também no estado fábricas que produzem excelentes telhas, manilhas, jarros e cerâmica artística, assim como existem vários engenhos de açúcar, café, cacau etc.

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Nas ruas de Belém: 1) Rua Conselheiro João Alfredo; 2) Boulevard da República; 3 e 4) Avenida 16 de Novembro; 5) No porto
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Vias de comunicação

O primeiro contrato para a construção de uma linha férrea de bitola estreita entre Belém e Bragança foi laborado em 1874, ficando, porém, sem execução. Depois, em 1882, iniciavam-se os trabalhos de construção desta linha, que foi concluída em maio de 1907. Esta estrada de ferro, muito bem construída e aparelhada, tem visto o seu tráfego aumentar de ano para ano e sem dúvida lhe está reservado um grande futuro.

Durante o governo do dr. José Paes de Carvalho, foi feito contrato para a construção de uma linha de bitola estreita, entre a Colônia Benjamin Constant e a cidade de Bragança. Em 1905, porém, o governador de então, dr. Augusto Montenegro, verificando que os trabalhos de construção caminhavam muito lentamente e não eram executados com o cuidado devido, declarou nulo o contrato e resolveu mandar executar os serviços por engenheiros do governo. Essa linha, que ficou pronta em 1904 (N.E.: SIC - notada acima a discrepância 1905/1904), tem 18 quilômetros de extensão, e deve ser prolongada mais tarde até Gurupi, isto é, por mais 27 quilômetros.

A linha do Prata é outro ramal da estrada de ferro de Bragança; parte de Igarapé-Açu e vai até a vila de Santo Antonio do Prata, com a extensão de 20.777 metros. A sua bitola é de 60 centímetros; os trilhos são de aço e assentam sobre dormentes de madeira de lei. O governo distribuiu as terras de um e outro lado da linha por agricultores; e a zona está hoje mais ou menos povoada.

A estrada de ferro do Tocantins e Araguaia, quando construída, ligará o alto e baixo Tocantins e se estenderá até São João do Araguaia, cortando assim algumas zonas das mais ricas em quatro estados da União. Esta última linha, de acordo com o projeto, deverá ser mais tarde prolongada até Goiás; a sua bitola é de 1 metro.

Com respeito à navegação, quatro companhias importantes fazem um serviço transatlântico regular, e são elas: o Lloyd Brasileiro, a Booth Line, a Hamburg Amerika Linie e a Hamburg Sudamerikanische Dampfschifffahrts Gesellschaft. A Booth Line tem um serviço trimensal entre o Pará e Liverpool, com escalas em vários portos europeus e um serviço trimensal entre o Pará e Barbados e New York. Os seus navios sobem o Amazonas até Iquitos, no Peru, cerca de 2.000 milhas acima da foz do grande rio.

Os paquetes alemães fazem um serviço quinzenal entre o Pará e Hamburgo; e o Lloyd Brasileiro tem saídas para o Rio cinco ou seis vezes por mês, fazendo a maior parte de seus navios escalas nos vários portos ao longo da costa.

A Companhia Comércio e Navegação tem também navios empregados na navegação costeira entre o Pará e os outros portos do Brasil. A navegação do Amazonas é principalmente feita pela Amazon Steam Navigation Company, com sede no Pará e cuja frota compreende 150 a 200 vapores.

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Estrada de Nazareth, Belém
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Instrução

Levando em conta a sua vasta área e a sua população espalhada por tão extensa região, o Pará pode se orgulhar do seu excelente sistema de instrução. Existem no estado mais de 200 escolas públicas, todas muito bem organizadas, algumas das quais não teriam que sofrer, comparadas às mais modernas escolas das cidades européias.

O programa destas escolas é vasto e inclui o ensino de Matemáticas, Geografia, História do Brasil, Língua Portuguesa, Geometria, Química, História Natural etc., abrangendo também conhecimentos sobre floricultura, agricultura, ginástica, desenho etc. As meninas têm também nestas escolas o ensino de trabalhos de agulha, bordados e crochê.

No Ginásio Paes de Carvalho são lecionadas as matérias necessárias à admissão aos cursos superiores, tais como: Filosofia, Álgebra, Geometria, Inglês e Francês e outras.

A instrução manual e profissional merece também do estado especial atenção: na Escola Gentil Bittencourt se educam 240 moças pobres. O programa desta escola inclui o ensino de música e canto, piano, desenho, confecção de flores artificiais, tecelagem, crochê e composição tipográfica. Dificilmente se encontrará, em qualquer país, instituto em seu gênero mais completo e perfeito que a Escola Gentil Bittencourt.

Possui também o Pará o Instituto Lauro Sodré, com uns 500 alunos, onde, além das matérias do curso primário, os rapazes aprendem vários ofícios, tais como o de carpinteiro, estofador, ferreiro, sapateiro, alfaiate, encadernador, tipógrafo; há também aulas de música e de desenho. Depois de bem instruídos naqueles ofícios, recebem os rapazes, ainda no instituto, um pequeno salário.

O instituto confecciona roupas em quantidade suficiente para os seus alunos e roupas e fardamento etc., para a Polícia e outras repartições públicas. Igualmente fabrica grades e portas de ferro e mobiliário para os edifícios do estado. Assim, em 1907, a produção do instituto compreendeu 30.047 peças de roupas feitas, 9.662 pares de botinas, 1.436 carteiras para escolas, 87 réguas, 50 quadros, 53 armários e guarda-roupas, 654 cabides, 23 pedestais para filtros; e a encadernação atingiu a 10.356 volumes, no valor total de Rs. 210:000$000.

Entre outros institutos notáveis do estado encontram-se o Instituto de Órfãos, para crianças desamparadas; o Instituto do Prata, para meninos e meninas, dirigido pelos frades capuchinhos; e o Instituto de Ourém, também para os dois sexos.

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Palácio da Municipalidade, Belém
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Centros de população

Do município de Belém vai desenvolvida descrição em artigo especial desta obra.

O município de Itaituba, com 25.000 habitantes, afamado pela sua exportação de borracha, óleo de copaíba e salsaparrilha, exporta também cacau e peles de cabritos. Constitui a segunda comarca judicial do distrito de Santarém e tem duas escolas primárias.

Santarém fica na margem direita do Tapajós, próximo à sua junção com o Amazonas. Foi feita vila em 1754 e elevada à categoria de cidade em 1848. Devido à sua situação geográfica, é o centro comercial de um vasto distrito; e nas suas vizinhanças existem numerosas e importantes fazendas de criação. As zonas próximas exportam também grandes quantidades de borracha, cacau, salsaparrilha etc. Possui Santarém vários belos edifícios, um teatro, mercado, três escolas para meninos e duas para meninas. A sua população é de cerca de 30.000 habitantes.

Igualmente importante é a cidade de Óbidos, situada na base de uma linha de colinas na margem esquerda do Amazonas, onde este grande rio corre em um canal de apenas 1.892 metros, com uma profundidade porém de 400 metros. Fica aí o último ponto em que se faz sentir a ação da maré.

Óbidos foi primitivamente um aldeamento de índios pauxis; foi feita vila em 1758 e elevada a cidade em 1854. A principal renda do distrito provém da exportação de cacau, castanha-do-Pará, peixe salgado, gado, cumaru e borracha. É também importante a indústria de doces, de conservas de frutas e legumes, de chocolate etc. A criação de gado vacum e cavalar tem aumentado muito nestes últimos anos; e quase todos os animais de tiro que trabalham em Belém são provenientes de Óbidos.

Gurupá, com 17.000 habitantes, situada na margem direita do braço meridional do Amazonas, teve a sua origem em um forte, fundado em 1623 pelo governador militar Bento Maciel Parente. Foi criada vila em 1639 e, cinco anos mais tarde, ali fundaram os carmelitas um convento, que foi demolido em 1674. Cerca de 20 anos depois, por ordem do rei de Portugal, foi erigido um hospital no local do antigo convento, que foi entregue aos frades capuchinhos. O principal artigo de exportação é a borracha.

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1) Avenida Hermes da Fonseca, Belém; 2) Largo da Pólvora, Belém; 3) A Ilha de Arapiranga
Foto publicada com o texto, página 899. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Afuá, com 19.000 habitantes, exporta borracha em larga escala; tem um bom número de fazendas de criação, e conta entre os seus edifícios principais duas escolas do estado perfeitamente instaladas.

Breves, que tem tido um desenvolvimento rápido e considerável, conta hoje perto de 30.000 habitantes. Fica situada na margem setentrional do furo de Paranaú; foi feita vila em 1850 com o nome de Nossa senhora da Conceição de Breves e elevada à categoria de cidade em 1882. É um dos mais ricos municípios do estado e deve a sua prosperidade sobretudo ao grande número de árvores produtoras de borracha que possui.

Soure, com 18.000 habitantes, na Ilha de Marajó, manda grande quantidade de gado e peixe aos mercados de Belém. Fica esplendidamente situada em uma elevação e, oferecendo excelentes condições para banhos de mar, é muito freqüentada por doentes e veranistas. Tem várias escolas.

Cametá, na margem esquerda do Tocantins, com 32.000 habitantes, é uma das melhores cidades do estado. As suas ruas e praças são lindas e cuidadosamente conservadas; é iluminada a gás de benzolina, com bicos incandescentes. Exporta borracha, cacau e milho.

Acará, com 20.000 habitantes, exporta um tabaco considerado dos melhores do país, borracha, madeiras e farinha de mandioca. Fica situada na margem esquerda do Rio Acará, defronte da confluência do Miriti-Pitanga com o Acará-Mirim.

Bragança, ponto terminal da estrada de ferro que tem o seu nome, apresenta um desenvolvimento muito rápido nos últimos 5 anos. A sua população anda por cerca de 35.000 habitantes. Em 1616, quando Pedro Teixeira fazia uma viagem de Belém para o Maranhão, encontrou uma pequena e insignificante aldeia que ocupava uma parte do local onde hoje se ergue a cidade de Bragança. Em torno desta aldeia, outros agrupamentos se foram formando e em 1834 a vila foi elevada à categoria de cidade.

O município compreende vários centros, tais como Urumajó, Piriá, Caratatena, Almoço, Tijoca, Outeiro e Benjamin Constant. Este último, servido por um ramal da estrada de ferro de Bragança, tem mais de 350 fazendas pequenas, onde vive uma população agricultora de 3.000 almas. As exportações compreendem algodão, milho, peixe, aguardente e tabaco.

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Edifícios públicos, Belém: 1) Praça Afonso Pena; 2) Igreja da Sé; 3) Teatro da Paz; 4) O palácio do governo; 5) Estação da E. F. de Bragança
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