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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [47-B]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 978 a 983, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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O mercado municipal
Foto publicada com o texto, página 978. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Amazonas (cont.)

A capital

Situada à margem esquerda do Rio Negro, a oito milhas da sua junção com o Amazonas e a mil do Atlântico, Manaus é um exemplo admirável do rápido progresso do estado. As suas ruas são largas e bem calçadas, as principais asfaltadas e as outras a paralelepípedos. É iluminada à eletricidade, havendo também centenas de casas particulares com instalações elétricas. Cerca de 600 lâmpadas de 2.000 velas cada uma iluminam as ruas e praças públicas. A cidade é abastecida de dez milhões de litros d'água por dia.

As ruas mais importantes são servidas por tração elétrica com um percurso de 16 milhas, havendo uma linha circular que passa pelos pitorescos subúrbios da Cachoeirinha, Flores e outros pontos freqüentados, que apresentam aos passageiros lindas paisagens formadas por densas capoeiras da mais rica vegetação tropical e esplêndidas avenidas de palmeiras. Duas pontes de ferro atravessam o rio nos arrabaldes da cidade. A linha de bondes é bem montada; os carros, de construção moderna; e o serviço muito honra à companhia.

Como já vimos, a cidade tem progredido rapidamente nestes últimos anos. A sua população vai a 70.000 habitantes atualmente. E muito tem aumentado o número de edifícios públicos e casas particulares. Alguns dos edifícios do estado, ricamente construídos, são iguais em tamanho e beleza aos melhores de outras cidades do Brasil. O palácio da Justiça é um lindo edifício de mármore branco.

O teatro Amazonas, um dos mais elegantes da América do Sul, custou £400.000. Está num ótimo local da principal avenida, Avenida Eduardo Ribeiro, e quando o sol lhe bate no zimbório, onde brilham as cores nacionais, oferece um dos mais belos quadros que se avistam do porto. Obra de cantaria, o teatro tem à sua entrada colunas trabalhadas em mármore italiano, sendo o seu interior ricamente decorado.

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Escola Universitária de Manaus
Foto publicada com o texto, página 978. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

As igrejas, como em toda a parte do Brasil, não são notáveis pela sua arquitetura. Os estabelecimentos de educação, na sua maioria, se acham em modernos e espaçosos edifícios, inclusive e especialmente o Ginásio e o Instituto Benjamin Constant para meninas.

A biblioteca pública tem 10.000 volumes; o museu tem um coleção notável e muito interessante de curiosidades amazônicas, armas de índios, instrumentos musicais de índios feitos de asas de besouro, dentes de animais etc., e inúmeros espécimes de antiguidades. O mercado público no centro comercial é espaçoso, fresco e bem ventilado; mas, como é natural, as lojas não se podem comparar com as do Rio de Janeiro. À tarde, o lugar mais freqüentado é o Jardim Público, onde toca ao anoitecer uma banda de música.

Outros pontos de vida da cidade são as estações de telefones, telégrafo sem fio e cabos submarinos, matadouro, parques e jardins públicos, sítios de diversões, a catedral e igrejas, hospitais, enfermarias, clubes sociais, orfanatos e asilos para os pobres.

A principal artéria da cidade e o centro do negócio de borracha é a Rua Marechal Deodoro, uma rua curta e estreita que corre paralelamente à extremidade inferior da Avenida Eduardo Ribeiro. Muitas das principais casas de negócio a varejo acham-se na Rua Municipal, ao passo que a Rua Santa Cruz é dedicada aos armazéns e lojas populares.

Os edifícios particulares, especialmente as casas de negócio, revelam a grande confiança depositada no futuro da cidade pelos comerciantes locais. Existem algumas fábricas na cidade, mas 90% dos negócios consistem em exportação de borracha, castanhas e um pouco de cacau.

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Banco do Brasil, a agência de Manaus
Foto publicada com o texto, página 979. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A vida em Manaus não está tão sujeita às condições climatéricas, como a opinião ignorante do povo tem sustentado até aqui. Apesar de cidade equatorial, está muito longe de ser um inferno. Os habitantes gozam de muitas comodidades: ventiladores elétricos nas repartições públicas e casas particulares, produção ilimitada de gelo, regatas e natação, o que é natural na capital de um estado de rios.

A cidade é bem provida de carros, havendo também bastantes automóveis. A imprensa é bem representada, e os redatores e repórteres são tão ativos como os seu confrades europeus. Há muitas fábricas e companhias mecânicas. Manaus não é um foco de moléstias; as febres ocorrem em casos esporádicos e as queixas contra o calor não são comuns.

Em grande parte, isto é devido à solicitude do governo, aos esplêndidos trabalhos do célebre dr. Oswaldo Cruz, que saneou o Rio de Janeiro com um bom sistema de drenagem e outras providências.

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Associação Comercial do Amazonas: 1) A Bolsa; 2) Presidente, vice-presidente e diretores da Associação; 3) A sala das reuniões
Foto publicada com o texto, página 980. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

As obras do porto de Manaus foram acabadas recentemente, auxiliando imensamente o comércio e colocando este porto do interior entre os melhores da América do Sul. Inaugurado o  porto em agosto de 1902, a companhia exploradora em menos de dez meses edificou uma poderosa casa, construiu seis armazéns de ferro, ocupando um área de 6.000 metros quadrados, com uma plataforma de 3.000 metros também quadrados, margeando o rio; igualmente se construiu um pontilhão flutuante, ao qual podem atracar dois transatlânticos, um de cada lado.

A capacidade de desembarque de mercadorias, dos vapores para os armazéns, é de 6.000 toneladas em dois minutos. Desde 1902, diversos armazéns se têm inaugurado, assim como uma ponte flutuante que parte do paredão pelo rio a dentro e a qual se eleva e abaixa com o rio, variando não menos de 15 metros o seu nível, entre a estação chuvosa e a seca.

O aspecto do porto é muito animado com a ancoragem dos navios de alto mar e dos fluviais, com o movimento de um para outro lado de lanchas a vapor e elétricas, com a variedade de cores das bandeiras, e a tudo isto se deve ajuntar o panorama do rio, impressionante de beleza e pitoresco.

Manaus é o centro do distrito naval de seu nome, que compreende os quatro estados do Amazonas, Pará, Maranhão e Piauí. A força naval consiste em 14 canhoneiras e vedetas. É também o quartel-general militar do Amazonas; as forças, que compreendem 2.500 oficiais e praças, parecem insuficientes para os fins policiais em uma área tão grande.

São irrealizáveis as estatísticas modernas no Brasil, e a do estado do Amazonas neste particular é tão defeituosa como qualquer outra. Os algarismos oficiais em 1907, quanto às importações e exportações, devem ser, pois apensos a este trabalho, com os de 1897, para o estudo comparativo.

As importações elevaram-se de 15.755 contos (cerca de £1.050.000), em 1897, para 26.087 contos (cerca de £1.735.000) em 1907; a exportação em 1897 montou a 37.798 contos (cerca de £2.520.000) e em 1907, a 114.970 contos (cerca de £7.630.000). Estes algarismos provavelmente incluem as mercadorias em trânsito, principalmente borracha do Acre, mas é evidente que o decênio apresentou um aumento muito grande.

Estatísticas mais recentes mostram que, em 1909, as importações foram de £2.187.826 e as exportações foram de £10.877.017; e em 1910, os algarismos foram, respectivamente, £2.729.501 e £12.777.941.

Em 1907, entraram no porto de Manaus 1.1512 vapores e navios, de 575.108 toneladas; as saídas foram de 1.497 navios com 558.302 toneladas. Finalmente, pode-se notar que hoje a principal riqueza do Amazonas é a sua borracha; mas, como já o disseram hábeis observadores, entre eles Humboldt, Wallace e Bates, o Amazonas há de se tornar o centro mais rico do mundo quando a ciência houver ensinado o homem empreendedor a tirar proveito das suas incalculáveis riquezas.

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Associação Comercial do Amazonas
Foto publicada com o texto, página 981. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Escola Universitária Livre de Manaus - A Escola Universitária Livre de Manaus é uma remodelação da Escola Livre de Instrução Militar do Amazonas, inaugurada a 22 de novembro de 1908. Compreende os seguintes cursos: curso das três armas, segundo o programa adotado para as escolas do Exército Nacional; curso de Engenharia Civil, Agrimensura, Agronomia, Indústrias e outras especialidades; curso de Ciências Jurídicas e Sociais, segundo o programa adotado ns faculdades de Direito federais; curso farmacêutico, nos moldes da Escola de Farmácia de Ouro Preto; curso de Ciências e Leras, segundo o programa do Ginásio Nacional.

A Escola Universitária Livre de Manaus, conquanto de fundação recente, goza já do mais alto crédito e é considerada um dos melhores estabelecimentos de ensino do Norte do Brasil. Seu diretor é o dr. Astrolabio Passos e o seu vice-diretor o dr. Henrique José Moers. O estabelecimento publica uma revista altamente apreciada e denominada Archivos da Escola Universitaria de Manáos.

Banco do Brasil - A sucursal deste importante banco brasileiro foi instalada em Manaus em 1908 e ocupa um esplêndido edifício situado na Praça do Comércio. A sucursal tem numerosos empregados e faz avultadas transações bancárias de toda a espécie. É gerente, em Manaus, o sr. dr. Alvaro Miguez de Mello, nascido no Rio de Janeiro em 1880; o dr. Miguez de Mello estudou na capital da República, formando-se em Direito. Fez durante algum tempo parte do banco no Rio de Janeiro e foi gerente da sucursal em Campos, antes de vir para o posto que agora ocupa em Manaus. Em 1908, foi à República Argentina, comissionado pelo Ministério da Agricultura para aí proceder a estudos sobre a lavoura; e em 1911 visitou a Europa, demorando-se na França e Suíça.

Banco Amazonense - Este banco deriva a sua importância de ser o único banco estabelecido com capital local no estado do Amazonas; foi fundado em 1903, com sede em Manaus, na Praça do Comércio, pelo sr. Carlos de Castro Figueiredo, atualmente ainda seu presidente e gerente.

O capital subscrito é de Rs. 2.000:000$000, com mais Rs. 1.204:300$000 de capital subsidiário; o fundo de reserva em fins de 1911 atingia a Rs. 733.612$910. O capital é dividido por 20.000 ações, das quais 11.500 pertencem ao fundador. O dividendo distribuído em 1911 foi de 10 por cento sobre o capital subscrito e 4 por cento sobre o capital subsidiado. O banco presentemente opera apenas em Manaus e nos estados do Norte do Brasil; tenciona, porém, abrir brevemente um sucursal no Rio de Janeiro.

Além do presidente, são diretores do banco o dr. Alfredo Dias de Mello, dr. José de Castro Figueiredo e sr. Antonio José da Silva Junior. O fundador e presidente do banco, sr. Carlos de Castro Figueiredo, nasceu no Pará, em 1861, e aí foi educado, trabalhando em diversos bancos e estabelecendo-se mais tarde por conta própria. Tem larga experiência no comércio de borracha e visitou a Europa por várias vezes. A residência particular do sr. Carlos de Castro Figueiredo é uma das mais belas do Norte do Brasil.

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Pinheiro & Perdigão, agentes financeiros
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Cargos e profissões

Dr. Astrolabio Passos - O dr. Astrolabio Passos, diretor da Escola Universitária de Manaus, é um dos mais reputados médicos clínicos e especialistas em obstetrícia da capital do Amazonas. Nasceu no estado do Piauí e estudou na Bahia, onde se formou em Medicina em 1889. Depois de visitar vários estados do Brasil, foi para a Europa aperfeiçoar os seus estudos. De 1900 a 1903 estudou em Viena e em Paris, dedicando-se especialmente à clínica obstétrica.

Voltando para o Brasil, estabeleceu residência em Manaus, onde tem larga clínica. Em 1899, o dr. Passos publicou uma revista chamada Gazeta Medica, fundando também, no mesmo ano, a Sociedade de Medicina do Amazonas.

Em 1909, em substituição à Gazeta Medica, fundou o dr. Passos o Amazonas Medico, revista hoje florescente. Um de seus títulos de glória é, sem dúvida, a Escola Universitária de Manaus, a qual ele fundou conjuntamente com o dr. Moers e outros, e que hoje se acha em grau muito próspero e estabelecida sobre sólidas bases.

Dr. Henrique José Moers - O dr. Henrique José Moers, vice-diretor da Escola Universitária de Manaus, onde também é lente de Grego, Arquitetura e Higiene, é de nacionalidade alemã, tendo nascido em Colônia em 1850. Estudou em Bonn, formando-se na afamada Universidade de Cologne. Tomou parte na guerra franco-prussiana e, em seguida, em vários trabalhos de triangulação na Alemanha.

O dr. Moers veio para o Amazonas em 1878, onde fez estudos para a estrada de ferro Madeira-Mamoré, indo em seguida residir no Pará, onde ficou até 1885. Durante este período, foi diretor da Colônia Benevides; veio para Manaus em 1885 e, em 1898, fez uma exploração no Rio Tefé, em uma distância de 600 milhas.

Em Manaus, além da construção de edifícios, o dr. Moers se ocupa também na manufatura de cimento e material de construção, tendo obtido uma medalha de ouro na Exposição de São Luiz em 1904. O dr. Moers foi um dos fundadores da Escola Universitária, de que é hoje vice-diretor.

Dr. Achilles Bevilaqua - O dr. Achilles Bevilaqua, com escritório à Rua Marechal Deodoro, em Manaus, é um dos mais conhecidos e reputados advogados desta cidade. Nasceu em Granja, estado do Ceará, em 1883, e aí fez os seus primeiros estudos, indo em seguida para Pernambuco, onde se formou em Direito em 1904. O dr. Bevilaqua veio para Manaus em fevereiro de 1905 e, durante algum tempo, trabalhou de sociedade com outro empregado.

Em setembro deste ano estabeleceu-se por conta própria, tornando-se em pouco tempo reputado advogado. O seu conhecimento profundo de várias línguas e legislaturas européias lhe granjeou uma grande clientela.

O dr. Bevilaqua é advogado de várias das principais casas de Manaus, tais como a General Rubber Co., London & River Plate Bank, Adelbert Alden Ltd., e outras. O dr. Bevilaqua é também examinador da Escola Universitária de Manaus, de Direito Civil, Constitucional e Internacional.

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Pinheiro & Perdigão, agentes financeiros: 1) Interior do escritório; 2) Escritório no andar térreo
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